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“Certamente alguém pôs fogo”, diz chefe do Parque da Serra dos Órgãos

Repro­dução: © Divulgação/Parnaso/Todos Dire­itos Reser­va­dos

Segundo biólogo, incêndio atual é o pior dos últimos anos


Publicado em 17/09/2024 — 07:28 Por Leo Rodrigues — Repórter da Agência Brasil — Rio de Janeiro

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O Par­que Nacional da Ser­ra dos Órgãos (Par­na­so), na região ser­rana do Rio de Janeiro, é uma das diver­sas unidades de con­ser­vação do país que vem sofren­do com os incên­dios flo­restais. As chamas atingem locais de difí­cil aces­so, o que difi­cul­ta o com­bate. 

Os esforços para debe­lar o fogo são con­duzi­dos pelo Cor­po de Bombeiros do Rio de Janeiro e por brigadis­tas do Insti­tu­to Chico Mendes de Con­ser­vação da Bio­di­ver­si­dade (ICM­Bio), órgão vin­cu­la­do ao Min­istério do Meio Ambi­ente (MMA) que responde pela admin­is­tração do par­que.

De acor­do com o biól­o­go Ernesto Viveiros de Cas­tro, chefe do Par­que Nacional da Ser­ra dos Órgãos, somente após o fim do incên­dio é que a perí­cia entrará em cam­po para dar suporte às inves­ti­gações. No entan­to, ele é tax­a­ti­vo: “cer­ta­mente alguém pôs fogo”. Sua prin­ci­pal hipótese é de que as chamas ten­ham se alastra­do a par­tir de áreas rurais viz­in­has à unidade de con­ser­vação.

O ICM­Bio infor­ma que com­bate 80 focos de incên­dio em todo o esta­do do Rio de Janeiro. Dados do Insti­tu­to Nacional de Pesquisas Espa­ci­ais (Inpe) endos­sam as pre­ocu­pações. No mon­i­tora­men­to por satélite real­iza­do pelo órgão, foram reg­istra­dos 978 focos em ter­ritório flu­mi­nense des­de janeiro. Já é o maior vol­ume em um úni­co ano des­de 2014, quan­do hou­ve 1.283 reg­istros.

A situ­ação é ain­da pior em esta­dos do Cen­tro-Oeste e do Norte do país, como Mato Grosso, Ama­zonas e Pará. Diante do exces­so de queimadas no Brasil o pres­i­dente Luiz Iná­cio Lula da Sil­va con­vo­cou uma reunião inter­min­is­te­r­i­al. A Polí­cia Fed­er­al está inves­ti­gan­do se con­du­tas crim­i­nosas estão envolvi­das nas queimadas.

No Par­que Nacional da Ser­ra dos Órgãos, o incên­dio atu­al atinge a área da trav­es­sia Cobiça­do e Ven­ta­nia. A unidade de con­ser­vação tem a maior rede de tril­has do Brasil. É tam­bém um dos locais mais bus­ca­dos para a práti­ca de esportes de mon­tan­ha, como escal­a­da, cam­in­ha­da e rapel. Em entre­vista à Agên­cia Brasil nes­ta segun­da-feira (16), Cas­tro falou sobre a evolução do incên­dio, as estraté­gias de com­bate às chamas, o históri­co recente de queimadas na Ser­ra dos Órgãos, a expec­ta­ti­va de recu­per­ação das áreas afe­tadas, o fun­ciona­men­to da unidade de con­ser­vação e as medi­das que podem aju­dar a evi­tar even­tos semel­hantes.

Serra dos Órgãos (RJ), 16/09/2024 - O biólogo Ernesto Viveiros de Castro, chefe do Parque Nacional da Serra dos Órgãos - Parnaso. Foto: Marcus Carmo/ICMBio
Repro­dução: Ernesto Viveiros de Cas­tro, chefe do Par­que Nacional da Ser­ra dos Órgãos. Foto: Mar­cus Carmo/ICMBio

Agên­cia Brasil: Qual as prin­ci­pais pre­ocu­pações envol­ven­do esse incên­dio?
Ernesto Cas­tro: Esse ano está bem seco. Dev­i­do aos efeitos do El Niño, a gente já esper­a­va uma ocor­rên­cia maior de incên­dios nesse ano. Temos tido incên­dios com fre­quên­cia, mas esse últi­mo é o pior do ano com certeza. E o pior de alguns anos. O pon­to de atenção é que está queiman­do uma área que não cos­tu­ma ser atingi­da. A gente não tem reg­istro de queimadas nes­sa área. São as flo­restas das encostas viradas para o mar, em Magé. Esse incên­dio veio de Petrópo­lis, da área do Cax­am­bu que fica na ver­tente de den­tro da ser­ra. Mas virou a ser­ra e está descen­do por área de flo­res­ta em direção à Magé.

