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Com vocação para turismo de aventura, Brasil subaproveita potencial

Repro­dução: © Arte/ABR

Para especialistas, país precisa melhorar infraestrutura e divulgação


Pub­li­ca­do em 27/09/2023 — 07:32 Por Alex Rodrigues — Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

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Com 8,5 mil quilômet­ros de faixa litorânea, cli­ma trop­i­cal e condições favoráveis à práti­ca de ativi­dades ao ar livre o ano todo, o Brasil tem poten­cial para estim­u­lar o tur­is­mo de aven­tu­ra, que, jun­to com o eco­tur­is­mo, com­põe o tur­is­mo de natureza. É o que defen­d­em espe­cial­is­tas ouvi­dos pela Agên­cia Brasil no Dia Mundi­al do Tur­is­mo, cel­e­bra­do nes­ta quar­ta-feira (27). Eles sus­ten­tam que, para isso, con­tu­do, o país pre­cisa apri­morar a infraestru­tu­ra recep­ti­va, garan­ti­n­do segu­rança e bem-estar aos vis­i­tantes, e inve­stir mais na divul­gação de seus atra­tivos nat­u­rais.

26/09/2023, PVINICIUS VIEGAS - PRESIDENTE DA Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura (Abeta). Foto: Arquivo pessoal
Repro­dução: Pres­i­dente da Abe­ta, Vini­cius Vie­gas vê cresci­men­to de inter­esse pelo tur­is­mo da natureza — Arqui­vo pes­soal

Pres­i­dente da Asso­ci­ação Brasileira das Empre­sas de Tur­is­mo de Aven­tu­ra (Abe­ta), Vini­cius Vie­gas, diz ser teste­munha do cres­cente inter­esse do públi­co em ger­al pelo tur­is­mo de natureza. Mes­mo assim, a exem­p­lo de out­ros entre­vis­ta­dos, ele con­sid­era que o Brasil não aprovei­ta todas as pos­si­bil­i­dades que o seg­men­to ofer­ece.

“Este aumen­to ain­da está muito aquém do nos­so poten­cial. Não é fru­to de uma estraté­gia de divul­gação das várias ativi­dades que um tur­ista pode exper­i­men­tar ao vis­i­tar o país. Quan­do se tra­ta do tur­is­mo esporti­vo, o inter­esse estrangeiro está muito mais asso­ci­a­do à evolução, à vis­i­bil­i­dade que cada esporte con­quis­tou jun­to a seus prat­i­cantes”, pon­dera Vie­gas, mon­tan­hista e dono de uma agên­cia de via­gens espe­cial­iza­da no seg­men­to.

Ele cita o exem­p­lo da chama­da Rota das Emoções, que interli­ga Ceará, Piauí e Maran­hão. “Hoje, kitesur­fis­tas do mun­do inteiro son­ham em um dia con­hecer e vele­jar pela região”, acres­cen­ta, ao destacar a forte con­cor­rên­cia entre os prin­ci­pais des­ti­nos turís­ti­cos globais.

“Neste setor, o suces­so depende de uma con­junção de fatores. Con­ven­hamos, mon­tan­has, cachoeiras e flo­restas dos mais diver­sos tipos exis­tem em todo o mun­do. Por isso é pre­ciso trans­mi­tir segu­rança e inve­stir mais na divul­gação. Porque tiran­do alguns des­ti­nos clás­si­cos que quase todo esportista gostaria de con­hecer, como o Havaí para um sur­fista, a escol­ha de um des­ti­no de viagem envolve vários aspec­tos, como segu­rança públi­ca, infraestru­tu­ra de trans­porte, aco­modações, cus­tos, ali­men­tação. Tudo pesa. Até as difi­cul­dades com o idioma.”

“Não há o que dis­cu­tir quan­to à poten­cial­i­dade e à imen­sa vocação do Brasil para o tur­is­mo esporti­vo e de aven­tu­ra, mas ain­da é necessário um tra­bal­ho inte­gra­do, estratégi­co, que apre­sente o Brasil des­ta for­ma no exte­ri­or”, con­cor­da a coor­de­nado­ra de Tur­is­mo do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Peque­nas Empre­sas (Sebrae), Ana Cle­via Guer­reiro.

“O Brasil é um país sen­sa­cional em ter­mos de pos­si­bil­i­dades para as ativi­dades lig­adas ao tur­is­mo de aven­tu­ra e esporti­vo. Infe­liz­mente, este poten­cial ain­da não é bem aproveita­do e o tema é pouco explo­rado pelo Poder Públi­co, pelo mer­ca­do e no âmbito acadêmi­co”, acres­cen­ta o dire­tor da Esco­la de Artes, Ciên­cias e Humanidades da Uni­ver­si­dade de São Paulo (USP), Ricar­do Ric­ci Uvin­ha, espe­cial­ista em laz­er e tur­is­mo.

