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Demarcações são fundamentais para futuras gerações, diz cacique Raoni

Repro­dução: © Tomaz Silva/Agência Brasil

Líder indígena visita mostra sobre cultura e memória do povo kaiapó


Pub­li­ca­do em 27/10/2023 — 18:21 Por Cristi­na Indio do Brasil – Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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“Os não indí­ge­nas não estão ten­do noção do que estão destru­in­do, por isso, nós, como povos indí­ge­nas, den­tro de ter­ritório, den­tro da flo­res­ta, sabe­mos o que pode acon­te­cer se con­tin­uar destru­in­do”, afir­mou o cacique kaiapó Raoni Metuk­tire, que vis­i­tou nes­ta sex­ta-feira (27) a exposição Mekukrad­já Obikàrà: Com os Pés em Dois Mun­dos. A mostra está sendo insta­l­a­da no mezani­no do Museu de Arte Con­tem­porânea (MAC), em Niterói, região met­ro­pol­i­tana do Rio.

Para Raoni, a demar­cação das ter­ras dos povos orig­inários, além de preser­var a natureza, é impor­tante para man­ter as próprias cul­turas.

“Nos­sos ter­ritórios são demar­ca­dos para poder man­ter tudo que tem den­tro e preser­var a natureza. Den­tro de um ter­ritório, temos flo­res­ta, ani­mais, rios e temos nos­sas próprias cul­turas e tradições. Por isso, pen­samos e pre­tendemos que con­tin­ue­mos com a nos­sa vida como povos nativos den­tro de flo­res­ta. Por isso, defend­emos nos­sa ter­ra, a flo­res­ta. Por que defend­emos o meio ambi­ente? Esta­mos ven­do o aque­c­i­men­to glob­al, está cada vez mais quente na Ter­ra, está cada vez mais secan­do rios, isso é muito pre­ocu­pante para nós”, afir­mou.

Raoni con­sid­era as demar­cações fun­da­men­tais tam­bém para as futuras ger­ações. “As nos­sas ter­ras demar­cadas são para out­ras ger­ações. Eles têm que ter o ter­ritório para con­tin­uarem com a vida, a cul­tura e os cos­tumes deles. Pre­cisamos de ter­ritório para ter ani­mais, pre­cisamos dos rios, da flo­res­ta, das aves para con­tin­uar com nos­sa vida den­tro da flo­res­ta.”

A mostra, que será aber­ta neste sába­do (28) e vai até 26 de novem­bro, apre­sen­ta adornos usa­dos nas fes­tas e rit­u­ais, fotos, vídeos, depoi­men­tos e um acer­vo pro­duzi­do pela nova ger­ação por meio do cole­ti­vo Beture, que é um movi­men­to de cineas­tas e comu­ni­cadores indí­ge­nas Mẽbêngôkre-Kayapó.

Segun­do o líder indí­ge­na, a mostra, que deixa evi­dente a ances­tral­i­dade de seu povo, é tam­bém uma for­ma de man­ter a memória dos kaiapó. “Sim, tem que ser mostra­da a nos­sa cul­tura, mostra­da tam­bém para os não indí­ge­nas, que são vocês, para que vejam a nos­sa cul­tura viva, ten­ham respeito por nós, pelos povos indí­ge­nas, a nos­sa ter­ra. E essas fotos mostram [que é] para os jovens con­tin­uarem com a cul­tura deles, origem ances­tral, por isso, é impor­tante mostrar a nos­sa cul­tura para poder­mos mostrar para todos não indí­ge­nas e jovens indí­ge­nas para con­tin­uarem com a cul­tura deles”, afir­mou.

Raoni ficou sat­is­feito com o que viu. “Como a nos­sa cul­tura ain­da é forte e ain­da vive entre nós, estou ven­do aqui essas fotos e muitas de recor­dações. Foram tiradas há muito tem­po e hoje, nesse momen­to, está ten­do a mostra dessas fotos. Vi que é muito impor­tante mostrar a nos­sa cul­tura, nos­sa arte e nos­sa tradição, para moti­var nos­sos jovens a con­tin­uarem com a cul­tura deles. Por isso, estou ven­do e gostan­do muito desse tra­bal­ho que está sendo feito”, pon­tu­ou.

O cacique kaiapó comen­tou ain­da a importân­cia da exposição em meio a tan­ta dis­cussão no país sobre o mar­co tem­po­ral das ter­ras indí­ge­nas. “Quan­do faze­mos isso, e vocês fazem jun­to, mostramos a nos­sa vida para que eles pos­sam nos respeitar, respeitar, para não acon­te­cer nada de ameaça con­tra nós”, con­cluiu.

