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Defesa do meio ambiente e dos povos indígenas marca Parintins

Repro­dução: © Fer­nan­do Frazão/Agência Brasil

Cidade amazonense recebe mais de 100 mil visitantes


Publicado em 01/07/2024 — 11:18 Por Léo Rodrigues — Enviado especial* — Parintins (AM)

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Assim como nos dois primeiros dias de apre­sen­tação, a men­sagem em favor de um mun­do mais sus­ten­táv­el foi reit­er­a­da na noite deste domin­go (30) nas apre­sen­tações do Boi Garan­ti­do e do Boi Capri­choso. Além dis­so, os dois pro­tag­o­nistas do Fes­ti­val de Par­intins reafir­maram posições em defe­sa do dire­itos dos povos indí­ge­nas, desta­can­do a atu­ação destas pop­u­lações como guardiãs e pro­te­toras do meio ambi­ente.

O sub­tema da ter­ceira noite do Boi Garan­ti­do se inspirou na obra do escritor Ail­ton Kre­nak, com o obje­ti­vo de traz­er uma men­sagem de esper­ança e resistên­cia. Um dos momen­tos de destaque foi a ence­nação do rit­u­al Jero­ki Kaiowá, do povo Guarani Kaiowá. O pajé Pa‘i Kuara vibra o maracá, toca takua­pu. No Jeroky Guarani Kay­owá. Pra vida na ter­ra não se acabar. Pra vida con­tin­uar”, diz a letra da toa­da.

Parintins (AM), 29/06/2024 - Apresentação do Boi Garantido na segunda noite do 57º Festival Folclórico de Parintins, no Bumbódromo. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Boi Garan­ti­do durante apre­sen­tação na segun­da noite do Fes­ti­val de Par­intins 2024 Foto Fer­nan­do Frazão/Agência Brasil

Além da men­sagem, vem o exem­p­lo. De acor­do com o coor­de­nador de fig­uri­nos do Boi Garan­ti­do, Agostin­ho Rodrigues, a sus­tentabil­i­dade é uma dire­triz da pro­dução. “Se você obser­var as penas, parece que é de ver­dade, das aves. Mas é tudo plota­do, feito na cidade. Nós quer­e­mos um fes­ti­val que não agri­da a natureza. E a natureza nos dá muito mate­r­i­al sem que seja necessário agre­di-la. A gente tra­bal­ha por exem­p­lo com pal­ha seca e com fol­ha de cas­tan­heira seca”.

Segun­do a se apre­sen­tar no últi­mo dia do even­to, o Boi Capri­choso trouxe o sub­tema “Saberes: o reflo­restar das con­sciên­cias” e bus­cou destacar os saberes dos povos orig­inários. Do alto de uma libélu­la, o boi desceu ao solo. A letra da toa­da Ter­ra: Nos­so Cor­po, Nos­so Espíri­to trouxe uma men­sagem con­tun­dente pela pro­teção do plan­e­ta.

“Nos­sa Ter­ra está doente. Enfer­mi­dade recor­rente. E jun­to adoece a fau­na e a flo­ra. A cos­molo­gia, o mito dos povos tradi­cionais. Her­ança dos nos­sos ances­trais. Viran­do pó pelo poder da ganân­cia. A procu­ra de min­erais. Nos­so bra­do é resistên­cia. Con­tra a vio­lação. Com­bat­e­mos a cobiça, a ignorân­cia. De quem abom­i­na o próprio chão”, diz tre­cho da com­posição.

A defe­sa do meio ambi­ente e dos povos indí­ge­nas são mar­cas já con­sol­i­dadas no Fes­ti­val de Par­intins. Durante o even­to, que chega à sua 57ª edição, a cidade ama­zo­nense recebe mais de 100 mil vis­i­tantes atraí­dos para o due­lo entre o ver­mel­ho do Boi Garan­ti­do e o azul do Boi Capri­choso.

Con­sid­er­a­do atual­mente patrimônio cul­tur­al do país pelo Insti­tu­to do Patrimônio Históri­co e Artís­ti­co Nacional (Iphan), o Fes­ti­val de Par­intins está lig­a­do à tradição cul­tur­al do Boi-Bum­bá, man­i­fes­tação pop­u­lar que gira em torno de uma len­da sobre a ressur­reição do boi. Se ini­ciou como brin­cadeira de rua e se desen­volveu para tomar as pro­porções atu­ais.

