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Criatividade e paciência são fundamentais na educação infantil

Repro­dução: © Arquivo/ Agên­cia Brasil

No Dia do Professor, docentes destacam ensino na creche e pré-escola


Pub­li­ca­do em 15/10/2021 — 07:01 Por Lud­mil­la Souza — Repórter da Agên­cia Brasil — São Paulo

A pro­fes­so­ra Maria Deu­si­vane Leite Figueire­do, de 45 anos, diz que a von­tade de ser pro­fes­so­ra começou na infân­cia, por admi­rar o papel do profis­sion­al. Mas, dev­i­do à neces­si­dade finan­ceira, começou a tra­bal­har cedo em empre­sa, o que a lev­ou a faz­er a primeira fac­ul­dade, de admin­is­tração de empre­sas. Ela ficou na área por 15 anos. 

“Come­cei a ques­tionar o que que­ria real­mente para min­ha vida e resolvi realizar meu son­ho de cri­ança: faz­er ped­a­gogia. Fui muito crit­i­ca­da pelos cole­gas, pois já ocu­pa­va car­go de con­fi­ança na empre­sa. E então come­cei a tra­bal­har profis­sion­al­mente com cri­anças, mas já real­iza­va tra­bal­hos vol­un­tários com os pequenos”.

A escol­ha que a lev­ou a tra­bal­har com essa faixa etária é “o amor pela edu­cação. Estou sem­pre lendo, real­izan­do cur­sos e procu­ran­do mel­ho­rar a min­ha práti­ca, pois ten­ho con­sciên­cia da importân­cia do meu papel na vida dos meus pequenos alunos”, rela­ta Maria, que leciona há 13 anos. Atual­mente, ela dá aulas para uma tur­ma de Jardim II, com cri­anças entre cin­co e seis anos.

A pro­fes­so­ra Maria Adal­giza Nogueira de Lima, de 58 anos, escol­heu a profis­são quan­do tin­ha fil­hos pequenos. “A min­ha von­tade de faz­er ped­a­gogia não foi um son­ho, foi de repente: eu tin­ha meus fil­hos pequenos, o mais novo esta­va entran­do na edu­cação infan­til, eu esta­va me ven­do em casa, sem faz­er nada e fui faz­er o mag­istério. Aí me apaixonei. Come­cei dar aula na rede estad­ual e depois fui faz­er o cur­so supe­ri­or de ped­a­gogia”.

A escol­ha de tra­bal­har com os pequenos vem do car­in­ho que eles devolvem para a pro­fes­so­ra. “Eu tra­bal­ho na edu­cação infan­til porque as cri­anças são a inocên­cia, né? E é tudo feito com muito car­in­ho, eles não fazem nada por inter­esse, eles gostam da gente porque gostam mes­mo e me dá mui­ta força tra­bal­har com eles. Eu me sin­to muito bem, eu amo estar per­to deles”, con­ta a pro­fes­so­ra, mais con­heci­da como Giza. Atual­mente, ela dá aulas para uma tur­ma de mater­nal, com cri­anças entre dois e três anos.

As duas tra­bal­ham em uma esco­la par­tic­u­lar, espe­cial­iza­da em edu­cação infan­til, na Mooca, zona leste de São Paulo. A pro­fes­so­ra Maria afir­ma que tra­bal­har com edu­cação infan­til é rec­om­pen­sador. “A ale­gria e a ener­gia que eles trans­mitem são revig­o­rantes! As cri­anças estão se desen­vol­ven­do e têm mui­ta von­tade de apren­der. Acred­i­to que meu papel não é trans­mi­tir ape­nas os con­teú­dos pro­gra­ma­dos, mas sim tra­bal­har a escu­ta e desco­brir o que eles têm inter­esse em apren­der. Quan­do ques­tion­amos as cri­anças e elas percebem o nos­so inter­esse no que sen­tem, no que querem, elas se envolvem muito mais no apren­diza­do”.

