...
segunda-feira ,4 novembro 2024
Home / Saúde / Desigualdades agravam pandemias, alertam pesquisadores

Desigualdades agravam pandemias, alertam pesquisadores

Repro­dução: © Tânia Rêgo

Alerta foi feito em debate para marcar centenário da UFRJ


Pub­li­ca­do em 11/09/2021 — 15:55 Por Vini­cius Lis­boa — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

O mod­e­lo econômi­co glob­al­iza­do e mar­ca­do por desigual­dades de diver­sos tipos deve provo­car pan­demias mais fre­quentes e acir­rar difer­enças na qual­i­dade de vida e no aces­so a dire­itos, dis­ser­am nes­ta sem­ana espe­cial­is­tas em saúde públi­ca que par­tic­i­param de debate em comem­o­ração ao cen­tenário da Uni­ver­si­dade Fed­er­al do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisador e pro­fes­sor da uni­ver­si­dade, o epi­demi­ol­o­gista Rober­to Medron­ho aler­tou que a fre­quên­cia com que as pan­demias ocor­rem tem aumen­ta­do no sécu­lo 21, quan­do o mun­do já enfren­tou sur­tos inter­na­cionais de MERS, SARS, ebo­la, gripe suí­na e covid-19.

“A fre­quên­cia e inten­si­dade das pan­demias no mun­do vêm se aceleran­do. Pre­cisamos dar um bas­ta nesse mod­e­lo cap­i­tal­ista sel­vagem e predador e nes­sa desigual­dade social. Isso é insus­ten­táv­el com a vida no plan­e­ta. Não é uma questão de se ‘ter­e­mos out­ras pan­demia, mas de quan­do ter­e­mos”.

Medron­ho clas­si­fi­cou o impacto da pan­demia no Brasil como “pavoroso” e “dramáti­co”, e disse acred­i­tar que o cenário seria muito pior se o país não con­tasse com um sis­tema de saúde públi­co uni­ver­sal. “Se não cheg­amos a 1 mil­hão de óbitos é porque temos o Sis­tema Úni­co de Saúde (SUS)”, disse o pesquisador, acres­cen­tan­do que municí­pios com maior desigual­dade tiver­am maior incidên­cia de covid-19. “Indívid­u­os de cor da pele não bran­ca foram mais afe­ta­dos por óbitos na pan­demia. E os de nív­el supe­ri­or tiver­am maior pro­teção. Ou seja, essa pan­demia tem ros­to. Ela é negra e pobre”.

O epi­demi­ol­o­gista desta­ca que, além das víti­mas dire­tas, a pan­demia deve traz­er impactos mais amp­los, como fechamen­to de pos­tos de tra­bal­ho cau­sa­dos pelo esvazi­a­men­to dos cen­tros urbanos, diag­nós­ti­co tar­dio de doenças, seden­taris­mo, transtornos psi­cológi­cos e aumen­to da desigual­dade.

“É com­preen­sív­el o medo de retornar às esco­las, porque muitas não têm água, não têm ban­heiro nem janela ade­qua­da para a ven­ti­lação. Pre­cisamos de esco­las que pos­sam acol­her essas cri­anças, porque esta­mos afe­tan­do toda uma ger­ação. A evasão esco­lar está aumen­tan­do, muitas cri­anças não voltaram”, disse ele, que citou pos­síveis con­se­quên­cias dis­so — os abu­sos sex­u­ais, abu­sos físi­cos, a gravidez na ado­lescên­cia, o anal­fa­betismo fun­cional. “Esse é um tema que ampli­fi­cará e muito a desigual­dade social”.

O infec­tol­o­gista aler­ta que a desigual­dade e a sus­tentabil­i­dade são temas que impactam a saúde. “Não ter­e­mos paz se não tiver­mos uma rad­i­cal mudança na for­ma de viv­er, con­viv­er, de pro­duzir e de nos rela­cion­ar­mos com os ani­mais, com a natureza e prin­ci­pal­mente com o out­ro”.

Pesquisador da Fiocruz Bahia e da Uni­ver­si­dade Fed­er­al da Bahia, o epi­demi­ol­o­gista Mau­rí­cio Bar­reto desta­cou que, ao lon­go da história, as epi­demias e as doenças infec­ciosas sem­pre afe­taram gru­pos pop­u­la­cionais de for­ma difer­ente, incidin­do de acor­do com a desigual­dade social e geran­do mais iniq­uidades como con­se­quên­cia.

No caso da pan­demia de covid-19, ele lem­bra que pes­soas que vivem em comu­nidades den­sa­mente povoadas como as fave­las estão mais expostas ao con­tá­gio, ao mes­mo tem­po em que pop­u­lações pobres sofrem mais fre­quente­mente com questões de saúde como obesi­dade, doenças car­dio­vas­cu­lares e dia­betes, con­sid­er­adas comor­bidades.

“São vários aspec­tos que se jun­tam para expres­sar esse com­plexo que gener­i­ca­mente chamamos de desigual­dade”, diz ele, que apon­ta a neces­si­dade de se bus­car soluções globais para a pan­demia e con­sid­era que organ­is­mos inter­na­cionais não con­seguiram con­duzir uma respos­ta con­jun­ta. “No mun­do, em ger­al, essa ação da pan­demia foi muito nacional. Cada país foi toman­do suas ações, e cada gov­er­no toman­do suas ações, não ven­do uma per­spec­ti­va glob­al”.

O econ­o­mista e san­i­tarista da Fun­dação Oswal­do Cruz (Fiocruz) Car­los Gadel­ha acres­cen­tou que essas respostas nacionais ger­aram uma con­cen­tração das vaci­nas nos país­es mais ricos. Segun­do o pesquisador, dez país­es con­cen­tram 75% das dos­es no mun­do, e, enquan­to nações ric­as bus­cam garan­tir a apli­cação da ter­ceira dose, há país­es em que a vaci­nação ain­da não começou.

Espe­cial­ista no cruza­men­to entre desen­volvi­men­to, econo­mia e saúde, Gadel­ha aler­tou que a con­cen­tração de quase 90% das patentes em dez país­es indi­ca que a desigual­dade no aces­so às vaci­nas tende a se per­pet­u­ar. “A patente de hoje é a desigual­dade de aman­hã. É a bar­reira de aces­so de aman­hã. Não é entrar em um dis­cur­so binário a favor ou con­tra as patentes. Mas isso se reflete em uma desigual­dade estru­tur­al nes­sa pan­demia e nas próx­i­mas”.

Para ele, o setor da saúde pode se apre­sen­tar como impor­tante alter­na­ti­va para o desen­volvi­men­to sus­ten­táv­el, artic­u­lan­do inter­ess­es pri­va­dos e soci­ais. O econ­o­mista cita o que ocor­reu com a pro­dução de vaci­nas no Insti­tu­to Butan­tan e no Insti­tu­to de Tec­nolo­gia em Imuno­bi­ológi­cos da Fiocruz (Bio-Man­guin­hos), em parce­rias com empre­sas desen­volve­do­ras dessas tec­nolo­gias.

Edição: Graça Adju­to

LOGO AG BRASIL

Você pode Gostar de:

Novembro Azul: SBU alerta para aumento de casos de câncer de próstata

Doença matou 17 mil homens no Brasil em 2023, média de 47 por dia Vitor …