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Degradação de florestas na Amazônia bate recorde mensal em setembro

Aumento das queimadas contribui para destruir a área verde

Cami­la Boehm — Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 27/10/2024 — 08:54
São Paulo
29/08/2023, PF deflagra duas operações contra desmatamento e lavagem de dinheiro. Foto: Polícia Federal/Divulgação
Repro­dução: © Polí­cia Federal/divulgação

A degradação flo­re­stal na Amazô­nia Legal atingiu 20.238 quilômet­ros quadra­dos (km²) em setem­bro de 2024, o que equiv­ale a mais de 13 vezes a área da cidade de São Paulo.

O número rep­re­sen­ta um aumen­to de 1.402% em relação a setem­bro de 2023, quan­do a degradação detec­ta­da foi de 1.347 km². O insti­tu­to de pesquisa Ima­zon apon­tou que essa foi a maior área atingi­da — no perío­do de um mês — pelo dano ambi­en­tal dos últi­mos 15 anos. Degradação ambi­en­tal é o proces­so de dete­ri­o­ração do meio ambi­ente, que pode ser cau­sa­do por ações humanas ou nat­u­rais.

Os dados de des­mata­men­to e degradação flo­re­stal na Amazô­nia, do Sis­tema de Aler­ta de Des­mata­men­to (SAD), são mon­i­tora­dos pelo Ima­zon por ima­gens de satélite des­de 2008 e 2009, respec­ti­va­mente.

O des­mata­men­to cor­re­sponde à remoção com­ple­ta da flo­res­ta, enquan­to a degradação é um dano cau­sa­do por queimadas ou pela extração madeireira — não remove toda a veg­e­tação, mas destrói parte dela. A enti­dade ressalta que ambos ameaçam espé­cies da fau­na e da flo­ra.

“Setem­bro cos­tu­ma ser um mês mar­ca­do pelo aumen­to dessas práti­cas na Amazô­nia, por estar den­tro de um perío­do mais seco. Porém, os números reg­istra­dos em 2024 são muito mais ele­va­dos do que os vis­tos ante­ri­or­mente. E a maio­r­ia dos aler­tas ocor­reu dev­i­do à inten­si­fi­cação dos incên­dios flo­restais”, disse, em nota, a pesquisado­ra Laris­sa Amor­im, do Ima­zon.

Ela afir­mou que esse pico da degradação é bas­tante pre­ocu­pante e que rios impor­tantes da Amazô­nia estão em situ­ação críti­ca. O Ima­zon atribui o resul­ta­do do lev­an­ta­men­to ao aumen­to das queimadas cau­sadas pela ação humana e favore­ci­das pela seca sev­era na região.

Setem­bro deste ano foi ain­da o quar­to mês con­sec­u­ti­vo com aumen­to nas áreas degradadas, o que con­tribuiu para que o acu­mu­la­do des­de janeiro tam­bém fos­se o maior dos últi­mos 15 anos, atingin­do 26.246 km². Antes dis­so, o recorde para o perío­do era de 2022, quan­do a degradação alcançou 6.869 km².

Estado mais afetado

O esta­do do Pará con­cen­trou 57% das áreas de flo­restas degradadas na Amazô­nia em setem­bro deste ano. A degradação pas­sou de 196 km² em setem­bro de 2023 para 11.558 km² no mes­mo mês de 2024, área quase 60 vezes maior. Sete dos 10 municí­pios que mais degradam a região amazôni­ca são paraens­es, incluin­do  São Félix do Xin­gu (3.966 km²), Ourilân­dia do Norte (1.547 km²) e Novo Pro­gres­so (1.301 km²).

Out­ros esta­dos com per­centu­ais sig­ni­fica­tivos, segun­do o Ima­zon, de áreas degradadas em setem­bro foram Mato Grosso (25%), Rondô­nia (10%), Ama­zonas (7%). A enti­dade desta­cou, tam­bém, a situ­ação de Rondô­nia, onde a degradação pas­sou de 50 km² em setem­bro de 2023 para 1.907 km² no mes­mo mês de 2024, o que rep­re­sen­ta uma alta de 38 vezes.

“His­tori­ca­mente, no perío­do de setem­bro, Mato Grosso cos­tu­ma­va lid­er­ar como o esta­do que mais degra­da­va a Amazô­nia. Porém, em 2024, o Pará sur­preen­deu com números muito altos. Ain­da em setem­bro, foi dec­re­ta­da situ­ação de emergên­cia e ficou proibido o uso de fogo, mas pre­cisamos que essa decisão seja acom­pan­ha­da de fis­cal­iza­ção e respon­s­abi­liza­ção dos cul­pa­dos para que seja mais efi­caz”, obser­vou o coor­de­nador do pro­gra­ma de Mon­i­tora­men­to da Amazô­nia, do Ima­zon, Car­los Souza Jr, em nota.

