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Climatologista aponta risco de mais desastres ambientais no mundo

Repro­dução: © Comu­ni­cação MPA

Publicado em 11/05/2024 — 09:41 Por Cristina Indio do Brasil – Repórter da Agência Brasil — Rio de Janeiro


Chu­vas inten­sas como as que ocor­rem no Rio Grande do Sul são even­tos extremos com tendên­cia de ser mais fre­quentes em todo o mun­do. Segun­do o pesquisador do Insti­tu­to de Estu­dos Avança­dos da Uni­ver­si­dade de São Paulo (USP) e co-pres­i­dente do Painel Cien­tí­fi­co para a Amazô­nia, Car­los Nobre, é pre­ciso haver con­sci­en­ti­za­ção sobre as mudanças climáti­cas.

“Todo mun­do pre­cisa abrir o olho. No mun­do inteiro, ess­es fenô­menos extremos estão acon­te­cen­do. Em 2021 tive­mos recorde de chu­vas em uma parte da Europa, e mor­reram mais de 100 pes­soas. Em 2022, hou­ve recorde de chu­va no Grande Recife e, em duas horas, em Petrópo­lis. No ano pas­sa­do, em fevereiro, tive­mos o maior vol­ume de chu­va da história do Brasil com 600 milímet­ros (mm) em 24 horas no litoral norte de São Paulo, na cidade de São Sebastião”, disse o cli­ma­tol­o­gista em entre­vista à Agên­cia Brasil.

Car­los Nobre desta­cou ain­da as tem­per­at­uras extremas que estão ocor­ren­do, com o reg­istro de 2023 e parte de 2024 como os anos mais quentes da história em um lon­go perío­do.

“O Insti­tu­to Climáti­co Coper­ni­cus mostrou que foram os anos mais quentes em 125 mil anos. Para ver a tem­per­atu­ra a que o plan­e­ta Ter­ra chegou no ano pas­sa­do e neste ano, tem que ir ao últi­mo perío­do inter­glacial, 125 mil anos atrás. Ess­es fenô­menos extremos, quan­do os oceanos estão muito quentes, mar­caram recordes no ano pas­sa­do e neste ano. Com isso, evap­o­ra mui­ta água, e a água é o ali­men­to de chu­vas muito inten­sas em um lugar ou de seca em out­ro”, expli­cou.

Seca

De acor­do com Nobre, os fenô­menos da seca são o out­ro lado da moe­da das mudanças climáti­cas enfrentadas pelo Rio Grande do Sul.

“As secas de 20, 21 e 22 foram cau­sadas pelo mais lon­go fenô­meno La Niña, que foi muito forte porque as águas do Oceano Pací­fi­co ficaram muito quentes per­to da Indonésia e induzi­ram secas mais pro­nun­ci­adas em boa parte do Sul do Brasil. Com El Niño, ocorre o con­trário, com a indução de chu­vas muito fortes como as de setem­bro no ano pas­sa­do em boa parte do Rio Grande do Sul”, ressaltou.

Segun­do o cli­ma­tol­o­gista, o reveza­men­to dos dois tipos de fenô­meno vai con­tin­uar existin­do. “Isso está acon­te­cen­do no mun­do inteiro. Tive­mos no ano pas­sa­do a seca históri­ca mais forte no Ama­zonas e no Cer­ra­do. Os anos de 2023 e 2024 estão baten­do todos os recordes de ondas de calor em inúmeras partes do Brasil, o Sud­este, o Cen­tro-Oeste, o Nordeste e partes da Amazô­nia. Secas, chu­vas inten­sas e ondas de calor estão baten­do recordes em todo o mun­do.”

Nobre disse que a pop­u­lação tem que se con­sci­en­ti­zar de que aqui­lo que esta­va pre­vis­to para as próx­i­mas décadas está ocor­ren­do ago­ra e que é pre­ciso se adap­tar às mudanças climáti­cas.

“A pop­u­lação tem que enten­der que ess­es even­tos extremos são quase uma pan­demia climáti­ca. Dan­do o exem­p­lo da covid, quan­do a Orga­ni­za­ção Mundi­al da Saúde [OMS] anun­ciou que era uma pan­demia glob­al, prati­ca­mente todos os país­es dec­re­taram o uso de más­cara, o chama­do lock­down. E todo mun­do ficou em casa”, enfa­ti­zou.

