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Dia de Combate ao Alcoolismo: médicos alertam sobre danos à saúde

Repro­dução: © Arquivo/Marcelo Camargo/Agência Brasil

Pesquisa mostra que 55% da população brasileira têm hábito de beber


Pub­li­ca­do em 18/02/2022 — 06:34 Por Lud­mil­la Souza — Repórter da Agên­cia Brasil — São Paulo

A sex­ta-feira, para muitos, é o dia de tomar uma cerve­jin­ha com os ami­gos ou out­ra bebi­da para relaxar das ativi­dades do dia a dia. Mais da metade da pop­u­lação brasileira, 55%, têm o cos­tume, mostra pesquisa fei­ta pelo Insti­tu­to Brasileiro do Fíga­do (Ibrafig), sendo que 17,2% declararam aumen­to do con­sumo durante a pan­demia de covid-19, asso­ci­a­do a quadros de ansiedade graves por causa do iso­la­men­to social.

Hoje, 18 de fevereiro, é o Dia Nacional de Com­bate ao Alcoolis­mo, data des­ti­na­da a con­sci­en­ti­zar sobre danos e doenças que o con­sumo exces­si­vo de bebidas alcoóli­cas pode causar, tan­to em home­ns quan­to em mul­heres.

De acor­do com o lev­an­ta­men­to da Ibrafig, uma em cada três pes­soas no país con­some álcool pelo menos uma vez na sem­ana. O con­sumo abu­si­vo de bebidas alcoóli­cas foi relata­do por 18,8% dos brasileiros ouvi­dos na pesquisa. Os dados foram lev­an­ta­dos com base na respos­ta de 1,9 mil pes­soas, nas cin­co regiões do país. O estu­do mostra ain­da que, em média, os brasileiros ingerem três dos­es de álcool por ocasião, o que rep­re­sen­ta 450ml de vin­ho ou três latas de cerve­ja.

Diver­sos fatores podem des­en­cadear a dependên­cia alcoóli­ca, diz o psiquia­tra Rafael Mak­sud, da Clíni­ca Ame.C. “Fatores que podem des­en­cadear a dependên­cia alcoóli­ca são a pre­dis­posição genéti­ca, o iní­cio pre­coce do uso, doenças men­tais pre­ex­is­tentes, condições cul­tur­ais como asso­ciar o álcool à diver­são, históri­co de abu­so sex­u­al, vio­lên­cia domés­ti­ca, curiosi­dade, inse­gu­rança, entre out­ros”.

Mak­sud é da Asso­ci­ação Brasileira de Psiquia­tria (ABP) e espe­cial­ista em Saúde Públi­ca, Dependên­cia Quími­ca e Psiquia­tria Inte­gra­ti­va pelo Cen­tro de Atenção Psi­cos­so­cial (Caps) e pelo Núcleo Ampli­a­do de Saúde da Família e Atenção Bási­ca (Nasf-AB).

Ele lem­bra que as con­se­quên­cias do alcoolis­mo a lon­go pra­zo são neg­a­ti­vas sobre a saúde físi­ca e psíquica e, na maio­r­ia das vezes, causam pre­juí­zos graves em todos os âmbitos da vida — lab­o­ral, famil­iar ou social. “Como exem­p­lo, podemos citar a hepatite, cir­rose, hiperten­são, o aumen­to do risco de aci­dente vas­cu­lar isquêmi­co, dis­túr­bios sex­u­ais diver­sos, demên­cia, abstinên­cias sev­eras, depressão, ansiedade e psi­coses induzi­das pelo álcool”.

O con­sumo de bebidas nos fins de sem­ana, que geral­mente começa na sex­ta-feira e só ter­mi­na no domin­go, leva mui­ta gente a crer que não é depen­dente do álcool, mas o hábito tam­bém pode causar danos à saúde, aler­tou o médi­co.

“Nesse caso, ini­cial­mente não se car­ac­ter­i­za uma dependên­cia alcoóli­ca, poden­do, porém, ser enten­di­do como uso noci­vo de bebi­da alcoóli­ca. O uso noci­vo é um padrão de con­sumo que causa danos à saúde, físi­cos (como hepatite alcoóli­ca) ou men­tais (como pio­ra de quadros ansiosos e depres­sivos). Padrões nocivos de uso são fre­quente­mente crit­i­ca­dos por out­ras pes­soas e estão asso­ci­a­dos a con­se­quên­cias soci­ais adver­sas de vários tipos”.

