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Com construção parada, Angra 3 investe em conservação de equipamentos

Repro­dução: © Tomaz Silva/Agência Brasil

Alguns dos itens guardados pela usina são de 1984


Publicado em 29/06/2024 — 08:02 Por Bruno de Freitas Moura – Repórter da Agência Brasil* — Angra dos Reis (RJ)

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Na Cos­ta Verde do esta­do do Rio de Janeiro, um imen­so can­teiro de obras se desta­ca entre o azul do mar e o verde da Mata Atlân­ti­ca. É a con­strução da Usi­na Nuclear Angra 3, para­da prati­ca­mente des­de 2015, que espera o sinal verde para ser retoma­da.

No entan­to, como o pro­je­to de con­strução do que pode ser a ter­ceira e mais potente usi­na nuclear do país data da déca­da de 1980, cer­ca de 80% dos equipa­men­tos da usi­na já estão com­pra­dos e pre­cisam ser sub­meti­dos a um rig­oroso con­t­role de manutenção, para que o tem­po de “hiber­nação força­da” não os com­pro­meta.

A reportagem da Agên­cia Brasil vis­i­tou o can­teiro de obras de Angra 3 a con­vite da Eletronu­clear e pôde perce­ber que, enquan­to a con­strução civ­il está para­da, mui­ta atenção é despe­ja­da para os 35 galpões que armazenam maquinário. “Viramos espe­cial­is­tas em preser­var equipa­men­tos”, diz o engen­heiro Bruno Berti­ni, respon­sáv­el pelo Depar­ta­men­to de Mon­tagem.

A frase traz um teor de lamen­tação pelo fato de a obra não deslan­char, mas tam­bém tem um grau de demon­stração de orgul­ho, por con­seguir man­ter con­ser­va­da por tan­to tem­po uma grande quan­ti­dade de maquinário, alguns itens des­de 1984.

Angra dos Reis (RJ), 20/06/2024 –Futuras instalações da Usina de Angra 3, na Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA), em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Repro­dução: Galpões guardam 12 mil vol­umes de equipa­men­tos, que são inspe­ciona­dos reg­u­lar­mente — Tomaz Silva/Agência Brasil

Nos galpões, 12 mil vol­umes de equipa­men­tos – a maio­r­ia impor­ta­da – são cuida­dosa­mente alo­ca­dos, cat­a­lo­ga­dos e inspe­ciona­dos reg­u­lar­mente. Alguns ficam envoltos em uma espé­cie de capa tér­mi­ca e expos­tos à síli­ca – sub­stân­cia que evi­ta a oxi­dação.

Como Angra 3 é um pro­je­to “gêmeo” de Angra 2, já acon­te­ceu de peças armazenadas serem usadas para sub­sti­tuir algu­ma que pre­cisou ser tro­ca­da na usi­na viz­in­ha.

Berti­ni adi­anta qual será o pro­ced­i­men­to a par­tir do momen­to em que a con­strução for reini­ci­a­da: “os equipa­men­tos vão pas­sar por inspeção ger­al, e serão tro­ca­dos itens suscetíveis a envel­hec­i­men­to.”

Interrupção em 2015

A inter­rupção das obras em 2015 foi moti­va­da por questões orça­men­tárias, ou seja, fal­ta de din­heiro. Um freio que ficou mais pesa­do ain­da por causa de reflex­os da Oper­ação Lava Jato nos anos seguintes, que teve como um dos alvos o então pres­i­dente da estatal, Oth­on Luiz Pin­heiro da Sil­va.

Ape­sar do tem­po de obra ina­ti­va, o super­in­ten­dente de con­strução de Angra 3, Anto­nio Zaroni, expli­ca que as partes mecâni­cas da usi­na nuclear são as mes­mas de Angra 2, o que faz com que os equipa­men­tos, como bom­bas, com­pres­sores e ger­adores não sejam obso­le­tos. “Os [itens] obso­le­tos foram sub­sti­tuí­dos, foram com­pra­dos novos, mais atu­ais. Angra 3 tem uma van­tagem enorme porque a parte de mecâni­ca, por exem­p­lo, tan­ques, tro­cadores de calor, tubu­lação, isso não sofre obso­lescên­cia.”

Zaroni detal­ha que alguns equipa­men­tos mecâni­cos mais mod­er­nos podem ter peque­nas mel­ho­rias, mas isso não rep­re­sen­ta que os adquiri­dos este­jam obso­le­tos. Ele acres­cen­ta que equipa­men­tos elétri­cos foram com­pra­dos há menos tem­po, inclu­sive alguns sequer foram entregues ain­da. “A parte elétri­ca, de instru­men­tação e con­t­role, da sala de con­t­role, reti­fi­cadores e painéis é toda nova, zer­a­da. A parte elétri­ca é o que tem de mais mod­er­no atual­mente”, afir­ma.

Essa atu­al­iza­ção da parte “inteligente” da usi­na é a jus­ti­fica­ti­va para o fato de que Angra 3, quan­do pronta, terá capaci­dade de ger­ação um pouco maior que a irmã gêmea, Angra 2.

