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Cirurgias de incontinência urinária caem 61% em 2021

Repro­dução: © Mauri­cio Bazilio/Governo do Rio de Janeiro

Região Norte foi a mais impactada, com redução de 72% nas internações


Pub­li­ca­do em 14/03/2022 — 16:56 Por Alana Gan­dra — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

Estu­do feito por urol­o­gis­tas da Sociedade Brasileira de Urolo­gia (SBU), com base no ban­co de dados do Sis­tema Úni­co de Saúde (SUS), do Min­istério da Saúde, rev­el­ou que a pan­demia de covid-19 teve maior impacto sobre cirur­gias para trata­men­to de incon­tinên­cia urinária por esforço nos esta­dos com Índice de Desen­volvi­men­to Humano (IDH) mais baixo.

A Região Norte foi a mais impacta­da, com redução de 72% nas inter­nações, segui­da pelas regiões Sul (-69%), Cen­tro-Oeste (-61%), Sud­este (-59%) e Nordeste (-51%). Em 2019, foram real­izadas 300 cirur­gias de incon­tinên­cia urinária na Região Norte, no âmbito do SUS, cain­do para 97, em 2020, e para 85, em 2021, em dados pre­lim­inares.

Nas demais regiões, os números são, na mes­ma com­para­ção, da ordem de 888, 428 e 436, na Região Nordeste; 3.220, 1.374 e 1.332, na Região Sud­este; 1.736, 658 e 545, na Região Sul; e 591, 235 e 233, no Cen­tro-Oeste. A redução média foi de 61% no número de inter­nações para trata­men­to cirúr­gi­co de incon­tinên­cia urinária em 2021, em com­para­ção a 2019: foram 2.631 inter­nações no Brasil com esse obje­ti­vo, no ano pas­sa­do, con­tra 6.735, em 2019, antes da pan­demia.

Dia Mundial

Nes­ta segun­da-feira (14), quan­do se comem­o­ra o Dia Mundi­al da Incon­tinên­cia Urinária, a enti­dade aler­ta sobre a per­da invol­un­tária de uri­na, prob­le­ma que atinge 45% das mul­heres e 15% dos home­ns aci­ma de 40 anos de idade. A dire­to­ra de comu­ni­cação da Sociedade Brasileira de Urolo­gia (SBU), Karin Anzolch, desta­cou, em entre­vista à Agên­cia Brasil, que a covid-19 lev­ou hos­pi­tais e serviços a pri­orizarem o atendi­men­to à doença, poster­gan­do, ou mes­mo can­ce­lando, cirur­gias ele­ti­vas.

Out­ro fator para a redução das inter­nações para cirur­gias de incon­tinên­cia urinária foi o receio da con­t­a­m­i­nação, que lev­ou a pop­u­lação a não procu­rar aces­so para ess­es pro­ced­i­men­tos, que não ofer­e­cem risco ime­di­a­to de morte. Com isso, Karin admi­tiu que está se crian­do ago­ra “uma deman­da reprim­i­da bas­tante grande”.

Tipos

O tipo mais comum de incon­tinên­cia urinária é o de esforço, que ocorre, em ger­al, quan­do a pes­soa ri, tosse, espir­ra ou faz algum esforço físi­co, como lev­an­tar peso. Em fas­es ini­ci­ais, o trata­men­to pode ser com­ple­men­ta­do com fisioter­apia pélvi­ca, poden­do até evi­tar a cirur­gia. Já em situ­ações que se tor­nam mais graves, ou que per­sis­tem após o primeiro trata­men­to, a cirur­gia é ofer­e­ci­da com óti­mos resul­ta­dos.

“Hoje em dia, tem se feito cada vez mais cirur­gias min­i­ma­mente inva­si­vas”. A médi­ca lem­brou que ati­tudes como per­da de peso, uma assistên­cia ade­qua­da ao tra­bal­ho de par­to, evi­tar o uso de fumo e esforços repeti­dos que não ten­ham um bom reforço do assoal­ho pélvi­co são medi­das impor­tantes que os urol­o­gis­tas con­sid­er­am na abor­dagem desse tipo de prob­le­ma.

