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Com seca no Amazonas, ribeirinhos têm dificuldades para se locomover

Repro­dução: © Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Moradores enfrentam problemas para sair e voltar às comunidades


Pub­li­ca­do em 21/11/2023 — 07:21 Por Luciano Nasci­men­to — Repórter da Agên­cia Brasil — São Luís

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A situ­ação críti­ca do Rio Negro, no Ama­zonas, tem afe­ta­do a vida da pop­u­lação ribeir­in­ha local que enfrenta prob­le­mas de aces­si­bil­i­dade para sair e voltar às suas comu­nidades. Na Mari­na do Davi, prin­ci­pal ter­mi­nal públi­co de Man­aus para deslo­ca­men­to a comu­nidades ribeir­in­has – a exem­p­lo de Igara­pé, Tarumã Mir­im, Pra­ia da Lua e Pra­ia do Tupé –, o cenário é de mui­ta difi­cul­dade para a pop­u­lação que pre­cisa chegar a difer­entes locais.

Na Mari­na, após descer uma ladeira, os pas­sageiros têm de cam­in­har quase um quilômetro atrav­es­san­do lama, ban­cos de areia, pontes precárias de madeira, em um per­cur­so arrisca­do, até chegar ao local onde aguardam os pequenos bar­cos que ain­da con­seguem faz­er a trav­es­sia.

Manaus (AM), 20/11/2023, Madalena Soares Fernandes, dona de casa, fala sobre a maior seca em 121 anos que Manaus esta passando. Na Marina do Davi, próximo a Praia do Tupé. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Repro­dução: Madale­na fala sobre a maior seca dos últi­mos 120 anos — Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

É o caso da dona de casa Madale­na Soares Fer­nan­des, de 73 anos, que toda vez que pre­cisa se deslo­car enfrenta essa saga. Morado­ra de Tarumã, dona Madale­na reclam­ou à Agên­cia Brasil sobre a difi­cul­dade de cam­in­har para chegar até o local de embar­que.

“É mui­ta difi­cul­dade, com mui­ta areia. Está difí­cil de chegar em casa, está hor­rív­el. Vamos esper­ar, não é?”, disse a dona de casa referindo-se à vol­ta do perío­do de chu­va.

Segun­do dona Madale­na, já são quase três meses enfrentan­do essa situ­ação. Ela rela­tou ain­da ter vivi­do uma seca sim­i­lar, em 2010, mas de cur­ta duração. “Em 2010 deu, mas não foi tan­to quan­to neste [perío­do], enten­deu? Foi uma seca grande, mas ráp­i­da. Essa aqui não, está sendo demor­a­da”, disse.

Entre as com­pras que ten­ta levar para casa está um gar­rafão de água. Para aux­il­iar no trans­porte, ela con­tra­tou uma pes­soa para car­regar o saco com ração para as gal­in­has que cria. Entre sor­risos, dona Madale­na con­tou que após o desem­bar­que em Tarumã pre­cis­aria cam­in­har cer­ca de três horas para chegar em casa, já que, com o rio seco, o bar­co não con­segue entrar na comu­nidade. No cam­in­ho, não con­tará com o auxílio do fil­ho que mora com ela, para trans­portar as com­pras.

“Quan­do está cheio, o bar­co vai até per­to de casa e ago­ra acho que demo­ra umas três horas para chegar”, afir­mou. “E ele [o fil­ho] nem está aqui, só vamos eu e Deus”, com­ple­tou,

Manaus (AM), 20/11/2023, Leandro da Silva, carregador,fala sobre a maior seca em 121 anos que Manaus esta passando. Na Marina do Davi, próximo a Praia do Tupé. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Repro­dução: O car­regador Lean­dro da Sil­va con­ta que para faz­er trans­portes a pé demo­ra muito mais do que quan­do fazia em lan­cha — Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

O cenário desafi­ador tam­bém gera opor­tu­nidades diver­sas para os moradores locais, que encon­tram na difi­cul­dade viven­ci­a­da por uns a opor­tu­nidade de ger­ar ren­da. É o caso de Lean­dro da Sil­va, de 27 anos, que tra­bal­ha na Mari­na car­regan­do mer­cado­rias de quem quer atrav­es­sar para as comu­nidades. Ele foi con­trata­do para trans­portar a ração das aves de dona Madale­na.

“A gente car­rega tudo, tan­to var­iedades quan­to mudanças e dá para faz­er uma moe­da”, disse Lean­dro à Agên­cia Brasil. Segun­do o jovem, o expe­di­ente começa bem cedo e aca­ba, em ger­al, por vol­ta das 17h, em razão das difi­cul­dades para voltar à comu­nidade.

Na vol­ta, ele segue um cam­in­ho sim­i­lar ao traça­do por dona Madale­na. “A maior difi­cul­dade é na comu­nidade — o que era feito em 15 min­u­tos você faz em uma hora de per­na, areia, pra­ia, lama”, obser­vou Lean­dro, refletindo sobre a situ­ação viven­ci­a­da na mari­na.

“A seca que­bra as per­nas de todo mun­do, tem gente que sobre­vive de flu­tu­ante e pode ver, tudo para­do. As lan­chas não pas­sam, ago­ra só as rabet­inhas [tipo de embarcaçã]o, ain­da encal­han­do porque está seco.”

