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Coluna Prestes, maior marcha militar do mundo, completa hoje 100 anos

Revoltosos percorreram mais de 25 mil km do território nacional

Eduar­do Luiz Cor­reia — Repórter da Agên­cia
Pub­li­ca­do em 28/10/2024 — 08:33
São Paulo
Brasília (DF), 28/10/2024 - Coluna Prestes. A maior marcha do mundo. Foto: Agência Senado/Reprodução
© Agên­cia Senado/Reprodução

Maior mar­cha mil­i­tar do mun­do, a col­u­na Prestes, que alguns his­to­ri­adores dizem que mais apro­pri­ada­mente dev­e­ria ser chama­da de col­u­na Miguel Cos­ta — Prestes, com­ple­ta 100 anos nes­ta segun­da-feira (28). Com 1.500 home­ns e mul­heres, a maio­r­ia sol­da­dos de baixa patente, a mar­cha per­cor­reu cer­ca de 25 mil quilômet­ros, em dois anos e meio, pas­san­do por vários esta­dos, e jamais chegou a ser ofi­cial­mente der­ro­ta­da.

Ape­sar de mais con­heci­da como Col­u­na Prestes por causa de seu líder mais famoso, Luís Car­los Prestes, o movi­men­to rebelde teve tam­bém o coman­do de Miguel Alber­to Crispim Rodri­go da Cos­ta. Argenti­no nat­u­ral­iza­do brasileiro, mil­i­tar da Força Públi­ca de São Paulo, ficou nota­bi­liza­do por sua par­tic­i­pação na Revol­ta Paulista de 1924, con­fli­to entre mil­itares de São Paulo e o gov­er­no de Artur Bernardes, embrião da col­u­na. Por isso, muitos nomeiam o famoso movi­men­to como Col­u­na Miguel Cos­ta – Prestes.

“Se não fos­se Miguel Cos­ta, não exi­s­tiria Luís Car­los Prestes na história, pois foi a col­u­na Miguel Cos­ta que salvou da fome e do frio os gaú­chos de Prestes”, disse o jor­nal­ista Yuri Abyaza Cos­ta, autor dos livros Miguel Cos­ta, um herói brasileiro e Marchan­do com Miguel Cos­ta – ação da Col­u­na Paulista no Inte­ri­or de São Paulo, Paraná e a lig­ação com a Col­u­na Prestes.  Yuri é neto de Miguel Cos­ta.

Yuri Abyaza ref­ere-se ao episó­dio quan­do, der­ro­ta­dos na Revol­ta Paulista pelas forças do gov­er­no fed­er­al, os revoltosos paulis­tas jun­taram-se aos coman­da­dos por Prestes, que lid­er­a­va o agru­pa­men­to no Rio Grande do Sul, que estaria com seu con­tin­gente bas­tante debil­i­ta­do físi­ca e mil­i­tar­mente. A par­tir daí, ini­ciou a mar­cha da famosa col­u­na, acon­tec­i­men­to mais emblemáti­co do que ficou con­heci­do como “Tenen­tismo”.

Se Miguel Cos­ta era o estrate­gista mil­i­tar da Col­u­na, Prestes, por seu lado, é lem­bra­do pelo seu lado mais “humano” jun­to aos coman­da­dos, con­forme depoi­men­to do jor­nal­ista Domin­gos Meirelles, ao pro­gra­ma Cam­in­hos da Reportagem, da TV Brasil, exibido em 2015. Meirelles, autor do livro As Noites das Grande Fogueiras, tam­bém sobre a Col­u­na, disse que “Prestes era muito queri­do pela tropa”.

Segun­do o jor­nal­ista, “ele usa­va alguns horários livres para alfa­bet­i­zar os sol­da­dos, fica­va sem­pre ao lado daque­les que eram víti­mas de fer­i­men­tos graves e com chances remo­tas de sobre­viv­er”. Meirelles lem­brou ain­da que, ape­sar de o prin­ci­pal adver­sário da Col­u­na ser o Exérci­to Brasileiro, os maiores inimi­gos da col­u­na no dia a dia das batal­has foram os lat­i­fundiários, “que arman­do os seus capan­gas, incen­ti­va­dos pelo gov­er­no, for­maram os chama­dos batal­hões patrióti­cos”. “E aí é que começa real­mente a des­graça dos jovens rebeldes. Ess­es home­ns do cam­po é que inf­er­nizaram a vida da col­u­na muito mais do que o Exérci­to Brasileiro”, com­ple­tou.

