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Clima e aumento do consumo devem manter preço do café em alta

Safra deste ano pode ajudar a estabilizar os valores, estima Abic

Elaine Patri­cia Cruz – Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 05/02/2025 — 18:53
São Paulo
Pequenas torrefações preparam grãos especiais de café
Repro­dução: © Mar­cel­lo Casal jr/Agência Brasil

O preço do café deve con­tin­uar subindo nas próx­i­mas sem­anas, pelo menos até a safra deste ano, que começa a ser col­hi­da por vol­ta de abril ou maio. A afir­mação é da Asso­ci­ação Brasileira da Indús­tria do Café (Abic). A prin­ci­pal causa do aumen­to nos preços são os even­tos climáti­cos, que influ­en­ci­am na safra do grão. O aumen­to do con­sumo em todo o mun­do e a chega­da de um novo mer­ca­do con­sum­i­dor glob­al, a Chi­na, tam­bém influ­en­ci­am. 

Segun­do a enti­dade, esse impacto sobre os preços deve se man­ter por mais dois ou três meses. Depois, deve vir um momen­to de arrefec­i­men­to no val­or do pro­du­to, com uma cer­ta esta­bi­liza­ção. A que­da de preços, no entan­to, só dev­erá acon­te­cer a par­tir da safra do próx­i­mo ano, esti­ma a asso­ci­ação.

O aumen­to no preço do café vem sendo obser­va­do des­de novem­bro do ano pas­sa­do. E não é um fenô­meno ape­nas no Brasil, que é o prin­ci­pal expor­ta­dor mundi­al de café no mun­do, rep­re­sen­tan­do quase 40% da pro­dução mundi­al, segui­do pelo Viet­nã (em torno de 17%) e pela Colôm­bia.

Safra

Em 2020, a safra brasileira bateu recordes, mas os anos seguintes foram ruins para a lavoura, influ­en­ci­a­do pelo cli­ma. Em 2021, hou­ve uma gea­da que diz­imou quase 20% da safra de arábi­ca. Em 2022, ela não con­seguiu se recu­per­ar – no ger­al, a safra demo­ra dois anos para que isso ocor­ra, expli­cou a Abic.

Já em 2023, a lavoura sofreu os efeitos do El Niño [fenô­meno que afe­ta o cli­ma em todo o plan­e­ta], com um perío­do lon­go de esti­agem e altas tem­per­at­uras. E, no ano pas­sa­do, o fenô­meno que atu­ou foi o La Niña, que trouxe chu­vas alon­gadas.

“Isso é muito ruim para a lavoura”, expli­cou  o pres­i­dente da Abic, Pavel Car­doso, acres­cen­tan­do que a safra que será col­hi­da neste ano será ligeira­mente menor que a do ano pas­sa­do.

“Esse acú­mu­lo de qua­tro anos de prob­le­mas climáti­cos e o cresci­men­to da deman­da glob­al dão a expli­cação dessa escal­a­da de preços no café”, ressaltou.

Com todos ess­es prob­le­mas climáti­cos afe­tan­do a lavoura, os pro­du­tores pre­cis­aram aumen­tar os gas­tos para a pro­dução. Com isso, o cus­to da matéria-pri­ma subiu. A indús­tria, infor­mou a Abic, teve aumen­tos supe­ri­ores a 200% e teve que repas­sar parte dis­so, em torno de 38%, ao con­sum­i­dor.

Todos ess­es fatores con­ju­ga­dos acabaram con­tribuin­do para a alta dos preços da com­mod­i­ty nas bol­sas inter­na­cionais, o que tam­bém traz reflex­os para o bol­so do con­sum­i­dor. Na Bol­sa de Nova York, os prin­ci­pais con­tratos de café arábi­ca atin­gi­ram os val­ores mais altos da história. Hoje, por exem­p­lo, a cotação voltou a subir e batia recorde, chegan­do US$ 3,97 a libra-peso.

