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Complexo do Alemão contará com observatório do clima

Repro­dução: © Tânia Rêgo/Agência Brasil

Pesquisadores e população local vão trabalhar no projeto


Pub­li­ca­do em 25/02/2024 — 10:22 Por Mar­i­ana Tokar­nia – Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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O Com­plexo do Alemão, um dos maiores con­jun­tos de fave­las do Rio de Janeiro, local­iza­do na zona norte, uma das cin­co regiões mais quentes da cidade, vai con­tar, a par­tir deste ano, com um obser­vatório climáti­co. A intenção é mon­i­torar o calor no local e, a par­tir dos dados col­hi­dos, elab­o­rar políti­cas públi­cas que pos­sam aju­dar a pop­u­lação a enfrentar esse fenô­meno, cada vez mais fre­quente não ape­nas na cidade do Rio de Janeiro, mas em todo o mun­do.

Uma ini­cia­ti­va da prefeitu­ra e de orga­ni­za­ções locais, o obser­vatório será for­ma­do por um grupo de pesquisadores, rep­re­sen­tantes dos próprios gru­pos que atu­am no local, como a orga­ni­za­ção não gov­er­na­men­tal (ONG) Voz das Comu­nidades, e pela própria pop­u­lação. A prefeitu­ra pagará uma bol­sa-auxílio para que a comu­nidade con­tribua com medições de tem­per­atu­ra em difer­entes pon­tos do ter­ritório. O pro­je­to do Com­plexo do Alemão servirá de pilo­to para ser imple­men­ta­do em out­ros pon­tos da cidade.

De acor­do com a sec­re­taria de Meio Ambi­ente e Cli­ma do Rio, Tainá de Paula, o obje­ti­vo é ger­ar dados “sobre ade­quação habita­cional, quais são as áreas pri­or­itárias para atu­ação de pos­tos de hidratação, se exis­tem áreas pos­síveis para que se amplie a cober­tu­ra veg­e­tal dessas áreas, seja com arboriza­ção, seja com novas flo­restas, enfim, para que se con­si­ga obser­var, com­preen­der mel­hor o ter­ritório, traz­er soluções adap­tadas à real­i­dade dele. A Sec­re­taria finan­cia­rá apar­el­hos de mon­i­tora­men­to e realizará capac­i­tação para a pesquisa, além de aju­dar na seleção de pes­soas para tra­bal­har no estu­do.

Orga­ni­za­ções locais tam­bém fazem parte do pro­je­to. “A gente quer enten­der como o Com­plexo do Alemão vai rea­gir às trans­for­mações climáti­cas e como a inten­si­dade solar está atingin­do o ter­ritório, saben­do que é um ter­ritório que não é tão arboriza­do, ? Nas últi­mas pesquisas, a gente viu que o Com­plexo de Alemão recebe mui­ta inten­si­dade solar”, diz a dire­to­ra exec­u­ti­va do Voz das Comu­nidades, Gabriela San­tos.

Rio de Janeiro (RJ), 22/02/2023 - Gabriela Santos, diretora executiva do Voz das Comunidades, na sede do organizaçao, no Complexo do Alemão, zona norte da cidade. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Repro­dução: Gabriela San­tos, da ONG Voz das Comu­nidades — Tânia Rêgo/Agência Brasil

No mês pas­sa­do, Gabriela San­tos e Tainá de Paula reuni­ram-se para traçar estraté­gias para a imple­men­tação do obser­vatório. Segun­do Gabriela, o grupo ain­da está sendo for­ma­do e os parâmet­ros para a pesquisa estão sendo definidos.

Segun­do a sec­re­taria, a ideia é que, ain­da neste ano, obser­vatórios semel­hantes come­cem a fun­cionar tam­bém nas demais ilhas de calor do Rio, que são Com­plexo da Maré, Pavu­na, Ira­já, todos na zona norte do Rio, e Cam­po Grande, na zona oeste da cidade. Os estu­dos real­iza­dos dev­erão ser apre­sen­ta­dos aos país­es que com­põem o G20, cuja reunião da cúpu­la será em novem­bro na cidade do Rio.

Calor excessivo

O obser­vatório faz parte de uma série de ações des­en­cadeadas no municí­pio prin­ci­pal­mente após a morte de Ana Clara Bene­v­ides, de 23 anos, em novem­bro de 2023, no show da can­to­ra Tay­lor Swift. Foi a primeira morte reg­istra­da no municí­pio por calor. O Rio de Janeiro enfrenta­va naque­la sem­ana dias com sen­sações tér­mi­cas próx­i­mas de 50 graus Cel­sius.

“Nos últi­mos anos, perdemos pes­soas. Tive­mos óbitos que estavam rela­ciona­dos ao calor, e não reg­is­tramos des­ta maneira. O caso da jovem em novem­bro foi o primeiro noti­fi­ca­do, mas, em out­ros anos, com o El Niño [fenô­meno mete­o­rológi­co que ele­va as tem­per­at­uras], tive­mos altas tem­per­at­uras, até sen­sações tér­mi­cas maiores, e não reg­is­tramos”, diz Tainá de Paula.

