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Conheça projetos que tratam de eleições e cidadania para crianças

Repro­dução: © Tânia Rêgo/Agência Brasil

Plenarinho destaca importância da participar da política


Publicado em 08/09/2024 — 10:25 Por Akemi Nitahara – Repórter da Agência Brasil — Rio de Janeiro

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Em ano de eleições munic­i­pais, como e por que envolver cri­anças em um tema tão ári­do como a políti­ca? As respostas a essa per­gun­ta são muitas, e a Agên­cia Brasil con­heceu exper­iên­cias práti­cas que aju­dam a intro­duzir o assun­to jun­to aos pequenos, mes­mo antes da idade mín­i­ma para votar (16 anos) no pleito que ocor­rerá em out­ubro em todo o país, com exceção do Dis­tri­to Fed­er­al.

Uma dessas exper­iên­cias des­ti­na­da à edu­cação eleitoral é o Pro­je­to Ple­nar­in­ho, da Câmara dos Dep­uta­dos, que com­ple­tou 20 anos neste mês de agos­to. A coor­de­nado­ra da equipe de Edu­cação para a Democ­ra­cia da Esco­la da Câmara dos Dep­uta­dos, Cori­na Cas­tro, expli­ca que o pro­je­to foi cri­a­do para ensi­nar cri­anças e ado­les­centes sobre políti­ca e democ­ra­cia, “tudo isso de um jeito diver­tido e fácil de enten­der”.

“Lá você pode encon­trar jogos, histórias em quadrin­hos, vídeos, ativi­dades que mostram como as leis são feitas e como é que fun­ciona o gov­er­no”.

De acor­do com ela, os con­teú­dos são dire­ciona­dos tan­to para o públi­co de 9 a 12 anos como para pro­fes­sores que dese­jem tratar do tema em sala de aula. Entre os pro­je­tos, estão o Câmara Mir­im, no qual gru­pos de cri­anças cri­am e votam pro­je­tos de lei; e o Eleitor Mir­im, que ensi­na as cri­anças a votar em can­didatos fic­tí­cios.

Para a coor­de­nado­ra, é impor­tante que cri­anças se envolvam com as eleições para enten­der e exerci­tar a cidada­nia des­de cedo.

“A gente tra­ta isso para as cri­anças como uma opor­tu­nidade de apren­der a escol­her bem, lem­bran­do que escol­her bem tem a per­spec­ti­va, tem o lugar de fala, tem o lugar que essa pes­soa se encon­tra, o con­tex­to dela. Então, apren­der a escol­her bem é escol­her de acor­do com os inter­ess­es da sua comu­nidade”.

Cori­na desta­ca que, como “cidadãs do futuro”, as cri­anças devem com­preen­der as escol­has que são feitas no pre­sente e que vão inter­ferir nesse futuro.

“Muitas coisas que são feitas hoje não são bené­fi­cas para o futuro. É o caso, por exem­p­lo, das mudanças climáti­cas, da maneira como a gente vem tra­bal­han­do, vem fazen­do as coisas, talvez não seja inter­es­sante para o futuro. E as eleições são uma opor­tu­nidade de crescer saben­do que as suas opiniões são impor­tantes e que elas podem faz­er a difer­ença. Mas não é só a opinião, é enten­der como foi a exper­iên­cia para chegar na opinião”.

Crianças eleitoras

Rio de Janeiro (RJ), 20/08/2024 - Crianças do Colégio Pedro II participam de eleições para representante de turma, no Colégio Pedro II, em São Cristóvão, zona norte da cidade. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Repro­dução: Cri­anças do Colé­gio Pedro II par­tic­i­pam de eleições para rep­re­sen­tante de tur­ma, no Colé­gio Pedro II, em São Cristóvão, zona norte da cidade.  Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

No Rio de Janeiro, o Colé­gio Pedro II, insti­tu­ição fed­er­al que con­ta com 15 campi na cap­i­tal e Região Met­ro­pol­i­tana, com cer­ca de 12 mil estu­dantes da edu­cação infan­til ao ensi­no médio, tra­bal­ha com a práti­ca da eleição em sala de aula des­de o quin­to ano, últi­ma série da primeira fase do ensi­no fun­da­men­tal, que envolve cri­anças de 10 e 11 anos.

