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Cena teatral nordestina conquista público do Rio

Repro­dução: © Tomaz Silva/Agência Brasil

Produções destacam diversidade cultural da região


Pub­li­ca­do em 23/05/2023 — 07:42 Por Cristi­na Indio do Brasil – Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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A cena teatral nordes­ti­na con­quis­tou lugar de destaque com o públi­co car­i­o­ca, que tem garan­ti­do a con­tinuidade das pro­duções no Rio. Uma das atrações é a do ator e pro­du­tor piauiense Vitori­no Rodrigues, inte­grante do grupo Truá Cia de Espetácu­los do Piauí, em tem­po­ra­da na cidade até o próx­i­mo domin­go (28).

Vitori­no Rodrigues, que inves­ti­ga as novas escritas teatrais no Nordeste, apre­sen­ta o monól­o­go O Que Te Escre­vo É Puro Cor­po Inteiro, no Teatro Dul­ci­na, no cen­tro da cap­i­tal, com tex­to de Nathan Sousa e direção de Welling­ton Júnior. O tex­to tra­ta do con­fli­to de um pro­fes­sor de lit­er­atu­ra, escritor e ator que, ao pas­sar a limpo sua história de vida, faz uma reflexão sobre a relação com alunos, leitores, públi­co e todas as questões que se rela­cionam a este per­cur­so socioafe­ti­vo.

Este é um dos exem­p­los da chega­da das pro­duções teatrais nordes­ti­nas ao Rio, que têm como car­ac­terís­ti­ca a diver­si­dade de temas. De acor­do com os pro­du­tores, acabou a ideia de que, para falar de Nordeste, tin­ha que abor­dar somente a seca e a mis­éria do povo. Para o ator, esse aspec­to resul­tou em maior vis­i­bil­i­dade das pro­duções e for­t­ale­ceu o inter­esse do públi­co na cena teatral nordes­ti­na.

Vitori­no Rodrigues acres­cen­tou que a vis­i­bil­i­dade tem se ampli­a­do tam­bém com a tele­visão, que tem incluí­do mais atores nordes­ti­nos em nov­e­las e seri­ados e feito pro­duções com o elen­co for­ma­do, na maio­r­ia, por artis­tas da região. “Há vários nordestes e pos­si­bil­i­dades de se exerci­tar as artes cêni­cas que estão aí”, disse, em entre­vista à Agên­cia Brasil.

Para a atriz Quitéria Kel­ly, fun­dado­ra do Grupo Carmin, de Natal, emb­o­ra o tema region­al ain­da seja abor­da­do, as fron­teiras vêm sendo que­bradas, e as pro­duções pas­saram a ter temas mais diversos.“Existe uma com­plex­i­dade cul­tur­al quan­do se fala de Nordeste, porque Nordeste parece que só é a coisa region­al­ista, mas o Nordeste é múlti­p­lo. Nos­so grupo nun­ca fez peça region­al­ista, e não deixa de ser um grupo nordes­ti­no”, disse Quitéria à reportagem. Segun­do a atriz, não se pode esque­cer que cada esta­do que com­põe a região tem uma cul­tura especí­fi­ca.

“Quan­do se fala sobre um grupo nordes­ti­no, fala-se do Nordeste a par­tir de onde? Do Maran­hão? É uma cul­tura com­ple­ta­mente difer­ente da de Per­nam­bu­co, que é com­ple­ta­mente difer­ente da da Bahia. Então, é muito difí­cil definir o que é o teatro nordes­ti­no, porque já não se enquadra mais nes­sas amar­ras do region­al­is­mo. A gente está falan­do de tudo. Os temas são diver­sos”, afir­mou.

A pro­du­to­ra Mar­i­ana Areia Leão Har­di faz coro com a questão da region­al­iza­ção. Para Mar­i­ana, as pro­duções estão se desta­can­do com vários temas. “Encaixo­tar tudo em seca é resumir bas­tante um espec­tro enorme como é a Região Nordeste”, disse à Agên­cia Brasil.