De acor­do com a sec­re­taria, a cole­ta de dados vai per­mi­tir que se mon­i­tore, por exem­p­lo, a fre­quên­cia e a duração das ondas de calor e o impacto que causam nos ter­ritórios e na pop­u­lação. Além dis­so, será pos­sív­el esta­b­ele­cer pro­to­co­los de como preparar a pop­u­lação para se pro­te­ger e lidar mel­hor com o calor inten­so.

“Como a gente faz, como se adap­ta mel­hor a cidade para essas ondas de calor, porque as ondas de calor vão con­tin­uar acon­te­cen­do”, enfa­ti­za Tainá. “Será que não é o caso de nós sus­pen­der­mos as ativi­dades quan­do a tem­per­atu­ra atinge um número supe­ri­or a deter­mi­na­dos graus? São essas respostas que pre­cisamos dar, e isso é pos­sív­el quan­do se tem dados sufi­cientes, infor­mação sufi­ciente para preparar a pop­u­lação para tal situ­ação.”

Impacto

Rio de Janeiro (RJ), 22/02/2023 - Centro comercial de Nova Brasilia, favela do Complexo do Alemão, zona norte da cidade. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Repro­dução: É pre­ciso saber lidar com forte calor, diz pro­fes­so­ra — Tânia Rêgo/Agência Brasil

Para Rena­ta Libon­ati, pro­fes­so­ra do Depar­ta­men­to de Mete­o­rolo­gia da Uni­ver­si­dade Fed­er­al do Rio de Janeiro (UFRJ), a ini­cia­ti­va é impor­tante e rep­re­sen­ta o primeiro pas­so para o enfrenta­men­to do calor, que deve ser trata­do como um desas­tre climáti­co e, por­tan­to, mobi­lizar ações do Esta­do e imple­men­tação de políti­cas públi­cas, sobre­tu­do para as pop­u­lações mais vul­neráveis. “O calor é trata­do como se estivésse­mos acos­tu­ma­dos a ele por ser­mos um país trop­i­cal. Na ver­dade, a gente aca­ba neg­li­gen­cian­do esse even­to como um desas­tre e, então, não são tomadas medi­das efe­ti­vas de pre­venção e auxílio à pop­u­lação”, diz.

Segun­do a pro­fes­so­ra, não bas­ta ter uma boa pre­visão do tem­po que antecipe as ondas de calor: são necessárias ori­en­tações para a pop­u­lação. “O que faz­er nes­sa onda de calor? Quem procu­rar? Os serviços médi­cos estão adap­ta­dos para rece­ber? Os profis­sion­ais de saúde estão treina­dos para atu­ar durante esse even­to de desas­tre? Onde a pop­u­lação deve procu­rar aju­da? O que a pop­u­lação deve faz­er? Que tipo de ações deve­mos tomar em relação, por exem­p­lo, às relações de tra­bal­ho? Em alguns país­es, por exem­p­lo, durante even­tos muito extremos de ondas de calor, as pes­soas são acon­sel­hadas a tra­bal­har de casa.”

Rena­ta Libon­ati expli­ca ain­da que, dev­i­do às desigual­dades soci­ais, o calor atinge às pes­soas de for­ma tam­bém desigual. “O calor não é democráti­co, na ver­dade, ele afe­ta essa pop­u­lação que é mais vul­neráv­el no sen­ti­do de que não só não têm aces­so a meios de se refres­car durante ess­es episó­dios, mas tam­bém têm menos instrução do que faz­er, de onde ir, e têm menos assistên­cia médi­ca, assistên­cia de saúde bási­ca, não só durante os even­tos de calor extremos, mas durante toda a sua vida, no dia a dia”, diz a pro­fes­so­ra.

Os ter­ritórios tam­bém impactam nos efeitos do calor, que são mais críti­cos em ter­ritórios de favela, por exem­p­lo. “Comu­nidades em que as casas são muito aglom­er­adas e a cir­cu­lação do ar não per­mite tam­bém uma refrig­er­ação nat­ur­al, dig­amos assim. Isso faz com que essas pes­soas ten­ham uma vul­ner­a­bil­i­dade maior ao calor e isso faz com que a gente pre­cise ter um olhar difer­en­ci­a­do para essa parcela da pop­u­lação”, ressalta.

Segun­do o Serviço de Mudanças Climáti­cas Coper­ni­cus (C3S), da União Europeia, neste ano, o mun­do teve o mês de janeiro mais quente já reg­istra­do, dan­do con­tinuidade a uma onda de calor ali­men­ta­da pelas mudanças climáti­cas. O mês de janeiro de 2024 super­ou janeiro de 2020, até então o mais quente nos reg­istros do C3S des­de 1950.

Edição: Nádia Fran­co

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