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Dez anos após tragédia, região serrana sedia governo do Rio por 3 dias

Em 12 de janeiro de 2011, o bairro Campo Grande foi arrasado por chuvas que deixaram um rastro de destruição.Cinco anos depois, a vegetação esconde o que restou de antigas casas.
© Tomaz Silva/Agência Brasil (Repro­dução)

Neste domingo, a sede do governo estadual está em Nova Friburgo


Pub­li­ca­do em 10/01/2021 — 07:48 Por Léo Rodrigues — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

A sede do gov­er­no do esta­do do Rio de Janeiro será trans­feri­da por três dias para a região ser­rana para mar­car os dez anos das chu­vas tor­ren­ci­ais que causaram enchentes e desliza­men­tos de ter­ra em janeiro de 2011. Segun­do dados ofi­ci­ais, na época 918 pes­soas mor­reram. Além dis­so, 30 mil moradores ficaram desa­lo­ja­dos. O episó­dio é con­sid­er­a­do um dos maiores desas­tres socioam­bi­en­tais do país.

Os três municí­pios mais atingi­dos na tragé­dia serão cap­i­tais do esta­do por um dia no iní­cio da próx­i­ma sem­ana. Nova Fribur­go, Teresópo­lis e Petrópo­lis sedi­arão o gov­er­no, respec­ti­va­mente, neste domin­go (10), na segun­da-feira (11) e na terça-feira (12). A trans­fer­ên­cia da sede do exec­u­ti­vo estad­ual con­s­ta em decre­to assi­na­do na últi­ma terça-feira (5) pelo gov­er­nador em exer­cí­cio, Cláu­dio Cas­tro. Tam­bém foi insti­tuí­do luto ofi­cial nos três dias.

Na agen­da de ativi­dades da comi­ti­va lid­er­a­da pelo gov­er­nador, con­stam um sobrevoo pelos municí­pios mais atingi­dos, vis­i­tas a locais sim­bóli­cos, reunião com víti­mas da tragé­dia, encon­tro com prefeitos e vis­to­ria de obras de unidades habita­cionais.

De acor­do com o gov­er­no, será um momen­to para ouvir deman­das dos municí­pios e de suas pop­u­lações e dis­cu­tir ações para pre­venção de novas tragé­dias. Tam­bém estão pre­vis­tos atos ecumêni­cos em memória às víti­mas, hom­e­nagem aos bombeiros que tra­bal­haram nas oper­ações de res­gate e anún­cio de mel­ho­rias para a região.

A casa de Gilson da Cunha, 68 é a única que permanece ocupada nesta rua do distrito de Conselheiro Paulino. Gilson está fazendo obras de contenção para evitar outros desastres
Tragé­dia que tam­bém atingiu Nova Fribur­go com­ple­ta 10 anos em janeiro — Tânia Rêgo/Agência Brasil (Repro­dução)

Temporal

O tem­po­ral de 11 de janeiro de 2011 foi pre­vis­to pelo Insti­tu­to Nacional de Mete­o­rolo­gia (Inmet). Um avi­so mete­o­rológi­co espe­cial foi emi­ti­do para o gov­er­no estad­ual por vol­ta de 16h20. Frei Marce­lo Toy­an­sk, que se incor­porou por cin­co anos à coor­de­nação da Asso­ci­ação de Víti­mas da Tragé­dia de Teresópo­lis (AVIT), con­ta que os sinais de dev­as­tação per­du­raram no tem­po.

“Cam­po Grande foi o bair­ro mais afe­ta­do. Fui muitas vezes lá. O bair­ro pare­cia ter pas­sa­do por uma guer­ra. Pedras enormes rolaram lá de cima sobre as casas. No bair­ro vivi­am cen­te­nas de famílias”, lem­bra.

Toy­an­sk acred­i­ta que, diante do taman­ho da tragé­dia, nem todos as mortes estão ofi­cial­mente reg­istradas e avalia que o sofri­men­to foi agrava­do com os des­do­bra­men­tos do episó­dio, que incluíram morosi­dade no reassen­ta­men­to, difi­cul­dade na lib­er­ação de recur­sos, o atra­so nas obras e fal­ta de atendi­men­to psi­cológi­co ade­qua­do, entre out­ros prob­le­mas.

“Não é a chu­va a vilã. É um prob­le­ma estru­tur­al mais com­plexo. Ter toda essa pop­u­lação em área de risco é resul­ta­do de um caos social e políti­co. E mes­mo após a tragé­dia hou­ve um desca­so muito grande, que ger­ou mais sofri­men­to. Muitas víti­mas con­tin­uaram viven­do em área de risco por muito tem­po”, disse.

Vista do Morro do Bumba, onde casas à beira da cratera ainda ameaçam desabar
Vista do Mor­ro do Bum­ba, onde casas à beira da crat­era ain­da ameaçam desabar

Reassentamento

Segun­do rela­ta Toy­an­sk, muitos dos atingi­dos de Teresópo­lis foram reassen­ta­dos em unidades pop­u­lares entregues em 2016. Essa era con­sid­er­a­da a deman­da prin­ci­pal da AVIT, pois inúmeras víti­mas enten­di­am que só com um novo imóv­el pode­ri­am recon­stru­ir suas vidas. Havia exceções, pois alguns desa­lo­ja­dos prefe­ri­am ser ind­eniza­dos. Enquan­to as situ­ações indi­vid­u­ais não se resolvi­am, cada família pre­cisou se virar com o aluguel social, um repasse finan­ceiro do gov­er­no estad­ual.

“Muitas pes­soas perder­am tudo, lit­eral­mente. Perder­am seus par­entes, casa e doc­u­men­tos. Muitas ficaram doentes. Rece­ber o aparta­men­to era fun­da­men­tal para pelo menos sair da situ­ação do aluguel social, que não era sufi­ciente, e, dessa for­ma, a pes­soa aca­ba indo para out­ra área de risco, viven­do com medo das chu­vas”, acres­cen­ta Toy­an­sk. Ele desta­ca, porém, que não sabe diz­er se todas as víti­mas foram con­tem­pladas. De acor­do com a Sec­re­taria de Esta­do de Desen­volvi­men­to Social e Dire­itos Humanos, 819 famílias ain­da recebem o aluguel social atual­mente.

Após a tragé­dia, o gov­er­no estad­ual e fed­er­al prom­e­ter­am con­jun­ta­mente 4.707 mil unidades habita­cionais para socor­rer as víti­mas de toda a região ser­rana. Segun­do a Sec­re­taria de Esta­do de Infraestru­tu­ra e Obras (Sein­fra), foram entregues até hoje 4.219, das quais 2.337 em Nova Fribur­go, 1.600 em Teresópo­lis, 222 em Bom Jardim, 50 em Petrópo­lis e 10 em São José do Vale do Rio Pre­to.

Ao todo, já teri­am sido investi­dos R$ 521,5 mil­hões, sendo R$ 302 mil­hões lib­er­a­dos pelo gov­er­no fed­er­al e out­ros R$ 291,5 mil­hões vier­am dos cofres estad­u­ais.

“Esta­mos final­izan­do a infraestru­tu­ra para a entre­ga de 153 unidades em Are­al. A Sein­fra está bus­can­do com o gov­er­no fed­er­al recur­sos para a con­strução de mais 330 unidades em Petrópo­lis, 120 em São José do Rio Pre­to e 128 em Sum­i­douro”, acres­cen­ta a sec­re­taria. Para pre­venir novas tragé­dias a Sein­fra afir­ma ter con­cluí­do 93 con­tenções de encostas.

Edição: Kle­ber Sam­paio

Agên­cia Brasil / EBC


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