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Desemprego de jovens negras é 3 vezes superior ao dos homens brancos

Repro­dução: © Tânia Rêgo/Agência Brasil

Pesquisa foi feita pela organização Ação Educativa com dados da Pnad


Publicado em 08/05/2024 — 06:52 Por Lucas Pordeus León — Repórter da Agência Brasil — Brasília

Em 2023, as jovens mul­heres negras de 18 a 29 anos tiver­am uma taxa de desem­prego três vezes maior que a dos home­ns bran­cos no Brasil. Quan­do empre­ga­da, a juven­tude fem­i­ni­na negra tem uma ren­da 47% menor que a da média nacional e quase três vezes menor que a dos home­ns bran­cos. Além dis­so, as mul­heres negras de 14 a 29 anos dedicam quase o dobro de horas aos afaz­eres domés­ti­cos quan­do com­para­do à media dos home­ns negros e bran­cos.

A com­para­ção foi real­iza­da pela orga­ni­za­ção Ação Educa­ti­va, a par­tir dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Con­tínua (Pnad) de 2023, e pub­li­ca­da no relatório Mude com Elas, divul­ga­do nes­ta quar­ta-feira (8).

A jovem negra Pamela Gama, de 26 anos, con­tou que vive na pele o que os números divul­ga­dos pela pesquisa evi­den­ci­am. Morado­ra da zona leste de São Paulo, Pamela decid­iu reti­rar do cur­rícu­lo o link de uma rede social de empre­gos onde havia uma foto dela, na ten­ta­ti­va de ser chama­da para mais entre­vis­tas.

“Eu colo­quei o link do meu per­fil e depois tirei porque eu não esta­va receben­do tan­tos con­vites para faz­er entre­vis­tas. Então eu pen­sei se não era mel­hor eu tirar, sabe?”, rev­el­ou a jovem for­ma­da em relações públi­cas, acres­cen­tan­do que mel­horou “um pouco” a con­vo­cação para entre­vis­tas depois da mudança. Pamela tra­bal­ha des­de os 19 anos e hoje atua em uma empre­sa na área de comu­ni­cação.

De acor­do com o pro­je­to Mude com Elas, enquan­to as jovens mul­heres negras reg­is­traram, em 2023, uma taxa de desem­prego de 18,3%, os home­ns bran­cos tiver­am uma taxa de 5,1%. O desem­prego ger­al do país ter­mi­nou 2023 em 7,4%.

Já o salário médio da pop­u­lação no ano pas­sa­do foi R$ 2.982, enquan­to o das jovens negras foi de ape­nas R$ 1.582. Se com­para­do com home­ns bran­cos, a difer­ença salar­i­al é ain­da maior. Como a ren­da média desse grupo foi R$ 4.270 em 2023, ela é 2,7 vezes maior que a das jovens mul­heres negras.

Pamela con­tou que con­hece pes­soas que recebem mais, ape­sar de mes­ma idade e for­mação semel­hante. “Tem rapazes, até mes­mo alguns con­heci­dos, que estão na mes­ma idade que eu e que gan­ham muito mais. Então, assim, eu sin­to essa difi­cul­dade até mes­mo de me recolo­car no mer­ca­do para procu­rar novas opor­tu­nidades”, afir­mou.

JOVENS NEGRAS TRABALHO - Pamela Gama. Foto: Arquivo Pessoal
Morado­ra da zona leste de São Paulo, Pamela Gama decid­iu reti­rar do cur­rícu­lo o link de uma rede social de empre­gos onde havia uma foto dela, na ten­ta­ti­va de ser chama­da para mais entre­vis­tas. Foto: Arqui­vo pes­soal

A infor­mal­i­dade tam­bém atinge mais as jovens negras, que reg­is­traram 44% com carteira assi­na­da, por­cent­agem sim­i­lar a dos jovens negros (43,3%). Já os jovens bran­cos, tan­to mul­heres quan­to home­ns, ficaram em torno de 50% com carteira assi­na­da (50,3% para jovens bran­cos e 49,8% para jovens bran­cas).