A situ­ação dos flu­tu­antes, encal­ha­dos na Mari­na do Davi des­de out­ubro, tam­bém é pre­ocu­pante. Local­iza­da no bair­ro Pon­ta Negra, às mar­gens do Igara­pé do Gigante, a mari­na tam­bém é uti­liza­da para pas­seios turís­ti­cos no Rio Negro.

Manaus (AM), 20/11/2023, Rio Negro, no bairro São Raimundo em Manaus, próximo ao estaleiro Santa Fé, com seu nível muito baixo, sendo a maior seca em 121 anos. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Repro­dução: Rio Negro, no bair­ro São Raimun­do em Man­aus, durante a maior seca em 121 anos — Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Um grupo de 56 bar­queiros, orga­ni­za­dos em torno da Coop­er­a­ti­va dos Profis­sion­ais de Trans­porte Flu­vial da Mari­na do Davi (Acamdaf), pres­ta tan­to serviços para as comu­nidades, quan­to real­iza pas­seios turís­ti­cos na região.

Um dos coop­er­a­ti­va­dos, João da Rocha Lopes, 52 anos, tam­bém disse à Agên­cia Brasil que só tin­ha vis­to uma seca sim­i­lar em 2010, mas com impacto muito menor. Para­do des­de out­ubro, ele con­tou que está sobre­viven­do como pode.

Manaus (AM), 20/11/2023, João da Rocha Lopes, da Cooperativa dos profissionais de transporte fluvial da Marina do Davi, Praia do Tupé, fala sobre os reflexos da maior seca em 121 anos que ocorre em Manaus. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Repro­dução: João da Rocha Lopes, da coop­er­a­ti­va dos profis­sion­ais de trans­porte flu­vial da Mari­na do Davi comen­ta os reflex­os da seca — Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

“A gente se vira com o que tem, com o que con­seguiu gan­har e guardar um pouquin­ho, não é? Vai se viran­do”, afir­mou. “Perdeu o comér­cio, perder­am muitas áreas. Por exem­p­lo: o Uber parou o movi­men­to. Alguns cole­gas nos­sos ain­da estão tra­bal­han­do na rabe­ta. A gente tra­bal­ha com sete comu­nidades e os trans­portes estão sendo feitos por meio de rabet­inhas, que andam prati­ca­mente na lama. E eles [os moradores] têm neces­si­dade de ir e vir, porque pre­cisam com­prar ali­men­tos, remé­dios, pre­cisam faz­er essa loco­moção”.

Seca

Após a vol­ta de nuvens de fumaça em pon­tos de Man­aus durante o fim de sem­ana, o Insti­tu­to Nacional de Mete­o­rolo­gia lançou aler­ta de peri­go para a pos­si­bil­i­dade de chu­vas inten­sas na cap­i­tal ama­zo­nense.

O aler­ta, divul­ga­do nes­sa segun­da-feira (20), vale até esta terça (21) e tam­bém abrange regiões dos esta­dos do Acre, de Mato Grosso, do Pará, de Rondô­nia e Roraima.

Segun­do o Inmet, o aler­ta vale para as regiões do vale do Acre, leste ron­doniense, cen­tro ama­zo­nense, sudoeste ama­zo­nense, norte mato-grossense, sul ama­zo­nense, norte ama­zo­nense, madeira-gua­poré, sul de Roraima, vale do Juruá,e sudoeste paraense.

Em Man­aus, a nuvem de fumaça que deixou o céu cinzen­to voltou no sába­do (18) e pôde ser obser­va­da até a man­hã de ontem. No iní­cio da tarde, a cidade reg­istrou chu­va em pon­tos iso­la­dos. Segun­do o mon­i­tora­men­to do Sis­tema Eletrôni­co de Vig­ilân­cia Ambi­en­tal (Sel­va), da Uni­ver­si­dade do Esta­do do Ama­zonas, a qual­i­dade do ar em boa parte da cap­i­tal ficou mod­er­a­da.

Manaus (AM), 20/11/2023, Rio Negro, no bairro São Raimundo em Manaus, próximo ao estaleiro Santa Fé, com seu nível muito baixo, sendo a maior seca em 121 anos. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Repro­dução: Rio Negro, no bair­ro São Raimun­do em Man­aus, próx­i­mo ao estaleiro San­ta Fé — Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

O esta­do do Ama­zonas enfrenta seca sev­era, com o Rio Negro alcançan­do o pior mar­ca em 121 anos, quan­do começaram as medições. No dia 26 de out­ubro, a cota do rio chegou ao nív­el mais baixo reg­istra­do, fican­do em 12,7 met­ros. No iní­cio de novem­bro começou a subir, fican­do nova­mente aci­ma dos 13 met­ros. A últi­ma medição reg­istra­da pelo Por­to de Man­aus, no dia 17 deste mês, mostrou recuo no vol­ume, com a cal­ha do Rio Negro fican­do em 12,96 met­ros.

De acor­do com o mais recente bole­tim divul­ga­do pela Defe­sa Civ­il do Ama­zonas, todos os 62 municí­pios do esta­do per­manecem em situ­ação de emergên­cia. São 598 mil pes­soas e 150 mil famílias afe­tadas.

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Edição: Graça Adju­to

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