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Cem anos do rádio no Brasil: da música ao riso, rádio conquista o povo

Repro­dução: © Acer­vo EBC / Dire­itos Reser­va­dos

Entretenimento é um dos carros-chefe do veículo


Pub­li­ca­do em 24/08/2022 — 07:23 Por Rena­ta Batista — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

Ouça a matéria:

Lig­ar o apar­el­ho de rádio e con­hecer novos artis­tas que estão despon­tan­do na músi­ca pop­u­lar brasileira. Ou, quem sabe, rir um pouco de esquetes que lem­bram o cotid­i­ano — ou até se assus­tar com histórias sobre­nat­u­rais? Des­de seus primór­dios, as rádios do Brasil sur­gi­ram como opção de entreten­i­men­to para os ouvintes, que, através dos apar­el­hos, sen­ti­am-se próx­i­mos de apre­sen­ta­dores e artis­tas.

A músi­ca esteve sem­pre pre­sente, emb­o­ra no iní­cio fos­se volta­da para públi­cos mais abas­ta­dos. Mas, na déca­da de 1930, um vende­dor de apar­el­hos de rádios mudou a for­ma de se faz­er o veícu­lo. Ade­mar Casé mora­va no Rio de Janeiro e teve uma ideia para se destacar nas ven­das dos apar­el­hos da Phillips: deixá-los na casa dos ouvintes por alguns dias, para que os moradores tes­tassem. Quan­do ele volta­va para bus­car, encon­tra­va novos fãs do meio de comu­ni­cação. Assim, bateu recordes e propôs uma ideia: com­prar um horário para ter seu próprio pro­gra­ma na emis­so­ra do grupo.

Influ­en­ci­a­do pelas trans­mis­sões de emis­so­ras do exte­ri­or que ouvia em um apar­el­ho de ondas cur­tas, Casé con­stru­iu o primeiro pro­gra­ma mod­er­no de rádio no Brasil. “O Pro­gra­ma Casé tin­ha músi­ca, poe­sia, humor e infor­mação”, relem­bra o jor­nal­ista Rafael Casé, neto de Ade­mar e autor do livro Pro­gra­ma Casé — o rádio começou aqui.

Veja tam­bém: Ade­mar Casé: o inven­tor da cul­tura do entreten­i­men­to de mas­sas no país

Casé foi pio­neiro em jin­gles. Um dos mais famosos foi o do pão Bra­gança: “Oh, padeiro des­ta rua/ Ten­ha sem­pre na lembrança/ Não me tra­ga out­ro pão/ Que não seja o pão Bra­gança”. A com­posição, de Antônio Gabriel Nás­sara, ala­van­cou as ven­das na padaria e abriu o cam­in­ho para a pub­li­ci­dade no rádio. “O aporte finan­ceiro da pub­li­ci­dade faz com que a rádio con­si­ga se profis­sion­alizar”, afir­ma a pesquisado­ra e jor­nal­ista Mag­a­ly Pra­do, auto­ra do livro Histórias do rádio no Brasil.

O comu­ni­cador tam­bém foi pre­cur­sor no paga­men­to de cachê dos artis­tas para que tocassem com exclu­sivi­dade no pro­gra­ma, práti­ca que deu vis­i­bil­i­dade nacional a can­tores como Noel Rosa e Dori­val Caym­mi. Quem tam­bém surge no pro­gra­ma é Almi­rante — alcun­ha de Hen­rique For­eis Domingues, apre­sen­ta­do como o dono da “mais alta patente do rádio”. Almi­rante tornou-se um dos radi­al­is­tas mais respeita­dos da história do rádio, prin­ci­pal­mente pelo con­hec­i­men­to musi­cal.

Ouça episó­dio da série Cem anos do rádio no Brasil sobre o Almi­rante:

Quan­do entrou no ar, em 1932, o Pro­gra­ma Casé fica­va qua­tro horas no ar — mas chegou a ter até 12 horas de duração. A atração pas­sou por várias emis­so­ras além da Phillips, como a Mayrink Veiga, a Sociedade do Rio de Janeiro, Trans­mis­so­ra e Tupi, e ter­mi­nou somente com a chega­da da TV.

