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Com imagens inéditas, plataforma virtual permite navegar pelo Rio Doce

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Repro­du­ção: © Fun­da­ção Renova/Divulgação

Passeio virtual permite acesso a monitoramento de qualidade da água


Publi­ca­do em 14/04/2021 — 19:08 Por Léo Rodri­gues — Repór­ter da Agên­cia Bra­sil — Rio de Janei­ro

Uma pla­ta­for­ma lan­ça­da hoje (14) per­mi­te que qual­quer pes­soa per­cor­ra de for­ma vir­tu­al, com uma visão de 360 graus, os lei­tos do Rio Gua­la­xo do Nor­te, do Rio Car­mo e do Rio Doce. O pas­seio tam­bém per­mi­te aces­sar dados rela­ci­o­na­dos ao moni­to­ra­men­to da qua­li­da­de da água dos três manan­ci­ais, que foram afe­ta­dos após o rom­pi­men­to da bar­ra­gem da mine­ra­do­ra Samar­co, ocor­ri­do em novem­bro de 2015 na cida­de de Mari­a­na (MG).

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Repro­du­ção: Com ima­gens iné­di­tas, pla­ta­for­ma vir­tu­al per­mi­te nave­gar pelo Rio Doce. — Fun­da­ção Renova/Divulgação

A ini­ci­a­ti­va é da Fun­da­ção Reno­va, enti­da­de cri­a­da para repa­rar os danos cau­sa­dos na tra­gé­dia. A pla­ta­for­ma é resul­ta­do de um mape­a­men­to imer­si­vo rea­li­za­do por meio de uma expe­di­ção pela bacia do Rio Doce. Entre novem­bro de 2020 e janei­ro de 2021, foram per­cor­ri­dos cer­ca de 600 quilô­me­tros des­de Mari­a­na (MG) até a foz, em Linha­res (ES). Com uso de câme­ras e dro­nes, foram cap­ta­dos mais de 1,5 milhão de con­teú­dos midiá­ti­cos entre sons, fotos e víde­os.

O usuá­rio pode nave­gar ouvin­do pás­sa­ros locais e assis­tir mini­do­cu­men­tá­ri­os com mora­do­res dos arre­do­res do Rio Doce. Tam­bém é pos­sí­vel ver ima­gens iné­di­tas da fau­na e da flo­ra como o regis­tro de duas onças par­das cami­nhan­do tran­qui­la­men­te em uma área de mata pró­xi­ma a Aimo­rés (MG). Par­te do con­teú­do tam­bém foi agre­ga­do à pla­ta­for­ma inter­na­ci­o­nal Goo­gle Stre­et View.

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Repro­du­ção: Onça par­da é fla­gra­da na expe­di­ção — Fun­da­ção Renova/Divulgação

Na tra­gé­dia, uma onda de 39 milhões de metros cúbi­cos de rejei­tos cau­sou 19 mor­tes, des­truiu comu­ni­da­des intei­ras e levou polui­ção para deze­nas de cida­des na bacia do Rio Doce. A Fun­da­ção Reno­va foi cri­a­da con­for­me um acor­do entre a Samar­co, suas aci­o­nis­tas Vale e BHP Bil­li­ton, o gover­no fede­ral e os gover­nos de Minas Gerais e do Espí­ri­to San­to. A enti­da­de é res­pon­sá­vel por gerir mais de 40 pro­gra­mas. Todas as ini­ci­a­ti­vas são finan­ci­a­das com recur­sos das três mine­ra­do­ras.

Embo­ra ini­ci­a­ti­vas de dife­ren­tes pro­gra­mas sejam apre­sen­ta­das na pla­ta­for­ma, a mai­or par­te dos dados que ela reú­ne são pro­du­zi­dos no âmbi­to do pro­gra­ma vol­ta­do para o moni­to­ra­men­to sis­te­má­ti­co de água e sedi­men­to. São infor­ma­ções que já vinham sen­do dis­po­ni­bi­li­za­das em um pai­nel onli­ne e ago­ra tam­bém pode­rão ser obti­das a par­tir des­se mapa mais inte­ra­ti­vo.

