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Ciência na Sapucaí: Mocidade desfila com clones de cajueiros

Repro­dução: © Ricar­do Moura/Embrapa

Fruta nativa foi escolhida como enredo da escola de samba


Pub­li­ca­do em 12/02/2024 — 09:49 Por Alana Gan­dra — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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Por ser fru­ta nati­va brasileira, o caju foi escol­hi­do como enre­do da esco­la de sam­ba Moci­dade Inde­pen­dente de Padre Miguel para o car­naval deste ano, no Rio de Janeiro.

“Fru­ta brasileira não é banana, não é maçã. É caju!”, disse à Agên­cia Brasil o chefe-ger­al da Embra­pa Agroindús­tria Trop­i­cal, Gus­ta­vo Saave­dra. Não só a história e a tradição dessa fru­ta estarão no des­file, como tam­bém ino­vações da ciên­cia brasileira. Clones de mudas de cajueiros, algo que parece ficção cien­tí­fi­ca, vão cruzar a aveni­da com os foliões.

A esco­la des­fi­la no Sam­bó­dro­mo nes­ta segun­da-feira (12). O enre­do diz Pede caju que dou… Pé de caju que dá e é assi­na­do pelo ator e humorista Marce­lo Adnet e por Paulin­ho Moci­dade, entre out­ros com­pos­i­tores. Em jul­ho, a Embra­pa, que tem em For­t­aleza (CE) o cen­tro que desen­volve toda a pesquisa com o caju, entrou em con­ta­to com a esco­la de sam­ba para falar não só sobre as car­ac­terís­ti­cas da fru­ta, como sobre toda a tec­nolo­gia que sua pro­dução envolve.

“A caju­cul­tura hoje deman­da tec­nolo­gia, deman­da sis­temas pro­du­tivos avança­dos. Então, a gente tem que unir as car­ac­terís­ti­cas da fru­ta com a tec­nolo­gia que o agro brasileiro deman­da”, expli­cou Saave­dra. A par­tir daí, a Embra­pa Agroindústr­ria Trop­i­cal pas­sou a tra­bal­har jun­to com a Moci­dade, dan­do infor­mações téc­ni­cas, “até para eles con­stru­ir o sam­ba, o enre­do, os car­ros alegóri­cos. Foram muitas con­ver­sas”.

Na reta final, foi plan­ta­do um cajueiro na Cidade do Sam­ba, em área reser­va­da para a Moci­dade pela Liga Inde­pen­dente das Esco­las de Sam­ba do Rio de Janeiro (Liesa). Para o car­ro alegóri­co da esco­la, que fala do caju e da tec­nolo­gia de pro­dução, a Embra­pa doou 500 mudas de cajueiros anões, tam­bém chamadas clones. “A tec­nolo­gia Embra­pa estará na Mar­quês de Sapu­caí. Os clones são as var­iedades”.

Cada clone demo­ra, em média, 30 anos para se desen­volver com­ple­ta­mente. “Porque a gente tem que bus­car, na natureza, as var­iedades mais adap­tadas, faz­er cruza­men­tos e, a par­tir dis­so tes­tar as car­ac­terís­ti­cas não só  de pro­dução, mas indus­tri­ais e sen­so­ri­ais do pro­du­to. Por isso é que demo­ra muito”.

Uma vez feito isso, o proces­so de mul­ti­pli­cação do caju é por clon­agem. A par­tir do con­jun­to de plan­tas base, são feitas cópias. “Cada cul­ti­var de caju é cópia de um con­jun­to de plan­tas que está lá na nos­sa estação exper­i­men­tal. Todas têm a mes­ma car­ac­terís­ti­ca de pro­dução”, obser­vou o chefe-ger­al.

As mudas foram doadas à Moci­dade Inde­pen­dente de Padre Miguel em tro­ca de uma ação social. Após o car­naval, a esco­la se com­pro­m­e­teu a realizar um tra­bal­ho tam­bém de doação para a comu­nidade, para as pes­soas plantarem os cajueiros nos seus próprios quin­tais ou em par­ques.

