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Chacina de Unaí revelou Brasil profundo, diz pesquisador

Repro­dução: © José Cruz/Arquivo Agên­cia Brasil

Episódio completou 20 anos neste domingo (28)


Pub­li­ca­do em 28/01/2024 — 20:10 Por Luiz Clau­dio Fer­reira — Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

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Os assas­si­natos de três audi­tores-fis­cais e um motorista do Min­istério do Tra­bal­ho, em crime que ficou con­heci­do como “Chaci­na de Unaí”, com­ple­tou 20 anos neste domin­go (28). Foram assas­si­na­dos os audi­tores Eratóstenes de Almei­da Gon­salves, João Batista Soares Lage e Nel­son José da Sil­va e o motorista Aíl­ton Pereira de Oliveira.

O episó­dio, ocor­ri­do na cidade mineira de Unaí em 28 de janeiro de 2004, rev­el­ou a difi­cul­dade de coibir o tra­bal­ho anál­o­go à escravidão e o Brasil pro­fun­do da ação dos priv­i­le­gia­dos con­tra os mais desas­sis­ti­dos. Essa é a avali­ação do his­to­ri­ador Gladys­son Pereira, pesquisador da Uni­ver­si­dade Estad­ual de Alagoas.

“O crime rev­ela o Brasil de uma desigual­dade pro­fun­da e mostra inúmeros aspec­tos históri­cos. É óbvio que o proces­so de abolição foi feito de uma for­ma que não impacta­va na vida daque­les que eram os ‘donos do Esta­do’”, afir­mou o pesquisador.

A fal­ta de condições ade­quadas de fis­calizar, mes­mo em perío­do democráti­co, mostra, para o pro­fes­sor, como os priv­i­le­gia­dos agem con­tra os desas­sis­ti­dos. E como esse com­por­ta­men­to man­têm a força mes­mo con­tra servi­dores públi­cos fed­erais.

O pro­fes­sor con­tex­tu­al­iza que demor­ou mais de um sécu­lo, des­de a Abolição da Escra­vatu­ra (1888), para que o Esta­do brasileiro recon­hecesse, em 1994, que havia “tra­bal­ho escra­vo”. “Quan­do o Grupo Móv­el de Fis­cal­iza­ção do Min­istério do Tra­bal­ho, naque­le ano, começa a atu­ar, mexe numa anti­ga feri­da. Os lat­i­fundiários man­tiver­am os tra­bal­hadores sob condições de vida e de tra­bal­ho, semel­hantes a escravos, durante muito tem­po em larga escala”.

Ferida e convicção

A audi­to­ra fis­cal aposen­ta­da Valderez Monte, hoje com 79 anos, foi inte­grante e uma das coor­de­nado­ras do grupo móv­el de fis­cal­iza­ção. Ela atu­ou em 151 ações fis­cais de 1995 a 2003, que res­gataram 2.409 tra­bal­hadores de condições sub­u­manas de vida e tra­bal­ho.

Ela recor­da que a chaci­na de Unaí deixou a cat­e­go­ria feri­da e mais temerosa. “Mas quem tra­bal­ha nes­sa ativi­dade faz por con­vicção, amor e certeza de que é pos­sív­el aju­dar pes­soas de situ­ações muito degradantes”.

Valderez tra­bal­ha­va prin­ci­pal­mente em oper­ações nas regiões Norte e Cen­tro-Oeste. Emb­o­ra con­hecesse os cole­gas assas­si­na­dos em Minas Gerais, não tin­ha tra­bal­ha­do com eles. “Sabíamos que pre­cisá­va­mos de mais apoio, mas esse crime não fez com que a gente parasse. Brig­amos por mel­hores condições de tra­bal­ho, mas temos con­vicção do que pre­cisa ser feito”.

Atual­mente, ela atua como pesquisado­ra Insti­tu­to do Tra­bal­ho Dig­no, uma enti­dade sem fins lucra­tivos que elab­o­ra pesquisas sobre a ativi­dade lab­o­ral no Brasil. “Pre­cisamos de, pelo menos, três mil audi­tores, e temos cer­ca de mil. O país é con­ti­nen­tal e as práti­cas dos lat­i­fundiários não é muito difer­ente do que naque­la época”.

Ela recor­da ter teste­munhado situ­ações muito degradantes, de lavradores que tra­bal­havam por uma refeição por dia e sequer con­heci­am din­heiro. “Muito triste. Isso nos dá força para con­tin­uar mes­mo com as ameaças que os grandes pro­pri­etários fazem con­tra nós”, afir­ma.

Resgates

Durante o dia, rep­re­sen­tantes do gov­er­no fed­er­al recor­daram que, neste domin­go, que mar­ca os 20 anos da chaci­na de Unaí, é o Dia Nacional do Com­bate ao Tra­bal­ho Escra­vo. O min­istro-chefe da Sec­re­taria de Comu­ni­cação Social, Paulo Pimen­ta, afir­mou que, em 2023, 3.151 pes­soas foram res­gatadas em condições análo­gas à escravidão no Brasil. Esse é o maior número reg­istra­do des­de 2009.

Ele acres­cen­tou que, em com­para­ção a 2022, as denún­cias aumen­taram 61%. “Seguimos for­t­ale­cen­do as insti­tu­ições de fis­cal­iza­ção do tra­bal­ho. Temos um lon­ga jor­na­da pela frente, mas esta­mos o rumo cer­to”, apon­tou no microblog X, anti­go Twit­ter.

Disque 100

O min­istro Min­istério dos Dire­itos Humanos e da Cidada­nia, Sil­vio Almei­da, tam­bém na rede social, lamen­tou que ain­da hoje o tra­bal­ho anál­o­go à escravidão seja uma real­i­dade. Ele desta­cou as ações do gov­er­no fed­er­al e pediu apoio da pop­u­lação. “Cada um de nós desem­pen­ha papel vital na errad­i­cação dessa práti­ca ina­ceitáv­el e desumana”. Para isso, pediu que denún­cias cheguem ao Disque 100.

Edição: Marce­lo Brandão

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