Out­ro tipo de incon­tinên­cia urinária é o de urgên­cia. A pes­soa tem von­tade de uri­nar, mas a bex­i­ga não dá avi­so prévio. “O primeiro avi­so já vem acom­pan­hado de um dese­jo forte de uri­nar e a pes­soa, muitas vezes, aca­ba per­den­do uri­na antes de chegar ao ban­heiro”. Neste caso, o trata­men­to geral­mente é clíni­co, incluin­do cuidar o tipo e a quan­ti­dade de líqui­do que a pes­soa toma, evi­tar cafeí­na que tam­bém pio­ra esse tipo de sin­toma, e a fisioter­apia pode entrar no trata­men­to. Há ain­da med­icações orais que reg­u­lam a bex­i­ga. Os pro­ced­i­men­tos cirúr­gi­cos são a últi­ma solução, envol­ven­do tox­i­na bot­u­líni­ca e implante de um tipo de mar­ca-pas­so para con­tro­lar a bex­i­ga. “Mas sem­pre nas suas fas­es ini­ci­ais é mais fácil o trata­men­to, porque a gente tem medi­das menos inva­si­vas de tratar as doenças”, obser­vou a dire­to­ra da SBU.

Fatores

Karin Anzolch disse que o envel­hec­i­men­to é um dos fatores que podem provo­car a incon­tinên­cia urinária, pela per­da de colágeno que aca­ba deixan­do mais frágil a sus­ten­tação da bex­i­ga e da ure­tra, prin­ci­pal­mente nas mul­heres. A urol­o­gista adver­tiu que não se deve pen­sar, no entan­to, que esse é um even­to nat­ur­al da vel­hice. Out­ros fatores são os par­tos, históri­co famil­iar. Quan­to maior o número de par­tos, em espe­cial os vagi­nais, eles podem aumen­tar a chance da incon­tinên­cia urinária de esforço, quan­do forem acom­pan­hados de um aumen­to de peso exager­a­do.

“Por isso, é impor­tante o acom­pan­hamen­to pré-natal”. Em ter­mos de históri­co famil­iar, Karin lem­brou que tem mul­heres que sofrem desse prob­le­ma, que a menopausa pode pio­rar. Prob­le­mas de prós­ta­ta e prob­le­mas neu­rológi­cos, como doença de Parkin­son, escle­rose múlti­pla, aci­dente vas­cu­lar cere­bral, estão lig­a­dos à incon­tinên­cia urinária.

Alguns medica­men­tos, como os diuréti­cos, podem con­tribuir para ess­es sin­tomas, porque aumen­tam a sen­sação de urgên­cia para uri­nar, além de pes­soas que fazem ativi­dades físi­cas de alto impacto. No caso das mul­heres, Karin pon­der­ou que elas têm que tra­bal­har o assoal­ho pélvi­co para pre­venir esse tipo de ocor­rên­cia. “Não é só tra­bal­har a mus­cu­latu­ra exter­na, mas apren­der a tra­bal­har a mus­cu­latu­ra que fecha em baixo o assoal­ho pélvi­co, que dá sus­ten­tação da bex­i­ga e da ure­tra”. O pres­i­dente da SBU, Alfre­do Canali­ni, salien­tou que ess­es recur­sos servem para tratar ou, pelo menos, diminuir a inten­si­dade da per­da, mel­ho­ran­do a qual­i­dade de vida dos pacientes.

Conscientização

Ao lon­go do mês de março, a Sociedade Brasileira de Urolo­gia vai aler­tar a pop­u­lação sobre a importân­cia de se iden­ti­ficar os sin­tomas e tratar a incon­tinên­cia urinária. Nas redes soci­ais (@portaldaurologia), a par­tir de hoje (14), haverá posta­gens, lives (trans­mis­sões ao vivo) e vídeos com espe­cial­is­tas esclare­cen­do dúvi­das sobre o tema.

