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Censo 2022: população parda supera a branca pela 1ª vez desde 1872

Repro­dução: © Rove­na Rosa/Agência Brasil

IBGE mostra também crescimento da proporção de pretos


Pub­li­ca­do em 22/12/2023 — 10:02 Por Bruno de Fre­itas Moura — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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O número de pes­soas par­das no Brasil super­ou o de bran­cas pela primeira vez des­de 1872. No ano pas­sa­do, 92,1 mil­hões de pes­soas se recon­heci­am par­das, enquan­to 88,3 mil­hões, bran­cas. Os dados estão no Cen­so 2022 e foram divul­ga­dos nes­ta sex­ta-feira (22) pelo Insti­tu­to Brasileiro de Geografia e Estatís­ti­ca (IBGE). 

Entre os recensea­men­tos de 2010 e 2022, a pop­u­lação bran­ca caiu de 47,7% para 43,5%, deixan­do de ser majoritária. Por out­ro lado, os par­dos aumen­taram a par­tic­i­pação de 43,1% para 45,3%.

A pop­u­lação pre­ta saltou de 7,6% para 10,2%. Em 2022 eram 20,7 mil­hões de pes­soas. A raça indí­ge­na tam­bém aumen­tou a par­tic­i­pação no total de habi­tantes do país, de 0,4% para 0,6%, alcançan­do 1,7 mil­hão.

Além da pop­u­lação bran­ca, a amarela tam­bém apre­sen­tou recuo, de 1,1% para 0,4%, soman­do 850 mil pes­soas.

Critérios

O IBGE tem como padrão agru­par as pes­soas em cin­co cat­e­go­rias, de acor­do com a raça ou cor: bran­ca, pre­ta, amarela (de origem ori­en­tal), par­da (inclui quem se iden­ti­fi­ca com a mis­tu­ra de duas ou mais cores, exce­to amarela) e indí­ge­na. A cole­ta de dados é fei­ta por meio de autode­clar­ação.

É uma per­cepção que a pes­soa tem dela mes­ma. As pes­soas usam a questão da cor da pele, da aparên­cia, questões socioe­conômi­cas”, expli­ca o pesquisador do IBGE Leonar­do Athias.

O insti­tu­to expli­ca que uti­liza o con­ceito de raça como cat­e­go­ria social­mente con­struí­da na inter­ação social e não como con­ceito biológi­co.

Out­ra ressal­va fei­ta pelo estu­do é que a pop­u­lação indí­ge­na no recensea­men­to é com­pos­ta pelas pes­soas que se declar­am indí­ge­nas no que­si­to de cor ou raça – inde­pen­den­te­mente de viverem em ter­ra indí­ge­na — e tam­bém pelas que se con­sid­er­am indí­ge­nas, mes­mo se iden­ti­f­i­can­do com out­ra das qua­tro cores. Por exem­p­lo, uma pes­soa par­da que mora em um ter­ritório indí­ge­na e se con­sid­era parte da comu­nidade.

Assim, enquan­to o Cen­so iden­ti­fi­ca 0,6% da pop­u­lação (1,2 mil­hão) como sendo da raça indí­ge­na, a pop­u­lação indí­ge­na é esti­ma­da em 0,8% (1,7 mil­hão).

Trajetória histórica

Quan­do o primeiro cen­so foi real­iza­do, em 1872, a pop­u­lação par­da (38,3%) era lev­e­mente supe­ri­or à bran­ca (38,1%). Ao lon­go das décadas, a pop­u­lação bran­ca foi se tor­nan­do majoritária até alcançar o pico de 63,5% em 1940 e entrar em tendên­cia decres­cente.

 

Brasília (DF) 21/12/2023 –Censo 2022 Por cor ou Raça. Arte Agência Brasil
Repro­dução: Cen­so 2022 — Por cor ou raça — Arte Agên­cia Brasil

Tam­bém em 1940, os par­dos atin­gi­ram a menor par­tic­i­pação, 21,2%. Des­de então, seguiram tra­jetória de cresci­men­to até virarem majoritários em 2022 — ape­sar de recuo entre 1991 e 2000.

A pop­u­lação pre­ta soma­va 19,7% dos habi­tantes em 1872 e apre­sen­tou seguidas per­das de par­tic­i­pação até 1991, quan­do chegou à menor mar­ca, 5%. Des­de então, mais que dobrou até o Cen­so 2022, 10,2%.

O pesquisador Leonar­do Athias expli­ca que as mudanças no per­fil da pop­u­lação não ocor­rem ape­nas pela questão demográ­fi­ca, ou seja, nasci­men­to ou morte de pes­soas. Mas tam­bém por out­ros fenô­menos.

“Essas vari­ações têm a ver com a per­cepção. Cor ou raça é uma per­cepção que as pes­soas têm de si mes­mas. É um proces­so rela­cional, tem a ver com con­tex­to socioe­conômi­cos, con­tex­tos das relações inter­ra­ci­ais. É sem­pre impor­tante a gente fris­ar a mul­ti­di­men­sion­al­i­dade do fenô­meno”, con­tex­tu­al­iza.

“Mostra toda essa diver­si­dade, vari­abil­i­dade no tem­po, no espaço, em relação ao per­tenci­men­to racial no Brasil”, com­ple­ta.

