...
sábado ,8 fevereiro 2025
Home / Saúde / Detecção de câncer no SUS é desafio para 70% de moradores de favela

Detecção de câncer no SUS é desafio para 70% de moradores de favela

Repro­dução: © Wil­son Dias

Pesquisa mostra dificuldade de acesso a serviços públicos de saúde


Pub­li­ca­do em 09/05/2023 — 21:45 Por Heloisa Cristal­do — Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

ouvir:

As maiores difi­cul­dades de moradores de fave­las em todo país no aces­so ao diag­nós­ti­co e trata­men­to do câncer estão na demo­ra em realizar agen­da­men­tos de exam­es (82%) e no aces­so a insti­tu­ições de saúde (69%). As infor­mações fazem parte da pesquisa Oncogu­ia “Per­cepções e pri­or­i­dades do câncer nas fave­las brasileiras”, real­iza­da pelo DataFavela e o Insti­tu­to Loco­mo­ti­va.

O lev­an­ta­men­to foi divul­ga­do nes­ta terça-feira (9), em Brasília. A pesquisa escutou 2.963 pes­soas, maio­r­ia de raça negra, class­es D e E, de todas as regiões do país, entre os dias 18 de janeiro e 1º de fevereiro deste ano. A maio­r­ia do públi­co ouvi­do depende exclu­si­va­mente do SUS (82%).

Entre os entre­vis­ta­dos, 70% dis­ser­am que ten­tam cuidar da saúde, mas relatam que nun­ca encon­tram médi­co no pos­to de saúde e os exam­es demor­am muito. A pesquisa rev­el­ou, por exem­p­lo, que 45% dos moradores de fave­las têm difi­cul­dade para chegar na Unidade Bási­ca de Saúde (UBS), levan­do, em média, uma hora nesse tra­je­to.

Em out­ro tre­cho, 41% dos entre­vis­ta­dos respon­der­am que não cos­tu­mam faz­er exam­es ou só real­izam quan­do estão doentes. Esse índice cai para 34% entre pes­soas que têm 46 anos ou mais.

Para a fun­dado­ra e pres­i­dente do Insti­tu­to Oncogu­ia, Luciana Holtz, ess­es dados mostram a desigual­dade no aces­so à saúde no Brasil, além de indi­carem a fal­ta de transparên­cia nas infor­mações para a pop­u­lação.

“Tem muito tem­po que a gente acom­pan­ha ess­es prob­le­mas e, lit­eral­mente, nada acon­tece. Uma coisa são as filas e a gente sabe que elas são grandes, mas a gente não sabe de que taman­ho é a fila, porque demo­ra, o que está acon­te­cen­do. E mais do que não saber enquan­to sociedade, existe um paciente esperan­do, saben­do que o câncer dele pre­cisa ser trata­do e isso tem um impacto gigan­tesco e com­plexo – inclu­sive cor­ren­do o risco de a doença avançar”, disse.

Ausência do Estado

Na avali­ação do fun­dador do Data Favela, Rena­to Meirelles, o estu­do mostra os reflex­os do aban­dono do Esta­do nes­tas comu­nidades.

“A favela não é um nicho. Se fos­se um esta­do, seria ter­ceiro maior do Brasil. São mais de 13.500 fave­las brasileiras, com quase 18 mil­hões de habi­tantes. As fave­las são con­cen­trações geográ­fi­cas pelo Brasil e for­madas majori­tari­a­mente pela pop­u­lação pre­ta e par­da desse país”, ressaltou. “A favela con­cen­tra a desigual­dade de ren­da porque mer­ca­do infor­mal dom­i­na a favela, porque mui­ta gente não con­tra­ta morador de favela pelo sim­ples fato de eles morarem em uma favela”.

Mitos

A pesquisa iden­ti­fi­cou os prin­ci­pais mitos envol­ven­do o câncer entre os moradores de favela e apare­ce­r­am respostas como: “o taba­co causa ape­nas câncer de pul­mão” ou “ali­men­tos cozi­dos no forno micro-ondas provo­cam câncer”.

Nas comu­nidades, 11% não sabem diz­er se o câncer é con­ta­gioso e 19% acham que o câncer é “cas­ti­go divi­no”. Out­ros 31% acred­i­tam que pes­soas negras não têm câncer de pele.

“Muitas vezes a infor­mação não quer ser rece­bi­da pelas pes­soas. É aque­la história: ‘se eu não olhar, não existe’ ”, disse Meirelles.

Ao todo, a pesquisa mostrou que 63% dos ouvi­dos fazem asso­ci­ação neg­a­ti­va rela­ciona­da ao câncer. Por out­ro lado, 22% fazem asso­ci­ações otimis­tas. “A primeira palavra que vêm à cabeça quan­do escu­tam a palavra câncer é: morte, segui­do de sen­ti­men­tos neg­a­tivos e sofri­men­to, dor e tris­teza”, indi­ca o lev­an­ta­men­to.

Para 84% dos moradores de favela, há casos de câncer em seu cír­cu­lo social. “A exper­iên­cia que essas pes­soas têm com quem recebe o diag­nós­ti­co é muito neg­a­ti­va. Dos que respon­der­am, 66% relataram ter par­entes que mor­reram por câncer e 44% ami­gos que mor­reram por esse tipo de doença”, ressaltou o fun­dador do Data Favela.

Falta de informação

Sete em cada 10 moradores de favela acham que têm menos aces­so à infor­mação sobre pre­venção e diag­nós­ti­co pre­coce da doença.  Para 68% dos entre­vis­ta­dos, a pre­venção é impor­tante, mas não têm aces­so às unidades de saúde ade­quadas.

“Edu­cação é fun­da­men­tal para pre­venção, mas sem diag­nós­ti­co não resolve. Edu­cação sem equipa­men­to de saúde, não resolve”, desta­cou Meirelles.

O prin­ci­pal obstácu­lo para o diag­nós­ti­co pre­coce é a difi­cul­dade para mar­car exam­es na rede públi­ca (40%), out­ros 25% indicaram a desin­for­mação como maior prob­le­ma.

Edição: Car­oli­na Pimentel

LOGO AG BRASIL

Você pode Gostar de:

Volta às aulas: especialistas reforçam importância da vacinação

Recomendação é conferir se carteira de vacinação está em dia Tama­ra Freire — Repórter do …