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Dia da Amazônia: famílias criam modelo de negócio com restauração

Repro­dução: © Leonar­do Milano/ICMBio

Projeto possibilita melhora na qualidade do plantio


Publicado em 05/09/2024 — 10:07 Por Fabíola Sinimbú — Repórter da Agência Brasil — Brasília

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Na região Oeste do Pará, nos municí­pios de Bel­ter­ra, Itaitu­ba, Mojuí dos Cam­pos e Trairão, famílias estão pro­moven­do uma trans­for­mação no ambi­ente em que vivem por meio da recu­per­ação da veg­e­tação nati­va em suas pro­priedades. Neste 5 de setem­bro, Dia da Amazô­nia, con­heça o pro­je­to que pro­duz ali­men­tos, novas mudas, sementes e ain­da gera ren­da por meio do mod­e­lo de Sis­temas Agroflo­restais (SAFs).

Con­heci­da como San­da, a agricul­to­ra Rosân­gela Sil­va Pereira, que vive em Trairão, plan­tou cer­ca de 200 mudas no quin­tal e na roça per­to de onde mora. Ela con­ta que o movi­men­to foi moti­va­do por dois grandes pro­je­tos, um que criou um viveiro cole­ti­vo na comu­nidade, e out­ro que capac­i­tou as famílias a pro­duzirem ali­men­tos e árvores da Amazô­nia.

“Aqui, a dev­as­tação era muito grande, então a gente rece­beu algu­mas mudas e out­ras a gente cole­tou as sementes por aqui, então, cada SAF plan­tou de 180 a 200 mudas con­sor­ci­adas. Tem frutíferas, madeira flo­re­stal e tam­bém macax­eira, melan­cia, abób­o­ra e out­ras cul­turas de pequeno ciclo”, expli­ca.

A capac­i­tação e a estru­tu­ração dos SAFs inte­gram o Pro­je­to de Restau­ração da Flo­res­ta Amazôni­ca no Tapa­jós, que visa esta­b­ele­cer uma rede com ban­cos de sementes e viveiros flo­restais para abaste­cer a região com espé­cies nati­vas. As mudas de açaí, cupuaçu, cacau, andiro­ba, cedro, copaí­ba, gravi­o­la, acero­la, ipê, jacarandá e uru­cum serão usadas tan­to para ger­ar ren­da na ven­da a out­ros inter­es­sa­dos no mod­e­lo, quan­to para a recu­per­ação das áreas de preser­vação per­ma­nentes.

Enquan­to em Trairão, as famílias optaram por for­t­ale­cer a pro­dução do viveiro que já exis­tia, em Mojuí dos Cam­pos, Sue­len Cos­ta Feitosa plan­tou mais de 500 mudas em sua pro­priedade, onde pri­or­i­zou cupuaçu para for­t­ale­cer a pro­dução de choco­late com a amên­doa do fru­to region­al. Ela diz que o pro­je­to pos­si­bil­i­tou a mel­ho­ra na qual­i­dade do plan­tio e tam­bém a insta­lação de um viveiro cole­ti­vo com capaci­dade para 20 mil mudas.

Brasília (DF) 05/09/2024 - Suelen Costa Feitosa - Projeto restaura Tapajós .Foto: ASAFAB/ divulgação
Repro­dução: Sue­len Feitosa plan­tou mais de 500 mudas e pri­or­i­zou cupuaçu para for­t­ale­cer pro­dução de choco­late com a amên­doa do fru­to region­al. Foto ‑ASAFAB/ divul­gação

“A gente já tin­ha a cul­tura aleatória, que a gente chama de quin­tais pro­du­tivos, mas ago­ra a gente pas­sou a tra­bal­har com os SAFs, cujo obje­ti­vo maior é restau­rar o meio ambi­ente. Como a gente tra­bal­ha com agri­cul­tura, a gente escol­heu plan­tar pro­du­tos que tam­bém nos tragam ren­da”, argu­men­ta.

Assistência técnica

A ini­cia­ti­va é resul­ta­do de uma ver­dadeira força-tare­fa com implan­tação — pro­movi­da pela orga­ni­za­ção não gov­er­na­men­tal Con­ser­vação Inter­na­cional (CI-Brasil) — e a assistên­cia téc­ni­ca pro­movi­da pelo Insti­tu­to de Pesquisa Ambi­en­tal da Amazô­nia (Ipam).

Os agricul­tores par­tic­i­pantes foram iden­ti­fi­ca­dos e mobi­liza­dos pelas asso­ci­ações de agricul­tores e par­tic­i­param de um cur­so orga­ni­za­do pelo Lab­o­ratório de Sementes Flo­restais, da Uni­ver­si­dade Fed­er­al do Oeste do Pará (Ufopa).

O pro­je­to pas­sou por três fas­es: capac­i­tação, cri­ação ou mel­ho­ria dos ban­cos de sementes e viveiros, e a recu­per­ação de áreas des­matadas por meio dos SAFs ou da Regen­er­ação Nat­ur­al.

Na capac­i­tação foram abor­da­dos des­de con­hec­i­men­tos cien­tí­fi­cos sobre as espé­cies nati­vas, até ben­e­fi­ci­a­men­to da pro­dução, secagem, armazena­men­to e aspec­tos legais, além de con­hec­i­men­tos sobre pro­dução de mudas, área de cole­tas de sementes e viveiros flo­restais.

Para diminuir as per­das no plan­tio, os agricul­tores tam­bém rece­ber­am con­hec­i­men­tos sobre enriquec­i­men­to de sub­stra­to, ajustes no sis­tema de irri­gação e uso de fer­ra­men­tas como o GPS para geor­ref­er­en­ci­a­men­to de árvores matrizes, por exem­p­lo.