Mas o movi­men­to nun­ca chegou a ser efe­ti­va­mente der­ro­ta­do. A col­u­na Prestes (ou Miguel Cos­ta-Prestes) foi mar­ca­da pelo aspec­to insur­recional con­tra o poder das oli­gar­quias das primeiras décadas do sécu­lo pas­sa­do, a chama­da políti­ca do café com leite, quan­do se revezavam na Presidên­cia da Repúbli­ca políti­cos da São Paulo cafeeira e Minas, grande pro­du­tor de leite. Tam­bém ficou con­heci­da pela for­mação de seus quadros, mil­itares dos escalões infe­ri­ores do Exérci­to sendo muitos deles anal­fa­betos ou semi­le­tra­dos e tra­bal­hadores do cam­po.

O jor­nal­ista e his­to­ri­ador, espe­cial­iza­do no perío­do, Moacir Assunção, autor de São Paulo deve ser destruí­da: a história do bom­bardeio à cap­i­tal na revol­ta de 1924, comen­tou que “a Col­u­na tem o lugar que merece (na História do Brasil), foi a maior mar­cha mil­i­tar da história do mun­do, com 25 mil quilômet­ros per­cor­ri­dos e a der­ro­ta de 11 gen­erais da legal­i­dade pelos rebeldes, per­manecen­do invic­ta durante todo o tem­po e inspi­ran­do rev­olu­cionários como Mao Tse Tung e Fidel Cas­tro, que con­fes­sam a inspi­ração de suas mar­chas na Col­u­na Miguel Cos­ta-Prestes, além de ter influ­en­ci­a­do no fim da chama­da vocação agrária do Brasil, que pas­sou a se tornar um país indus­tri­al depois da vitória da Rev­olução de 1930”.

As prin­ci­pais reivin­di­cações da Col­u­na eram a imple­men­tação do voto secre­to (con­tra o chama­do “voto de cabresto”, prat­i­ca­do à época quan­do os chefes da políti­ca local con­trolavam o voto da pop­u­lação local), a defe­sa do ensi­no públi­co e a obri­ga­to­riedade do ensi­no secundário para a pop­u­lação, soman­do-se as ban­deiras do fim da mis­éria e da injustiça social no país.

“A grande força da col­u­na foi sua asso­ci­ação com as ban­deiras pop­u­lares que ela defendia, como o dire­ito ao voto uni­ver­sal, o dire­ito à alfa­bet­i­za­ção, a refor­ma agrária, o fim da pobreza e ter con­segui­do trans­mi­tir esse ide­al de que era pre­ciso traz­er o Brasil para os brasileiros”, disse a sociólo­ga, cien­tista políti­ca e escrito­ra Ana Prestes, neta do rev­olu­cionário, que se tornou a prin­ci­pal refer­ên­cia do movi­men­to comu­nista do país e uma das per­son­al­i­dades políti­cas mais influ­entes do sécu­lo pas­sa­do.

“A Col­u­na foi for­ma­da por home­ns e mul­heres (pou­cas e resistentes) que ama­ram o Brasil por den­tro e que se conec­taram com a pop­u­lação brasileira aban­don­a­da pela Repúbli­ca Vel­ha”, com­ple­tou Ana.

Como o movi­men­to nun­ca foi, de fato, debe­la­do pelo poder ofi­cial sua her­ança foi ter deix­a­do o gov­er­no oligárquico com suas bases enfraque­ci­das. As críti­cas man­i­fes­tadas pelos inte­grantes da Col­u­na, ecoadas por out­ros setores políti­cos dis­si­dentes da sociedade, foram reforçadas.

E tam­bém con­tribuiu forte­mente para a rev­olução de 1930, ou Rev­olução de Out­ubro, ocasião em que os gov­er­nos rebeldes de Minas Gerais, Paraí­ba e Rio Grande do Sul, der­am um golpe de esta­do tiran­do o então pres­i­dente Wash­ing­ton Luís da presidên­cia da Repúbli­ca e impedin­do a posse de seu sub­sti­tu­to Júlio Prestes. Getúlio Dor­nelles Var­gas, mil­i­tar e políti­co do Rio Grande do Sul, inau­gu­ran­do a chama­da “era Var­gas”, perío­do que foi de 1930 a 1945, sendo que de 1937 a 1945 instalou a ditadu­ra do Esta­do Novo.

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