...
quinta-feira ,27 março 2025
Home / Ciência, Tecnologia, inteligência artificial / Criatividade humana e tecnologia podem conviver no jornalismo

Criatividade humana e tecnologia podem conviver no jornalismo

Repro­dução: © Mar­cel­lo Casal Jr / Agên­cia Brasil

Mesmo com avanços, a sensibilidade não é substituída pelo robô


Pub­li­ca­do em 07/04/2023 — 11:25 Por Luiz Clau­dio Fer­reira — Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

ouvir:

Chat­G­PT, robo­t­i­za­ção, inteligên­cia arti­fi­cial são palavras que podem ter assus­ta­do quem tra­bal­ha com jor­nal­is­mo e tam­bém quem con­some infor­mação pro­duzi­da por profis­sion­ais. As novi­dades no cam­po da tec­nolo­gia pode­ri­am colo­car um pon­to final na for­ma com que se pro­duz notí­cia? Pesquisado­ras ouvi­das pela Agên­cia Brasil indicam que a dis­cussão não é tão sim­ples. Automação, sen­si­bil­i­dade e apro­fun­da­men­to podem caber na mes­ma frase e com­põem soluções pos­síveis e reais, na avali­ação das entre­vis­tadas.

Espe­cial­is­tas no assun­to enten­dem que a qual­i­dade e a sen­si­bil­i­dade humana para a pro­dução de con­teú­dos não são sub­sti­tuí­das por robôs. De toda for­ma, o tema sem­pre requer atenção e vig­ilân­cia em vista da função social da ativi­dade.

A pro­fes­so­ra Sílvia Dal­ben, pesquisado­ra de doutora­do na Uni­ver­si­dade do Texas, em Austin (Esta­dos Unidos), estu­da o jor­nal­is­mo autom­a­ti­za­do e o uso da inteligên­cia arti­fi­cial nos con­teú­dos noti­ciosos com o foco prin­ci­pal nas redações de veícu­los de comu­ni­cação da Améri­ca Lati­na. “A ameaça do jor­nal­is­mo não é a inteligên­cia arti­fi­cial”, garante.

Ela con­tex­tu­al­iza que a  profis­são sem­pre foi molda­da pela tec­nolo­gia. “Se não tivesse exis­ti­do a pren­sa de Gutem­berg, a gente não teria nen­hu­ma pub­li­cação impres­sa. Como seria o jor­nal­is­mo sem a invenção do rádio, da tele­visão, dos com­puta­dores e depois da inter­net? Ago­ra, a gente está viven­do esse momen­to em que a inteligên­cia arti­fi­cial está chaman­do mui­ta atenção”.

Ela entende que há uma mudança do mod­e­lo de negó­cios do jor­nal­is­mo e essa mutação gera descon­fi­anças. Os con­glom­er­a­dos midiáti­cos estão em trans­for­mação. “Já hou­ve um tem­po em que achavam que ninguém iria se acos­tu­mar a ler notí­cias pela tela do com­puta­dor”, exem­pli­fi­ca. As platafor­mas estão em con­stante mutação e isso pode se con­sti­tuir em novas opor­tu­nidades de tra­bal­ho e via­bil­i­dade de existên­cia.

Outros jornalismos

Para a pesquisado­ra, o jor­nal­is­mo fac­tu­al, na redação, vai con­tin­uar existin­do. “Vai pre­cis­ar pas­sar por ajustes porque as novas tec­nolo­gias estão surgin­do”.

Ela iden­ti­fi­ca, entre­tan­to, que as tec­nolo­gias estão apoian­do reporta­gens inves­tiga­ti­vas e novas pau­tas no cam­po de jor­nal­is­mo de dados. “Não seri­am pos­síveis sem a inter­net”

Reportagem como saída

A pro­fes­so­ra de jor­nal­is­mo Fabi­ana Moraes, da Uni­ver­si­dade Fed­er­al de Per­nam­bu­co (UFPE), ressalta que os robôs são uti­liza­dos há muito mais tem­po para pro­dução de notí­cias.

A profis­sion­al, antes da docên­cia, fez da car­reira uma aula de sen­si­bil­i­dade diante dos dra­mas soci­ais que trans­for­mou em pau­tas no litoral, agreste e sertão. A par­tir desse olhar, se tornou uma das profis­sion­ais mais recon­heci­das do Brasil pelos for­matos nar­ra­tivos livres, cheios de denún­cias e histórias de vida.