A ori­en­ta­do­ra pedagóg­i­ca do Cam­pus São Cristóvão I, Flávia Assis, expli­ca que cada tur­ma escol­he o seu rep­re­sen­tante de classe, que irá, entre out­ras coisas, par­tic­i­par do Con­sel­ho de Classe (COC) jun­to com os pro­fes­sores.

“Todo ano tem [essa eleição], e eles são con­vi­da­dos a se can­di­datar. Nós con­ver­samos com eles sobre o que sig­nifi­ca essa rep­re­sen­tação. O que sig­nifi­ca lançar-se ao cole­ti­vo, rep­re­sen­tar um cole­ti­vo, porque não é uma questão de falar sobre si mes­mo, né? Em ger­al, a gente traz algu­ma lit­er­atu­ra que os envol­va nesse sen­ti­do. Aí abre o perío­do eleitoral, a gente apre­sen­ta o cal­endário eleitoral, as cha­pas se apre­sen­tam, fazem as cam­pan­has, apre­sen­tam seus pro­gra­mas. E aí tem as eleições”.

De acor­do com ela, as rep­re­sen­tações têm autono­mia para atu­ar em con­jun­to com a tur­ma.

“Tem anos, por exem­p­lo, que os rep­re­sen­tantes orga­ni­zam a for­matu­ra. Tem anos que os rep­re­sen­tantes escrevem car­tas para vir aqui na direção faz­er solic­i­tações de mel­ho­rias nos aspec­tos físi­cos da esco­la. Às vezes são temas que envolvem even­tos, então varia muito do enga­ja­men­to da tur­ma. Mas o que a gente quer com isso é que eles, como um todo, se sin­tam como um cor­po cole­ti­vo e que enten­dam que os rep­re­sen­tantes têm um papel de levar a voz daque­le cole­ti­vo para fora, então que eles se orga­nizem politi­ca­mente nas suas pau­tas, essa é a intenção mes­mo”.

A eleição é coor­de­na­da pelo Setor de Ori­en­tação Edu­ca­cional e Pedagóg­i­ca (Seop). A ped­a­goga Manuela Mon­teiro, respon­sáv­el pelo Seop do Cam­pus São Cristóvão I, expli­ca que todas as tur­mas recebem ori­en­tação sobre a rep­re­sen­tação de classe e tam­bém o acom­pan­hamen­to sobre os momen­tos de inter­ação dele com os setores do colé­gio.

“A gente faz uma reunião de equipe, mon­ta um crono­gra­ma, pen­san­do no tem­po hábil para cada pas­so desse proces­so de votação, da par­tic­i­pação nas assem­bleias e da atu­ação dos alunos rep­re­sen­tantes no con­sel­ho de classe. Cada crono­gra­ma é pen­sa­do a cada trimestre, porque, por exem­p­lo, no primeiro trimestre acon­tece a votação do aluno rep­re­sen­tante. Nos out­ros trimestres, é somente a questão das assem­bleias, porque já tem os alunos rep­re­sen­tantes eleitos”.

Candidatos e candidatas

Rio de Janeiro (RJ), 20/08/2024 - Crianças do Colégio Pedro II participam de eleições para representante de turma, no Colégio Pedro II, em São Cristóvão, zona norte da cidade. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Repro­dução: Cri­anças do Colé­gio Pedro II par­tic­i­pam de eleições para rep­re­sen­tante de tur­ma, no Colé­gio Pedro II, em São Cristóvão, zona norte da cidade. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil — Tânia Rêgo/Agência Brasil

A reportagem con­ver­sou com alguns dos can­didatos e can­di­datas. Ana Júlia Diniz Cas­siano, de 10 anos, diz que quer ser rep­re­sen­tante para aju­dar a tur­ma, a pro­fes­so­ra e orga­ni­zar o recreio, além de ter e opor­tu­nidade de falar no Con­sel­ho de Classe. “Rep­re­sen­tante de tur­ma, ele rep­re­sen­ta a tur­ma toda, os alunos vão dan­do uma ideia pro rep­re­sen­tante e ele leva pro COC.”