O pro­gra­ma de moni­to­ra­men­to das águas da bacia foi ini­ci­a­do em agos­to de 2017, acom­pa­nha­do tam­bém por órgãos ambi­en­tais de Minas Gerais, que já fazi­am aná­li­ses ante­ri­or­men­te. A Fun­da­ção Reno­va reú­ne medi­ções em 92 pon­tos, dos quais 22 con­tam com esta­ções auto­má­ti­cas que geram infor­ma­ções em tem­po real. Cer­ca de 80 parâ­me­tros físi­cos, quí­mi­cos e bio­ló­gi­cos são ava­li­a­dos. Um dos últi­mos docu­men­tos dis­po­ní­veis é um rela­tó­rio divul­ga­do em feve­rei­ro que con­cen­tra os dados de novem­bro. Em 27 dos 29 pon­tos ava­li­a­dos foram encon­tra­dos parâ­me­tros aci­ma dos limi­tes pre­vis­tos nas nor­mas ambi­en­tais.

A con­cen­tra­ção de man­ga­nês total foi con­si­de­ra­da anor­mal em 17 deles. Há ain­da vio­la­ções de parâ­me­tros de fer­ro dis­sol­vi­do em 14 pon­tos e de alu­mí­nio dis­sol­vi­do em 6. Segun­do o docu­men­to, as vari­a­ções são típi­cas de épo­cas de chu­va. “Os metais aci­ma estão natu­ral­men­te pre­sen­tes na bacia do Rio Doce e tam­bém fazem par­te do rejei­to da bar­ra­gem de Fun­dão”, acres­cen­ta o rela­tó­rio.

A tur­bi­dez foi regis­tra­da além dos limi­tes em 11 pon­tos, o que tam­bém é apon­ta­do como refle­xo do perío­do chu­vo­so. O docu­men­to con­si­de­ra ain­da que a clas­si­fi­ca­ção média e ruim do índi­ce de qua­li­da­de da água é influ­en­ci­a­da pelos parâ­me­tros refe­ren­tes à bac­té­ria Esche­ri­chia Coli, cau­sa­do­ra de pro­ble­mas intes­ti­nais. Sua pre­sen­ça em 19 dos 29 pon­tos ava­li­a­dos indi­ca pro­ble­mas com o lan­ça­men­to de esgo­to não tra­ta­do.

Na zona cos­tei­ra do Espí­ri­to San­to, o últi­mo infor­me tri­mes­tral foi divul­ga­do há dois meses e é refe­ren­te ao perío­do entre julho e setem­bro de 2020. No mar, pró­xi­mo à foz do Rio Doce, 14 pon­tos foram moni­to­ra­dos. Nenhum deles regis­trou parâ­me­tros aci­ma do per­mi­ti­do para as con­cen­tra­ções metais. Porém, em todos os pon­tos foram obser­va­das alte­ra­ções além do limi­te legal para car­bo­no orgâ­ni­co total e, em oito deles, havia pre­sen­ça da bac­té­ria Esche­ri­chia Coli.

Segun­do Brí­gi­da Mai­o­li, espe­ci­a­lis­ta da Fun­da­ção Reno­va res­pon­sá­vel pelo pro­gra­ma, a situ­a­ção na bacia está pró­xi­ma ao que se obser­va­va antes da tra­gé­dia. “Na média his­tó­ri­ca, já tínha­mos antes do rom­pi­men­to parâ­me­tros aci­ma da legis­la­ção no perío­do chu­vo­so. O que pode­mos cons­ta­tar com qua­se qua­tro anos de moni­to­ra­men­to é que os parâ­me­tros estão ten­do uma redu­ção gra­da­ti­va ao lon­go do tem­po e já estão reto­man­do as con­cen­tra­ções ante­ri­o­res”, ava­lia.

Ela afir­ma ain­da que a qua­li­da­de da água do Rio Doce já era com­pro­me­ti­da prin­ci­pal­men­te pelo lan­ça­men­to de esgo­tos não tra­ta­dos e tam­bém pela ero­são, em decor­rên­cia do des­ma­ta­men­to. “Por isso a tur­bi­dez se ele­va tan­to. Quan­do cho­ve, sedi­men­tos da área que não pos­sui cober­tu­ra vege­tal vão parar no Rio Doce”.

