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Comunidade israelita denuncia aumento de antissemitismo no país

Repro­dução: © Fer­nan­do Frazão/Agência Brasil

Especialistas alertam que crítica a Israel pode não ser contra judeus


Pub­li­ca­do em 09/11/2023 — 16:38 Por Cami­la Boehm – Repórter da Agên­cia Brasil — São Paulo

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A Con­fed­er­ação Israeli­ta do Brasil (Conib) e a Fed­er­ação Israeli­ta do Esta­do de São Paulo (Fis­esp) divul­gar­am nes­ta quin­ta-feira (9) lev­an­ta­men­to que mostra que denún­cias de dis­crim­i­nação e vio­lên­cia con­tra judeus, o anti­s­semitismo, aumen­taram no Brasil des­de o iní­cio do mais recente con­fli­to entre Israel o grupo palesti­no Hamas, em 7 de out­ubro. 

O Depar­ta­men­to de Segu­rança Comu­nitária Conib/Fisesp reg­istrou 467 denún­cias no mês pas­sa­do, con­tra 44 em out­ubro de 2022. De janeiro a out­ubro de 2023, foram 876, enquan­to no mes­mo perío­do de 2022 foram 375.

São Paulo (SP), 09/11/2023 - O presidente da Federação Israelita do Estado de São Paulo, Marcos Knobel, apresenta dados de pesquisa sobre aumento do antissemitismo no Brasil, em evento que marca o dia Internacional de Combate ao Fascismo e ao Antissemitismo, no Clube Hebraica. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Repro­dução: O pres­i­dente da Fed­er­ação Israeli­ta do Esta­do de São Paulo, Mar­cos Kno­bel, apre­sen­ta dados de pesquisa sobre aumen­to do anti­s­semitismo no Brasil. Foto: Rove­na Rosa/Agência Brasil

Para o pres­i­dente da Fis­esp, Mar­cos Kno­bel, as mídias soci­ais “escan­car­am o anti­s­semitismo”. “As pes­soas se tor­nam mais fortes, mais cora­josas, para expor e des­ti­lar todo o veneno de ódio que elas têm”, disse.

“Nós esta­mos aten­tos e nós não vamos tol­er­ar um episó­dio sequer, por menor que seja, de anti­s­semitismo. [Se hou­ver] um crime real­mente, racis­mo ou anti­s­semitismo, essa pes­soa vai ter que respon­der legal­mente pelo que ela fez”, acres­cen­tou.

Entre as ima­gens apre­sen­tadas, apare­cem men­sagens em redes soci­ais de apolo­gia ao nazis­mo e ao exter­mínio dos judeus, com citações ao líder nazista Adolf Hitler. No entan­to, tam­bém foram apre­sen­tadas ima­gens de atos como a queima da ban­deira de Israel e um car­taz que iguala o nazis­mo ao sion­is­mo.

Sionismo

O movi­men­to sion­ista surgiu como for­ma de resolver a questão do anti­s­semitismo através da for­mação de um esta­do-nação exclu­si­va­mente dos judeus. A pro­pos­ta aca­ba gan­han­do força após o fim da Segun­da Guer­ra Mundi­al.

Kno­bel disse que, para ele, a guer­ra atu­al deixou claro que “anti­s­sion­is­mo é anti­s­semitismo”. “A não ser que você chegue e queira criticar cin­co país­es. Estou crit­i­can­do Israel, estou crit­i­can­do a França, da mes­ma maneira, sem entrar em nen­hum critério maior. Aí tudo bem, você pode estar crit­i­can­do, então, o país. Mas da maneira como está sendo fei­ta hoje, anti­s­sion­is­mo é anti­s­semitismo. Desle­git­i­mar o esta­do de Israel, tirar o dire­ito do povo de Israel de ter a sua nação. Israel é o lar nacional do povo judeu”, avaliou.

São Paulo (SP), 09/11/2023 - O vice presidente da Confederação Israelita do Brasil, Daniel Bialski, apresenta dados de pesquisa sobre aumento do antissemitismo no Brasil, no dia Internacional de Combate ao Fascismo e ao Antissemitismo, no Clube Hebraica. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Repro­dução: O vice-pres­i­dente da Con­fed­er­ação Israeli­ta do Brasil, Daniel Bial­s­ki, apre­sen­ta dados de pesquisa sobre aumen­to do anti­s­semitismo no Brasil. Foto: Rove­na Rosa/Agência Brasil

Para Daniel Bial­s­ki, vice-pres­i­dente da Conib, anti­s­sion­is­mo é o mes­mo que anti­s­semitismo. “O sion­is­mo é a defe­sa do esta­do de Israel, em todos os seus sen­ti­dos. Então quan­do você com­para o sion­is­mo ao nazis­mo, você está prat­i­can­do o anti­s­semitismo. Quan­do você diz que Israel é um esta­do geno­ci­da, você está prat­i­can­do o anti­s­semitismo. Quan­do você não entende que Israel está queren­do destru­ir o arse­nal de armas do Hamas, isso tam­bém é uma for­ma de anti­s­semitismo”, disse.

