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Dia do Amigo: relação é fundamental para a saúde mental, diz psicóloga

Repro­dução: © Marce­lo Camargo/Agência Brasil

Especialistas ressaltam que ter amizades é importante desde a infância


Publicado em 20/07/2024 — 11:30 Por Alana Gandra — Repórter da Agência Brasil — Rio de Janeiro

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Neste sába­do (20), se comem­o­ra o Dia do Ami­go. A data foi cri­a­da pelo pro­fes­sor de psi­colo­gia e filó­so­fo argenti­no Enrique Ernesto Feb­braro, inspi­ra­do na chega­da do homem à lua, em 20 de jul­ho de 1969. Feb­braro acred­i­ta­va que este feito humano, mais do que uma con­quista cien­tí­fi­ca, sig­nifi­ca­va a chance de se faz­er ami­gos. O Dia do Ami­go foi insti­tuí­do, ini­cial­mente, na Argenti­na, mas logo gan­hou out­ros país­es. No Uruguai, por exem­p­lo, foi ado­ta­do na déca­da de 1970, chegan­do ao Méx­i­co na déca­da seguinte e, no Brasil, nos anos de 1990.

A músi­ca Canção da Améri­ca, de auto­ria de Mil­ton Nasci­men­to e Fer­nan­do Brant, é con­sid­er­a­da, no Brasil, sím­bo­lo da amizade, ao afir­mar que “Ami­go é coisa para se guardar debaixo de sete chaves, den­tro do coração”. Foi essa a músi­ca que Mil­ton can­tou na hom­e­nagem presta­da à sua ami­ga, a can­to­ra Elis Regi­na, mor­ta no dia 19 de janeiro de 1982, aos 36 anos.

Relações humanas

Na avali­ação da psicólo­ga Rena­ta Ishi­da, ger­ente pedagóg­i­ca do Lab­o­ratório Inteligên­cia de Vida (LIV), esta­mos viven­do um momen­to no mun­do em que o indi­vid­u­al­is­mo e a autossu­fi­ciên­cia são muito val­oriza­dos e fomen­ta­dos. “E a gente esquece que o ser humano não se con­sti­tui e não sobre­vive soz­in­ho. Inclu­sive os bebês humanos não con­seguem sobre­viv­er sem o con­ta­to com o out­ro. A gente pre­cisa, por­tan­to, das relações humanas”, diz. Emb­o­ra a vida se apre­sente difer­ente para cada pes­soa, a amizade tem mil­hões de funções. Uma delas é a gente expandir o nos­so repertório. E para a cri­ança, isso é fun­da­men­tal”.

Na con­fig­u­ração urbana atu­al, prin­ci­pal­mente, o fato de a cri­ança começar a con­viv­er com out­ras pes­soas vai desen­volver nela a pos­si­bil­i­dade de comu­ni­cação, empa­tia, pen­sa­men­to críti­co, de cria­tivi­dade muito maior do que se ela per­manecesse só na relação do núcleo famil­iar. “Con­hecer pes­soas fora da família faz com que a cri­ança desen­vol­va várias habil­i­dades, o que é fun­da­men­tal para a saúde men­tal”, externou a espe­cial­ista em cri­ança e ado­lescên­cia.

Desta­cou tam­bém que na amizade, a hier­ar­quia exis­tente na família se dilui. Há uma hor­i­zon­tal­i­dade que vai desen­volver a autono­mia da cri­ança e do ado­les­cente. “Ela vai con­seguir desen­volver sua capaci­dade de argu­men­tação, de esta­b­elec­i­men­to de con­fi­ança com alguém exter­no, fora da família, de se defend­er. Sig­nifi­ca que o ami­go pode cuidar da cri­ança, mas não é respon­sáv­el por ela, como ocorre den­tro da família”.

A amizade cria tam­bém a capaci­dade de supor­tar, respeitar e cel­e­brar as difer­enças, porque den­tro da família, as pes­soas pen­sam de uma for­ma mais próx­i­ma. “Então, ter esse vín­cu­lo de amizade leva as cri­anças a enten­der que as pes­soas são difer­entes e nem por isso elas são nos­sas inimi­gas, nem são ameaçado­ras. A gente pode iden­ti­ficar as difer­enças cam­in­han­do pelo mun­do. Mas a beleza da amizade é você recon­hecer essas difer­enças e, mes­mo assim, não amar menos, não pre­cis­ar romper nem achar que o out­ro é moti­vo de ameaça ou medo para a gente”. O respeito leva à cel­e­bração das difer­enças, “que é o mais boni­to”, de acor­do com a espe­cial­ista Rena­ta Ishi­da.