Além dis­so, o Pará con­cen­tra sete das 10 unidades de con­ser­vação mais degradadas no perío­do. As qua­tro primeiras do rank­ing são Área de Pro­teção Ambi­en­tal (APA) Tri­un­fo do Xin­gu, com 1030 km²; Flona do Jamanx­im, com 670 km²; APA do Tapa­jós, com 165 km²; e Flona de Altami­ra, com 124 km².

Entre as ter­ras indí­ge­nas, a Kayapó segue pelo segun­do mês con­sec­u­ti­vo como a mais degrada­da, com 3.438 km² afe­ta­dos. O ter­ritório con­cen­trou 17% de toda a área com degradação na Amazô­nia em setem­bro.

“A per­manên­cia dessa ter­ra indí­ge­na entre as dez com as maiores áreas degradadas é um forte indica­ti­vo de que as medi­das para con­ter o fogo na Amazô­nia não estão sendo sufi­cientes. A pre­sença desse prob­le­ma ambi­en­tal nas áreas indí­ge­nas e unidades de con­ser­vação ain­da com­pro­m­ete dire­ta­mente a bio­di­ver­si­dade local, ameaçan­do tan­to a fau­na quan­to a flo­ra, e rep­re­sen­ta um impacto neg­a­ti­vo no modo de vida, na sub­sistên­cia e na saúde das pop­u­lações tradi­cionais”, expli­cou Laris­sa.

Desmatamento

O des­mata­men­to tam­bém cresceu na Amazô­nia em setem­bro deste ano e teve o quar­to mês con­sec­u­ti­vo com alta, após 14 meses cor­ri­dos de redução de dev­as­tação na região. No mês, um ter­ritório de 547 km² foi des­mata­do, o que sig­nifi­ca a per­da 1.823 cam­pos de fute­bol por dia de flo­res­ta, desta­cou o Ima­zon. A área foi 0,2% maior do que em 2023, quan­do foram degrada­dos 546 km².

No acu­mu­la­do de janeiro a setem­bro, a área des­mata­da foi de 3.071 km², a oita­va maior da série históri­ca.

A maio­r­ia do des­mata­men­to, em setem­bro deste ano, ocor­reu em áreas pri­vadas ou sob diver­sos está­gios de posse (61%). O restante do des­mata­men­to foi reg­istra­do em Assen­ta­men­tos (30%), Unidades de Con­ser­vação (7%) e Ter­ras Indí­ge­nas (2%).

Dos nove esta­dos que com­põem a Amazô­nia Legal, três con­cen­traram 83% de todo o des­mata­men­to iden­ti­fi­ca­do em setem­bro. O Pará lid­er­ou com 52% do des­mata­men­to, segui­do pelo Ama­zonas (16%) e pelo Acre (15%). Sete dos dez municí­pios que mais des­mataram são paraens­es.

Assentamentos

O Pará reúne ain­da sete dos dez assen­ta­men­tos e sete das dez unidades de con­ser­vação com as maiores áreas des­matadas. Já entre as dez ter­ras indí­ge­nas mais des­matadas, três estão inte­gral­mente no Pará e out­ras três têm parte da sua área no esta­do.

“No mês de setem­bro, o ter­ritório paraense lid­er­ou o des­mata­men­to destru­in­do uma área cor­re­spon­dente a 970 cam­pos de fute­bol de flo­res­ta por dia. Todo esse impacto está refleti­do nos municí­pios, assen­ta­men­tos, unidades de con­ser­vação e ter­ras indí­ge­nas. Por isso, é urgente inve­stir em ações efi­cazes e integradas que pro­te­jam a região, como o inves­ti­men­to nos órgãos ambi­en­tais de fis­cal­iza­ção”, disse Car­los Souza.

Ele avalia que, dessa for­ma, será pos­sív­el com­bat­er as mudanças climáti­cas que são impul­sion­adas pela reti­ra­da de veg­e­tação e ofer­e­cer uma maior pro­teção à bio­di­ver­si­dade e aos povos que habitam a flo­res­ta. Out­ro pon­to de atenção, de acor­do com os pesquisadores do insti­tu­to, é a bus­ca de alter­na­ti­vas para reduzir os impactos das queimadas que já ocor­reram tan­to na cober­tu­ra flo­re­stal quan­to nas pop­u­lações.

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