Riscos

Os órgão ambi­en­tais, porém, man­têm res­tri­ções que foram impos­tas após a tra­gé­dia. A pes­ca na bacia, por exem­plo, segue res­tri­ta. Além dis­so, docu­men­tos dis­po­ni­bi­li­za­dos pelo Minis­té­rio Públi­co Fede­ral (MPF) em setem­bro do ano pas­sa­do colo­cam em ques­tão a fal­ta de trans­pa­rên­cia das infor­ma­ções sobre a qua­li­da­de das águas. Tra­ta-se de rela­tó­ri­os de audi­to­ria assi­na­dos pela Ram­boll, uma das empre­sas res­pon­sá­veis por peri­ci­ar as ações de repa­ra­ção con­for­me acor­do nego­ci­a­do pelo MPF com as mine­ra­do­ras.

De acor­do com os docu­men­tos, os resul­ta­dos não têm sido apre­sen­ta­dos de for­ma cla­ra e obje­ti­va, com uma lin­gua­gem aces­sí­vel aos atin­gi­dos e a todos os usuá­ri­os das águas da região, não haven­do tam­bém aler­tas sobre even­tu­ais ris­cos de uso e con­su­mo. A Ram­boll ava­lia que fal­ta cla­re­za sobre as pos­si­bi­li­da­des de uso na pes­ca, aqui­cul­tu­ra, irri­ga­ção, des­se­den­ta­ção de ani­mais e recre­a­ção. Essas infor­ma­ções não cons­tam na nova pla­ta­for­ma.

“Os dados da qua­li­da­de das águas levan­ta­dos nos moni­to­ra­men­tos e seus usos pre­pon­de­ran­tes, prin­ci­pal­men­te aque­les das regiões atin­gi­das pelo desas­tre, pos­su­em poten­ci­al para serem apre­sen­ta­dos em lin­gua­gem cla­ra e aces­sí­vel, tan­to nas comu­ni­ca­ções dos órgãos de ges­tão de recur­sos hídri­cos quan­to nas da Fun­da­ção Reno­va”, acres­cen­ta o rela­tó­rio.

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De acor­do com Juli­a­na Bedoya, líder de pro­gra­mas soci­o­am­bi­en­tais da Fun­da­ção Reno­va, há uma melho­ra sig­ni­fi­ca­ti­va e con­sis­ten­te da qua­li­da­de da água ao lon­go dos anos, que seria resul­ta­do do tra­ba­lho de repa­ra­ção. “As ações se desen­vol­vem não só na calha do rio como tam­bém na pro­te­ção e recu­pe­ra­ção das mar­gens. Como já ocor­ria antes do rom­pi­men­to, a água do Rio Doce não deve ser con­su­mi­da em esta­do bru­to, sem tra­ta­men­to. Mas os nos­sos dados de moni­to­ra­men­to mos­tram que ela está apta para uso huma­no, poden­do ser con­su­mi­da após um tra­ta­men­to con­ven­ci­o­nal”, diz.

A fal­ta de con­fi­an­ça dos atin­gi­dos na Fun­da­ção Reno­va, porém, tem resul­ta­do numa mobi­li­za­ção por estu­dos para­le­los. Eles ques­ti­o­nam a fal­ta da enti­da­de fren­te às mine­ra­do­ras. Esse foi tam­bém um dos moti­vos elen­ca­dos pelo Minis­té­rio Públi­co de Minas Gerais para pedir judi­ci­al­men­te a extin­ção da Fun­da­ção Reno­va.

No fim de 2019, a Cári­tas e a Aedas, duas das enti­da­des esco­lhi­das pelas pró­pri­as víti­mas para lhes pres­tar asses­so­ria téc­ni­ca, apre­sen­ta­ram um estu­do rea­li­za­do por uma equi­pe mul­ti­dis­ci­pli­nar do Labo­ra­tó­rio de Edu­ca­ção Ambi­en­tal, Arqui­te­tu­ra, Urba­nis­mo, Enge­nha­ri­as e Pes­qui­sa para a Sus­ten­ta­bi­li­da­de (LEA-Aue­pas) da Uni­ver­si­da­de Fede­ral de Ouro Pre­to (Ufop). Em amos­tras de água, cha­ma­ram aten­ção dos pes­qui­sa­do­res con­cen­tra­ções de fer­ro, man­ga­nês, níquel e, even­tu­al­men­te, de chum­bo.

Edi­ção: Ali­ne Leal

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