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Consumo de álcool na gestação traz riscos para bebê, afirma médica

Repro­dução: © Arquivo/Agência Brasil

Especialistas chamam a atenção para danos na criança e adolescente


Pub­li­ca­do em 18/02/2022 — 07:02 Por Alana Gan­dra — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

 “Se você bebe, o seu bebê tam­bém bebe” é o tema da cam­pan­ha da Asso­ci­ação Brasileira de Estu­dos do Álcool e Out­ras Dro­gas (Abead) que visa aler­tar mul­heres grávi­das para os riscos que o con­sumo de bebidas alcoóli­cas na ges­tação pode traz­er para os fil­hos. “Esse é o nos­so foco de inter­esse, de ação in advo­ca­cy (lob­by do bem)”, disse a pres­i­dente da Abead, Alessan­dra Diehl. A enti­dade bus­ca pre­venir sobre o álcool na ges­tação, para evi­tar o que os espe­cial­is­tas chamam de Sín­drome Alcoóli­ca Fetal (SAF).

No Dia Nacional de Com­bate ao Alcoolis­mo, lem­bra­do hoje (18), a psiquia­tra desta­ca os riscos de desen­volvi­men­to da SAF, que ain­da é sub­no­ti­fi­ca­da no Brasil e sub­trata­da, por não ser iden­ti­fi­ca­da durante a ges­tação. Segun­do ela, não existe infor­mação, prin­ci­pal­mente para quem tra­bal­ha na rede de atenção primária à saúde e que faz o pré-natal, “que são as enfer­meiras, os gine­col­o­gis­tas”, para iden­ti­ficar a mul­her que está beben­do.

A SAF tem alto impacto na vida da cri­ança, da mãe, do pai e da sociedade como um todo. De acor­do com a Abead, não existe bebê seguro durante a ges­tação porque qual­quer quan­ti­dade de bebi­da pode traz­er com­pli­cações que incluem retar­do men­tal, micro­ce­falia, baixo peso ao nascer, atra­so no desen­volvi­men­to neu­rop­si­co­mo­tor, além de com­pli­cações gesta­cionais.

Estu­dos mostram que entre 12% e 22 % das mul­heres grávi­das apre­sen­tam históri­cos de con­sumo de álcool durante a gravidez. Essa ingestão de álcool pode vari­ar de beber oca­sion­al­mente ao con­sumo exces­si­vo sem­anal e até ao uso crôni­co durante os nove meses da ges­tação. A Abead defende medi­das pre­ven­ti­vas para o uso de álcool por mul­heres grávi­das dev­i­do ao risco de desen­volvi­men­to da SAF. A esti­ma­ti­va é de que cer­ca de 1,5 mil a 6 mil cri­anças nasçam com SAF todos os anos no Brasil.

A Abead sug­ere, entre as medi­das pre­ven­ti­vas, a adoção de rótu­los de advertên­cia sobre o álcool nas embal­a­gens das bebidas, uti­lizan­do-os como fer­ra­men­tas para aumen­tar a con­sci­en­ti­za­ção sobre os riscos ger­a­dos pelo pro­du­to. Tam­bém recomen­da abor­da­gens mais amplas de políti­cas públi­cas para o con­t­role do con­sumo, com infor­mações dire­cionadas ao públi­co-alvo e especí­fi­cas sobre beber na ges­tação. A enti­dade apoia o Pro­je­to de Lei (PL) 4.259/2020, em trami­tação na Câmara dos Dep­uta­dos, que insti­tui o sis­tema de pre­venção à Sín­drome Alcoóli­ca Fetal, bem como dis­põe sobre a obri­ga­to­riedade de advertên­cia dos riscos rela­ciona­dos ao con­sumo de bebidas alcoóli­cas durante a gravidez. “É uma das primeiras ini­cia­ti­vas que começam a colo­car a advertên­cia em bebidas alcoóli­cas, indi­can­do que a mul­her não pode beber, como já existe em out­ros país­es. Acho que isso pode aju­dar”, afir­mou Alessan­dra.

