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Creches têm mais crianças negras do que brancas pela 1ª vez

Dados foram divulgados nessa quarta (9) pelo Censo Escolar do MEC

Luiz Clau­dio Fer­reira — Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 10/04/2025 — 08:02
 — Atu­al­iza­do em 10/04/2025 — 07:48
Brasília
Crato (CE), 12/05/2023 - Inauguração da creche em Crato/CE. Foto: Angelo Miguel/MEC
Repro­dução: © Ange­lo Miguel/MEC

A por­cent­agem de cri­anças negras (40,2%) em crech­es brasileiras super­ou, no ano pas­sa­do, a de bran­cas (38,3%) pela primeira vez na história. Os dados foram divul­ga­dos nes­sa quar­ta-feira (9), no Cen­so Esco­lar 2024, pelo Min­istério da Edu­cação (MEC). Em 2023, por exem­p­lo, eram 35,1% bran­cas e 34,7% negras.

Nas crech­es públi­cas, espe­cial­mente, hou­ve maior ele­vação de cri­anças negras: pas­saram de 38% para 45%. De acor­do com a espe­cial­ista Mar­i­ana Luz, dire­to­ra exec­u­ti­va da Fun­dação Maria Cecília Souto Vidi­gal (enti­dade que atua pelos dire­itos da infân­cia), tra­ta-se de um per­centu­al sig­ni­fica­ti­vo e impor­tante.

“É a primeira vez que há um aumen­to do número de cri­anças negras na série (históri­ca). Tam­bém é a primeira vez que o número de cri­anças negras ultra­pas­sa o de bran­cas na creche”, afir­mou.

No entan­to, a dire­to­ra da enti­dade aler­ta para o fato de que essa ele­vação não é sufi­ciente e pode­ria ser maior em vista da neces­si­dade de um proces­so históri­co de reparação.

“Ao olhar­mos para os dados do Cadúni­co, sabe­mos que essas cri­anças são, infe­liz­mente, as mais vul­ner­a­bi­lizadas. E que dev­e­ri­am ter pri­or­i­dade para serem inseri­das sobre­tu­do nes­sa bus­ca de inclusão na eta­pa da creche, que é vol­un­tária”, pon­dera.

Busca ativa

Segun­do a espe­cial­ista, tor­na-se necessária a bus­ca ati­va de cri­anças negras para garan­tir o dire­ito de estarem na sala de aula. No cenário brasileiro, a maior quan­ti­dade de cri­anças está em crech­es públi­cas (66%).

Mar­i­ana Luz diz que há uma boa notí­cia de que o Brasil vem numa cres­cente de matrícu­las na edu­cação infan­til, primeiras eta­pas da edu­cação bási­ca. “Elas são fas­es estru­tu­rantes para o proces­so de desen­volvi­men­to da cri­ança. A da primeira infân­cia, que com­põe essas duas eta­pas esco­lares, é uma fase onde há um pico de desen­volvi­men­to”, obser­va a espe­cial­ista.

“A todo o vapor”

A fase da edu­cação infan­til, de acor­do com Mar­i­ana Luz, é quan­do o cére­bro está “a todo vapor” e fazen­do um mil­hão de conexões por segun­do. Até os seis anos de idade, 90% do cére­bro se con­stituem.

“Quan­do a cri­ança recebe uma edu­cação de qual­i­dade na edu­cação infan­til, ela tem o maior poten­cial de ter uma jor­na­da edu­ca­cional ao lon­go de toda a sua vida, na qual vai apren­der até três vezes mais”, diz.

Entre os impactos da pre­sença das cri­anças na edu­cação infan­til, há, segun­do Mar­i­ana Luz, o estí­mu­lo ao proces­so cog­ni­ti­vo e socioe­mo­cional e, no futuro, reflex­os econômi­cos para as pes­soas.

“Está com­pro­va­do por uma série de estu­dos e evidên­cias que a edu­cação infan­til de qual­i­dade gera retornos econômi­cos, como maior inserção no mer­ca­do de tra­bal­ho”.

Para ela, é necessário pri­orizar e con­sid­er­ar urgente essa fase de tendên­cia de garan­tia do aces­so. De for­ma ger­al, em relação à creche, o número de matrícu­las cresceu em 1,5% e 59% das cri­anças estão em tem­po inte­gral.

Estagnação

No entan­to, a espe­cial­ista anal­isa que hou­ve, a par dos cresci­men­tos pon­tu­ais, uma estag­nação das matrícu­las em creche. “Emb­o­ra não ten­ha havi­do retro­ces­so, a mel­ho­ra não é sig­ni­fica­ti­va”. O Plano Nacional de Edu­cação pre­vê uma meta de 50% das cri­anças em crech­es, mas essa por­cent­agem ain­da está em 38,7%.

Out­ro aler­ta trazi­do no cen­so é que em relação à pré-esco­la, hou­ve que­da de 0,6%.

“Quan­do a gente olha para as cri­anças que estão fora da pré-esco­la, notada­mente são aque­las em maior vul­ner­a­bil­i­dade socioe­conômi­ca”. São essas cri­anças, con­forme anal­isa a espe­cial­ista, que mais iri­am se ben­e­fi­ciar da inserção na esco­la em ambi­ente de apren­diza­gem, de desen­volvi­men­to e pro­teção.

A respon­s­abil­i­dade com a edu­cação infan­til é da gestão munic­i­pal. No entan­to, Mar­i­ana Luz lem­bra que deve se levar em con­sid­er­ação o pacto fed­er­a­ti­vo para que os esta­dos e tam­bém a União pos­sam garan­tir a entre­ga desse serviço com qual­i­dade, infraestru­tu­ra e pro­fes­sores qual­i­fi­ca­dos. 

“Um sis­tema que de fato olhe para a cri­ança como pri­or­i­dade abso­lu­ta. Que enten­da essa fase da vida como a maior janela de opor­tu­nidade para que­brar os cic­los interg­era­cionais de pobreza e para enfrentar as taman­has desigual­dades do nos­so país”, disse.

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