A coor­de­nado­ra de pro­je­tos da CI Brasil, Maria Farias, obser­va que o Restau­ra Tapa­jós tem como meta a sus­tentabil­i­dade socioam­bi­en­tal e pro­du­ti­va, a par­tir da com­bi­nação de cul­turas com a con­ser­vação flo­re­stal.

“Isso revi­tal­iza toda a bio­di­ver­si­dade, pro­move solos mais saudáveis; com mais flo­restas temos maior seque­stro de car­bono e isso pode ger­ar novas fontes de ren­da para as comu­nidades. Com isso, mel­ho­ra a segu­rança ali­men­tar, diminui a pressão sobre as flo­restas nati­vas e ain­da favorece o tra­bal­ho para um for­ma­to mais pro­du­ti­vo e para uma vivên­cia no cam­po mais resiliente”, opina.

O pro­je­to de restau­ro alcançou 100 famílias em Bel­ter­ra, Itaitu­ba, Mojuí dos Cam­pos e Trairão. Os par­tic­i­pantes pud­er­am ain­da vis­i­tar mod­e­los de SAFs em Tomé-Açu, onde con­hece­r­am téc­ni­cas capazes de mel­ho­rar as condições de desen­volvi­men­to e resistên­cia das plan­tas, geran­do maior quan­ti­dade de fru­tos e maior qual­i­dade, o que pos­si­bili­ta mel­ho­ria na ren­da. Os gru­pos tam­bém pud­er­am enten­der, na práti­ca, a importân­cia de des­ti­nar uma área para fins de restau­ro e out­ra para regen­er­ação nat­ur­al com enriquec­i­men­to, pos­si­bil­i­tan­do um equi­líbrio nat­ur­al que ben­e­fi­cie todo o sis­tema.

Os SAFs, viveiros e ban­cos de sementes foram implan­ta­dos trans­for­man­do a for­ma tradi­cional de pro­duzir na região. Logo no iní­cio do pro­je­to, o primeiro desafio surgiu após o plan­tio de mudas. Com a esti­agem mais inten­sa em 2023, muitas famílias perder­am parte de seus plan­tios, mas a assistên­cia téc­ni­ca per­mi­tiu a con­tinuidade do pro­je­to.

“Os téc­ni­cos que vier­am nos dar assistên­cia eles ain­da con­tin­u­am vol­un­tari­a­mente, eles são bem par­ceiros. Quan­do temos algu­ma dúvi­da sobre a nos­sa área, a gente entra em con­ta­to e eles dão dicas e estu­dam os nos­sos casos através de vídeos e fotos”, afir­ma Sue­len.

Perdas

Mes­mo com a diminuição do des­mata­men­to nos dois últi­mos anos, a Amazô­nia perdeu o equiv­a­lente a mil cam­pos de fute­bol por dia, entre agos­to de 2023 e jul­ho 2024, soman­do 349 mil hectares, segun­do o Sis­tema de Aler­ta de Des­mata­men­to (SAD), do Insti­tu­to do Homem e Meio Ambi­ente da Amazô­nia (Ima­zon). A área afe­ta­da rep­re­sen­ta uma redução de 46% em relação ao mes­mo perío­do do ano ante­ri­or, mas, nos meses de jun­ho e jul­ho deste ano — na com­para­ção com 2023 -, hou­ve cresci­men­to de 29% em jul­ho e de 10% em jun­ho.

Maria Farias reforça a importân­cia de avançar na recu­per­ação dos bio­mas nativos, agre­gan­do tec­nolo­gias que pos­sam per­mi­tir adap­tação na pro­du­tivi­dade.

“A gente sabe que nem tudo são flo­res, as mudanças climáti­cas estão aí e vêm geran­do grandes impactos neg­a­tivos, prin­ci­pal­mente a seca de 2023 que diz­imou boa parte dos plan­tios, deixan­do um apren­diza­do da importân­cia de se con­tin­uar esse mod­e­lo de restau­ração, porém, adap­tan­do tec­nolo­gias de irri­gação para que os SAFs se con­soli­dem de maneira sus­ten­táv­el”, sus­ten­ta.

Os avanços e retro­ces­sos difi­cul­tam o pro­gres­so da meta brasileira de zer­ar dois fatores que impul­sion­am forte­mente a mudança climáti­ca: o des­mata­men­to e o pas­si­vo ambi­en­tal em relação ao Códi­go Flo­re­stal.

“Sabe­mos que é pre­ciso reflo­restar para que se ten­ha um cli­ma de qual­i­dade. A deman­da é gigan­tesca por sementes diver­sas e em quan­ti­dade. Isso é um gar­ga­lo impor­tante a ser con­sid­er­a­do. Para isso, é necessário que se con­solide a rede de sementes do Tapa­jós”, pre­coniza Maria Farias.

Para ela, além de pro­mover a inte­gração das redes region­ais, é pre­cioso ain­da mais capac­i­tação, envolvi­men­to dos gov­er­nos e de pro­je­tos da ini­cia­ti­va pri­va­da e disponi­bi­liza­ção de crédi­to e assistên­cia téc­ni­ca. “Tudo com atenção tan­to para as sementes flo­restais, como para as de com­bate à fome que dão segu­rança nutri­cional e ali­men­tar para as famílias, respei­tan­do, sem­pre, o modo de vida das nos­sas pop­u­lações”, final­iza.

 

Edição: Kle­ber Sam­paio

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