Retomada

A retoma­da das obras depende de decisão do gov­er­no. A Eletronu­clear con­tra­tou o Ban­co Nacional de Desen­volvi­men­to Econômi­co e Social (BNDES) para faz­er um estu­do sobre a via­bil­i­dade téc­ni­ca, finan­ceira e jurídi­ca da usi­na. O doc­u­men­to é super­vi­sion­a­do pelo Tri­bunal de Con­tas da União (TCU), e o estu­do será avali­a­do pela Empre­sa de Pesquisa Energéti­ca (EPE), pelo Min­istério de Minas e Ener­gia e pelo Con­sel­ho Nacional de Políti­ca Energéti­ca (CNPE), que ficarão respon­sáveis pela definição da out­or­ga (autor­iza­ção do fun­ciona­men­to) e aprovação da tar­i­fa de com­er­cial­iza­ção da ener­gia a ser ger­a­da.

Segun­do a Eletronu­clear, o estu­do do BNDES deve ser divul­ga­do em jul­ho. Procu­ra­do pela Agên­cia Brasil, o ban­co públi­co não se man­i­festou. Já o min­istério infor­mou que “aguar­da o relatório sobre o pro­je­to de Angra 3 a tem­po da próx­i­ma reunião do CNPE, pre­vista para este segun­do semes­tre”.

Anto­nio Zaroni diz esper­ar que a con­clusão do gov­er­no seja con­heci­da até setem­bro deste ano, o que per­mi­tiria que a lic­i­tação para escol­ha da empre­sa que ter­mi­nará a obra seja fei­ta no primeiro semes­tre de 2025. Assim, o iní­cio das obras se daria em setem­bro do mes­mo ano. O crono­gra­ma esti­ma­do é de cer­ca de 60 meses de con­strução, fazen­do com que Angra 3 comece a oper­ar em 2030.

Orçamento

Com o estu­do do BNDES em anda­men­to, a Eletronu­clear não infor­ma, em val­ores atu­ais, o quan­to já foi investi­do em Angra 3. O quan­ti­ta­ti­vo infor­ma­do pela anti­ga direção da empre­sa dava con­ta de cer­ca de R$ 7,8 bil­hões.

Para a con­clusão da usi­na, são esti­ma­dos aprox­i­mada­mente R$ 20 bil­hões, que seri­am apor­ta­dos por meio de finan­cia­men­tos. Esse val­or seria para cus­tos de engen­haria, mate­r­i­al, manutenção e paga­men­to de emprés­ti­mos con­traí­dos ante­ri­or­mente. Cus­tos, aliás, que não estão zer­a­dos. Mes­mo com a obra para­da, cer­ca de 250 pes­soas tra­bal­ham nos can­teiros, grande parte ter­ce­i­riza­da, em ativi­dades de manutenção e obras acessórias.

A ideia é que a usi­na “se pague”, ou seja, quan­do a insta­lação estiv­er pro­duzin­do e venden­do ener­gia, parte da recei­ta quitaria o finan­cia­men­to.

O super­in­ten­dente Zaroni detal­ha que 67% da obra está pronta, parcela que rep­re­sen­ta prin­ci­pal­mente a con­strução civ­il, isto é, a parte de con­cre­to. Em um pas­seio pelo can­teiro cin­za, é pos­sív­el ver ver­gal­hões expos­tos, que pre­cisam ser revesti­dos para não sofr­erem dete­ri­o­ração.

Dos equipa­men­tos, cer­ca de 10% estão mon­ta­dos, como alguns trans­for­madores, tro­cadores de calor e tan­ques.

Acred­i­tan­do que o edi­tal de lic­i­tação vá a públi­co em fevereiro de 2025, Anto­nio Zaroni ressalta que a con­cor­rên­cia será inter­na­cional e rig­orosa. É uma for­ma de evi­tar prob­le­mas como o do con­sór­cio Fer­reira Guedes-Matri­cial-Adtranz, que gan­hou uma con­cor­rên­cia em fevereiro de 2022 para ter­mi­nar ao menos a con­strução civ­il da usi­na, mas não apre­sen­tou qual­i­fi­cação téc­ni­ca sufi­ciente para exe­cu­tar a inter­venção. O con­tra­to foi rescindi­do em jun­ho de 2024.

“O edi­tal estará com exigên­cias mais altas. Tem que ser empre­sas que já con­struíam pro­je­tos semel­hantes. Esta­mos mais tran­qui­los”, disse Zaroni.

Quan­do con­cluí­da, Angra 3 será a ter­ceira usi­na da Cen­tral Nuclear Almi­rante Álvaro Alber­to, terá potên­cia de 1.405 megawatts (MW) e poderá ger­ar mais de 12 mil­hões de megawatts-hora por ano, o sufi­ciente para aten­der 4,5 mil­hões de pes­soas. Com a ter­ceira usi­na em ativi­dade, a ener­gia nuclear rep­re­sen­tará o equiv­a­lente a 60% do con­sumo do esta­do do Rio de Janeiro e 3% do Brasil.

Ape­sar da peque­na par­tic­i­pação na matriz elétri­ca brasileira, Zaroni desta­ca que, além de ser con­sid­er­a­da limpa e cer­ca­da de pro­ced­i­men­tos que garan­tem a segu­rança da oper­ação, a ener­gia nuclear tem a van­tagem de a ger­ação ser prati­ca­mente inte­gral e inin­ter­rup­ta.

“A ger­ação tem um fator de disponi­bil­i­dade muito alto, a usi­na fica o ano inteiro geran­do 100% da capaci­dade, difer­ente­mente de out­ras fontes, como a hidrelétri­ca e a solar, que ficam oscilan­do”, com­para Zaroni.

*A reportagem da Agên­cia Brasil via­jou ao Com­plexo Nuclear em Angra dos Reis a con­vite da Eletronu­clear

Edição: Nádia Fran­co

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