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Consumo de anabolizantes sem indicação médica é prejudicial à saúde

Dano podem ser maiores se produto for clandestino, alerta especialista

Bruno de Fre­itas Moura – Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 18/01/2025 — 09:14
Rio de Janeiro
Anabolizantes, saúde, corpo, força, reposição
Repro­dução: © TV Brasil

Se o uso de esteroides anab­o­lizantes sem real neces­si­dade médi­ca é prej­u­di­cial à saúde, o con­sumo dessas sub­stân­cias tor­na-se ain­da mais noci­vo se tiverem sido pro­duzi­das de for­ma clan­des­ti­na. O aler­ta é de espe­cial­is­tas e autori­dades de saúde, na esteira de uma oper­ação poli­cial no Rio de Janeiro e em Brasília, que desar­tic­u­lou uma quadrilha espe­cial­iza­da na fab­ri­cação e ven­da dess­es pro­du­tos em todo o Brasil.

A ação ter­mi­nou com 15 pes­soas pre­sas e mais de 2 mil fras­cos de anab­o­lizantes apreen­di­dos na últi­ma terça-feira (14). Os crim­i­nosos com­er­cial­izavam os pro­du­tos pela inter­net. Segun­do a inves­ti­gação, o proces­so de fab­ri­cação não pas­sa­va por fis­cal­iza­ção e con­tin­ha até uma sub­stân­cia uti­liza­da para matar piol­hos, o ben­zoa­to de meti­la.

O dire­tor da Sociedade Brasileira de Endocrinolo­gia e Metabolo­gia, Clay­ton Dor­nelles, lamen­ta que o uso dessas sub­stân­cias ilíc­i­tas ten­ha se tor­na­do muito comum. “Tem um mer­ca­do clan­des­ti­no”, con­sta­ta.

“Essas sub­stân­cias podem ter dos­es erradas, ingre­di­entes não declar­a­dos, con­t­a­m­i­nantes. Tudo isso pode poten­cializar os efeitos colat­erais que já são próprios dos esteroides anab­o­lizantes”, desta­ca o médi­co, em entre­vista à Agên­cia Brasil. Entre os prin­ci­pais efeitos nocivos, ele cita a tox­i­ci­dade descon­heci­da. “Ess­es pro­du­tos podem ter sub­stân­cias alta­mente tóx­i­cas para fíga­do, rim, coração… a gente já viu até tem­pero de coz­in­ha, óleos absur­dos na man­u­fatu­ra dess­es com­pos­tos.”

Segun­do Dor­nelles, a pro­dução dess­es medica­men­tos fal­sos é fei­ta sem con­t­role de qual­i­dade, em local insalu­bre – muitas vezes em garagem ou fun­do de quin­tal – e com peri­go de con­t­a­m­i­nação. “Isso pode traz­er infecção grave”, afir­ma.

O médi­co acres­cen­ta que o usuário de sub­stân­cias clan­des­ti­nas está sub­meti­do a fal­ha ter­apêu­ti­ca, ou seja, que o paciente que ten­ha indi­cação médi­ca para usar o pro­du­to não terá o bene­fí­cio pro­pos­to. O con­sumo dess­es esteroides pode deixar o paciente sujeito a efeitos adver­sos impre­visíveis, como, por exem­p­lo, reações alér­gi­cas. “Ali tem uma mis­tu­ra de várias sub­stân­cias, adi­tivos, com­pos­tos quími­cos.”

Dor­nelles ressalta que boa parte de tais medica­men­tos é de origem vet­er­inária, lit­eral­mente dos­es cav­alares, o que “poten­cial­iza bas­tante” o risco.

Indicação restrita

Medica­men­tos clas­si­fi­ca­dos como de uso con­tro­la­do, os esteroides androgêni­cos anab­o­lizantes são sub­stân­cias sin­téti­cas (fab­ri­cadas) derivadas do hor­mônio testos­terona, o chama­do “hor­mônio mas­culi­no”, que dá car­ac­terís­ti­cas como bar­ba, cabe­lo e pelos. Tam­bém se car­ac­ter­i­za pela capaci­dade anabóli­ca. “Estí­mu­lo da sín­tese de qual­quer pro­teí­na, prin­ci­pal­mente a pro­teí­na mus­cu­lar, por isso é que crescem os mús­cu­los”, expli­ca Dor­nelles. Pop­u­lar­mente, essas sub­stân­cias tam­bém são chamadas de “bom­bas”.

A lei deter­mi­na que ape­nas médi­co ou den­tista pode receitar anab­o­lizante.

A indi­cação médi­ca de con­sumo de anab­o­lizantes é bas­tante especí­fi­ca. A prin­ci­pal é no caso de homem que tem defi­ciên­cia de testos­terona (hipog­o­nadis­mo). Há ain­da indi­cações para casos de queimaduras sev­eras e alguns tipos de câncer.