De acor­do com Rena­ta, a amizade aju­da tam­bém no enfrenta­men­to de situ­ações difí­ceis, emb­o­ra o ami­go não vá sub­sti­tuir um ter­apeu­ta, caso haja neces­si­dade desse profis­sion­al. “Mas hoje em dia, o sofri­men­to é tido como doença. Não existe espaço para a gente falar sobre sofri­men­to. E quem mel­hor que um ami­go para ouvir sobre isso que a gente sofre?”, indagou. Rena­ta expli­cou que é mais fácil tro­car esse tipo de assun­to com ami­gos do que com os pais, porque cri­anças e ado­les­centes não querem decep­cionar os pais nem fazê-los ficarem tristes. Com­par­til­har o sofri­men­to com ami­gos faz, muitas vezes, a cri­ança ou ado­les­cente se sen­tir mais ver­dadeiro e seguro, opinou.

Out­ro pon­to impor­tante para a cri­ança e o ado­les­cente é a iden­ti­fi­cação porque, por mais difer­ente que seja o ami­go, eles percebem que o out­ro pode estar pas­san­do por situ­ações pare­ci­das às deles. Nesse pon­to, a amizade tem um lugar mais sin­cero e isso, às vezes, reduz um pouco a ansiedade. Essa iden­ti­fi­cação prop­i­cia a cri­ação de um lugar no mun­do para cri­anças e ado­les­centes, que é difer­ente da família. A inde­pendên­cia que o movi­men­to de ban­do favorece traz riscos, admi­tiu Rena­ta Ishi­da, mas aler­tou que a con­strução dessa intim­i­dade e da vul­ner­a­bil­i­dade diante do out­ro mostra que aqui­lo não vai prej­u­dicar a pes­soa e que o out­ro não vai abusar dele porque está vul­neráv­el na sua frente. Ao con­trário, é um movi­men­to rico para o desen­volvi­men­to da saúde men­tal e do auto­con­hec­i­men­to.

Há amizades que nascem na infân­cia e duram até a vel­hice. Rena­ta esclare­ceu que a amizade se difer­en­cia dos rela­ciona­men­tos amorosos con­ju­gais, porque não colo­ca tan­tas expec­ta­ti­vas e regras. Essa amizade per­mite que a pes­soa seja mais ver­dadeira e mes­mo que fique um tem­po sem se ver, quan­do ocorre o reen­con­tro, parece que não hou­ve esse lap­so de tem­po. Rena­ta anal­isou que, em uma amizade ver­dadeira, onde exista con­fi­ança e a pes­soa se sin­ta vul­neráv­el na frente da out­ra, não há cobranças. E a chance dis­so durar é muito grande”. A não exigên­cia faz com que a amizade con­si­ga ter uma dura­bil­i­dade maior. Como ela não tem regras, a expec­ta­ti­va não fica tão alta, con­cluiu.

Todo dia

Para o jor­nal­ista Mar­cio Vieira, cel­e­brar os ami­gos não tem data cer­ta. “Ami­go para mim é todo dia”. Ele ain­da man­tém ami­gos de infân­cia na cidade onde nasceu, Bom Jesus do Itabapoana, no inte­ri­or do esta­do do Rio de Janeiro, de onde saiu aos 16 anos. Ess­es ami­gos de infân­cia per­manecem ativos. “A gente fica horas baten­do papo”. Ele lem­bra até hoje o que o pai lhe fala­va: “Meu fil­ho, olha quem você colo­ca den­tro de casa, com quem você con­ver­sa”. E, prin­ci­pal­mente, “família você não pode escol­her, mas ami­gos, você tem obri­gação de escol­her”.

Brasília (DF), 19.07.2024 - Dia do amigo. Marcio Vieira e sua grande amiga, Cláudia Silva. Foto: Marcio Vieira/Arquivo Pessoal
Repro­dução: Mar­cio Vieira e sua grande ami­ga, Cláu­dia Sil­va. — Mar­cio Vieira/Arquivo Pes­soal

Mar­cio Vieira tem ami­gos de todas as horas, pron­tos para socor­rê-lo em momen­tos de doença, em neces­si­dade de viagem. Ami­gos aju­dam a super­ar episó­dios de depressão, de tris­teza, indi­cou. “Tem aque­le ami­go que, quan­do você está no fun­do do poço, ele parece que pressente e liga para você”. Mes­mo quan­do pas­sam anos sem se verem, a amizade entre eles per­siste. “Ela se man­tém. Acho que amizade, para quem é do bem, para quem tem uma alma boa, um coração bom, é iner­ente a tudo. Na min­ha per­cepção, não são necessários anos e anos de con­vivên­cia para as pes­soas serem ami­gas”.