26/09/2023, Secretária do Turismo do Ceará, Yrwana Albuquerque Guerra Crédito: Secretaria de Turismo do Ceará. Foto: Arquivo pessoal
Repro­dução:  Yrwana Albu­querque Guer­ra defende maior divul­gação do Brasil como país para práti­ca de esportes de ação e de eco­tur­is­mo  — Arqui­vo pes­soal

Secretária do Tur­is­mo do Ceará, Yrwana Albu­querque Guer­ra diz que o país ain­da é “uma cri­anc­in­ha den­tro deste seg­men­to tão lucra­ti­vo”. “Pre­cisamos nos assumir como um país propí­cio para a práti­ca de esportes de ação e de eco­tur­is­mo e divul­gar isso para o mun­do”, defende.

O Ceará é fre­quente­mente apon­ta­do como exem­p­lo de pro­moção do poten­cial de atração turís­ti­ca dos esportes de ação, como o kitesurf.

Esportes de aventura

Atle­tas como a sete vezes campeã mundi­al Mikaili Sol (CE), o tetra­cam­peão Car­los Mário “Bebê” (CE) e a tri­cam­peã Bruna Kajiya (SP) aju­daram a propa­gar entre prat­i­cantes do kite a infor­mação de que o Brasil, espe­cial­mente o litoral nordes­ti­no, é um local priv­i­le­gia­do para a práti­ca do esporte, com condições propí­cias durante quase todo o ano.

Out­ro esporte de aven­tu­ra com poten­cial para pro­je­tar no exte­ri­or a vocação brasileira é o surfe. Entre 2014 e 2023, qua­tro sur­fis­tas brasileiros – Gabriel Med­i­na (SP), Adri­ano de Souza “Mineir­in­ho” (SP), Íta­lo Fer­reira (RN) e Fil­ipe Tole­do (SP) – fat­u­raram sete dos nove títu­los de campeões mundi­ais dis­puta­dos no perío­do, con­qui­s­tan­do fãs do esporte em todo o mun­do.

Só Med­i­na tem mais de 11 mil­hões de seguidores em uma pop­u­lar rede social. Fer­reira, que em 2021 voltou a faz­er história, tor­nan­do-se o primeiro campeão olímpi­co da modal­i­dade, tem 2,8 mil­hões. O potiguar tam­bém estrelou um pro­gra­ma de suces­so em um canal por assi­natu­ra no qual aju­dou a divul­gar as belezas e a qual­i­dade das ondas de sua cidade natal, Baía For­mosa, para um públi­co que não se restringia ao do surfe.

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A con­sagração dess­es e de out­ros brasileiros nos esportes de ação, como o hexa­cam­peão mundi­al de body­board­ing Guil­herme Tâmega e dos skatis­tas medal­his­tas olímpi­cos Kelvin Hoe­fler e Rayssa Leal, ger­ou bas­tante pub­li­ci­dade pos­i­ti­va para o Brasil. O que não foi sufi­ciente para atrair ao país um maior número de estrangeiros inter­es­sa­dos em con­hecer as condições em que nos­sos campeões mundi­ais foram for­ma­dos.

Público-alvo

O tur­is­mo de aventura/esportivo é um seg­men­to bas­tante lucra­ti­vo, movi­men­tan­do cifras bil­ionárias ao redor do plan­e­ta. Segun­do a Orga­ni­za­ção Mundi­al de Tur­is­mo (OMT), antes do recon­hec­i­men­to do caráter pandêmi­co da covid-19, em 2019, o tur­is­mo con­ven­cional cres­cia a uma taxa média anu­al de 7,5%. Já o tur­is­mo de aven­tu­ra chegou a reg­is­trar expan­são de 20%.

Recen­te­mente, a Grand View Research, multi­na­cional espe­cial­ista em con­sul­to­ria e pesquisas de mer­ca­do, apon­tou que, em 2021, mes­mo com as restrições às via­gens em razão da pan­demia, o mer­ca­do glob­al de tur­is­mo de aven­tu­ra tin­ha poten­cial para movi­men­tar algo em torno de US$ 282,1 bil­hões, com uma per­spec­ti­va de se expandir cer­ca de 15% ao ano entre 2022 e 2030.

Como apon­ta a secretária Yrwana Albu­querque Guer­ra, o Brasil ain­da dá pas­sos tími­dos neste seg­men­to – refletindo o que ocorre com a indús­tria turís­ti­ca nacional em ger­al. Em 2019, o país rece­beu, ao todo, pouco mais de 6,35 mil­hões de tur­is­tas estrangeiros. Com isso, ficou de fora da lista de 50 maiores país­es recep­tores turís­ti­cos. Com­par­a­ti­va­mente, a França, que ocu­pa o primeiro lugar do rank­ing da OMT, rece­beu 89 mil­hões de estrangeiros – ou 14 vezes mais via­jantes, emb­o­ra ten­ha menos da metade do taman­ho do esta­do do Ama­zonas.