Mar­i­ana desta­cou que o aumen­to de pro­duções nordes­ti­nas no Sud­este não se restringe ao teatro, ocor­ren­do tam­bém na área cin­e­matográ­fi­ca, em um proces­so de auto­con­hec­i­men­to da classe, que bus­ca se impor em out­ras regiões sem ser de maneira neg­a­ti­va. “Cada vez que uma obra dessas ocorre fora do seu eixo, ela inevi­tavel­mente provo­ca reflexão e dis­cussão, tor­nan­do o públi­co mais disponív­el para visu­alizar e enten­der.”

“É um tra­bal­ho con­tin­u­a­do, um proces­so de recon­hec­i­men­to de que nos­so tra­bal­ho é dig­no, bem-feito, pode chegar a qual­quer lugar e que o nos­so pro­du­to dialo­ga com o públi­co”, com­ple­tou Mar­i­ana, que está envolvi­da ain­da com a pro­pos­ta de um lab­o­ratório da pro­du­to­ra Casa da Pra­ia Filmes, pre­vis­to para o perío­do de 26 a 30 de jun­ho, com 15 pro­je­tos de todo o Nordeste, que serão escol­hi­dos por meio de um edi­tal. Os autores pas­sarão uma sem­ana em Natal tra­bal­han­do nos pro­je­tos de lon­gas-metra­gens. O nome dos escol­hi­dos será divul­ga­do na próx­i­ma sex­ta-feira (26).

Editais

Na visão do ator e pro­du­tor Vitori­no Rodrigues, os edi­tais de apoio à cul­tura con­tribuíram para o aumen­to das pro­duções na cidade. “Com isso os gru­pos têm con­segui­do de algu­ma for­ma se finan­ciar para cir­cu­lar, porque não é fácil cir­cu­lar”, disse.

Quitéria lem­brou que, de uns dez anos para cá, tem sido cada vez mais con­stantes as apre­sen­tações de gru­pos de artis­tas do Nordeste no Rio e ressaltou que isso tam­bém é reflexo dos edi­tais. Segun­do a atriz, o panora­ma dos edi­tais começou a mudar na época em que Gilber­to Gil foi min­istro da Cul­tura, no primeiro manda­to do pres­i­dente Luiz Iná­cio Lula da Sil­va. Naque­le momen­to, o gov­er­no tomou a decisão de pul­verizar os edi­tais por todas as regiões do país, o que evi­tou a con­cen­tração de con­tem­pla­dos no eixo Rio-São Paulo, como cos­tu­ma­va ocor­rer.

Ela disse que o Grupo Carmin está par­tic­i­pan­do ago­ra do Pal­co Giratório do Sesc, pro­je­to de difusão e inter­câm­bio das artes cêni­cas, que leva as pro­duções de cir­co, dança e teatro para diver­sas cidades do país. Na 17ª edição, que está ocor­ren­do em Por­to Ale­gre, o Carmin está na pro­gra­mação com a peça A Invenção do Nordeste, pre­mi­a­da no Rio no ano pas­sa­do e bem rece­bi­da pelo públi­co. “Ele [Pal­co Giratório] é um dos grandes pro­move­dores da cir­cu­lação de espetácu­los tan­to do Nordeste quan­to do Norte no país inteiro. Os espetácu­los giram o mapa inteiro, per­mitin­do que o públi­co do Sud­este con­heça as pro­duções do Norte, Nordeste e do Sul.”

A atriz lamen­tou a redução do número de fes­ti­vais que aju­dam no surg­i­men­to de novos gru­pos. Para Quitéria, os fes­ti­vais ain­da são uma por­ta aber­ta para os pro­du­tores inde­pen­dentes inve­stirem em gru­pos e out­ros públi­cos terem aces­so à pro­dução que está sendo fei­ta no Nordeste.

“A pro­dução é muito atu­ante no Nordeste e tem gru­pos de lon­ga data. Tem grupo no Rio Grande do Norte que tem 45 anos de história. Tem mui­ta coisa. Tem o Grupo Macax­eira, no Ceará, o Ser Tão, da Paraí­ba, e o Carmin, do Rio Grande do Norte. Tem ago­ra o pes­soal da Casa de Zoé, que tem chega­do pelo Sud­este com mui­ta força e tam­bém é do Rio Grande do Norte. Então, tem um movi­men­to legal que ten­ta chegar até aqui e tem con­segui­do a duras penas, mas tem con­segui­do”, con­cluiu a atriz

Edição: Nádia Fran­co

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