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Devotos de São Jorge fazem feijoada no Rio para comemorar dia do santo

Repro­dução: © Tomaz Silva/Agência Brasil

Grupo de amigos faz festa no meio de uma rua em Realengo


Publicado em 23/04/2024 — 07:18 Por Vitor Abdala — Repórter da Agência Brasil — Rio de Janeiro

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Caio Miguel é parte de um grupo de ami­gos que todo ano poupa um din­heir­in­ho para uma ocasião espe­cial em abril. Des­de cri­ança, ele e sua família pro­movem fei­joadas em hom­e­nagem a São Jorge.

O din­heiro guarda­do pelo grupo é usa­do para a fei­joa­da, real­iza­da no meio de uma rua no bair­ro de Realen­go, na zona oeste da cidade, todo dia 23 de abril. A comem­o­ração reúne ami­gos que, assim como Caio, são devo­tos do chama­do San­to Guer­reiro e gostam de fes­te­jar a data.

“Eu sem­pre fiz uma fei­joa­da com a min­ha família. Meu pai é muito devo­to de São Jorge. Eu tam­bém. Ten­ho uma lig­ação muito forte com esse san­to guer­reiro, min­ha irmã nasceu nesse dia. Sou católi­co, ten­ho mui­ta fé e a gente tem essa tradição”, con­ta.

Caio tam­bém ia a fei­joadas na casa de ami­gos que, há algum tem­po, resolver­am se unir para pro­mover a fes­ta na rua, a “Fei­joa­da dos Ami­gos”, que, segun­do ele, só reúne “pes­soas do bem”.

“A gente sem­pre teve cuida­do para que a coisa ven­ha para o lado pos­i­ti­vo. Quer­e­mos pes­soas ‘do bem’ do nos­so lado, com ener­gia pos­i­ti­va, um coração bom, para cel­e­brar esse dia tão espe­cial”.

Ape­sar de São Jorge ser um san­to católi­co, a cel­e­bração de seu dia, 23 de abril, com fei­joadas extrap­o­la as fron­teiras dessa religião. A origem do fes­te­jo vem, na real­i­dade, das religiões de matriz africana.

“O cul­to a São Jorge no Brasil é mar­ca­do prin­ci­pal­mente pelo sin­cretismo. Nesse caso, esta­mos falan­do do orixá Ogum”, expli­ca o mestre em edu­cação João Vic­tor Gonçalves Fer­reira, que pesquisou sobre as fes­tivi­dades de São Jorge na cidade do Rio de Janeiro.

Na época da escravidão, os africanos apri­sion­a­dos e trazi­dos à força para o Brasil asso­ci­avam seus orixás a fig­uras católi­cas para que pudessem man­ter cul­tos ances­trais sem serem impor­tu­na­dos pelos escrav­is­tas cristãos. Assim nasceu o sin­cretismo reli­gioso brasileiro.

Ogum, deus do fer­ro e da guer­ra na mitolo­gia iorubá, foi asso­ci­a­do a São Jorge, um sol­da­do romano mar­t­i­riza­do em nome da fé cristã.

Origem da feijoada

Ogum é tam­bém o orixá da agri­cul­tura e, aqui no país, seu cul­to se conec­ta com a fei­joa­da, um pra­to tipi­ca­mente brasileiro, feito com base em uma semente legu­mi­nosa que ocorre tan­to na África quan­to nas Améri­c­as e que se tornou um dos ali­men­tos sagra­dos no can­domblé, o fei­jão (Phase­o­lus sp).

Cred­i­ta-se a Procó­pio Xavier de Souza, o Pai Procó­pio, do Ilê (ter­reiro) Ogun­já, em Sal­vador, o iní­cio da tradição, ain­da no iní­cio do sécu­lo 20. Há várias ver­sões para a origem da fei­joa­da.

Uma delas é que Pai Procó­pio teria briga­do com um fil­ho de san­to e lhe nega­do a comi­da que havia em sua casa. Por isso, foi repreen­di­do pelo orixá Ogum, o qual teria orde­na­do ao babalorixá que real­izasse uma grande fei­joa­da e con­vi­dasse várias pes­soas, em espe­cial o fil­ho de san­to.

A fei­joa­da virou uma tradição em Ogun­já e se espal­hou para out­ros ter­reiros, casas e locais comu­nitários do país.

“O deus da tec­nolo­gia, da agri­cul­tura [Ogum] é asso­ci­a­do a um san­to católi­co muito pop­u­lar, ambos com viés de vitória, de com­bate, de super­ar as difi­cul­dades da vida cotid­i­ana, de botar a comi­da na mesa. Os dois são men­ciona­dos sem­pre pelas pes­soas em momen­tos de provação, de difi­cul­dades”, expli­ca Fer­reira. “Esse deus da agri­cul­tura recebe o fei­jão como ali­men­to típi­co do Brasil. E aí São Jorge pas­sa a com­er na mesa de Ogum e a par­til­har com ele essa fei­joa­da”.

No Rio de Janeiro, sam­ba e devoção de unem. No esta­do, é tradição tam­bém que esco­las de sam­ba ofer­eçam a fei­joa­da de Ogum/São Jorge. A atu­al campeã do car­naval car­i­o­ca, a Unidos do Viradouro, de Niterói, é uma delas.

“Tan­to eu quan­to o mestre-sala, o Julin­ho [Nasci­men­to], somos muito devo­tos de São Jorge”, expli­ca a dança­ri­na Rute Alves, que é por­ta-ban­deira da esco­la de sam­ba. “O Julin­ho tem um fil­ho que nasceu no dia 23 e se chama Jorge. Aqui [na Viradouro] não é só uma fei­joa­da, mas tam­bém é anun­ci­a­da a equipe para o car­naval seguinte, fala-se sobre o enre­do. A fei­joa­da fica sendo um mar­co para o iní­cio dos tra­bal­hos”.

Edição: Graça Adju­to

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