“Em relação a esse recorde, que está quase chegan­do a US$ 4 a libra-peso, muito se atribuiu a uma poten­cial­iza­ção dessa ofer­ta cur­ta. É uma entra­da forte de fun­dos que gera um número históri­co, mas que é poten­cial­mente impor­tante para a reflexão de todo o setor. Esse momen­to é gan­ho para todos? É uma situ­ação que cabe a todos nós refle­tir”, disse Car­doso. “Essa escal­a­da em algum momen­to vai parar, mas não se sabe quan­do. Essa é a per­gun­ta que todos nós faze­mos”.

Estimativas

A Abic espera que a safra deste ano, que começa a ser col­hi­da em abril, ajude a esta­bi­lizar os preços. O setor tam­bém tem uma grande expec­ta­ti­va para a safra do ano que vem, que pode bater o recorde de 2020, aju­dan­do a ampli­ar a ofer­ta e diminuir os preços do pro­du­to. Enquan­to isso não ocorre, o con­sum­i­dor ain­da deve sofr­er com o aumen­to no café já que a indús­tria ain­da tem repass­es a faz­er pelo seu alto cus­to.

“Em relação à matéria-pri­ma, deve­mos ter ain­da algu­ma volatil­i­dade adi­cional até a chega­da da safra, que deve ten­sion­ar por con­ta de uma ofer­ta muito cur­ta. A par­tir da chega­da dessa safra, enten­demos que haverá algu­ma esta­bil­i­dade. E quan­do tiver­mos final­iza­do a col­hei­ta, por­tan­to, com um olhar para 2026, esper­amos ter uma grande safra, pos­sivel­mente supe­ri­or a 2020, quan­do tive­mos safra recorde”, infor­mou Car­doso,

“Com relação ao con­sum­i­dor, ter­e­mos algum aumen­to adi­cional, afi­nal, tive­mos aumen­tos supe­ri­ores a 180% para a indús­tria, que absorveu esse aumen­to e repas­sou parte dis­so para os mer­ca­dos, chegan­do a 37% para os con­sum­i­dores. Então, parte desse aumen­to será trans­feri­do para os vare­jis­tas e, con­se­quente­mente, aos con­sum­i­dores”, expli­cou.

Dados do setor

O con­sumo da bebi­da no Brasil entre novem­bro de 2023 e out­ubro de 2024 cresceu 1,11% em relação ao ano ante­ri­or, segun­do dados divul­ga­dos pela Abic nes­ta quar­ta-feira (5).

O Brasil, que é o maior pro­du­tor e expor­ta­dor do pro­du­to, é tam­bém o segun­do maior con­sum­i­dor mundi­al de café, ten­do con­sum­i­do 21,916 mil­hões de sacas em 2024, o que sig­nifi­cou 4,1 mil­hões de sacas a menos do que é con­sum­i­do pelo país que está na lid­er­ança desse rank­ing, os Esta­dos Unidos. Os dados do setor tam­bém infor­maram que o brasileiro con­some, em média, 1.430 xícaras/ano de café.

O fat­u­ra­men­to da indús­tria de café tor­ra­do no mer­ca­do inter­no somou R$ 36,82 bil­hões no ano pas­sa­do, uma vari­ação de 60,85% quan­do com­para­do a 2023. A alter­ação ocorre dev­i­do ao aumen­to do preço do café na gôn­dola. No mer­ca­do exter­no, o fat­u­ra­men­to foi de R$ 134 mil­hões.

Os cafés espe­ci­ais sofr­eram um aumen­to de 9,80%, quan­do com­para­do o perío­do de janeiro de 2024 com dezem­bro de 2024. Já a cat­e­go­ria de cafés Gourmets reg­istrou um aumen­to de 16,17%; os cafés Supe­ri­ores, de 34,38%; e os cafés Tradi­cionais e Extrafortes, tiver­am aumen­to de 39,36%. Os cafés em cáp­su­la tam­bém reg­is­traram um aumen­to nos preços (2,07%).

Nos últi­mos qua­tro anos, a matéria-pri­ma aumen­tou 224%, e o café no vare­jo aumen­tou 110%. No últi­mo ano, a vari­ação de preço ao con­sum­i­dor do café tor­ra­do e moí­do foi de 37,4%, um aumen­to maior que a média da ces­ta bási­ca (2,7%).

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