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Cinema brasileiro celebra indicações de Ainda Estou aqui ao Oscar

Fernanda Montenegro diz que coração está em estado de graça

Elaine Patri­cia Cruz* – Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 23/01/2025 — 15:48
São Paulo
Brasília (DF), 23/01/2025 - Cena do filme Ainda estou aqui. Foto: Alile Dara Onawale/Sony Picutres
Repro­dução: © Alile Dara Onawale/Sony Picutres

As três indi­cações de Ain­da Estou Aqui ao Oscar – mel­hor filme, mel­hor filme estrangeiro e mel­hor atriz – foram muito cel­e­bradas no Brasil. De atrizes con­sagradas a críti­cos de cin­e­ma, de famosos a anôn­i­mos, não fal­tou quem ficas­se feliz com o grande feito deste filme brasileiro, dirigi­do por Wal­ter Salles.

Uma delas foi a atriz Fer­nan­da Mon­tene­gro, que já foi indi­ca­da ao Oscar de mel­hor atriz em 1999, por Cen­tral do Brasil, filme que tam­bém teve direção de Salles. Des­ta vez, ela tem uma razão ain­da mais espe­cial para cel­e­brar: a indi­ca­da ao Oscar de mel­hor atriz neste ano de 2025 foi sua fil­ha Fer­nan­da Tor­res, que inter­pre­tou a pro­tag­o­nista Eunice Pai­va em Ain­da Estou Aqui.

“Eu, Fer­nan­da Mon­tene­gro e Fer­nan­do Tor­res – onde quer que ele este­ja – esta­mos felizes e real­iza­dos, em esta­do de aleluia, pelas indi­cações de Fer­nan­da Tor­res e Wal­ter Salles ao impor­tante prêmio do Oscar. Um gan­ho cul­tur­al para o Brasil. Meu coração de mãe em esta­do de graça”, escreveu nas redes soci­ais.

Feito inédito

Em entre­vista à Agên­cia Brasil, o críti­co de cin­e­ma Chico Fire­man, sócio na dis­tribuido­ra Michiko Filmes, respon­sáv­el pelo lança­men­to no Brasil do filme Sol de Inver­no, desta­cou o fato de Ain­da Estou Aqui ter con­quis­ta­do um feito inédi­to: foi a primeira vez que um filme brasileiro con­quis­tou indi­cação na cat­e­go­ria de mel­hor filme, em 97 anos do prêmio.

“É imen­so para o Brasil e para o cin­e­ma brasileiro. Joga os holo­fotes para nos­sa arte como nun­ca acon­te­ceu. Esta­mos falan­do de vis­i­bil­i­dade e não de importân­cia em si. O cin­e­ma brasileiro não pre­cisa do aval inter­na­cional, mas quan­do ele vem aju­da e muito. As pes­soas vão se inter­es­sar mais pelo filme, pelo dire­tor, pela atriz e pelos filmes brasileiros como um todo. Colo­ca a gente no mapa de uma out­ra for­ma, com uma out­ra pro­jeção”, defende.

O críti­co ressaltou que a con­quista se tor­na ain­da mais impac­tante porque o enre­do  aju­da a traz­er reflexões sobre as vio­lên­cias provo­cadas pela ditadu­ra mil­i­tar brasileira. “As indi­cações, de uma cer­ta maneira, tam­bém são por causa dis­so. O tema políti­co, tão uni­ver­sal neste momen­to da história do mun­do, tem toca­do muito as pes­soas, inclu­sive fora do país”.

Para Fire­man, tam­bém foi muito sim­bóli­ca a indi­cação de Fer­nan­da Tor­res ao Oscar de mel­hor atriz, feito que já havia sido con­quis­ta­do por sua mãe. “É um ciclo com­ple­to fecha­do”.

Um marco

Já para Sér­gio Macha­do, dire­tor e roteirista de filmes como Cidade Baixa e Abril Despedaça­do, o filme rep­re­sen­ta um mar­co para a cul­tura brasileira.