“Uma indi­cação de exceção, não de roti­na”, enfa­ti­za o médi­co. Out­ro uso especi­fi­co é em pes­soas com incon­gruên­cia de gênero.

“As indi­cações aprovadas para os medica­men­tos anab­o­lizantes são aque­las que con­stam nas bulas. Out­ras indi­cações não foram anal­isadas e não estão autor­izadas”, reforça a Agên­cia Nacional de Vig­ilân­cia San­itária (Anvisa), órgão lig­a­do ao Min­istério da Saúde, em comu­ni­ca­do envi­a­do à Agên­cia Brasil.

Venda clandestina

De acor­do com a Anvisa, a ven­da de anab­o­lizantes é per­mi­ti­da somente em far­má­cias e drog­a­rias dev­i­da­mente reg­u­lar­izadas e medi­ante apre­sen­tação de recei­ta espe­cial. Qual­quer medica­men­to anab­o­lizante que não este­ja autor­iza­do pela Anvisa é um pro­du­to ile­gal. Quadrilhas ten­tam burlar a proibição de ven­da livre de esteroides. Em 2023, uma oper­ação da Polí­cia Fed­er­al per­cor­reu seis esta­dos.

Para evi­tar que o paciente seja engana­do na hora de com­prar esteroide dev­i­da­mente receita­do, a Anvisa faz as seguintes recomen­dações:

Sus­peite de pro­du­tos rece­bidos fora da embal­agem orig­i­nal. Todos os medica­men­tos são forneci­dos den­tro de caix­in­has de papel;

- Sus­peite de pro­du­tos que são com­er­cial­iza­dos em sites que não sejam de far­má­cias e drog­a­rias reg­u­lar­izadas. Evite sites em ger­al e mar­ket­places, vende­dores ambu­lantes, car­ros de som ou out­ros esta­b­elec­i­men­tos que não podem com­er­cializar medica­men­tos. É que os pro­du­tos ven­di­dos ness­es locais têm pro­cedên­cia incer­ta e podem ser fal­si­fi­ca­dos;

- Fique aten­to a indica­tivos de fal­si­fi­cação, como erros de por­tuguês na embal­agem; fal­has na impressão das infor­mações; difer­enças nas datas de fab­ri­cação e de val­i­dade e no número do lote entre a embal­agem primária (ampo­la, blis­ter, fras­co) e a embal­agem secundária (caix­in­ha de papel); ras­pad­in­ha que não aparece a logo da empre­sa; e ausên­cia de lacre de segu­rança ou fal­ha na colagem da embal­agem secundária.

Uso indevido e danos

O médi­co Clay­ton Dor­nelles ressalta que mes­mo o pro­du­to legal­mente fab­ri­ca­do deve ser usa­do ape­nas nas condições especi­fi­cadas por médi­cos. “Nun­ca para fins estéti­cos, gan­ho de per­for­mance, uso recre­ati­vo, mel­ho­ra da per­for­mance sex­u­al, cresci­men­to de mas­sa mus­cu­lar, antien­vel­hec­i­men­to, nada dis­so.” Para ele, os riscos são maiores que qual­quer bene­fí­cio.

Uma res­olução do Con­sel­ho Fed­er­al de Med­i­c­i­na (CFM) proíbe a pre­scrição médi­ca de ter­apias hor­mon­ais com esteroides androgêni­cos e anab­o­lizantes para fins de estéti­ca, gan­ho de mas­sa mus­cu­lar ou mel­ho­ra do desem­pen­ho esporti­vo.

Segun­do Dor­nelles, os riscos cau­sa­dos pelo uso sem indi­cação são tan­tos que “dão um livro”. Ele cita males como infar­to, arrit­mia, insu­fi­ciên­cia cardía­ca, alter­ação da resistên­cia insulíni­ca, que favorece a dia­betes, trom­bose, embo­lia, hepatite medica­men­tosa, tumores de fíga­do, infer­til­i­dade, impotên­cia e redução de libido, mas­culin­iza­ção em mul­heres, engrossa­men­to de voz fem­i­ni­na (irre­ver­sív­el), irreg­u­lar­i­dade men­stru­al e mal­for­mação fetal.

Home­ns e mul­heres podem ter acne sev­era, pele oleosa, cresci­men­to de pelos e que­da de cabe­lo. Indi­ví­du­os pre­dis­pos­tos têm mais risco de tumores de mama e de prós­ta­ta.

Há ain­da questões cere­brais psi­cológ­i­cas como irri­tabil­i­dade, ansiedade, depressão e agres­sivi­dade. “A gente vê casos até de fem­i­nicí­dio, vio­lên­cia domés­ti­ca pelas dos­es muito altas de testos­terona no cére­bro”, con­clui Dor­nelles.

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