Com sua for­ma de escr­ev­er, rece­beu, por exem­p­lo, três prêmios Esso. Nas reporta­gens dela, as vidas dos mais humildes, humil­ha­dos e vul­neráveis situ­am-se no pro­tag­o­nis­mo das cenas reais. Reporta­gens impos­síveis de serem sim­u­ladas por robôs.

“A gente apon­ta para a reportagem como um dess­es espaços de inflexão que, muitas vezes, não vão ser pos­síveis por mais que a tec­nolo­gia seja depu­ra­da”.

Ela crê que o olhar humano sobre prob­le­mas exis­tentes no mun­do pode até ser sim­u­la­do, mas não será efi­ciente. Pode ser ficção, mas não jor­nal­is­mo que mexa com leitores. “Eu acho muito difí­cil que isso seja trazi­do ape­nas pela tec­nolo­gia”.

Para sobreviver

As pesquisado­ras defen­d­em que é necessário o recon­hec­i­men­to do papel do jor­nal­is­mo para a sociedade. Elas enten­dem que a sociedade tem ver­i­fi­ca­do pro­duções que cir­cu­lam pau­tadas pela desin­for­mação, e que não con­tribuem com dra­mas soci­ais, como o racis­mo, a homo­fo­bia ou mis­oginia.

“A gente tem uma ameaça: inteligên­cia arti­fi­cial e a dis­sem­i­nação de con­teú­dos não checa­dos. É necessário ter um cuida­do muito grande com a apu­ração, com a checagem de fato. Esse é o difer­en­cial e que vai ger­ar val­or ao con­teú­do jor­nalís­ti­co”, diz Sílvia Dal­ben.

Fabi­ana Moraes, sob óti­ca semel­hante, elen­ca um cenário de pre­cariza­ção da ativi­dade e ameaças à infor­mação éti­ca com a dis­sem­i­nação de desin­for­mação via robôs. Segun­do ela, a pre­ocu­pação está lig­a­da à defe­sa da democ­ra­cia e a neces­si­dade de evi­tar danos à sociedade

Para Sil­via Dal­ben, o jor­nal­is­mo que só bus­ca atrair audiên­cia, que é raso e super­fi­cial, pode ser feito por por robôs, por inteligên­cia arti­fi­cial.

“É uma ameaça [real] porque cria essa visão da sociedade de que isso seria o jor­nal­is­mo e out­ras pes­soas acham que tam­bém podem ser jor­nal­is­tas”, avalia. Esse, entre­tan­to, seria um tipo de jor­nal­is­mo que causa dis­torções e que não aju­da a sociedade.

“O que o jor­nal­ista pre­cisa é pen­sar no jor­nal­is­mo de qual­i­dade com apu­ração, com a checagem de fato. O que gera val­or ao con­teú­do e difer­en­cia o que a gente escreve do que qual­quer out­ra pes­soa escreve, inclu­sive robô, é o apro­fun­da­men­to”, apon­ta Sílvia. Pro­ced­i­men­to que, avaliam as pro­fes­so­ras, colab­o­ram com uma visão críti­ca e útil para a sociedade.

Revolução

A visão de que a tec­nolo­gia vai trans­for­mar tudo no futuro é equiv­o­ca­da, apon­tam as espe­cial­is­tas. “A gente tem que enten­der que a rev­olução não começa ago­ra e não está foca­da no futuro. A gente já está nes­sa rev­olução”, diz a pesquisado­ra brasileira res­i­dente nos Esta­dos Unidos.

Segun­do as pesquisado­ras, a inteligên­cia arti­fi­cial deve ser vista, no dia a dia do jor­nal­is­mo, como uma função híbri­da e que pode ser útil para os profis­sion­ais da impren­sa, para a sociedade e para a democ­ra­cia.

O jor­nal­is­mo, entre­tan­to, é uma ativi­dade que deve defend­er a cidada­nia e a liber­dade — palavras que são mel­hor enten­di­das por quem é de carne e osso.

Edição: Lílian Beral­do

LOGO AG BRASIL

Você pode Gostar de:

Médicos alertam para riscos da gripe em pessoas com mais de 60 anos

Chances de ter AVC e ataque cardíacos aumentam após infecção Flávia Albu­querque — Repórter da …