Caju nativo brasileiro é sucesso no carnaval da Mocidade de Padre Miguel. Foto: João Eugenio Diaz/ Embrapa
Repro­dução: Caju nati­vo brasileiro é suces­so no car­naval da Moci­dade de Padre Miguel. Foto: João Euge­nio Diaz/ Embra­pa

Cajueiro gigante

O cajueiro anão não é o tipo mais car­ac­terís­ti­co da fru­ta no Brasil, mas sim o cajueiro gigante. Saave­dra infor­mou, porém, que o cajueiro gigante não per­mite a estru­tu­ração de um sis­tema de pro­dução.

O proces­so envolve o mod­e­lo tradi­cional de pro­dução, que é o extra­tivis­mo. Por serem árvores muito grandes, alcançan­do até 12 met­ros a 15 met­ros, em áreas espaçadas, a pro­du­tivi­dade do cajueiro gigante gira em torno de 150 a 200 qui­los de cas­tan­ha por hectare, e com baixís­si­ma pos­si­bil­i­dade de aproveita­men­to do pedún­cu­lo, que é a parte da pol­pa, ou a fru­ta em si mes­ma.

“Quan­do você muda para o cajueiro anão, árvore mane­ja­da, seguin­do todos os pro­ced­i­men­tos que a Embra­pa recomen­da, você vai ter uma árvore de 2,5 met­ros. O caju pode ser col­hi­do à mão. O out­ro você recol­he do chão, aí o caju machu­ca e apo­drece muito rápi­do”.

O agrônomo expli­cou que a primeira van­tagem do cajueiro anão é que a pes­soa pas­sa a aproveitar o pedún­cu­lo em grande quan­ti­dade e, por con­ta de todo o pacote tec­nológi­co ali envolvi­do, pode-se pro­duzir mais de mil qui­los de cas­tan­ha por hectare.

“Você sai de 200 qui­los e pas­sa para mais de mil qui­los de cas­tan­ha, porque plan­ta mais árvores por hectare; você con­segue faz­er mane­jo, con­segue ali­men­tar a árvore, faz­er um pacote nutri­cional, con­tro­lar pra­gas e doenças. São seres vivos, mais bem for­ma­dos e pro­du­tivos.”

Os esta­dos do Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte são os maiores pro­du­tores de cas­tan­ha de caju do Brasil.

Os pesquisadores da Embra­pa Agroindús­tria Trop­i­cal lamen­taram que as fan­tasias tivessem se esgo­ta­do há quase dois meses, o que impediu sua par­tic­i­pação no des­file da Moci­dade. Gus­ta­vo Saave­dra infor­mou que o sam­ba da esco­la tem sido um dos mais toca­dos no ‘Spo­ti­fy’ (serviço de músi­ca dig­i­tal que dá aces­so a mil­hões de músi­cas) este ano.

“As pes­soas estão can­tan­do o sam­ba do caju. Ele tem uma lev­eza e se tor­na muito fácil. Virou um ‘hit’. Isso está sendo uma boa reper­cussão para a cadeia cajueira, porque mostra que o caju é nos­so; o caju é brasileiro”, desta­cou.

Cajucultura

A cul­tura do cajueiro é explo­ra­da por cer­ca de 170 mil pro­du­tores, em mais de 53 mil pro­priedades, dos quais 70% são pequenos agricul­tores com áreas infe­ri­ores a 20 hectares. Esti­ma-se que a ativi­dade gere em torno de 250 mil empre­gos dire­tos e indi­re­tos. Na Região Nordeste, sua importân­cia é ain­da maior, pois a deman­da por mão de obra para a col­hei­ta coin­cide com o perío­do de entres­safra das cul­turas anu­ais de sub­sistên­cia, ou seja, o segun­do semes­tre do ano.

Edição: Maria Clau­dia

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