Adolescentes

Para a pres­i­dente da Abead, out­ro prob­le­ma que deve ser ata­ca­do sem demo­ra por meio de políti­cas públi­cas é o con­sumo de álcool cada vez mais cedo entre os jovens. De acor­do com a Pesquisa Nacional de Saúde do Esco­lar (PeNSE), divul­ga­da em setem­bro do ano pas­sa­do, 34,6% dos estu­dantes con­sul­ta­dos havi­am exper­i­men­ta­do bebi­da alcóoli­ca pela primeira vez antes dos 14 anos, sendo o per­centu­al maior entre meni­nas (36,8%) do que entre meni­nos (32,3%). Mais de 63% dos estu­dantes entre­vis­ta­dos tomaram uma dose de bebi­da alcoóli­ca em 2019, con­tra 61,4% em 2016.

O Ter­ceiro Lev­an­ta­men­to Nacional sobre o Uso de Dro­gas pela Pop­u­lação Brasileira, real­iza­do pela Fun­dação Oswal­do Cruz (Fiocruz) e divul­ga­do em 2019, con­fir­mou a dependên­cia de álcool entre ado­les­centes. Segun­do o estu­do, 7 mil­hões de brasileiros menores de 18 anos, ou o cor­re­spon­dente a 34,3%, dis­ser­am já ter con­sum­i­do bebi­da alcoóli­ca na vida, sendo que 119 mil jovens entre 12 e 17 anos apre­sen­tavam algum tipo de vício em álcool.

“É um fenô­meno mundi­al”, disse Alessan­dra Diehl. Os jovens estão beben­do cada vez mais cedo. A PeNSE mostra clara­mente que eles começam em torno dos 14 anos”.

O hábito entre mul­heres, que começa quan­do jovens e se per­pet­ua, tam­bém pre­ocu­pa a Abead, que vem chaman­do a atenção para o fenô­meno há algum tem­po. No entan­to, segun­do a pres­i­dente da enti­dade, não há cor­re­spondên­cia em ter­mos de políti­cas públi­cas que olhem para essa questão do gênero. “Acho que esse é o nos­so gap (lacu­na) aqui no Brasil”.

Alessan­da adver­tiu que emb­o­ra haja no país uma leg­is­lação que proíbe a ven­da de bebidas para ado­les­centes, os jovens con­seguem com­prar bebidas alcoóli­cas facil­mente. “É fácil e não há fis­cal­iza­ção”, afir­mou.

Sacolé

A psiquia­tra lem­brou que um novo pro­du­to aca­ba de ser lança­do, em parce­ria com uma indús­tria de bebidas, apre­sen­tan­do teor alcoóli­co de 7,9%. “É um gelad­in­ho que con­tém álcool, tem col­ori­do muito inter­es­sante e que atrai, sem dúvi­da, o jovem. Quero ver como vai ser a fis­cal­iza­ção para a ven­da desse pro­du­to, com teor alcoóli­co de 7%. São coisas que vão cau­san­do impacto entre para a ini­ci­ação pre­coce no Brasil”. Na sua opinião, uma parcela sig­ni­fica­ti­va dess­es jovens vai evoluir para uso mais reg­u­lar e um padrão de dependên­cia. Por si só, acres­cen­tou, o alcoolis­mo já é um prob­le­ma de saúde públi­ca imen­so.

O pro­fes­sor de psiquia­tria da Pon­tif­í­cia Uni­ver­si­dade Católi­ca (PUC) do Rio de Janeiro, Jorge Jaber Fil­ho, se referiu tam­bém a essa espé­cie de sacolé, com 7,9% de teor alcoóli­co, cujas amostras estão sendo dis­tribuí­das no país gra­tuita­mente e que pode estim­u­lar o uso por ado­les­centes.

