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Dia das Crianças: o que elas esperam do futuro pós-pandemia

Repro­dução: © Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Especialista recomenda que momento é para focar em atividades lúdicas


Pub­li­ca­do em 12/10/2021 — 07:00 Por Lud­mil­la Souza — Repórter da Agên­cia Brasil — São Paulo

As estu­dantes Letí­cia, de 8 anos de idade, e Maitê, de 7 anos, estu­dam na mes­ma sala do 2º ano do ensi­no fun­da­men­tal de uma esco­la da zona leste de São Paulo. Elas estão entre as mil­hares de cri­anças que enfrentaram o primeiro ano da pan­demia com aulas online e afas­tadas de par­entes e ami­gos da esco­la. 

Este ano, elas voltaram a estu­dar pres­en­cial­mente, mas ain­da não é como antes, con­ta a Maitê Bel­len­tani Ben­to. “Não pode abraçar, nem dar as mãos para faz­er aque­la brin­cadeira de ficar giran­do”.

Maitê voltou às aulas em agos­to, depois de muito insi­s­tir com a mãe. “Meu primeiro dia foi bem legal. Quan­do cheguei me cumpri­men­ta­ram com ale­gria. Porque quan­do eu fazia aula online, eu fica­va implo­ran­do para min­ha mãe deixar eu voltar para a esco­la. Aí, ela me deu uma opor­tu­nidade e eu fui para a esco­la”, disse entu­si­as­ma­da.

Mes­mo com a vol­ta à esco­la, algu­mas ativi­dades ain­da estão restri­tas, o que deixa Maitê entris­te­ci­da.  “Já faz dois anos que meus ami­gos não vêm nos meus aniver­sários, tam­bém ten­ho saudade de sair com meus pri­mos e saudade das min­has ami­gas aqui na min­ha casa”.

Letí­cia Oliveira de Paula tam­bém sente fal­ta de uma fes­ta. “Não pode faz­er fes­ta, não pode chamar meus ami­gos aqui em casa”, lamen­ta. Da esco­la, ela sen­tiu saudade de con­ver­sar com os ami­gos, de per­to, “e sen­tir que eles estão lá!”. Ela voltou às aulas pres­en­ci­ais em fevereiro, quan­do foi autor­iza­do o retorno com 35% dos alunos por dia nas salas de aula.

As meni­nas relem­bram o iní­cio do iso­la­men­to social.  “Eu não gostei porque não podia ver meus pri­mos, ir na quadra e na pisci­na. A úni­ca coisa legal era quan­do eu lig­a­va de vídeo para min­has ami­gas e a gente brin­ca­va de boneca [online]”, con­ta Maitê.

“O iso­la­men­to foi difí­cil, faz­er aula online não é muito legal, porque na esco­la tem a pro­fes­so­ra para ver a gente e tam­bém não fica tra­van­do!”, disse Letí­cia em tom de brin­cadeira. Mas, mes­mo indo às aulas e seguin­do os pro­to­co­los san­itários, tem uma coisa que Letí­cia sente von­tade, e quer faz­er quan­do pud­er. “Tirar a más­cara, é o que eu mais ten­ho von­tade!”.

Vacina

Ape­sar do medo de ficar com o “braço doen­do”, a estu­dante Letí­cia não vê a hora de se pro­te­ger com a vaci­na con­tra a covid 19. “Ten­ho medo de meu braço ficar mole como uma slime [mass­in­ha de mod­e­lar caseira], mas tam­bém estou ansiosa porque vou estar pro­te­gi­da da covid!”.

Maitê tam­bém diz que quer logo tomar a vaci­na e sabe muito bem porque é necessária. “Quero tomar logo, porque quan­to mais gente for toman­do, mais essa covid vai emb­o­ra. Tchau, tchau, covid­in­ha!!!”, brin­ca a meni­na.

Um mundo melhor

Para essas meni­nas, o mun­do pós-pan­demia será mel­hor e mais feliz. “As pes­soas vão poder sair e via­jar jun­tas, faz­er encon­tros, abraçar umas às out­ras, tomar sorvete jun­tas, ir nos aniver­sários uma das out­ras, brin­car jun­tos. E sem usar as más­caras. O mun­do vai ser assim, mais  feliz!”, disse Maitê.