O cli­ma­tol­o­gista lem­brou que a OMS decre­tou emergên­cia, e todo mun­do respon­deu. “Ago­ra esta­mos entran­do em uma emergên­cia climáti­ca. As pop­u­lações têm que respon­der ao que foi na covid. Não tem mais vol­ta. Não vamos mais baixar a tem­per­atu­ra. Com muito esforço glob­al, poder­e­mos, quem sabe, baixar a tem­per­atu­ra no sécu­lo 22. A con­ta já está dada”, apon­tou.

Negacionismo

Para o pesquisador, o com­bate ao nega­cionis­mo, que existe em relação às mudanças climáti­cas, tem que ser por meio da edu­cação. Ele exem­pli­fi­cou com o Japão, que além de faz­er con­struções mais resilientes, trans­mite infor­mações des­de cedo às cri­anças sobre como se pro­te­ger de ter­re­mo­tos, que são fre­quentes naque­le país.

“O número de mor­tos em ter­re­mo­tos diminuiu muito por causa do sis­tema edu­ca­cional”, disse Car­los Nobre, desta­can­do que “hou­ve mel­ho­ra na infraestru­tu­ra, emb­o­ra o sis­tema edu­ca­cional seja essen­cial”. Nos Esta­dos Unidos, as cri­anças tam­bém recebem infor­mações sobre como enfrentar tor­na­dos, que são tam­bém destru­idores.

No Rio Grande do Sul, os aler­tas sobre a ocor­rên­cia de chu­vas foram feitos dias antes e, por isso, é pre­ciso edu­car a pop­u­lação para mel­hor enfrentar situ­ações extremas, acres­cen­tou Nobre.

Ape­sar de recomen­dar a saí­da para locais mais pro­te­gi­dos quan­do chu­vas mais inten­sas chegarem, o pesquisador desta­cou que algu­mas pes­soas temem deixar suas casas com receio de saques e invasões. Para esta situ­ação, Nobre sug­eriu que órgãos públi­cos inclu­am em seu plane­ja­men­to um esque­ma de segu­rança.

“Tem que ter uma ação das polí­cias para evi­tar que ladrões e crim­i­nosos se aproveit­em dess­es desas­tres.” De acor­do com Nobre, isso já é feito em Cam­pos do Jordão, em São Paulo, onde as chu­vas cos­tu­mam provo­car desliza­men­tos de ter­ra.

Con­forme o cli­ma­tol­o­gista, o des­mata­men­to é uma das causas de tais desas­tres e, no caso do Rio Grande do Sul, con­tribui para prej­u­dicar o proces­so de escoa­men­to das águas. Nobre aler­tou para reflex­os tam­bém nas encostas, onde há con­struções irreg­u­lares.

“Temos mais de 3 mil­hões de brasileiros viven­do em áreas de altís­si­mo risco de desliza­men­to de encostas. De fato não tem como man­ter as pop­u­lações em áreas de risco para a vida. Grande parte é pobre, então tem que haver inves­ti­men­to públi­co”, con­cluiu.

Previsão de mais chuva

De acor­do com Car­los Nobre, emb­o­ra em menor vol­ume, ain­da há pre­visão de chu­vas no esta­do neste final de sem­ana com a entra­da de uma nova frente fria. A repetição das ocor­rên­cias man­tém os rios e as áreas ala­gadas ain­da com níveis ele­va­dos de água.

“As pre­visões mete­o­rológ­i­cas não indicam uma chu­va na quan­ti­dade que caiu na sem­ana pas­sa­da, mas, ain­da assim, o desas­tre con­tin­ua e pode levar uma sem­ana para o nív­el das regiões inun­dadas baixar”, con­tou.

Out­ro fator que causa influên­cia é a posição do ven­to que se dirige do oceano para a parte ter­restre ou se movi­men­ta da Argenti­na sain­do de sudoeste para noroeste. Ness­es casos, segun­do Nobre, o escoa­men­to da água da Lagoa dos Patos fica prej­u­di­ca­do por diminuir o fluxo e aca­ba man­ten­do o nív­el ele­va­do e as enchentes em Por­to Ale­gre e regiões próx­i­mas. “As esti­ma­ti­vas são na faixa de 100 a 150 mm. Isso é bem menos do que caiu na sem­ana pas­sa­da de 700 a 800 mm”, com­ple­tou.

Edição: Nádia Fran­co

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