Niterói (RJ), 27/10/2023 – O Cacique Raoni durante visita à exposição Mekukradjá Obikàrà: com os pés em dois mundos, no Museu de Arte Contemporânea (MAC), em Niterói. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Repro­dução: Niterói (RJ), 27/10/2023 – O Cacique Raoni durante visi­ta à exposição Mekukrad­já Obikàrà: com os pés em dois mun­dos, no Museu de Arte Con­tem­porânea (MAC), em Niterói. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil — Tomaz Silva/Agência Brasil

 

Patrocínio

A exposição Mekukrad­já Obikàrà: Com os Pés em Dois Mun­dos, é real­iza­da pela Petro­bras, por meio do pro­je­to Tradição e Futuro na Amazô­nia (TFA), patroci­na­do pelo Pro­gra­ma Petro­bras Socioam­bi­en­tal, que tem a gestão do Fun­do Brasileiro para a Bio­di­ver­si­dade. De acor­do com os orga­ni­zadores, a Con­ser­vação Inter­na­cional Brasil e as orga­ni­za­ções rep­re­sen­ta­ti­vas par­ceiras do pro­je­to, os insti­tu­tos Kabu e Raoni e a Asso­ci­ação Flo­res­ta Pro­te­gi­da apoiam a ini­cia­ti­va.

A ger­ente de Plane­ja­men­to de Respon­s­abil­i­dade Social e Dire­itos Humanos da Petro­bras, Sue Wolter, disse que é lon­ga a história de inves­ti­men­tos socioam­bi­en­tais da com­pan­hia, den­tro do com­pro­mis­so do desen­volvi­men­to social do país e da trans­for­mação das pes­soas.

Sue rev­el­ou que o Tradição e Futuro da Amazô­nia é um pro­je­to de seleção públi­ca na lin­ha de flo­restas, que é uma das qua­tro real­izadas pela Petro­bras. As out­ras são oceano, desen­volvi­men­to econômi­co sus­ten­táv­el e edu­cação. O out­ro com­pro­mis­so da empre­sa é com pro­je­tos lig­a­dos ao respeito aos e dire­itos humanos e à pro­moção dos dire­itos humanos, acres­cen­tou.

“Tem uma lin­ha trans­ver­sal em todos os pro­je­tos, que são de povos tradi­cionais, povos indí­ge­nas e pescadores e pop­u­lações menorizadas: LGBT, pes­soas com defi­ciên­cia, pop­u­lação negra. Para a gente, é muito impor­tante um olhar para ess­es saberes. Uma das ações do pro­je­to é res­gatar e divul­gar os saberes tradi­cionais. É o que a gente está fazen­do aqui. Hoje é o ápice dessa ação den­tro do pro­je­to”, disse Sue Wolter em entre­vista à Agên­cia Brasil.

Ela expli­cou que o pro­je­to Tradição e Futuro na Amazô­nia é desen­volvi­do em cin­co ter­ras indí­ge­nas com tra­bal­hos de edu­cação ambi­en­tal, agroflo­res­ta para ger­ação de ren­da, estoque de car­bono na região, saberes tradi­cionais e res­gate mate­ri­al­iza­do na juven­tude, que faz a con­ver­sa com o tradi­cional e os meios de comu­ni­cação e com os meios audio­vi­suais, preser­van­do e divul­gan­do todo esse con­hec­i­men­to. Esse pro­je­to é de suces­so e vai ser ren­o­va­do. “Ele vai con­tin­uar por mais qua­tro anos, porque a gente tem todo um olhar muito espe­cial para as pop­u­lações tradi­cionais.”

Niterói (RJ), 27/10/2023 – Exposição Mekukradjá Obikàrà: com os pés em dois mundos no Museu de Arte Contemporânea (MAC), em Niterói. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Repro­dução: Niterói (RJ), 27/10/2023 – Exposição Mekukrad­já Obikàrà: com os pés em dois mun­dos no Museu de Arte Con­tem­porânea (MAC), em Niterói. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil — Tomaz Silva/Agência Brasil

Programação

A pro­gra­mação de inau­gu­ração da exposição, com entra­da fran­ca, começa às 10h com a aber­tu­ra do museu e entra­da sim­bóli­ca dos indí­ge­nas na mostra.

Às 10h30, começa a feira de arte­sana­to, inclu­sive com pin­tu­ra cor­po­ral, e real­iza-se a plenária dos povos tradi­cionais em defe­sa de seus ter­ritórios e maretórios com par­tic­i­pação de rep­re­sen­tantes dos povos indí­ge­nas, quilom­bo­las e caiçaras do Pará, de Mato Grosso e do Rio de Janeiro. Na parte da tarde, às 17h, haverá apre­sen­tação de can­to e dança, chama­da de Metoro, que são as fes­tas. Às 17h30, haverá apre­sen­tação do cacique Raoni e de out­ros líderes kaiapó sobre a história deste povo.

Entre as 18h e as 20h, está pre­vis­to um map­ping (pro­jeção) da arte kaiapó na facha­da do pré­dio. A agen­da ter­mi­na com uma apre­sen­tação musi­cal do Rap­per Mat­si.

Edição: Nádia Fran­co

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