Segun­do dados do Min­istério do Tur­is­mo, de todos os estrangeiros que desem­bar­caram em ter­ritório brasileiro ao lon­go de 2019, 18,6% afir­maram ter via­ja­do com o propósi­to de ter con­ta­to com a natureza e praticar ativi­dades lig­adas ao tur­is­mo de aven­tu­ra e ao eco­tur­is­mo. Out­ros 2,4% vier­am faz­er tur­is­mo esporti­vo.

Com parte da pop­u­lação glob­al vaci­na­da e a dis­sem­i­nação do coro­n­avírus sob con­t­role, o tur­is­mo inter­na­cional vem se recu­peran­do, emb­o­ra ain­da não ten­ha retor­na­do a pata­mares pré-pan­demia. Entre janeiro e agos­to deste ano, o Brasil rece­beu pouco mais de 4,02 mil­hões de tur­is­tas vin­dos de out­ros país­es – o que já é mais que todo o resul­ta­do de 2022 (pouco mais de 3,63 mil­hões). Além dis­so, segun­do o Ban­co Cen­tral, nos sete primeiros meses do ano, os tur­is­tas inter­na­cionais inje­taram US$ 3,796 bil­hões na econo­mia brasileira. Não há, con­tu­do, uma esti­ma­ti­va de quan­tos destes vis­i­tantes vier­am ao país faz­er tur­is­mo de aventura/esportivo.

Visibilidade

Respon­sáv­el por divul­gar, no exte­ri­or, os atra­tivos turís­ti­cos brasileiros, a Agên­cia Brasileira de Pro­moção Inter­na­cional do Tur­is­mo (Embratur) plane­ja inve­stir mais para ten­tar atrair tur­is­tas esportivos e de aven­tu­ra ao país. Algu­mas ações já estão em cur­so, como desta­ca o coor­de­nador de Natureza e Seg­men­tos Espe­ci­ais da agên­cia, Leonar­do Per­si.

“Pre­tendemos estar pre­sentes em even­tos nacionais e inter­na­cionais e voltar a divul­gar a mar­ca Brasil [entre esportis­tas e públi­co estrangeiro]”, expli­ca Per­si, citan­do, como exem­p­lo, a Cúpu­la Mundi­al de Via­gens de Aven­tu­ra, que a prin­ci­pal enti­dade rep­re­sen­ta­ti­va das empre­sas de eco­tur­is­mo do plan­e­ta, a Adven­ture Trav­el Trade Asso­ci­a­tion (ATTA), real­i­zou este mês, no Japão. E tam­bém o XP Sertões Kitesurf, maior cor­ri­da de lon­ga duração do kitesurf, que reuniu, no Ceará, este mês, com­peti­dores do Reino Unido, da França, Turquia, de Por­tu­gal, da Suíça, Repúbli­ca Domini­cana e Argenti­na, além de brasileiros de vários esta­dos.

“[O XP Sertões Kitesurf] está conec­ta­do com o Brasil que a Embratur pro­move para o mun­do. O Brasil das belezas nat­u­rais, do tur­is­mo de aven­tu­ra que é sus­ten­táv­el e gera emprego e ren­da nas nos­sas cidades e vilare­jos litorâ­neos. Por isso, troux­e­mos jor­nal­is­tas estrangeiros para con­hecer de per­to e con­sol­i­dar este even­to que a cada ano cresce e gan­ha importân­cia no cal­endário esporti­vo inter­na­cional”, apon­tou o pres­i­dente da Embratur, Marce­lo Freixo, em nota divul­ga­da poucos dias antes do iní­cio da cor­ri­da.

“Tam­bém plane­jamos nos aprox­i­mar de atle­tas de renome, jor­nal­is­tas e influ­en­ci­adores dig­i­tais para dar mais vis­i­bil­i­dade aos des­ti­nos de aven­tu­ra exis­tentes no país”, garante Per­si, retoman­do o debate sobre o moti­vo de o Brasil, com tan­tos campeões mundi­ais em difer­entes modal­i­dades esporti­vas, não atrair mais prat­i­cantes de esportes de ação.

“Óbvio que atle­tas como o [ciclista] Hen­rique Avanci­ni, a mul­ti­atle­ta Kari­na Oliani e out­ros que car­regam a mar­ca Brasil mun­do afo­ra têm, de fato, poten­cial para dinamizar a ven­da da práti­ca de ativi­dades de aven­tu­ra no país. Só que não bas­ta ter­mos o nome de um grande atle­ta brasileiro para atrair o públi­co [estrangeiro] se ele chegar [ao país] e não hou­ver uma estru­tu­ra min­i­ma­mente ade­qua­da para atendê-lo. Temos que estru­tu­rar os serviços agre­ga­dos ao atendi­men­to”, reforça Per­si.

Edição: Juliana Andrade

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