Letí­cia torce por um mun­do difer­ente quan­do acabar a pan­demia. “Estará bem mel­hor, porque todo mun­do vai poder se ver, falar sem más­cara, e vai poder se abraçar, falar per­t­in­ho, isso tam­bém vai ser mel­hor”. E com­ple­ta, “acho que o mun­do vai ficar mel­hor, porque vai ter a lição que a pan­demia acon­te­ceu, e as pes­soas não vão mais ficar tossin­do em cima das out­ras, vai ten­tar não ter mui­ta aglom­er­ação e ficará essa lição de que não foi legal e não vai quer­er ter uma pan­demia de novo”.

Ape­sar de todos os pon­tos neg­a­tivos da pan­demia, uma lem­brança boa ficará na memória da Letí­cia. “Vou lem­brar de ficar mais per­to da min­ha mãe. Eu fica­va na na aula online, no escritório com ela”.

E quan­do for dec­re­ta­do o fim da pan­demia, Letí­cia diz que quer abraçar tan­ta gente que nem sabe quem será a primeira. “Mas eu que­ria muito poder abraçar as min­has ami­gas da esco­la! Tam­bém estou com mui­ta saudade de ficar via­jan­do para os lugares”.

Retomada das atividades

O que essas duas cri­anças descrevem mostra a esper­ança em um futuro pós-pan­demia e que aos poucos as ativi­dades estão sendo retomadas, mas ain­da é pre­ciso ir deva­gar com  o retorno às ativi­dades cole­ti­vas, e ser fei­ta respei­tan­do a indi­vid­u­al­i­dade e a car­ac­terís­ti­ca de cada cri­ança, ori­en­ta a psicólo­ga e psi­coter­apeu­ta pos­i­ti­va Luciana Deutsch­er.

“Os pais podem ajudá-las con­ver­san­do antes para saber como ela se sente com essa vol­ta, com esse retorno para esco­la, com essa nova social­iza­ção, e como é que eles se sen­tem reven­do os ami­gos. Por menor que a cri­ança seja, se você explicar, con­ver­sar com ela na lin­guagem dela, ela sem­pre vai enten­der. Temos uma questão cul­tur­al, às vezes, de não con­ver­sar com as cri­anças, mas o diál­o­go e a con­ver­sa são sem­pre a mel­hor alter­na­ti­va”, ori­en­ta a psicólo­ga.

Mes­mo que a cri­ança apre­sente esta von­tade de tirar logo a más­cara, como a Letí­cia se man­i­festou, é pre­ciso explicar para a cri­ança que ain­da é pre­ciso con­tin­uar com os cuida­dos como o uso do álcool gel e da más­cara. “Mas que ela vai poder estar no mes­mo lugar que a pro­fes­so­ra, com os ami­gos, e que vai poder voltar a vis­i­tar a casa dos avós”, disse Luciana Deutsch­er.

Atividades lúdicas

O desen­volvi­men­to cog­ni­ti­vo na infân­cia exige ativi­dades lúdi­cas, em grupo e com con­ta­to. A pan­demia inter­rompeu esse proces­so, prej­u­di­can­do o pro­gres­so de grande parte das cri­anças. Além dis­so, a alta exposição às telas pode ter cau­sa­do dependên­cia. Para mudar esse cenário, a psicólo­ga defende que as esco­las dev­e­ri­am aproveitar o momen­to para focar nas ativi­dades lúdi­cas.

“Vejo no meu con­sultório os pais recla­man­do que as esco­las estão dan­do mui­ta importân­cia ain­da para a questão do con­teú­do e muito pouco para essa questão de laz­er das cri­anças e mes­mo dos maiores. Prin­ci­pal­mente as cri­anças peque­nas recla­mam que não querem ir para a esco­la porque não podem faz­er nada, não podem brin­car, e tudo é real­iza­do den­tro da sala de aula, sem ativi­dades exter­nas por con­ta da pan­demia, quan­do na ver­dade sabe­mos que bas­ta ter cria­tivi­dade e paciên­cia!”, disse Luciana.