Divergência

Entre espe­cial­is­tas ouvi­dos pela Agên­cia Brasil, há um con­sen­so de que críti­cas a Israel e sobre­tu­do à políti­ca do gov­er­no israe­lense não podem ser con­sid­er­adas man­i­fes­tações de anti­s­semitismo à pri­ori.

“Havia divergên­cia entre os judeus [sobre o movi­men­to sion­ista]. Essa não foi a úni­ca pro­pos­ta para lidar com o anti­s­semitismo. Mas esse pro­je­to sion­ista avançou através da col­o­niza­ção da Palesti­na por várias décadas até a cri­ação do Esta­do de Israel em 1948. Então o Esta­do de Israel rep­re­sen­ta esse pro­je­to nacional­ista de parcela dos judeus. Quan­do se crit­i­ca esse pro­je­to, você não está sendo anti­s­semi­ta”, disse o pesquisador Bruno Huber­man.

Para Huber­man, que é pro­fes­sor do cur­so de Relações Inter­na­cionais da Pon­tif­í­cia Uni­ver­si­dade Católi­ca de São Paulo (PUC-SP), “mes­mo a com­para­ção com as práti­cas nazis­tas, diz­er que a Faixa de Gaza é um cam­po de con­cen­tração ou um gue­to, que está se fazen­do um mas­sacre, são críti­cas cabíveis ao Esta­do de Israel”.

O israe­lense Sha­jar Gold­was­er, que é judeu nasci­do em Jerusalém e par­ticipou de ato em defe­sa do povo palesti­no em São Paulo, exem­pli­fi­cou essa divergên­cia entre os judeus. “Eu não acho que deva exi­s­tir um esta­do judaico, assim como eu não acho que deva exi­s­tir um esta­do católi­co ou cristão. O esta­do deve ser laico e democráti­co. É isso que eu acred­i­to que deve acon­te­cer em Israel e Palesti­na”, disse.

“A gente deve se pau­tar pela democ­ra­cia, pelos dire­itos humanos, pela con­strução de uma sociedade laica, na qual judeus, muçul­manos, cristãos, israe­lens­es, palesti­nos, pos­sam con­viv­er em paz e har­mo­nia e pos­sam explo­rar as suas enormes capaci­dades e riquezas cul­tur­ais, que tan­to a cul­tura judaica tem, quan­to a cul­tura palesti­na tam­bém tem”, acres­cen­tou.

Gold­was­er ressalta que Israel não rep­re­sen­ta todos os judeus. “Os judeus exis­tem há muito mais tem­po que o esta­do de Israel, a história judaica tem 3 mil, 4 mil, 5 mil anos e o sion­is­mo ele não pas­sa de 100. Então o sion­is­mo é só uma fase”, disse.

Natalia Cal­fat, cien­tista políti­ca e pesquisado­ra da Uni­ver­si­dade de São Paulo (USP), avaliou que os prin­ci­pais ques­tion­a­men­tos feitos a Israel no pre­sente debate surgem em decor­rên­cia do caráter expan­sion­ista do sion­is­mo e da políti­ca empreen­di­da sob o gov­er­no lid­er­a­do pelo primeiro-min­istro Ben­jamin Netanyahu. Ela obser­va que críti­cas aos assen­ta­men­tos israe­lens­es são ressoadas inclu­sive por judeus.

“O que existe hoje é uma ten­ta­ti­va de enquadra­men­to de toda críti­ca ao sion­is­mo enquan­to anti­s­semitismo. É uma manobra diver­sion­ista que deslo­ca a dis­cussão, desle­git­i­ma as críti­cas e vio­la os princí­pios do debate democráti­co. Isso não sig­nifi­ca diz­er que não haja anti­s­semitismo nem que não haja críti­cas a Israel acom­pan­hadas de anti­s­semitismo. Elas cer­ta­mente exis­tem, mas nem sem­pre é o caso e é pre­ciso que haja clareza na difer­en­ci­ação entre anti­s­sion­is­mo e anti­s­semitismo”.

Edição: Aline Leal

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