“Vi o Ain­da Estou Aqui nascer. É um mar­co no cin­e­ma e na cul­tura brasileira. Não ape­nas pelas indi­cações, que são impor­tan­tís­si­mas, nem pelos prêmios que estão vin­do e virão muito mais. Mas porque mar­ca um reen­con­tro dos brasileiros com os nos­sos filmes. E que lin­do ver isso acon­te­cer com uma obra que tra­ta de assun­tos tão fun­da­men­tais e que revisi­ta o nos­so pas­sa­do som­brio. Ver o Walt­in­ho, a Nan­da e a equipe mar­avil­hosa que fez o filme — ami­gos tão queri­dos — ten­do o recon­hec­i­men­to que mere­cem me traz uma feli­ci­dade que não con­si­go nem descr­ev­er”, comem­o­ra.

“Essas indi­cações e a mar­ca históri­ca de o Brasil inte­grar a cat­e­go­ria de mel­hor filme no Oscar são de méri­to da obra e atu­ação de Wal­ter Salles e Fer­nan­da Tor­res, grandes rep­re­sen­tantes da riqueza cul­tur­al do Brasil na cin­e­matografia mundi­al e devem ser cel­e­bra­dos por toda a indús­tria audio­vi­su­al brasileira. É um mar­co de val­oriza­ção da nos­sa indús­tria e recon­hec­i­men­to da qual­i­dade de nos­so cin­e­ma. Viva Ain­da Estou Aqui e viva o cin­e­ma brasileiro!”, cel­e­bra Joana Hen­ning, CEO do Estú­dio Escar­late, respon­sáveis por filmes como Mon­i­ca e Seque­stro do Voo 375.

Copa do Mundo

Em entre­vista à Agên­cia Brasil, Rena­ta de Almei­da, dire­to­ra da Mostra Inter­na­cional de Cin­e­ma de São Paulo, lem­brou que a primeira apre­sen­tação do filme no Brasil acon­te­ceu den­tro do fes­ti­val, ocor­ri­do em out­ubro do ano pas­sa­do.

“Isso [a indi­cação ao Oscar] é uma mar­avil­ha não só para o filme, mas para todo o cin­e­ma brasileiro, até para o cin­e­ma lati­no-amer­i­cano. Quan­do eu vi o filme, achei que ele ia faz­er história mes­mo. Con­ver­sei com o Wal­ter e falei a ele sobre a com­plex­i­dade dos per­son­agens. São muitos per­son­agens e esse não é um filme sim­ples de se faz­er. A gente está fazen­do história e ele ter escol­hi­do a Mostra para a estreia do filme foi muito bacana. A gente ficou muito emo­ciona­da. Era um filme que pre­cisa­va ser feito”, desta­ca.

“Além da excelên­cia do filme — porque o Wal­ter é um dire­tor que bus­ca sem­pre a excelên­cia e que é per­fec­cionista — tem esse fato que é históri­co: um filme que traz temas que ain­da são muito sobre o pas­sa­do, mas que são temas que são tam­bém sobre o nos­so pre­sente e o nos­so futuro”, acres­cen­tou.

Para a dire­to­ra da Mostra Inter­na­cional de Cin­e­ma de São Paulo, o filme tam­bém teve o poder de res­gatar o orgul­ho brasileiro e aque­le cli­ma de tor­ci­da, com as pes­soas comem­o­ran­do como se fos­se uma vitória da seleção brasileira em Copa do Mun­do.

“Essas indi­cações provo­caram essa emoção toda e a gente vê a cul­tura e o cin­e­ma nesse lugar do esporte, que tem muito esse lugar da tor­ci­da. O filme con­quis­tou esse lugar de orgul­ho, ain­da mais por tudo o que o Brasil pas­sou recen­te­mente, com as perseguições con­tra o cin­e­ma e a cul­tura brasileira. Ago­ra vemos o cin­e­ma sair desse lugar e ir para um lugar onde as pes­soas têm orgul­ho. É muito boni­to a gente colo­car a nos­sa cul­tura, o nos­so cin­e­ma, nesse lugar tam­bém”.