Ouça episó­dio da série Cem anos do rádio no Brasil sobre o Pro­gra­ma Casé:

Os novos talentos

Com mais aporte finan­ceiro, as rádios podi­am inve­stir em pro­gra­mas como os de auditório, que colo­ca­va os ouvintes den­tro das emis­so­ras durante as irra­di­ações. Além de apre­sen­tações com can­tores já famosos, como Emil­in­ha Bor­ba, Mar­lene e Dal­va de Oliveira, esse for­ma­to trazia para os pal­cos dra­matur­gia, show de calouros, jogos de per­gun­tas e respostas e out­ras atrações.

Ouça episó­dio da série Cem anos do rádio no Brasil sobre os pro­gra­mas de auditório:

Nomes como Ary Bar­rosoRena­to MurceCésar de Alen­car e Paulo Gracin­do se con­sagraram no coman­do dess­es pro­gra­mas. O públi­co fazia fila para assi­s­tir a can­tores e orques­tras, out­ro tipo de atração bas­tante pop­u­lar. Ir aos auditórios se tornou um even­to para a sociedade da época.

A cantora Emilinha Borba e César de Alencar nos estúdios da Rádio Nacional.
Repro­dução: A can­to­ra Emil­in­ha Bor­ba e César de Alen­car nos estú­dios da Rádio Nacional. — Acer­vo EBC / Dire­itos Reser­va­dos

Papel Car­bono, de Murce, e Calouros em Des­file, de Bar­roso, rev­e­laram inúmeros tal­en­tos. Ess­es e out­ros pro­gra­mas tin­ham o necessário para quem dese­ja­va ser uma Car­men Miran­da ou um Fran­cis­co Alves: um pal­co com micro­fone e orques­tra, e o públi­co para aprovar ou enter­rar de vez o cam­in­ho para o estre­la­to.

Ouça episó­dio da série Cem anos do rádio no Brasil sobre os pro­gra­mas de calouros:

Essa época de ouro na rádio teve o apogeu nas décadas de 1940 e 1950. Os pro­gra­mas de auditório eram a maneira mais comum de ver grandes artis­tas de per­to, e por isso, os fãs se mobi­lizavam em car­a­vanas, que par­ti­am de todas as partes do país. Mas não foram ape­nas os can­tores que gan­haram fama com as emis­so­ras de rádio.

Drama e humor

As histórias de mocin­has e mocin­hos que enfrentam obstácu­los para viverem o “felizes para sem­pre” der­am o tom da dra­matur­gia nas rádios. Obras como O dire­ito de nascerEm bus­ca da feli­ci­dade e out­ros romances ficaram no imag­inário dos ouvintes. Mas as histórias radiofôni­cas foram além dos amores proibidos.

Ator Paulo Gracindo no ensaio no Teatro da Rádio Nacional, em agosto de 1956.
Repro­dução: Ator Paulo Gracin­do no ensaio no Teatro da Rádio Nacional, em agos­to de 1956. — Acer­vo EBC / Dire­itos Reser­va­dos

“Quem sabe o mal que se esconde nos corações humanos? O Som­bra sabe”, com essa frase, Saint-Clair Lopes chega­va às casas dos ouvintes da Rádio Nacional na figu­ra de um herói que fica­va invisív­el para solu­cionar crimes.

Relem­bre “O Som­bra”, pop­u­lar seri­ado dos anos 1940 da Nacional:

O sus­pense, que gan­hou audiên­cia cati­va na déca­da de 1940, voltou a gan­har fôlego com o Teatro de Mis­tério, série de radio­dra­matur­gia que mar­cou as décadas de 1950 a 1970, escri­ta pelo por­tuguês Hélio do Sover­al Os efeitos sonoros aju­dam a cri­ar o cli­ma mis­te­rioso. “Tudo que é muito emo­cio­nante vai atrair o ouvinte”, expli­ca Mag­a­ly Pra­do.

Ouça episó­dio da série Cem anos do rádio no Brasil sobre as histórias fan­tás­ti­cas con­tadas pelo rádio:

O radioteatro mer­gul­hou tam­bém em adap­tações. Difer­entes das radionov­e­las, eram tra­mas que se desen­volvi­am sem a neces­si­dade de vários episó­dios para con­tar a história — entre elas, as de humor.

O riso na rádio vem de lon­ga data: já na déca­da de 1930, humoris­tas estavam pre­sentes no veícu­lo, com histórias que retratavam fatos engraça­dos do cotid­i­ano. Mas o humor na rádio se con­soli­dou quan­do um pro­gra­ma fez o públi­co rir do próprio veícu­lo.