Para a espe­cial­ista, é pre­ciso dosar as ativi­dades na esco­la, em casa, com os pri­mos e ami­gos que respeit­em os pro­to­co­los san­itários. “Deve­mos inserir o lúdi­co no meio dis­so tudo! E nis­so eu perce­bo que as esco­las estão lig­an­do muito mais para o con­teú­do do que para a diver­são e laz­er, e isso, na min­ha per­cepção, é muito erra­do! Ago­ra não devia ser uma época para encher cri­ança peque­na de lição de casa, de tare­fa, e man­ter den­tro da sala o tem­po inteiro. Devia ser uma época onde dev­eríamos estar em ambi­entes exter­nos, com uma roda com dis­tan­ci­a­men­to, onde faríamos ativi­dades a mais com laz­er durante o dia para poder tra­bal­har com a ansiedade das cri­anças”.

Novo normal

O “novo nor­mal” traz jun­to ativi­dades que foram necessárias durante o iso­la­men­to social, como o uso de telas pelas cri­anças. E para chamar a atenção das cri­anças para out­ras  ativi­dades, é pre­ciso explicar aos pequenos e incen­tivá-los, acon­sel­ha a psicólo­ga.

“Para as cri­anças que são muito depen­dentes das telas de celu­lar e com­puta­dor,  é necessário regrar essa con­vivên­cia. Ago­ra é explicar que volta­mos às ativi­dades na esco­la, que as coisas estão voltan­do para o pres­en­cial, que, se antes ela podia ficar mais tem­po no videogame, porque ela não tin­ha todas as ativi­dades, ago­ra ela está retoman­do as essas ativi­dades e pre­cisa plane­jar o tem­po. E se se deu essa liber­dade durante a pan­demia, foi para ela poder con­ver­sar com os cole­gas online, e que ela ficou mais à frente da tevê, porque ela não tin­ha esse espaço fora e até porque a mãe e o pai pre­cisavam tra­bal­har den­tro de casa”, expli­ca a psicólo­ga.

O momen­to foi de adap­tação das ativi­dades esco­lares com as ativi­dades profis­sion­ais dos pais, acres­cen­ta a psicólo­ga, que é cri­ado­ra do Pro­to­co­lo de Apoio Psi­cológi­co Pós-Covid especí­fi­co, ten­do acom­pan­hado mais de 250 pacientes pós-covid 19.

“A gente nem sem­pre faz tudo que gostaríamos de faz­er, pre­cisamos ser flexíveis e prin­ci­pal­mente nos adap­tar­mos a essa flex­i­bil­i­dade, e essa adap­tação ain­da vai con­tin­uar. O corte não pode ser dado repenti­na­mente, com essa retoma­da do con­vívio social. Então, por isso, é fun­da­men­tal o diál­o­go. As cri­anças enten­dem con­forme vamos expli­can­do e con­forme vamos repetindo”, disse Luciana Deutsch­er.

Assim como citaram as meni­nas Letí­cia e Maitê, a espe­cial­ista acred­i­ta que o que as cri­anças mais querem faz­er quan­do a pan­demia for con­ti­da, é mes­mo poder se abraçar com liber­dade e con­viv­er social­mente.

“Acred­i­to que tam­bém os maiores anseios é quan­do essa pan­demia for con­ti­da vai ser de poder abraçar, bei­jar, de não ter essa liber­dade tol­hi­da do con­vívio social. Poder faz­er uma fes­ta de aniver­sário com mais gente, como a gente fazia antiga­mente, poder ir ao cin­e­ma, ao teatro, pode mes­mo con­viv­er mais social­mente. Eu acho que o que as cri­anças pedem por esse futuro pós-pan­demia, que não está tão longe”, disse.

Neste Dia das Cri­anças, Letí­cia, Maitê e tan­tas out­ras cri­anças ain­da não poderão se abraçar longa­mente e brin­car como antes da pan­demia. Mas, Maitê espera que isso acon­teça logo. “Vamos brin­car jun­tos, sem usar as más­caras. O mun­do vai ser assim, mais feliz!”.

Edição: Fer­nan­do Fra­ga

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