Em sua cam­pan­ha, Con­ra­do Senas, de 10 anos, diz que pre­tende colo­car mais ordem na tur­ma e evi­tar con­fli­tos. “Eu quero resolver o prob­le­ma de ficar xin­gan­do os out­ros, que não pode falar palavrão, né? E tem que respeitar os amigu­in­hos, não pode rabis­car a mesa, não pode rabis­car a parede. Não faz­er besteira, tipo, não sujar ban­heiro, não ficar fazen­do xixi no chão, porque a tia da limpeza fica muito triste”.

Teodoro Oliv­e­ria da Sil­va Batista, 10 anos, espera ser eleito para aju­dar a tur­ma a man­ter o foco nos estu­dos. “Eu que­ria aju­dar a esco­la em vários aspec­tos, mas espero aju­dar a min­ha tur­ma. A gente tem que ouvir a tur­ma, a gente con­ver­sa muito, mas a gente é muito unido. E eu acho que a gente pode­ria parar de con­ver­sar um pouco e prestar mais atenção na aula”.

Já Ana Beat­riz da Sil­va, 11 anos, con­sid­era que, ape­sar de a votação ser o meio mais usu­al de escol­ha, o ide­al seria chegar a um con­sen­so. “De cer­ta for­ma, é injus­to, eu acho que a gente dev­e­ria con­ver­sar, entrar em um con­sen­so con­jun­to e, se necessário, faz­er uma votação. Porque eu acho que o que vale mes­mo é uma união, não quem tiv­er mais voto gan­ha”.

Os pequenos tam­bém estão por den­tro das eleições munic­i­pais e tem reca­dos impor­tantes para quem vencer a dis­pu­ta. “Eu pediria que ele desse uma condição mel­hor para as pes­soas, uma condição mel­hor finan­ceira. Porque tem mui­ta gente que não tem uma condição muito boa e mora em lugares que não tem uma estru­tu­ra sufi­ciente para abri­gar as pes­soas, per­to de esgo­to, e quan­do chove trans­bor­da tudo e pode trans­mi­tir doenças para as pes­soas. Eu acho que devi­am ter mel­ho­rias para as fave­las do Rio”, diz Ana Beat­riz.

Isabel­la Nair­im Gomes de Souza, 10 anos, con­cor­da com a cole­ga. “Por mim, eu ia deixar os can­didatos, os eleitos, mais humildes, pra aju­dar o próx­i­mo, ter com­paixão”.

Fran­cis­co Barce­los Rodrigues, 10 anos, lem­bra das ben­feito­rias que ocor­rem ape­nas no momen­to da cam­pan­ha. “Lá onde eu moro, teve um cara lá que começou a ajeitar as ruas há um tem­po já. E ontem ele pas­sou em todas as ruas soltan­do fogos, com ban­deira. Não é cer­to, porque dev­e­ria ser toda hora, ele está ajei­tan­do tudo ago­ra, mas aí ele só está queren­do voto para ele gan­har a eleição e depois não faz­er mais nada”.

Maria Eduar­da Rocha Cam­pos, 10 anos, falou das promes­sas não cumpri­das pelos políti­cos. “Eu acho que tem que ter um prefeito para colo­car ordem e ajeitar as coisas, só que tam­bém não adi­anta ter um prefeito que prom­ete, prom­ete, prom­ete, faz um monte de pro­pa­gan­da e não cumpre. Tem que ser um prefeito hon­esto, que vá cumprir com as coisas que ele falar, que vai faz­er”

Participação desde cedo

A coor­de­nado­ra do Ple­nar­in­ho, Cori­na Cas­tro, ressalta a importân­cia da par­tic­i­pação no proces­so eleitoral des­de cedo, para enten­der de pequeno a importân­cia da cidada­nia e da democ­ra­cia.