Jaber adver­tiu que as prin­ci­pais causas de morte de jovens nas grandes cidades são os aci­dentes, espe­cial­mente de trân­si­to, que envolvem con­sumo de álcool não só pelo con­du­tor do veícu­lo mas tam­bém pelos menores de idade na via públi­ca. Em segun­do lugar, apare­cem os homicí­dios e, na ter­ceira posição, o aumen­to de suicí­dio entre jovens que uti­lizam álcool e sub­stân­cias quími­cas, sendo o álcool em maior quan­ti­dade. “Em ter­mos de saúde públi­ca entre os jovens brasileiros, a lib­er­ação do álcool é dev­as­ta­do­ra, porque envolve as três prin­ci­pais causas de morte”, disse o psiquia­tra.

Recomendações

Uma das recomen­dações feitas pela pres­i­dente da Abead no Dia Nacional de Com­bate ao Alcoolis­mo é que os pais devem estar aten­tos ao com­por­ta­men­to de beber den­tro de casa, porque as cri­anças ten­dem a imi­tar o exem­p­lo dos adul­tos. “Se a gente con­segue poster­gar a ini­ci­ação de beber na ado­lescên­cia, se o jovem começar a exper­i­men­tação aci­ma dos 18 ou 21 anos, as chances desse ado­les­cente vir a desen­volver dependên­cia dimin­uem em 50%. Essa é questão impor­tante”. Para Alessan­dra, isso tem a ver tam­bém com pro­pa­gan­da, fis­cal­iza­ção da ven­da de bebi­da alcoóli­ca, ou seja, diminuição da deman­da.

Segun­do a médi­ca, é pre­ciso aumen­tar os fatores de pro­teção, entre eles o con­vívio com ativi­dades mais saudáveis que não inclu­am bebi­da alcoóli­ca e o aumen­to de práti­cas rela­cionadas à pre­venção ao con­sumo de álcool, como a real­iza­ção de refeições em família. “Parece pouco. Mas há uma série de estu­dos que avaliaram o quan­to faz­er refeições em família previne o uso de álcool e out­ras dro­gas, prin­ci­pal­mente no con­tex­to brasileiro”. Incen­ti­vo à leitu­ra, reli­giosi­dade, espir­i­tu­al­i­dade, edu­cação, menos jogos e con­vívio com áreas que não uti­lizam bebi­da são out­ras indi­cações da pres­i­dente da Abead.

Procu­ra­do pela Agên­cia Brasil, o Min­istério da Saúde infor­mou, por meio de sua asses­so­ria de impren­sa, que está em elab­o­ração uma lin­ha de cuida­dos sobre álcool e dro­gas para lança­men­to no próx­i­mo mês de abril.

Permissividade

Jorge Jaber Fil­ho lem­brou ain­da que é comum o con­sumo de álcool começar den­tro da própria família. Argu­men­tou que muitos pais acham que o fato de o fil­ho tomar uma cerve­ja não tem nen­hum prob­le­ma quan­do, na ver­dade, estão estim­u­lan­do o uso do pro­du­to que traz efeitos neg­a­tivos para a saúde orgâni­ca e men­tal. “De maneira ger­al, a sociedade é muito per­mis­si­va com o uso do álcool”.

Para ele, emb­o­ra a ven­da de bebidas alcoóli­cas seja proibi­da para menores, o que ocorre é um desre­speito à lei, atingin­do uma ativi­dade alar­mante, que é a ven­da de bebidas para ado­les­centes em pos­tos de gasoli­na. O mes­mo acon­tece em fes­tas e shows, onde é comum ver jovens com gar­rafas de refrig­er­ante con­tendo bebidas alcoóli­cas mis­tu­radas. “Não há nen­hu­ma man­i­fes­tação da sociedade para coibir isso. É con­sid­er­a­do nor­mal”.

Edição: Graça Adju­to

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