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Consultas urológicas caem na pandemia e sociedade alerta população

Repro­dução: © Wil­son Dias/Agência Brasil

Campanha Novembro Azul chama atenção para o câncer de próstata


Pub­li­ca­do em 01/11/2021 — 14:37 Por Cristi­na Indio do Brasil — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

A Sociedade Brasileira de Urolo­gia (SBU) aler­ta sobre os impactos da pan­demia da covid-19 no setor, espe­cial­mente na real­iza­ção de diag­nós­ti­cos e de trata­men­tos do câncer de prós­ta­ta. O aler­ta é feito no mês em que se desen­volve a cam­pan­ha mundi­al Novem­bro Azul, que começou em 2003, na Aus­trália, com a intenção de chamar a atenção para a importân­cia da pre­venção e do diag­nós­ti­co pre­coce de doenças que atingem a pop­u­lação mas­culi­na.

As cirur­gias para reti­ra­da da prós­ta­ta por câncer tiver­am redução de 21,5% na com­para­ção entre 2019 e 2020. Os dados inédi­tos do Min­istério da Saúde, obti­dos a pedi­do da SBU, con­stam do Sis­tema de Infor­mação Hos­pi­ta­lar (SIH). As cole­tas do antígeno prostáti­co especí­fi­co (PSA) e de bióp­sia da prós­ta­ta que, jun­to com o exame de toque retal, diag­nos­ti­cam a doença, reg­is­traram quedas de 27% e 21%, respec­ti­va­mente, como mostram as infor­mações do Sis­tema de Infor­mações Ambu­la­to­ri­ais, do Sis­tema Úni­co de Saúde (SUS).

Hou­ve diminuição ain­da no número de con­sul­tas urológ­i­cas no SUS (33,5%). As inter­nações de pacientes com diag­nós­ti­co da doença caíram 15,7%. As con­sul­tas com um urol­o­gista tam­bém sofr­eram que­da. Até jul­ho, foram 1.812.982, enquan­to em 2019 foram 4.232.293 e em 2020, 2.816.326.

Emb­o­ra já ten­ham começa­do a ocor­rer neste ano, as con­sul­tas ain­da estão em baixa. “Até nós que tra­bal­hamos em con­sultórios par­tic­u­lares começamos a perce­ber que pacientes voltaram a mar­car con­sul­tas, mas real­mente hou­ve um perío­do em que não foi pos­sív­el tra­bal­har. Hoje, a gente já con­seguiu recu­per­ar quase 60% do movi­men­to que havia antes da pan­demia. As cirur­gias estão voltan­do, mas em pacientes que já tin­ham indi­cações antes de todo esse proces­so”, afir­mou o secretário-ger­al da SBU, Alfre­do Canali­ni.

Ele con­tou que como os hos­pi­tais e cen­tros de atendi­men­tos tiver­am que con­cen­trar as atenções em pacientes atingi­dos pela pan­demia, o medo de con­t­a­m­i­nação pela covid-19 afas­tou as pes­soas da procu­ra aos médi­cos. “Ess­es locais pas­saram a ser vis­tos como de maior risco de con­t­a­m­i­nação. As pes­soas pararam de faz­er as coisas. A gente perce­beu isso não só nos novos diag­nós­ti­cos, mas inclu­sive em alguns pacientes que estavam fazen­do trata­men­to para câncer inde­pen­dente do tipo. Eles pararam e sumi­ram, resolver­am não cor­rer risco e ficaram em casa. Isso prej­u­di­cou muito”, disse Canali­ni em entre­vista à Agên­cia Brasil.

Segun­do ele, a urolo­gia não pode ter con­sul­tas por telemed­i­c­i­na, como pas­saram a ocor­rer com out­ras espe­cial­i­dades por causa da pan­demia. “Este tipo de instru­men­to não pos­si­bili­ta o exame físi­co do paciente, por exem­p­lo, a primeira con­sul­ta não pode ser fei­ta por telemed­i­c­i­na. Não é ide­al, e o paciente corre risco”, afir­mou.