Indicado

Ain­da Estou Aqui é um filme basea­do em uma auto­bi­ografia, de mes­mo nome, escri­ta por Marce­lo Rubens Pai­va. A tra­ma retra­ta o desa­parec­i­men­to do políti­co Rubens Pai­va, pai de Marce­lo Rubens Pai­va, durante a ditadu­ra mil­i­tar brasileira.

O foco da tra­ma é Eunice Pai­va. Casa­da com Rubens Pai­va e mãe de cin­co fil­hos, ela pas­sou a criá-los soz­in­ha quan­do, em 1971, o mari­do foi pre­so, tor­tu­ra­do e assas­si­na­do por agentes da ditadu­ra.

Na man­hã des­ta quin­ta-feira (23), o filme rece­beu três indi­cações. A primeira delas foi ao Oscar de mel­hor filme estrangeiro, repetindo o feito de O Pagador de Promes­sas (1963), O Qua­tril­ho (1996), O que é Isso, Com­pan­heiro? (1998) e Cen­tral do Brasil (1999). Neste ano, o filme con­corre com A Garo­ta da Agul­ha (Dina­mar­ca), Emil­ia Pérez (França), A Semente do Fru­to Sagra­do (Ale­man­ha) e Flow (Letô­nia).

Na indi­cação de mel­hor atriz, Fer­nan­da Tor­res con­corre com Cyn­thia Eri­vo, Kar­la Sofía Gascón, Mikey Madi­son e Demi Moore. Já na cat­e­go­ria de mel­hor filme, os con­cor­rentes são Ano­ra, O Bru­tal­ista, Um Com­ple­to Descon­heci­do, Con­clave, Duna: Parte 2, Emil­ia Pérez, Nick­el Boys, A Sub­stân­cia e Wicked.

“Ago­ra, tudo é batal­ha. Em filme inter­na­cional, Emil­ia Pérez é o fran­co favorito. Teve 13 indi­cações, quase um recorde ger­al – e um recorde para filmes estrangeiros. Então é meio com­pli­ca­do enfrentar esse favoritismo. Tem uma reação con­trária a este filme pela comu­nidade LGBT e dos mex­i­canos, o que pode nos favore­cer se o negó­cio ficar muito grande. Mas é difí­cil men­su­rar isso”, expli­cou o críti­co Chico Fire­man.

“Em mel­hor atriz, a Demi Moore tem uma nar­ra­ti­va de come­back muito forte e o filme é pop­u­lar mas, ao mes­mo tem­po, estar num body hor­ror (A Sub­stân­cia) não deixa o cam­in­ho tão fácil assim. Nis­so, a Fer­nan­da, uma inter­pre­tação mais clás­si­ca, sóbria, unanime­mente elo­gia­da, pode sur­preen­der. Mas é rarís­si­mo acon­te­cer um prêmio para uma estrangeira nes­ta cat­e­go­ria. Foram ape­nas duas em 97 anos de Oscar. Em mel­hor filme, a indi­cação acho que já é um grande prêmio. Mas, enfim, ago­ra é uma nova votação. As coisas ficam meio zer­adas”, acres­cen­tou.

Para Rena­ta de Almei­da, o filme tem chances de con­quis­tar o primeiro Oscar brasileiro.

“Se está aí con­cor­ren­do é porque tem chance. Acho que tem chance como filme estrangeiro. Na cat­e­go­ria de mel­hor filme, acho que é mais difí­cil. Mas a Fer­nan­da tam­bém tem chance. Ela está fan­tás­ti­ca no filme, e além dis­so, ela tem esse caris­ma todo. E eles estão se ded­i­can­do muito, muito, para a pro­moção do filme [no exte­ri­or]. Mas eu acho que a gente já tem que comem­o­rar des­de hoje porque eles fiz­er­am um filme lin­do”.

*Colaborou Eduar­do Cor­reia

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