Além da menor ren­da e do maior desem­prego, o tra­bal­ho domés­ti­co sobre­car­rega as jovens negras de 14 a 29 anos que dedicam 22 horas, por sem­ana, aos afaz­eres domés­ti­cos. Enquan­to isso, a média dos home­ns negros e bran­cos é de 11,7 horas na sem­ana.

A jovem Pamela Gama con­ta que aju­da nos afaz­eres domés­ti­cos des­de ado­les­cente e que hoje se sente sobre­car­rega­da porque o mari­do tra­bal­ha fora de casas e ela em tele­tra­bal­ho. “Eu faço o tra­bal­ho e ten­ho que con­cil­iar orga­ni­zan­do a min­ha casa. Eu falo que eu ten­ho dois serviços”, com­ple­tou.

“O estu­do mostra que, des­de a pan­demia, as condições de tra­bal­ho mel­ho­raram, mas ain­da assim, o Brasil não tem políti­cas públi­cas especí­fi­cas para as jovens negras nem tam­pouco as empre­sas pos­suem um olhar dire­ciona­do a essas mul­heres, que são fre­quente­mente preteri­das em proces­sos sele­tivos”, afir­mou a pesquisa.

O grupo das jovens negras tam­bém chega menos ao ensi­no supe­ri­or no Brasil. Enquan­to as jovens bran­cas fre­quen­tan­do ou con­cluin­do o ensi­no supe­ri­or, em 2023, chegavam a 39,8% do total, as jovens negras na mes­ma situ­ação eram ape­nas 23,4% do total.

Herança escravocrata

A pesquisado­ra Andreia Alves, advo­ca­cy do pro­je­to Mude com Elas, desta­cou que existe uma cul­tura que colo­ca a juven­tude nos espaços mais precários do mer­ca­do de tra­bal­ho. Porém, há um agrava­men­to desse quadro quan­do se con­sid­era raça e gênero.

“É muito comum mul­heres jovens negras que con­seguem chegar a ocu­par esse mer­ca­do de tra­bal­ho for­mal estarem em áreas que, na ver­dade, não vão aproveitar toda a sua capaci­dade. Então, nor­mal­mente, ela vai ocu­par as piores áreas, os piores car­gos, difer­entes de pes­soas não negras”, desta­cou.

Andreia Alves acres­cen­tou que há uma her­ança, que vem do perío­do escrav­ocra­ta, que cos­tu­ma colo­car as jovens mul­heres negras fora do mer­ca­do de tra­bal­ho, ocu­pan­do-as com o tra­bal­ho domés­ti­co.

JOVENS NEGRAS TRABALHO - Andréia Alves. Foto: Arquivo Pessoal
Repro­dução: Pesquisado­ra Andréia Alves afir­ma que existe uma cul­tura que colo­ca a juven­tude nos espaços mais precários do mer­ca­do de tra­bal­ho. Foto: Arqui­vo pes­soal

“Nor­mal­mente, os lugares onde essas mul­heres moram são lugares muito dis­tantes dos locais de tra­bal­ho. Então, essas jovens mul­heres negras acabam sendo obri­gadas a sub­me­ter aos cuida­dos, a faz­er da casa, cuidar da ali­men­tação e cuidar dos irmãos menores, porque os adul­tos da casa são tam­bém dess­es lugares de tra­bal­ho dis­tantes”, com­ple­tou.

Para Alves, o fun­da­men­tal é ouvir esse públi­co antes de con­stru­ir políti­cas que min­i­mizem essa desigual­dade no mer­ca­do de tra­bal­ho. A espe­cial­ista acres­cen­ta que o aumen­to da edu­cação for­mal supe­ri­or de mul­heres negras nos últi­mos anos não tem se refleti­do em mais espaço no mer­ca­do de tra­bal­ho.

“Nos últi­mos 10 anos as mul­heres negras ocu­param as uni­ver­si­dades e têm se for­ma­do, têm se demon­stra­do, têm se estru­tu­ra­do, mas isso não tem sido sufi­ciente para faz­er mod­i­fi­cações sig­ni­fica­ti­vas no mer­ca­do de tra­bal­ho. Prin­ci­pal­mente quan­do a gente fala sobre ocu­pação de car­gos de lid­er­ança”, com­ple­tou.

Edição: Valéria Aguiar

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