Ape­sar do retorno das cri­anças, Maria, que tem espe­cial­iza­ção em psi­cope­d­a­gogia, lamen­ta que a edu­cação infan­til não seja tão val­oriza­da.  “O que sin­to de pior na edu­cação infan­til é o desca­so de gov­er­nantes em não val­orizar o profis­sion­al dessa área e profis­sion­ais que não se preparam para essa tare­fa tão impor­tante”.

A opinião é com­par­til­ha­da pela cole­ga de profis­são. “A pior parte mes­mo é a desval­oriza­ção em si. Não só do pro­fes­sor da edu­cação infan­til, como de todas as séries”, diz a pro­fes­so­ra Giza.

A edu­cação infan­til é a primeira eta­pa da edu­cação bási­ca e abrange a creche e a pré-esco­la para as cri­anças de zero a cin­co anos. As out­ras fas­es do ensi­no bási­co são o fun­da­men­tal, dos seis aos 14 anos, e o ensi­no médio, dos 15 aos 17.

Os municí­pios são respon­sáveis por fornecer a edu­cação infan­til, ou seja, crech­es para cri­anças até três anos e pré-esco­las, para cri­anças de qua­tro e cin­co anos.

Educação e cuidado

O cotid­i­ano de uma pro­fes­so­ra da edu­cação infan­til pode exi­gir muito mais do que ensi­nar: o cuidar e o edu­car tor­nam-se indis­so­ciáveis em sua roti­na.

“Não dá para sep­a­rar, na edu­cação infan­til, o que é cuida­do e o que é edu­cação. A pro­fes­so­ra de edu­cação infan­til tem a obri­gação de cuidar das cri­anças. Seja tro­car a fral­da, seja limpar o nar­iz, seja acal­mar quan­do entram em deses­pero. Não tem como sep­a­rar. Isso a gente não aprende na fac­ul­dade, mas só fica na edu­cação infan­til quem real­mente tem o dom de tra­bal­har com cri­ança”, detal­ha a pedado­ga Rober­ta Azeve­do, de 49 anos. Ela é coor­de­nado­ra da eta­pa de edu­cação infan­til de uma esco­la, tam­bém da zona leste da cap­i­tal paulista.

“O cuidar está inseri­do na edu­cação, não deve­mos sep­a­rar, pois faz parte.  Por meio do cuida­do, trans­miti­mos afe­to, car­in­ho. A cri­ança sente segu­rança quan­do o pro­fes­sor que ensi­na tam­bém está ali cuidan­do do seu bem-estar”, com­ple­ta a pro­fes­so­ra Maria.

Ain­da assim, Rober­ta frisa que a função da pro­fes­so­ra de edu­cação Infan­til não é ape­nas de cuidado­ra. “O pior é a fal­ta de recon­hec­i­men­to dos famil­iares, da sociedade, eles veem você como uma babá. Então, muitas vezes eles não querem saber se a cri­ança está apren­den­do: eles deixan­do a cri­ança e você cuidan­do dela é o que impor­ta. E todo mun­do sabe que essa não é a função da pro­fes­so­ra infan­til. Tem a parte do acol­hi­men­to, tem sim, mas tem a parte do primeiro con­ta­to com con­teú­dos que vão ser usa­dos pela vida inteira. E isso é grat­i­f­i­cante”, pon­dera a ped­a­goga, com espe­cial­iza­ção em neu­rope­d­a­gogia.

Planejamento

Plane­jar as aulas e ativi­dades para as cri­anças peque­nas exige envolvi­men­to do pro­fes­sor, diz a psi­cope­d­a­goga Sueli Bravi Con­te, dire­to­ra de um colé­gio com unidades em São Paulo e Inda­iatu­ba.

“É pre­ciso muito envolvi­men­to por parte do profis­sion­al, porque pode ser que den­tro daqui­lo que foi plane­ja­do seja necessário faz­er algu­ma adap­tação ou mudança de estraté­gia. Porém, quan­do a gente gos­ta de tra­bal­har com cri­ança peque­na, o plane­ja­men­to é feito com muito gos­to, com uma gar­ra muito grande, pois você vê o fru­to desse esforço no final. O mais impor­tante é tra­bal­har o lúdi­co. A cri­ança pre­cisa viven­ciar o que esta­mos expli­can­do. Ver o aluno desen­volver aqui­lo que foi plane­ja­do é incrív­el”.