“Mes­mo sem votar, elas podem par­tic­i­par apren­den­do, con­ver­san­do, aju­dan­do na comu­nidade, apoian­do os pais, prat­i­can­do cidada­nia. Tra­bal­ho vol­un­tário, por exem­p­lo. E tem muitas opor­tu­nidades nas próprias eleições, né? Algu­mas orga­ni­za­ções aceitam cri­anças para entre­gar pan­fle­tos, para par­tic­i­par de atos. Então, é uma for­ma de praticar a cidada­nia. E a gente acha que isso cria uma base forte para as cri­anças serem cidadãs ati­vas, infor­madas, no futuro e hoje mes­mo”.

Out­ra orga­ni­za­ção que tem tra­bal­ho volta­do para a infân­cia nes­tas eleições é o Fun­do das Nações Unidas pela Infân­cia (Unicef). A enti­dade da ONU fez recomen­dações para a garan­tia dos dire­itos das cri­anças e dos ado­les­centes nas cidades brasileiras, em for­ma de car­til­ha para os can­didatos, para os jor­nal­is­tas, para os ado­les­centes e para os eleitores.

O coor­de­nador do Pro­gra­ma de Cidada­nia dos Ado­les­centes do Unicef no Brasil, Mario Volpi, expli­ca que, den­tre todas as deman­das que exigem atenção das autori­dades e da sociedade no país, a orga­ni­za­ção iden­ti­fi­cou cin­co mais urgentes: pro­teção con­tra todas as vio­lên­cias, mudanças climáti­cas, esco­las de qual­i­dade para todos, pro­moção da saúde e da nutrição e pro­teção social.

“Ess­es cin­co temas não podem esper­ar, então a gente ten­tou esta­b­ele­cer um con­jun­to de ações que a gente quer que o municí­pio dis­cu­ta e que os can­didatos a prefeito e a vereador digam duas coisas: o que eles vão faz­er e como eles vão faz­er. Porque não bas­ta diz­er o que eles vão faz­er, é pre­ciso diz­er com quan­to din­heiro, com que ativi­dades, com quais profis­sion­ais. Como que eles vão faz­er para cumprir essas promes­sas?”

Sobre o envolvi­men­to das cri­anças no proces­so eleitoral, Volpi desta­ca que a par­tic­i­pação delas na sociedade deve ser pro­gres­si­va.

“Você começa par­tic­i­pan­do, opinan­do lá na sua família, na esco­la, enten­den­do os prob­le­mas para daí, na ado­lescên­cia, já começar a par­tic­i­par de algum grupo de dis­cussão dos dire­itos, para reivin­dicar seus dire­itos, o grêmio estu­dan­til na esco­la, para aos 16 anos tirar o títu­lo de eleitor e ir votar, escol­her os seus can­didatos”.

Ele desta­ca, ain­da, a importân­cia de que cri­anças e ado­les­centes sejam envolvi­dos em con­ver­sas sobre o tema. “Porque elas é que vivem as políti­cas públi­cas, né? Elas que estão na esco­la, elas que estão lá no cen­tro de saúde sendo aten­di­das. Então, a voz, a opinião e a sug­estão delas no debate, na sug­estão de soluções para as questões que dizem respeito às suas próprias vidas é essen­cial. A gente não vai avançar na con­sol­i­dação da democ­ra­cia, no desen­volvi­men­to sus­ten­táv­el, sem par­tic­i­pação das cri­anças e dos ado­les­centes”.

Acom­pan­he na Radioagên­cia Nacional o pod­cast Cri­anças Sabidas sobre as eleições munic­i­pais. A pro­dução orig­i­nal ofer­ece con­teú­do jor­nalís­ti­co dire­ciona­do ao públi­co infan­til. A série sobre as eleições terá ao todo qua­tro episó­dios, pub­li­ca­dos sem­pre às sex­tas-feiras. Os dois primeiros já estão no ar. Con­teú­do tam­bém disponív­el nos tocadores de áudio e com tradução em Libras para o YouTube.

Edição: Denise Griesinger

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