Estados

Os esta­dos do Acre (90%), de Mato Grosso (69%) e do Rio Grande do Norte (50%) ver­i­ficaram que­da sig­ni­fica­ti­va nos exam­es de bióp­sia da prós­ta­ta entre 2019 e 2020. No Rio de Janeiro foram 39% a menos e em Minas Gerais 31%. Já São Paulo (6%) e o Dis­tri­to Fed­er­al (7%) tiver­am impacto menor. No exame de PSA, a Paraí­ba reg­istrou per­centu­al ele­va­do (50%), segui­do de Per­nam­bu­co (37%), Dis­tri­to Fed­er­al (34%), Rio de Janeiro (30%) e São Paulo (29%).

“O homem tem que perder o medo de ir ao médi­co e se con­sci­en­ti­zar de que tem que cuidar da saúde como as mul­heres fazem, porque é graças a isso que a mul­her tem uma expec­ta­ti­va de vida de 8 a 10 anos maior do que a da gente”, sug­eriu, acres­cen­tan­do que como já ocorre com as mul­heres, as con­sul­tas rotineiras devem começar na ado­lescên­cia.

Atraso

Uma pesquisa real­iza­da pela Uni­ver­si­dade de São Paulo (USP) rela­ta o atra­so cirúr­gi­co emer­gen­cial e ele­ti­vo durante a pan­demia, no Brasil. Con­forme o estu­do, mais de 1 mil­hão de cirur­gias foram can­ce­ladas ou adi­adas. Dados do Sis­tema de Infor­mações sobre Mor­tal­i­dade (SIM) mostram ain­da que os pro­ced­i­men­tos cirúr­gi­cos para trata­men­to do câncer de prós­ta­ta tam­bém foram impacta­dos. Com ess­es resul­ta­dos a SBU reforça neste ano a importân­cia de os home­ns retomarem os cuida­dos com a saúde e voltarem às con­sul­tas médi­cas. A chance de cura cresce com o diag­nós­ti­co pre­coce do câncer de prós­ta­ta.

Para o secretário, quan­do os pacientes que deixaram de faz­er o trata­men­to e as con­sul­tas voltarem aos con­sultórios é pos­sív­el ter um acú­mu­lo de diag­nós­ti­cos. “A gente tem que estar prepara­do tam­bém para aten­der a essa deman­da reprim­i­da. Então, é toda uma estraté­gia que tem de ser mon­ta­da para faz­er frente a tudo isso que está acon­te­cen­do”, obser­vou.

Câncer de próstata

Com exceção do câncer de pele não melanoma, o câncer de prós­ta­ta é o tumor mais fre­quente no homem. Esti­ma­ti­va do Insti­tu­to Nacional do Câncer (Inca), indi­ca que em 2021 são esper­a­dos 65.840 novos casos, mas muitos podem nem ter sido diag­nos­ti­ca­dos. A SBU tam­bém obteve infor­mações do SIM), que indicam aumen­to de 10% na mor­tal­i­dade por câncer de prós­ta­ta em cin­co anos. Em 2015, eram 14.542, e subi­ram para 16.033 em 2019.

A pre­ocu­pação com o atra­so nas con­sul­tas médi­cas é que em 90% dos casos, em fas­es ini­ci­ais, o câncer de prós­ta­ta pode ser cura­do. A glân­du­la se local­iza abaixo da bex­i­ga. Den­tro dela pas­sa o canal da ure­tra, por onde a uri­na vai da bex­i­ga para o meio exter­no. A von­tade de uri­nar com fre­quên­cia e a pre­sença de sangue na uri­na ou no sêmen podem sig­nificar a pre­sença do câncer numa fase mais avança­da. Nem todo tipo da doença tem neces­si­dade de cirur­gia, quimioter­apia e out­ros trata­men­tos, mas pode ser acom­pan­hado por meio da vig­ilân­cia ati­va.

“Após a avali­ação urológ­i­ca, os pacientes por­ta­dores de doença de baixa agres­sivi­dade, avali­a­dos por meio de critérios histopa­tológi­cos, clíni­cos e dosagem do PSA, podem optar por essa modal­i­dade de trata­men­to. Entre­tan­to, neces­si­tam ser mon­i­tora­dos para que em caso de pro­gressão tumoral, o trata­men­to ade­qua­do seja insti­tuí­do”, disse o coor­de­nador do Depar­ta­men­to de Uro-oncolo­gia da SBU, Rodol­fo Borges, acres­cen­tan­do que as prin­ci­pais van­ta­gens da vig­ilân­cia ati­va são evi­tar as pos­síveis mor­bidades dos trata­men­tos inter­ven­cionistas.

