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Cemitério dos Pretos Novos celebra 250 anos com exposição

Repro­dução: © IPN/Divulgação

Data será comemorada também com lançamento de livros


Publicado em 06/05/2024 — 06:48 Por Alana Gandra — Repórter da Agência Brasil — Rio de Janeiro

O Insti­tu­to de Pesquisa e Memória Pre­tos Novos (IPN), recon­heci­do como Patrimônio Cul­tur­al da Cidade do Rio de Janeiro, comem­o­ra no próx­i­mo dia 10 os 250 anos do sítio arque­ológi­co do Cemitério dos Pre­tos Novos, um dos mais impor­tantes vestí­gios da chega­da dos africanos escrav­iza­dos no Brasil, que fun­cio­nou entre 1774 e 1830, e tam­bém os 19 anos de existên­cia do próprio IPN. A exposição Será o Bened­i­to?, da artista visu­al Fáti­ma Farkas, abre a pro­gra­mação comem­o­ra­ti­va dos dois aniver­sários, com curado­ria de Mau­ro Trindade.

O coor­de­nador de Comu­ni­cação do IPN, Alexan­dre Nadai, infor­mou à Agên­cia Brasil que tam­bém no dia 10 haverá o lança­men­to de três livros, além do even­to Sam­ba no Museu e degus­tação de gas­trono­mia afro­brasileira, com Tia Mara.

As ações para fes­te­jar os dois aniver­sários, entre­tan­to, ocor­rem durante todo o ano. “São mais de mil cir­cuitos históri­cos gra­tu­itos de ter­ritório de her­ança africana e mais de 43 ofic­i­nas online, tam­bém gra­tu­itas, com temáti­ca afro­cen­tra­da”, infor­mou Nadai.

Um dos cir­cuitos, por exem­p­lo, tem por obje­to quilom­bo­las e povos de ter­reiro, enquan­to uma das ofic­i­nas é ded­i­ca­da à edu­cação antir­racista para pro­fes­sores. O IPN atende esco­las públi­cas do esta­do.

Estão pre­vis­tas ain­da mais qua­tro exposições, sendo a primeira de Isabelle Mesqui­ta. As três restantes estão definin­do a curado­ria, infor­mou Alexan­dre Nadai.

Descoberta

O Cemitério dos Pre­tos Novos foi descober­to em 1996 e tem o seu solo tomba­do. Ali foram enter­ra­dos entre 20 mil e 30 mil pre­tos novos, como eram chama­dos os escravos que mor­ri­am após a entra­da dos navios na Baía de Gua­n­abara ou ime­di­ata­mente depois do desem­bar­que, antes de serem ven­di­dos. Ele fun­cio­nou de 1772 a 1830, no Val­on­go, faixa do litoral car­i­o­ca que ia da Prain­ha à Gam­boa, após ter oper­a­do no Largo de San­ta Rita, próx­i­mo ao mer­ca­do de escravos recém-chega­dos.

Segun­do Alexan­dre Nadai, o Com­plexo do Val­on­go movi­men­tou mais de 1 mil­hão de pes­soas, das quais cer­ca de 400 mil eram mul­heres, tratadas como mer­cado­ria e, em con­se­quên­cia, como repro­du­toras. Todas foram estupradas, disse Nadai.

O cemitério foi descober­to em 1996, pelo casal Merced e Petruc­cio Guimarães dos Anjos, quan­do com­praram a casa onde fun­ciona o insti­tu­to e ini­cia­ram a refor­ma do imóv­el. Em segui­da, encon­traram, nas escav­ações, ossadas humanas que con­fir­maram ser o local o cemitério de negros africanos.

A primeira ossa­da com­ple­ta foi encon­tra­da no Cemitério dos Pre­tos Novos depois de sete meses de escav­ações. As escav­ações ocor­reram em uma área de 2 met­ros quadra­dos de um dos poços de obser­vação do cemitério. Coor­de­na­do pelo arqueól­o­go Reinal­do Tavares, do Museu Nacional da Uni­ver­si­dade Fed­er­al do Rio de Janeiro (UFRJ), o tra­bal­ho iden­ti­fi­cou que o esquele­to per­ten­cia a uma mul­her jovem, que mor­reu com cer­ca de 20 anos de idade, no iní­cio do sécu­lo 19. O esquele­to encon­tra­do no Cemitério dos Pre­tos Novos rece­beu o nome de Jose­fi­na Bakhi­ta, hom­e­nage­an­do a primeira san­ta africana da igre­ja católi­ca.

Exposição

A exposição Será o Bened­i­to?, de Fáti­ma Farkas, reúne cer­ca de 32 telas, que trazem à tona per­son­agens mar­cantes das lutas raci­ais, muitos dos quais esque­ci­dos em razão da her­ança racista e patri­ar­cal. Fáti­ma uti­liza sua pin­tu­ra expres­si­va para recon­stru­ir a memória, uti­lizan­do retratos fotográ­fi­cos de negros. Um deles é Bened­i­to Car­ave­las (1805–1885), tam­bém con­heci­do como Bened­i­to Meia-Légua, líder de gru­pos quilom­bo­las que lib­er­tavam escravos no Nordeste e no Espíri­to San­to. A artista se inspi­ra em fotografias anti­gas para dar vida a ess­es per­son­agens históri­cos, como as de Alber­to Hen­schel, fotó­grafo teu­to-brasileiro e um dos mais impor­tantes da segun­da metade do sécu­lo 19, com atu­ação no Brasil. Con­sid­er­a­do exce­lente retratista, rece­beu o títu­lo de Fotó­grafo da Casa Impe­r­i­al. Além de fotogra­far o Imper­ador Dom Pedro II e sua família, Hen­schel fez reg­istro fotográ­fi­co dos negros livres e escravos que vivi­am no país.

Out­ros retratos incluem fig­uras como João Cân­di­do Felis­ber­to, líder da Revol­ta da Chi­ba­ta; o escritor e abo­l­i­cionista Luiz Gama; Nzin­ga (rain­ha de Ndon­go e de Matam­ba); e o pre­mi­a­do arquite­to burquinês Diébé­do Fran­cis Kéré. Fáti­ma Farkas denun­cia tam­bém o apaga­men­to históri­co ao sub­sti­tuir ros­tos por veg­e­tação ou por um vazio bran­co, rep­re­sen­tan­do o sum­iço de cor­pos e vidas.

O curador da exposição, Mau­ro Trindade, desta­cou que a artista, além de rev­e­lar o proces­so de apaga­men­to das pes­soas, propõe, ao mes­mo tem­po, uma reelab­o­ração da memória por meio da apro­pri­ação de retratos fotográ­fi­cos de negros que recri­am grandes per­son­agens do pas­sa­do e do pre­sente. Será o Bened­i­to? poderá ser vis­i­ta­da no Insti­tu­to Pre­tos Novos até 20 jul­ho, de terça-feira a sex­ta-feira, das 10h às 16h e, aos sába­dos, de 10h às 13h.

Edição: Fer­nan­do Fra­ga

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