2010 a 2022

Ao anal­is­ar a tendên­cia mais recente no per­fil étni­co-racial da pop­u­lação brasileira, entre os recensea­men­tos de 2010 e 2022, a pop­u­lação pre­ta apre­sen­ta 42,3% de cresci­men­to pro­por­cional, segui­da pela par­da (11,9%). A indí­ge­na teve a maior evolução per­centu­al, 89%, sendo que na região da Amazô­nia Legal, o cresci­men­to foi de 100%.

Para efeito de com­para­ção, a pop­u­lação brasileira como um todo cresceu 6,5%. Bran­cos (-3,1%) e amare­los (-59,2%) apre­sen­taram quedas.

Regiões

Os dados do IBGE apre­sen­tam recortes por regiões, esta­dos e municí­pios. No Sul e no Sud­este, a pop­u­lação bran­ca é majoritária, chegan­do a 72,6% no Sul.

Já o Norte, o Nordeste e o Cen­tro-Oeste têm maio­r­ia par­da, com destaque para o Norte, com pro­porção de 67,2%.

Entre os esta­dos, o Rio Grande do Sul apre­sen­ta a maior pro­porção de bran­cos, 78,4%. O Pará tem o maior índice de par­dos, 69,9%.

A Bahia é o esta­do com maior per­centu­al de pre­tos, 22,4%. Roraima tem a maior par­tic­i­pação de indí­ge­nas (14,1%), e São Paulo é onde os amare­los são mais numerosos, 1,2% dos habi­tantes do esta­do.

Municípios

A região Sul, São Paulo e a parte sul de Minas Gerais é onde exis­tem mais municí­pios com pop­u­lação pre­dom­i­nan­te­mente bran­ca. As cidades com maior par­tic­i­pação de bran­cos entre seus habi­tantes são as gaúchas Mor­rin­hos do Sul e For­quet­inha, com 97,4% e 97,2% respec­ti­va­mente. ((temos arte de mapa))

arte crescimento população brasileira censo 2022
Repro­dução: Cresci­men­to da pop­u­lação brasileira — Cen­so 2022 — Arte/Agência Brasil

As demais regiões do país são com­postas por municí­pios com pop­u­lação de maio­r­ia par­da, com exceções, prin­ci­pal­mente, em áreas de fron­teira na região Norte e no sud­este do Pará, onde se desta­cam os indí­ge­nas.

“Tem uma con­cen­tração no norte de Roraima, mas tam­bém no Vale do Rio Negro e o Alto Solimões”, exem­pli­fi­ca o pesquisador do IBGE Fer­nan­do Dam­as­co.

Uira­mutã, em Roraima; e San­ta Isabel do Rio Negro, no Ama­zonas, são os municí­pios com maior par­tic­i­pação de indí­ge­nas entre os habi­tantes, 96,6% e 96,2%.

Em todos os 5.570 municí­pios brasileiros, ape­nas nove têm pop­u­lação majori­tari­a­mente pre­ta. São oito na Bahia (Antônio Car­doso, Cachoeira, Con­ceição da Feira, Ouriçan­gas, Pedrão, San­to Amaro, São Fran­cis­co do Conde e São Gonça­lo dos Cam­pos) e um no Maran­hão — Ser­ra­no do Maran­hão, com 58,5%.

Em val­ores abso­lu­tos, os municí­pios com mais pre­tos são, na ordem, São Paulo (1,16 mil­hão), Rio de Janeiro (968 mil) e Sal­vador (825 mil). Entre as dez cidades com mais pop­u­lação pre­ta abso­lu­ta, a úni­ca que não é cap­i­tal é a baiana Feira de San­tana, com 180 mil pes­soas.

Idade

Os dados cole­ta­dos pelos recenseadores rev­e­lam que entre 2010 e 2022, a pre­sença de par­dos cresceu em todos os gru­pos de idade pesquisa­dos. Por out­ro lado, a pop­u­lação bran­ca teve redução em todas as faixas etárias.

O IBGE apre­sen­ta ain­da o índice de envel­hec­i­men­to – número de pes­soas com 60 anos ou mais em relação a um grupo de 100 pes­soas de até 14 anos. Quan­to maior o indi­cador, mais envel­he­ci­da é a pop­u­lação.

Enquan­to no Brasil como um todo a relação é de 80 idosos para cada 100 jovens, a pop­u­lação amarela apre­sen­ta 256,5 para cada 100 jovens. Em segui­da apare­cem os pre­tos, com indi­cador de 108,3. Bran­cos (98), par­dos (60,6) e indí­ge­nas (35,6) com­ple­tam a sequên­cia.

Sexo

O Cen­so 2022 faz tam­bém uma relação entre cor e sexo. O Brasil tem 94,2 home­ns para cada 100 mul­heres. Entre a pop­u­lação pre­ta, essa relação se inverte, sendo 103,9 home­ns para cada 100 mul­heres.

Par­dos (96,4) e indí­ge­nas (97,1) tam­bém apre­sen­tam razão de sexo aci­ma da média nacional. Entre bran­cos e amare­los o indi­cador é de 89,9 e 89,2, respec­ti­va­mente.

Edição: Graça Adju­to

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