Fatores de risco

Segun­do o secretário-ger­al da SBU, o históri­co famil­iar de câncer de prós­ta­ta em pai, irmão ou tio é um sinal da neces­si­dade de um exame nos home­ns a par­tir de 45 anos. Mas tam­bém os afrode­scen­dentes têm risco alto de desen­volver a doença por questões genéti­cas. Além dis­so, a obesi­dade é moti­vo de aler­ta. Para os que não têm ess­es fatores de risco, a recomen­dação da SBU é que a par­tir de 50 anos pro­curem um profis­sion­al espe­cial­iza­do em avali­ação indi­vid­u­al­iza­da, para o caso de um diag­nós­ti­co pre­coce do câncer de prós­ta­ta. De acor­do com a SBU, depois dos 75 anos, a ori­en­tação é de que somente home­ns com per­spec­ti­va de vida maior do que dez anos façam essa avali­ação.

Alfre­do Canali­ni afir­mou que o trata­men­to ofer­e­ci­do no Brasil atual­mente está no mes­mo nív­el do de out­ros país­es como Esta­dos Unidos, França, Ale­man­ha, Espan­ha e Inglater­ra. “Não tem difer­ença nen­hu­ma. Hoje em dia, o con­hec­i­men­to e as habil­i­dades em med­i­c­i­na estão extrema­mente uni­formes no mun­do todo, tiran­do os país­es com cenários de mis­éria e guer­ra. Hoje, no Brasil, os instru­men­tos que temos para faz­er exam­es de câncer de prós­ta­ta são os mes­mos que nos Esta­dos Unidos”.

Parceria

A SBU e o Min­istério da Saúde têm acor­do de coop­er­ação téc­ni­ca para ações con­jun­tas na saúde do homem a fim de ori­en­tar sobre câncer de pênis, testícu­lo, prós­ta­ta e bex­i­ga, hiper­pla­sia benigna da prós­ta­ta, fimose, queixas urinárias, dis­função erétil, vasec­to­mia e ISTs, entre out­ros. O acor­do pre­vê o treina­men­to, pela SBU, de profis­sion­ais da Atenção Primária de Saúde para que pos­sam iden­ti­ficar prob­le­mas que devem ser encam­in­hados ao espe­cial­ista.

Na visão do dire­tor de comu­ni­cação da SBU, Roni Fer­nan­des, as ações unifi­cadas entre todos os setores podem resul­tar na mel­ho­ra do aces­so para o trata­men­to dos home­ns com câncer de prós­ta­ta. “Esse acor­do inédi­to entre o Min­istério da Saúde e a SBU vai rev­olu­cionar as políti­cas públi­cas e a con­sci­en­ti­za­ção da pop­u­lação”, desta­cou.

Ações

Durante o mês de novem­bro a SBU vai realizar uma série de ações online e pres­en­ci­ais para aler­tar sobre o prob­le­ma. Com o slo­gan Saúde tam­bém é papo de homem, a SBU terá uma pro­gra­mação em suas redes soci­ais, como no per­fil @portaldaurologia, que inclui lives todas as quar­tas-feiras com espe­cial­is­tas e posts e vídeos esclare­cen­do dúvi­das, além de pod­casts sem­anais na Rádio SBU, disponív­el em todas as platafor­mas de stream­ing.

Ain­da durante a cam­pan­ha, como ocorre todos os anos, diver­sos mon­u­men­tos nos esta­dos brasileiros serão ilu­mi­na­dos na cor azul, entre eles a Ponte Esta­ia­da e o Viadu­to do Chá, em São Paulo.

“É um tra­bal­ho de vários anos que já vem pro­duzin­do fru­tos, mas que ago­ra, mes­mo diante de uma pan­demia sem prece­dentes como essa, pre­cisa ser con­tin­u­a­do, pois as doenças não dão trégua.”, desta­cou a douto­ra Karin Jaeger Anzolch, mem­bro do Depar­ta­men­to de Comu­ni­cação da SBU e uma das orga­ni­zado­ras das ações do Novem­bro Azul.

 

Edição: Graça Adju­to

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