A ped­a­goga Rober­ta Azeve­do con­cor­da com Sueli Con­te. “O plane­ja­men­to de ativi­dades para cri­anças de edu­cação infan­til exige muito do profis­sion­al, porque não é o con­teú­do que você tem que pas­sar, ele pode ser o mais sim­ples pos­sív­el, o que real­mente impor­ta é a estraté­gia que você vai usar. Eles têm pou­ca abstração, tudo pre­cisa ser muito no con­cre­to, seja uma história, seja um con­teú­do, qual­quer coisa, eles só con­seguem absorv­er e inter­nalizar se tiverem recur­so visu­al, recur­so audi­ti­vo e mui­ta paciên­cia por parte da pro­fes­so­ra”.

Maria se uti­liza da escu­ta para plane­jar as aulas. “É essen­cial escu­tar o que essas cri­anças trazem e, para isso, a roda de con­ver­sa deve ser con­stante nes­sa práti­ca. Muitas vezes, a escu­ta é na obser­vação das brin­cadeiras, os com­por­ta­men­tos que devem ser tra­bal­ha­dos, as difi­cul­dades que estão apre­sen­tan­do, pois todos ess­es fatores devem estar pre­sentes no momen­to do plane­jar”.

A pro­fes­so­ra Giza con­ta que gos­ta de tra­bal­har com diver­sos mate­ri­ais e usa a cria­tivi­dade para isso. “Quan­to ao plane­ja­men­to de aula para os pequenos, eu me divir­to muito. Porque sou uma uma pro­fes­so­ra que gos­ta de muitas brin­cadeiras, de inven­tar coisas difer­entes, de tra­bal­har com mate­ri­ais reci­cláveis, então para mim se tor­na bem mais fácil, eu amo faz­er isso”.

Ensino online

O Ensi­no a Dis­tân­cia (EaD) já era uma modal­i­dade con­sol­i­da­da para estu­dantes jovens e adul­tos quan­do a pan­demia de covid-19 chegou, mas para cri­anças e pro­fes­sores da edu­cação infan­til, ensi­nar e apren­der a dis­tân­cia, por meio das telas da aula online, foi um desafio, lem­bra a pro­fes­so­ra Maria.

“Foi desafi­ador! Para essa faixa etária, não é ade­qua­da a exposição às telas, mas era a úni­ca for­ma de estar­mos com as cri­anças. Foi necessária mui­ta pesquisa, muito cria­tivi­dade, muito empen­ho para tornar as aulas atra­ti­vas. Apren­di a uti­lizar vários aplica­tivos que foram impor­tantes para a mon­tagem das aulas online. Um recur­so que uti­lizei foi faz­er per­gun­tas, e os pais inter­a­giam muito, respon­den­do aos meus ques­tion­a­men­tos. Gostei da exper­iên­cia, mas nada se com­para às aulas pres­en­ci­ais!”

Para as cri­anças do mater­nal, foi mais com­pli­ca­do ain­da, recor­da a pro­fes­so­ra Giza. “A edu­cação online com os pequenos foi bem difí­cil, porque eles não inter­agem da maneira como o pro­fes­sor está esperan­do. Então, você mon­ta uma aula e, de repente, tem que mudar tudo porque um dia a cri­ança tin­ha inter­esse, no out­ro não. Eu abria a aula online, tin­ha o foco daque­la aula, só que às vezes a cri­ança não esta­va nem aí e você ia levan­do a aula. Ten­tá­va­mos tra­bal­har online mais a social­iza­ção, a con­ver­sa entre eles e com a gente, para que a cri­ança não perdesse aque­le elo com o pro­fes­sor”.

A psi­cope­d­a­goga Sueli Con­te afir­ma que o o perío­do de aulas online ger­ou a opor­tu­nidade de val­oriza­ção do pro­fes­sor por parte das famílias.