Danos

O psiquia­tra expli­cou como o álcool atua no cére­bro. “Quan­do a pes­soa bebe se sente relax­a­da, já que sua per­cepção diminui. No entan­to, o con­sumo reg­u­lar reduz os níveis de sero­ton­i­na no cére­bro, um dos neu­ro­trans­mis­sores respon­sáveis pela sen­sação de praz­er e bem-estar. Sendo assim, o álcool agra­va a ansiedade e, prin­ci­pal­mente, a depressão”.

A psicólo­ga Mon­i­ca Macha­do, for­ma­da pela Uni­ver­si­dade de São Paulo, fun­dado­ra da Clíni­ca Ame.C, reforça que o con­sumo fre­quente de bebidas alcoóli­cas descon­tro­la a lib­er­ação reg­u­lar de sub­stân­cias cere­brais respon­sáveis pelo con­t­role emo­cional, o que ele­va a vul­ner­a­bil­i­dade às crises de ansiedade”.

Por isso, acres­cen­ta, “enten­der a relação entre ansiedade e álcool aju­da na bus­ca de respostas mais conc­re­tas para reduzir as con­se­quên­cias do con­sumo exces­si­vo de bebidas alcoóli­cas e do transtorno de ansiedade”.

O inver­so tam­bém pode acon­te­cer, ou seja, quem não tem dis­túr­bios pode desen­volvê-los com o con­sumo exces­si­vo de álcool. “A dependên­cia em álcool pode ser uma das razões para o desen­volvi­men­to de dis­túr­bios, como a ansiedade, mas essa situ­ação é com­plexa, já que a ansiedade tam­bém pode levar à dependên­cia alcoóli­ca”, afir­ma Môni­ca.

Além dos danos psíquicos e físi­cos, o alcoolis­mo pode com­pro­m­e­ter o raciocínio mes­mo quan­do a pes­soa está sóbria. “Mes­mo sóbrio, o paciente depen­dente de álcool, prin­ci­pal­mente após vários de anos de uso da sus­b­stân­cia, tende a apre­sen­tar diver­sos déficits cog­ni­tivos que podem, inclu­sive, se tornar per­ma­nentes.  Por exem­p­lo,  difi­cul­dades de memória, con­sol­i­dação de novos apren­diza­dos, redução da capaci­dade de abstração e res­olução de prob­le­mas, ele­men­tos impor­tantes para a con­strução do raciocínio”, aler­ta Mak­sud.

Mulheres e álcool

O alcoolis­mo atinge home­ns e mul­heres, mas, para elas, os prob­le­mas de saúde ocor­rem com maior rapi­dez, afir­ma o médi­co.  “Pesquisadores desco­bri­ram que as mul­heres têm maior vul­ner­a­bil­i­dade fisi­ológ­i­ca ao álcool. De acor­do com cien­tis­tas, as mul­heres pro­duzem quan­ti­dades menores da enz­i­ma álcool desidro­ge­nase (ADH), que é lib­er­a­da pelo fíga­do e usa­da para metab­o­lizar o álcool. Além dis­so, a gor­du­ra retém o álcool, enquan­to a água aju­da a dis­per­sá-lo. Logo, graças a seus níveis nat­u­ral­mente mais altos de gor­du­ra e mais baixos de água cor­po­ral, as mul­heres apre­sen­tam respos­ta fisi­ológ­i­ca ain­da mais com­pli­ca­da”.

Sendo assim, com­ple­ta, “mul­heres que con­somem álcool em exces­so tam­bém ten­dem a desen­volver dependên­cia e out­ros prob­le­mas de saúde com mais rapi­dez que os home­ns. Elas cos­tu­mam começar a beber mais tarde que os home­ns, mas lev­am muito menos tem­po para se tornar depen­dentes e apre­sen­tar doenças hep­áti­cas ou cardía­cas, por exem­p­lo.