O anún­cio do campeão ocor­rerá nes­ta segun­da-feira (1°), com a divul­gação das notas dos 10 jura­dos, respon­sáveis por avaliar o cumpri­men­to de 21 que­si­tos obri­gatórios. Alguns deles estão dire­ta­mente lig­a­dos à rep­re­sen­tação da cul­tura indí­ge­na. É o caso dos tux­auas, que são os chefes da tri­bo, e da cun­hã-poran­ga, a moça mais bela da aldeia e guardiã de seu povo. Um out­ro que­si­to envolve a ence­nação de um rit­u­al indí­ge­na.

De acor­do com um estu­do pro­duzi­do em 2015 na Uni­ver­si­dade do Esta­do do Ama­zonas (UEA), essa val­oriza­ção dos adereços e dos com­po­nentes indí­ge­nas tiver­am iní­cio na primeira metade da déca­da de 1990, rev­olu­cio­nan­do a tradição do Boi-Bum­bá e fazen­do com que o fes­ti­val gan­has­se mais espaço na mídia. A par­tir de então, desen­volveu-se em torno do even­to um vocab­ulário que lhe dá iden­ti­dade. Ele agre­ga muitas palavras de origem indí­ge­na.

Ao lon­go de todo o espetácu­lo, há uma exal­tação aos ele­men­tos da natureza e à inten­sa conexão entre os indí­ge­nas e o meio ambi­ente. As ale­go­rias reúnem muitas rep­re­sen­tações de ani­mais sel­vagens: águias, coru­jas, lagar­tos, onças, etc. Em meio a eles, a ence­nação con­ta com diver­sos dançari­nos pin­ta­dos e tra­ja­dos com adereços inspi­ra­dos na cul­tura indí­ge­na.

Na sex­ta-feira (28), primeiro dia de apre­sen­tações, o Boi Capri­choso chegou a traz­er para a are­na um con­jun­to de con­vi­da­dos. O líder Yanoma­mi Davi Kope­nawa esteve pre­sente durante o momen­to de ence­nação do rit­u­al. Tam­bém estiver­am na are­na lid­er­anças indí­ge­nas, que cobraram respeito aos seus dire­itos como um car­taz que trazia a frase: “Sem demar­cação não existe Justiça Climáti­ca”. Out­ra con­vi­da­da que entrou em cena trazen­do uma men­sagem de pro­teção às flo­restas foi Angela Mendes, fil­ha do seringueiro e ativista políti­co Chico Mendes, assas­si­na­do no Acre em 1988.

 

Parintins (AM), 29/06/2024 - Apresentação do Boi Caprichoso na segunda noite do 57º Festival Folclórico de Parintins, no Bumbódromo. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Boi Capri­choso durante apre­sen­tação na segun­da noite do Fes­ti­val de Par­intins 2024 — Foto Fer­nan­do Frazão/Agência Brasil

Para estim­u­lar ações práti­cas em torno do dis­cur­so pela preser­vação ambi­en­tal, foi cri­a­do há algu­mas edições o títu­lo de Campeão Sus­ten­táv­el do Fes­ti­val. Vence a tor­ci­da do boi que cole­tar o maior vol­ume de resí­du­os reci­cla­dos. Eles devem levar o mate­r­i­al recol­hi­do até o eco­pon­to exclu­si­vo do seu boi.

“É muito legal essa dinâmi­ca de colo­car os torce­dores de cada boi para cole­tar e reci­clar e deixar a cidade limpa. A gente sabe que quan­do tem muito movi­men­to, a cidade fica muito suja. Então foi uma ideia sen­sa­cional para reforçar a men­sagem do fes­ti­val”, avalia a estu­dante de pub­li­ci­dade Ste­fany Rocha, torce­do­ra do Boi Capri­choso.

*A equipe da Agên­cia Brasil via­jou à con­vite da Petro­bras, patroci­nado­ra do Fes­ti­val de Par­intins.

Edição: Valéria Aguiar

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