Uma rádio clan­des­ti­na, que sat­i­riza­va pro­gra­mas de calouros, atores e can­tores,. Era essa a pro­pos­ta de um dos mais famosos humorís­ti­cos, o PRK-30. Seu nome orig­i­nal, PRK-20, fazia uma sáti­ra aos anti­gos pre­fixos de rádio e pas­sa­va na pro­gra­mação da Rádio Clube. Mas, ao mudar para a Nacional, pre­cisou mudar de nome por con­ta dos dire­itos autorais. As histórias de Lau­ro Borges e Cas­tro Bar­bosa tam­bém foram veic­u­ladas na Mayrink Veiga e chegaram a São Paulo, pelas ondas da Record.

Ouça episó­dio da série Cem anos do rádio no Brasil sobre o pro­gra­ma PRK-30:

Out­ro suces­so na rádio foi o Edifí­cio Bal­ança, mas não cai, que mostra­va o dia a dia dos moradores de um pré­dio — entre eles, o Pri­mo Rico e o Pri­mo Pobre, inter­pre­ta­dos por Paulo Gracin­do e Brandão Fil­ho. Já Cenas esco­lares, de Rena­to Murce, inau­gurou um for­ma­to de suces­so na história do humor brasileiro: a comé­dia em sala de aula, com inter­ação entre pro­fes­sor e alunos.

Ouça episó­dio da série Cem anos do rádio no Brasil sobre os pro­gra­mas de humor:

Imi­tações sem­pre fiz­er­am parte dos humorís­ti­cos, que gan­haram uma roupagem difer­ente com o pas­sar dos anos. Nas últi­mas décadas, gru­pos como Café com Bobagem e Sobrin­hos do Ataíde der­am o tom do humor radiofôni­co. A inter­ação com o públi­co por meio de tele­fone e até pela inter­net cresceu e os ouvintes acabaram se tor­nan­do parte das piadas.

Música e informação

A par­tir da chega­da da TV no Brasil, na déca­da de 1950, os pro­gra­mas migraram para a telin­ha e as ver­bas pub­lic­itárias dimin­uíram. Para se adaptarem aos novos tem­pos, a rádio focou cada vez mais em músi­ca e infor­mação.

As “paradas de suces­so” se pop­u­larizaram com as músi­cas mais tocadas no Brasil. O públi­co man­teve a par­tic­i­pação, seja pedin­do uma canção espe­cial ou con­cor­ren­do a brindes, como ingres­sos de shows. Rádios de gêneros musi­cais foram cri­adas, com a Cidade no Rio de Janeiro e a Kiss FM em São Paulo, atrain­do fãs especí­fi­cos. A músi­ca inter­na­cional gan­hou força.

Já nos anos 2000, com a inter­net chegan­do a mais lares, o veícu­lo pre­cisou se rein­ven­tar mais uma vez. As webrá­dios troux­er­am uma nova relação com o públi­co, que pas­sa a aces­sar as emis­so­ras de todo mun­do, na hora que quis­er, e democ­ra­ti­za a pro­dução de rádio. Sem falar nos pod­casts, com os temas mais vari­a­dos pos­síveis.

Série de reportagens

100 anos rádio no Brasil
Repro­dução: 100 anos do rádio no Brasil — Arte EBC

Em comem­o­ração aos cem anos do rádio no Brasil, com­ple­ta­dos em 7 de setem­bro de 2022, a Agên­cia Brasil pub­li­ca uma série de reporta­gens sobre as prin­ci­pais curiosi­dades históri­c­as do rádio brasileiro. Veja as matérias já pub­li­cadas:

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O cen­tenário do rádio no país tam­bém será cel­e­bra­do com ações mul­ti­platafor­ma em out­ros veícu­los da EBC, como a Radioagên­cia Nacional e a Rádio MEC que trans­mi­tirá, diari­a­mente, inter­pro­gra­mas com entre­vis­tas e pesquisas de acer­vo para abor­dar diver­sos aspec­tos históri­cos rela­ciona­dos ao veícu­lo. A ideia é res­gatar per­son­al­i­dades, pro­gra­mas e emis­so­ras mar­cantes pre­sentes na memória afe­ti­va dos ouvintes.

Edição: Nathália Mendes

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