Na Rádio SBU, haverá tam­bém pro­gra­mas espe­ci­ais, com vocab­ulário acessív­el para o públi­co em ger­al, inclu­sive sobre a incon­tinên­cia urinária em cri­anças. Segun­do Karin Anzolch, ain­da há muito descon­hec­i­men­to e, tam­bém, pre­con­ceito, em relação ao prob­le­ma da incon­tinên­cia urinária. Muitas vezes, uma pes­soa que sofre desse incô­mo­do, aca­ba con­viven­do com ele por lon­gos anos, porque igno­ra que exis­tem opções de trata­men­to ou por ver­gonha de admi­tir a questão per­ante out­ras pes­soas.

A dire­to­ra da enti­dade esclare­ceu que, para as cri­anças, o trata­men­to não é o mes­mo que o dos adul­tos. Por um perío­do, admite-se como nor­mal a fal­ta de con­t­role da cri­ança, lig­a­da ao amadurec­i­men­to do sis­tema neu­rológi­co, prin­ci­pal­mente quan­do a per­da de uri­na, ou de fezes, ocorre em perío­dos noturnos. A par­tir de uma deter­mi­na­da idade, porém, começa-se a sus­peitar que a incon­tinên­cia pre­cisa de algum trata­men­to. “Porque a per­da urinária aca­ba sendo bas­tante lim­i­tante para a vida social dessas cri­anças, que acabam pas­san­do por situ­ações de con­strang­i­men­to, deixan­do de dormir na casa de algum coleguin­ha”.

Sabe-se que algu­mas cri­anças podem ter esse prob­le­ma por causa genéti­ca. “Incon­tinên­cia urinária em cri­ança é muito lig­a­da à questão famil­iar. Se já tem alguém na família que fez xixi na cama, essa cri­ança tem mais chance de ter o prob­le­ma tam­bém”, afir­mou Karin. Ressaltou tam­bém que, muitas vezes, o hor­mônio antid­i­uréti­co que dev­e­ria ser pro­duzi­do à noite não fun­ciona. Entre­tan­to, isso pode ser solu­ciona­do com medica­men­tos sim­ples, com treina­men­to da bex­i­ga, fisioter­apia e alarmes, para a cri­ança apren­der a edu­car a sua bex­i­ga. Prob­le­mas na medu­la ou lig­a­dos à for­mação do tra­to urinário neces­si­tarão de trata­men­tos especí­fi­cos, para cada faixa etária e situ­ação, indi­cou.

“A incon­tinên­cia urinária não é uma situ­ação que se tra­ta sem­pre da mes­ma for­ma. Ela deve ser abor­da­da indi­vid­u­al­izan­do os tipos, pelas faixas etárias, pelas causas mais comuns, para que seja lev­a­do ao con­t­role dessa situ­ação”, disse a espe­cial­ista.

Qualidade de vida

Pesquisa pub­li­ca­da na Europa em 2021, envol­ven­do quase 17 mil pes­soas entre 40 e 74 anos de idade, rev­el­ou que muitos pacientes lidam com o prob­le­ma reduzin­do a ingestão de líqui­dos e usan­do absorventes; quase dois terços dos pacientes apre­sen­tam a incon­tinên­cia urinária há pelo menos dois anos quan­do procu­ram trata­men­to; cer­ca de 30% dos pacientes que procu­ram avali­ação médi­ca não recebem trata­men­to; quase 80% sequer são exam­i­na­dos. “Pre­cisamos mudar esse jogo”, desta­cou Ail­ton Fer­nan­des, dire­tor do Depar­ta­men­to de Dis­função Mic­cional da Sociedade Brasileira de Urolo­gia.

Edição: Maria Clau­dia

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