...
sexta-feira ,11 julho 2025
Home / Meio Ambiente / Crianças pequenas são mais expostas a riscos climáticos, mostra estudo

Crianças pequenas são mais expostas a riscos climáticos, mostra estudo

Relatório foi publicado pelo Núcleo Ciência pela Infância (NCPI)

Fabío­la Sin­im­bú — Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 05/06/2025 — 10:01
Brasília
Ao menos 400 crianças venezuelanas chegaram ao Brasil sozinhas
Repro­dução: © TV Brasil

Cri­anças brasileiras nasci­das em 2020 viverão, em média, 6,8 vezes mais ondas de calor e 2,8 vezes mais inun­dações e per­das de safra ao lon­go da vida do que as nasci­das em 1960. O dado é do relatório A Primeira Infân­cia no Cen­tro da Crise Climáti­ca, pub­li­ca­do nes­ta quin­ta-feira (5), pelo Núcleo Ciên­cia pela Infân­cia (NCPI).

O estu­do tem como base infor­mações do Obser­vatório de Cli­ma e Saúde da Fun­dação Oswal­do Cruz (Fiocruz), que apon­tam uma escal­a­da con­tínua dos even­tos nat­u­rais extremos no Brasil. Os reg­istros aumen­taram de 1.779, em 2015, para 6.772, em 2023. A par­tir desse destaque, a pesquisa rev­ela como o desen­volvi­men­to de cri­anças com idade até 6 anos é impacta­do no Brasil por essa inten­si­fi­cação da exposição aos riscos cau­sa­dos por even­tos nat­u­rais extremos decor­rentes das mudanças climáti­cas.

Essa faixa etária, que cor­re­sponde à primeira infân­cia, rep­re­sen­ta atual­mente 18,1 mil­hões de pes­soas no país, o equiv­a­lente a 8,9% da pop­u­lação.

De acor­do com a pesquisa, essas cri­anças con­se­quente­mente são as mais expostas a impactos na saúde, nutrição, opor­tu­nidade de apren­diza­do, aces­so a cuida­dos, segu­rança e nutrição.

“Des­de o começo da vida, já estão expostas a ondas de calor, poluição do ar e por aí vai, mas o nív­el de exposição vai depen­der de como o mun­do cam­in­ha em relação a reduzir as emis­sões de gas­es do efeito est­u­fa”, aler­ta a coor­de­nado­ra do estu­do, Már­cia Cas­tro, chefe do Depar­ta­men­to de Saúde Glob­al e Pop­u­lação da Uni­ver­si­dade Har­vard.

Segun­do a pesquisado­ra, ess­es impactos da crise climáti­ca em uma fase tão del­i­ca­da do desen­volvi­men­to podem com­pro­m­e­ter capaci­dades físi­cas, cog­ni­ti­vas e emo­cionais por toda a vida e traz­er con­se­quên­cias como maior exposição a doenças, déficit cog­ni­ti­vo e acadêmi­co, insta­bil­i­dade econômi­ca, inse­gu­rança ali­men­tar, per­da de mora­dia e deslo­ca­men­tos força­dos.

Vulnerabilidade

Os pesquisadores tam­bém con­cluíram que essa exposição aos riscos climáti­cos ain­da agra­va situ­ações de vul­ner­a­bil­i­dade. No país, mais de um terço (37,4%) das cri­anças de até 4 anos vive em situ­ação de inse­gu­rança ali­men­tar, sendo que 5% delas apre­sen­tam desnu­trição crôni­ca, apon­ta o relatório.

Essa pop­u­lação é tam­bém a mais atingi­da quan­do ocorre o deslo­ca­men­to força­do pelos extremos climáti­cos, como no Rio Grande do Sul em 2024, quan­do 580 mil pes­soas foram desa­lo­jadas e mais de 3.930 cri­anças de até 5 anos foram deslo­cadas para abri­gos públi­cos.

Segun­do o relatório, no Brasil, mais de 4 mil­hões de pes­soas foram desa­lo­jadas por even­tos climáti­cos extremos entre 2013 e 2023. “As políti­cas climáti­cas, por­tan­to, pre­cisam inte­grar a pro­teção dos dire­itos das cri­anças e garan­tir canais de escu­ta e par­tic­i­pação das famílias e das comu­nidades nas decisões.”, desta­ca o estu­do.

Educação

Os pesquisadores obser­varam tam­bém que em 2024, os even­tos nat­u­rais extremos levaram à sus­pen­são de aulas de 1,18 mil­hão de cri­anças e ado­les­centes. Ape­nas no Rio Grande do Sul, foram per­di­das 55.749 horas-aula por causa das enchentes e enx­ur­radas.

“Pro­te­ger a primeira infân­cia diante da emergên­cia climáti­ca não é uma escol­ha, é uma pri­or­i­dade. Pre­cisamos de políti­cas públi­cas urgentes, baseadas em evidên­cias, que con­sid­erem as desigual­dades soci­ais e colo­quem bebês e cri­anças no cen­tro das estraté­gias de adap­tação e pre­venção”, desta­ca a pro­fes­so­ra asso­ci­a­da da Fac­ul­dade de Med­i­c­i­na da Uni­ver­si­dade de São Paulo (USP), Ali­cia Mati­ja­se­vich, que tam­bém coor­de­nou o estu­do.

Recomendações

O relatório reúne recomen­dações para o desen­volvi­men­to de políti­cas climáti­cas cen­tradas nas cri­anças, como o for­t­alec­i­men­to da atenção primária à saúde e mel­ho­rias nos sis­temas de sanea­men­to bási­co e ofer­ta de água potáv­el, além do incen­ti­vo à segu­rança ali­men­tar e nutri­cional.

Práti­cas sus­ten­táveis, pro­to­co­los para desas­tres climáti­cos e zonas de res­fri­a­men­to com áreas verdes e som­bra em crech­es e no ambi­ente esco­lar tam­bém são apon­ta­dos como cam­in­hos a serem segui­dos com base no mod­e­lo do cuida­do inte­gral. “Não é que a gente pos­sa diz­er que toda essa ger­ação vai ter um com­pro­me­ti­men­to no desen­volvi­men­to, terá se nada for feito, se não hou­ver medi­das mit­i­gatórias, se a gente con­tin­uar con­stru­in­do cidades sem árvores, se as esco­las não forem adap­tadas, resilientes para a crise climáti­ca”, enfa­ti­za Már­cia Cas­tro.

Para a pesquisado­ra, é impor­tante que o com­pro­mis­so seja de todos, des­de os gov­er­nos em todas as instân­cias até setores pri­va­dos e a própria sociedade pen­san­do em uma ger­ação e não ape­nas em alguns anos, ou na duração de um gov­er­no. “Todo mun­do tem um papel, des­de que você ten­ha essa visão de lon­go pra­zo e de pen­sar que você vai estar con­tribuin­do para uma ger­ação e isso é extrema­mente impor­tante”, con­clui Már­cia.

LOGO AG BRASIL

Você pode Gostar de:

Enem 2025: Inep publica resultados de recursos de atendimento especial

Consulta deve ser feita na Página do Participante do exame Daniel­la Almei­da — Repórter da …