Agên­cia Brasil: Como tem se dado o tra­bal­ho de com­bate ao fogo?
Ernesto Cas­tro: É um fogo com­pli­ca­do de com­bat­er porque ele está queiman­do o solo da flo­res­ta. Feliz­mente, a princí­pio não está queiman­do a copa das árvores. Mas é uma área muito íngreme. E por essas car­ac­terís­ti­cas, só con­seguimos faz­er o com­bate com aeron­aves e mon­tan­do trincheiras para frear a expan­são do fogo. Esta­mos lá hoje com 60 pes­soas sendo 36 lig­adas ao ICM­Bio e 24 bombeiros. De ontem para hoje, deu uma chu­vis­ca­da em parte da ver­tente da ser­ra. Isso trouxe um pouco mais de umi­dade e mel­horou um pouquin­ho com a condição de com­bate.

Agên­cia Brasil: Já é pos­sív­el apon­tar as causas do incên­dio ou as prin­ci­pais hipóte­ses?
Ernesto Cas­tro: Tan­to a Polí­cia Fed­er­al como o ICM­Bio pos­suem inves­ti­gações aber­tas. A gente só con­segue faz­er a perí­cia depois de apa­gar o fogo. Mas a origem mais prováv­el são as áreas rurais viz­in­has ao par­que. E, sendo assim, é uma práti­ca crim­i­nosa porque não é per­mi­ti­do faz­er queima­da nesse perío­do. O que podemos diz­er é que não existe reg­istro de incên­dio nat­ur­al nes­ta região. Não temos reg­istro de raios há meses aqui. Então cer­ta­mente alguém pôs fogo. A questão é se foi inten­cional ou não.

Agên­cia Brasil: Hou­ve out­ros momen­tos críti­cos sim­i­lares ou piores nos últi­mos anos?
Ernesto Cas­tro: Tive­mos um incên­dio bem grande em 2014, há dez anos atrás. Foi pior do que esse, pelo menos até o momen­to. Na época, as chamas subi­ram para os cam­pos de alti­tude, na área mais alta da ser­ra. É uma área que tem muitas espé­cies endêmi­cas [espé­cies que ocor­rem exclu­si­va­mente em uma deter­mi­na­da local­i­dade geográ­fi­ca, não sendo encon­tradas nat­u­ral­mente em out­ros lugares]. Mas queima­da de área de flo­res­ta no nív­el que esta­mos obser­van­do ago­ra não reg­is­tramos há muitos anos. Nor­mal­mente, o que queima são áreas mais aber­tas na ver­tente volta­da para o con­ti­nente, que é mais seca. A umi­dade da flo­res­ta con­segue aba­far o fogo. Mas ago­ra está pro­pa­gan­do para a flo­res­ta porque a região toda real­mente está muito seca.

Agên­cia Brasil: É pos­sív­el esti­mar quan­to tem­po a veg­e­tação leva para se regener­ar após ess­es cenários críti­cos?
Ernesto Cas­tro: Isso só com uma avali­ação após o incên­dio. Vai vari­ar muito. Depende se o incên­dio atingiu a copa das árvores, se queimou o chão da flo­res­ta. Tem áreas de difí­cil recu­per­ação na parte mais alta que foi atingi­da, onde temos a trav­es­sia do Cobiça­do e Ven­ta­nia e o Cam­in­ho da Mata Atlân­ti­ca, que são tril­has do par­que. Topo de mon­tan­ha demo­ra mais para se recu­per­ar. Mas ain­da não fize­mos uma avali­ação detal­ha­da porque o obje­ti­vo ago­ra é apa­gar o fogo.

Agên­cia Brasil: Essas tril­has estão com aces­so sus­pen­so?
Ernesto Cas­tro: Só estão fechadas as tril­has na área do fogo. O par­que não está fecha­do à vis­i­tação por enquan­to. As decisões admin­is­tra­ti­vas depen­dem de avali­ação, que é fei­ta con­stan­te­mente. A reaber­tu­ra das tril­has vai depen­der da propa­gação do fogo.

Agên­cia Brasil: Na sua visão, o que pode ser feito para impedir que even­tos sim­i­lares a esse voltem a ocor­rer no futuro?
Ernesto Cas­tro: O prin­ci­pal é a con­sci­en­ti­za­ção da sociedade. De maneira nen­hu­ma, as pes­soas podem usar o fogo nesse momen­to de seca, seja para queimar lixo, para limpar áreas agrí­co­las, para qual­quer coisa. E em out­ros perío­dos, só em condições muito especí­fi­cas. Na parte de coerção, cabem punições e penas mais rígi­das. E pre­cisamos for­t­ale­cer as estru­turas de inves­ti­gação. Hoje, rara­mente alguém que colo­ca fogo na veg­e­tação é real­mente respon­s­abi­liza­do.

Edição: Sab­ri­na Craide

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