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Costa fluminense é corredor migratório de baleias-jubarte

Repro­dução: © Bia Hetzel/Projeto Ilhas do Rio

Mais de 60 cetáceos da espécie foram vistos neste ano


Pub­li­ca­do em 13/08/2022 — 09:01 Por Alana Gan­dra – Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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Mais de 60 baleias-jubarte foram avis­tadas na cos­ta flu­mi­nense, nos últi­mos dois meses. O litoral do Rio de Janeiro é um corre­dor migratório, por onde pas­sam anual­mente ani­mais dessa espé­cie, nos meses de jun­ho e jul­ho. Elas vêm da Antár­ti­ca em direção às áreas de repro­dução e cria de fil­hotes, no Nordeste brasileiro.

O corre­dor migratório tornou-se obje­to de estu­do, des­de o ano pas­sa­do, do Pro­je­to Ilhas do Rio, que já mon­i­to­ra os cetáceos há mais de uma déca­da, na região do Mon­u­men­to Nat­ur­al das Ilhas Cagar­ras (Mona Cagar­ras) e em seu entorno.

Segun­do a coor­de­nado­ra de pesquisa dos cetáceos do Pro­je­to Ilhas do Rio, Lil­iane Lodi, o número de ocor­rên­cias dessas baleias no Rio de Janeiro vem aumen­tan­do ano após ano.

“É uma tendên­cia, porque a pop­u­lação de baleias-jubarte em todo o hem­is­fério sul está crescen­do. Isso tem sido obser­va­do no Brasil e na Aus­trália, com o fim da caça com­er­cial. A pop­u­lação está voltan­do a se recu­per­ar e o número de baleias tem aumen­ta­do”.

Filhote

As expe­dições real­izadas em alto mar pela equipe con­duzi­da pelo Insti­tu­to Mar Aden­tro reg­is­tram a fila de jubartes rumo à Região Nordeste e con­fir­mam a pre­sença da espé­cie no litoral car­i­o­ca.

Nas últi­mas sem­anas, para sur­pre­sa da coor­de­nado­ra Lil­iane Lodi, foi feito um reg­istro inédi­to na área do Mona Cagar­ras: uma jubarte com um fil­hote recém-nasci­do, que rece­beu o nome de Heloisa, em hom­e­nagem à Garo­ta de Ipane­ma, Heloisa Pin­heiro.

De acor­do com Lil­iane, não é pos­sív­el iden­ti­ficar o sexo dos fil­hotes e, por esse moti­vo, o nome escol­hi­do pelos pesquisadores é uma mera brin­cadeira: “é uma brin­cadeira que os pesquisadores fazem para bati­zar os ani­mais”.

Lil­iane desta­cou que o nasci­men­to de uma jubarte em águas car­i­o­cas é um indica­ti­vo de que a cos­ta flu­mi­nense pode vir a ser uma área de repro­dução e cria dessa espé­cie de cetáceos, assim como Abrol­hos, na Bahia.

baleias-jubarte
Repro­dução: Baleias-jubarte na cos­ta flu­mi­nense — Bia Hetzel/Projeto Ilhas do Rio

Interação com golfilhos

O “corre­dor migratório” ain­da é pouco estu­da­do no Brasil. Nas saí­das de cam­po de 2022, os pesquisadores avis­taram, por 28 vezes, gru­pos de até sete ani­mais. Em uma das saí­das, obser­vou-se um grupo com sete baleias-jubarte em asso­ci­ação com 30 golfin­hos do tipo flíper inter­agin­do paci­fi­ca­mente.

O mes­mo acon­te­ceu em 2021, quan­do 400 golfin­hos foram vis­tos jun­to às jubartes. “Mes­mo após tan­tos anos de pesquisa, é sem­pre uma emoção muito forte avis­tar ess­es ani­mais. É como se fos­se sem­pre a primeira vez”, salien­tou Lil­iane.

As anális­es das fotos mostraram que 18 indi­ví­du­os foram iden­ti­fi­ca­dos indi­vid­ual­mente este ano, através de mar­cas nat­u­rais. O padrão de col­oração bran­co e pre­to da região infe­ri­or da nadadeira cau­dal é úni­co para cada indi­ví­duo e fun­ciona como uma impressão dig­i­tal ou códi­go de bar­ras. “Dessa for­ma, pode-se traçar o históri­co de vida dess­es ani­mais”, comen­tou a pesquisado­ra.

Continuidade

Os pesquisadores vão con­tin­uar mon­i­toran­do as jubartes, porque as pesquisas com ess­es ani­mais são de lon­go pra­zo.

“Vai ter con­tinuidade no mon­i­tora­men­to do corre­dor, em 2023, porque são pesquisas de muito lon­go pra­zo. A gente pre­cisa de muitos anos para ter resul­ta­dos, para ver se o número tem aumen­ta­do, se elas con­tin­u­am pas­san­do pela área ou não. Isso pre­cisa ser mon­i­tora­do ao lon­go dos anos”.

Os pesquisadores descon­hecem o local por onde as baleias retor­nam das áreas de repro­dução e cria em direção à Antár­ti­ca. “A gente só con­hece quan­do elas estão subindo. Quan­do elas estão voltan­do, provavel­mente, o fazem por áreas muito oceâni­cas e muito afas­tadas da cos­ta, que não envolvem a nos­sa área de pesquisa”. Não há reg­istros dess­es cetáceos descen­do do Nordeste brasileiro.

Estudo

Há 10 anos, os pesquisadores do pro­je­to mon­i­toram os padrões de ocor­rên­cia, dis­tribuição, com­por­ta­men­to e movi­men­tos dos cetáceos. O estu­do já reg­istrou a ocor­rên­cia de seis espé­cies de cetáceos: baleia-jubarte (Megaptera novaean­gli­ae), baleia-de-bryde (Bal­aenoptera bry­dei), baleia-fran­ca-aus­tral (Eubal­ae­na aus­tralis), orca (Orci­nus orca), golfin­ho-de-dentes-rugosos (Steno breda­nen­sis) e golfin­ho-fliper (Tur­siops trun­ca­tus).

Todas essas espé­cies se encon­tram no litoral car­i­o­ca, espe­cial­mente no Mona Cagar­ras e na área com­preen­di­da entre a bar­ra da Baía de Gua­n­abara, pra­ias da zona sul, suas ilhas e adjacên­cias.

Essa região é recon­heci­da pela aliança inter­na­cional Mis­sion Blue como um Hope Spot (pon­to de esper­ança). Sig­nifi­ca uma exten­são com grande abundân­cia e diver­si­dade de espé­cies, habi­tats ou ecos­sis­temas, com pop­u­lações raras, ameaçadas ou endêmi­cas que care­cem de pro­teção, pois con­sti­tui uma área críti­ca para a saúde dos oceanos.

Edição: Denise Griesinger

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