“Os pais das cri­anças peque­nas sem­pre enx­er­garam a ida para a esco­la ape­nas como entreten­i­men­to. Seus fil­hos estavam indo ape­nas brin­car. Porém, aque­le brin­car na esco­la era lúdi­co e pedagógi­co. Com as aulas online, as famílias pre­cis­aram se envolver dire­ta­mente, lig­an­do o com­puta­dor e par­tic­i­pan­do efe­ti­va­mente das ativi­dades com essas cri­anças menores. Aí eles viram qual é a real­i­dade do pro­fes­sor na edu­cação infan­til e quais os fun­da­men­tos por trás daque­le brin­car, quais méto­dos eram uti­liza­dos para con­seguir atrair a atenção das cri­anças. A pan­demia mostrou o quan­to o pro­fes­sor deve ser val­oriza­do e ago­ra vejo os pais muito unidos aos pro­fes­sores e aos seus fil­hos”.

Conselho

For­ma­da em 1969 pelo extin­to Cur­so Nor­mal (tam­bém chama­do de mag­istério), a psicólo­ga e ped­a­goga Sueli Con­te acon­sel­ha a quem quer seguir a car­reira de pro­fes­sor e pro­fes­so­ra de edu­cação infan­til a praticar.

“Não adi­anta pen­sar que, pelo fato de estar for­ma­da, não há neces­si­dade de praticar a profis­são. Inclu­sive, min­ha ori­en­tação é começar a car­reira como aux­il­iar. Nes­sa ativi­dade, a aux­il­iar aprende, obser­va o dia a dia do pro­fes­sor, é pos­sív­el ver defeitos e, claro, as grandes qual­i­dades que exis­tem nes­sa ativi­dade. É uma maneira de viven­ciar onde você não pode errar na profis­são. Quan­do esse pro­fes­sor for chama­do para assumir uma sala de aula, ele já tem um preparo real e não ape­nas teóri­co, pre­sente em qual­quer livro ou site”.

Na opinião da ped­a­goga Rober­ta Azeve­do, para tra­bal­har na edu­cação infan­til é pre­ciso ter dom. “Mas isso você não con­strói, isso já nasce com a pes­soa. Então, pre­cisa desco­brir o seu dom para ver se você real­mente tem condições de ser feliz tra­bal­han­do na edu­cação infan­til”.

Para ela, o extin­to cur­so do mag­istério era impor­tante para a for­mação do pro­fes­sor de edu­cação infan­til. “Infe­liz­mente, com o tér­mi­no do mag­istério, talvez a maio­r­ia das pro­fes­so­ras não sai­ba tra­bal­har. O cur­so que real­mente ensi­na­va a tra­bal­har era o mag­istério, mas ele foi extin­to”, lamen­ta.

Maria acon­sel­ha às pro­fes­so­ras que estão começan­do ago­ra a ter a edu­cação infan­til como ide­al de vida. “Enten­dam a importân­cia do papel do pro­fes­sor na vida da cri­ança. Se esforcem para serem bons exem­p­los. Quan­do assum­i­mos nos­sa função com amor e ale­gria, as cri­anças sen­tem, o retorno é muito bom e o apren­diza­do se tor­na praze­roso. Estu­dem, pois somos eter­nos apren­dizes!”

A pro­fes­so­ra Giza ressalta que é pre­ciso ter mui­ta paciên­cia. “Essas pro­fes­so­ras têm que se con­sci­en­ti­zar que pre­cis­arão de mui­ta paciên­cia, porque a cri­ança a cada dia está de uma maneira, então você tem que ten­tar enten­der cada uma delas no seu dia.  E cria­tivi­dade, que é tudo para ser um pro­fes­sor de edu­cação infan­til, mes­mo porque a cri­ança se dis­per­sa muito rápi­do. Você pre­cisa ter sem­pre uma car­ta na man­ga, eles se dis­per­sam em cin­co min­u­tos e você já tem que ter out­ra coisa para chamar a atenção. Então é isso, paciên­cia e mui­ta cria­tivi­dade”, sug­ere.

Edição: Graça Adju­to

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