Tratamento

Segun­do o psiquia­tra, o trata­men­to para o alcoolis­mo geral­mente é feito com acom­pan­hamen­to médi­co e ter­apêu­ti­co e alguns medica­men­tos podem colab­o­rar. “Quan­do bem avali­a­do e diag­nos­ti­ca­do, os medica­men­tos são bons coad­ju­vantes nos trata­men­tos do alcoolis­mo, pois aju­dam no proces­so de abstinên­cia e na pre­venção das recaí­das. O álcool estim­u­la indi­re­ta­mente a ativi­dade opióide endó­ge­na, ao pro­mover a lib­er­ação dos pep­tídeos endógenos na fen­da sináp­ti­ca.  Existe um tipo de med­icação que atua como antag­o­nista com­pet­i­ti­vo nos recep­tores opióides. Dessa for­ma, a admin­is­tração de antag­o­nistas opióides reduziria o con­sumo de álcool por meio do blo­queio pós-sináp­ti­co de alguns recep­tores”.

Tratamento gratuito

Alcoóli­cos Anôn­i­mos (AA): o grupo de aju­da mútua é refer­ên­cia no apoio ao alcoóla­tra que quer parar de beber. A par­tic­i­pação é gra­tui­ta e um dos grandes princí­pios é o sig­i­lo. Pre­sente no Brasil há 80 anos, o Alcoóli­cos Anôn­i­mos pos­sui reuniões em quase todas as cidades do Brasil.

Caps – AD: os Cen­tros de Atenção Psi­cos­so­cial – Álcool e Dro­gas são unidades de saúde feitas para aten­der gra­tuita­mente quem pre­cisa tratar o alcoolis­mo. O acom­pan­hamen­to é feito por médi­cos, psicól­o­gos e ter­apeu­tas. Tam­bém há aber­tu­ra para a par­tic­i­pação da família.

Quan­do o depen­dente mora em uma cidade que não tem o Caps – AD, pode procu­rar uma unidade tradi­cional (que cui­da da saúde men­tal) ou uma unidade bási­ca de saúde de seu municí­pio para faz­er o trata­men­to. Se hou­ver neces­si­dade de inter­nação, é o próprio Caps que faz a solic­i­tação e encam­in­ha o paciente para algu­ma das insti­tu­ições asso­ci­adas.

Prevenção

Para quem não quer ser depen­dente, algu­mas ati­tudes podem con­tribuir para inibir o con­sumo exces­si­vo de álcool, obser­va Mon­i­ca Macha­do.

“Primeira­mente é necessário saber iden­ti­ficar pes­soas com maior tendên­cia a dependên­cias e, para isso, procu­rar a aju­da de um profis­sion­al capac­i­ta­do. Exis­tem algu­mas dicas para pes­soas que con­somem álcool em exces­so e gostari­am de parar de beber: não ten­ha bebidas alcoóli­cas em casa; evite situ­ações onde acha que irá perder o con­t­role do uso; apren­da a diz­er não ou peça aju­da enquan­to não ten­ha esse con­t­role; escol­ha um dia para deixar de beber e con­fine o con­sumo de álcool a situ­ações especí­fi­cas. E nova­mente, o prin­ci­pal: pro­cure aju­da profis­sion­al ade­qua­da”.

Out­ra ati­tude, reforça o psiquia­tra, é evi­tar o con­ta­to com bebidas na ado­lescên­cia. “Quan­to mais tar­dio o con­ta­to com bebidas alcoóli­cas, menor o risco de dependên­cia. Alguns estu­dos mostram que ado­les­centes que começam a beber antes dos 15 anos têm qua­tro vezes mais risco de desen­volver uso abu­si­vo de álcool do que quem ini­cia mais tarde, após os 21 anos. Tam­bém já foi relata­do na lit­er­atu­ra médi­ca que os riscos para uso prob­lemáti­co do álcool dimin­uem cer­ca de  14% a cada ano que se adia o iní­cio do con­sumo. Isso ocorre pela vul­ner­a­bil­i­dade que a ima­turi­dade neu­rológ­i­ca  própria da idade acar­reta”, diz Mak­sud.

Edição: Graça Adju­to

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