Segun­do Vieira, a dis­cordân­cia entre ami­gos é nor­mal. Mas ele procu­ra guardar as boas lem­branças porque os ami­gos ver­dadeiros vão aju­dar sem­pre. “São poucos, mas boas pes­soas”. Desta­cou que quan­do há cobrança, não é amizade. “Foram anos de ter­apia para eu apren­der isso”. Ele deixa claro que pre­cisa de ami­gos na sua vida. “Ami­gos na min­ha vida são fun­da­men­tais. Eu não sobre­vi­vo men­tal e humana­mente sem ami­go”. Sus­ten­tou que é um dom a pes­soa estar dis­pos­ta a ouvir a out­ra. “Amizade está na essên­cia”, garan­tiu.

Estímulo

Dev­i­do aos bene­fí­cios para a saúde men­tal em todas as fas­es da vida, é impor­tante que a cri­ança ten­ha amizades. A afir­mação foi fei­ta à Agên­cia Brasil pelo pres­i­dente do Depar­ta­men­to de Pedi­a­tria Ambu­la­to­r­i­al da Sociedade Brasileira de Pedi­a­tria (SBP), Tadeu Fer­nan­des. Isso ocorre des­de a vida ute­ri­na, traduzi­da pela amizade com a mãe, o pai. Fer­nan­des ori­en­ta que os pais con­versem com o bebê den­tro do útero e façam car­in­ho na bar­ri­ga “porque o bebê sente todas essas man­i­fes­tações”.

“O entorno vai ser bom não só para a cri­ança, mas servirá de apoio para os pais”. Após o sex­to mês, que é a fase do neu­rode­sen­volvi­men­to impor­tante, quan­do a cri­ança começa a con­tatar com o meio ambi­ente, o pedi­atra desta­cou que é saudáv­el que ela comece a brin­car com out­ra cri­ança. “ A amizade começa des­de aí”.

Na fase esco­lar, porque pais e avós tra­bal­ham, a amizade fei­ta com coleguin­has deve ultra­pas­sar os muros da esco­la, estim­u­lan­do os encon­tros das cri­anças nos finais de sem­ana. Fer­nan­des disse que o estí­mu­lo deve ser no sen­ti­do que as cri­anças ten­ham amizades físi­cas e não vir­tu­ais, “lem­bran­do tem­po de tela zero até 2 anos de idade e, após 2 anos, somente uma hora. Não ter ami­gos vir­tu­ais, mas reais”. Na ado­lescên­cia, valem as mes­mas recomen­dações para que eles ten­ham amizades, a par­tir de uma análise cri­te­riosa dos ami­gos que o fil­ho ou fil­ha vai ter, para que não ocor­ram prob­le­mas nem desvios para dro­gas ilíc­i­tas e líc­i­tas. Recomen­dou que sejam estim­u­la­dos pas­seios ao ar livre, idas ao shop­ping, ao cin­e­ma, ao teatro.

Atual­mente com 68 anos, o pedi­atra Tadeu Fer­nan­des afir­mou ter ain­da amizades desen­volvi­das na infân­cia. “Os ver­dadeiros ami­gos são meus ami­gos até hoje. A gente se reúne, se encon­tra para um bate papo em um barz­in­ho ou na casa de um ami­go. Via­jamos jun­tos. É muito legal e até serve de exem­p­lo para os nos­sos fil­hos e netos que exis­tem amizades reais que per­du­ram. Muitos são madrin­has e padrin­hos e são o nos­so apoio”. Por isso, afir­mou que ami­gos de infân­cia são ami­gos para toda a vida.

IncaVoluntário

Brasília (DF), 19.07.2024 - Dia do amigo. A contadora aposentada Maria da Assunção é voluntária no Inca há dez anos. Foto: Maria da Assunção/Arquivo Pessoal
Repro­dução A con­ta­do­ra aposen­ta­da Maria da Assunção é vol­un­tária no Inca — Maria da Assunção/Arquivo Pess

A Área de Ações Vol­un­tárias do Insti­tu­to Nacional de Câncer (Inca), ou INCAvol­un­tário, é con­sid­er­a­da fun­da­men­tal para aux­il­iar os pacientes em trata­men­tos. Um exem­p­lo é Maria da Assunção da Sil­va Brum, que tem sido apoio da paciente Jail­cimá Pereira de Lima, 45 anos, dona de casa, paciente do Inca des­de 2015. .

Jail­cimá está atual­mente em trata­men­to quimioterápi­co dev­i­do a uma metás­tase. “Des­de 2015 que eu me tra­to no Inca, e sem­pre vou acom­pan­ha­da do meu fil­ho Felipe que, na época, esta­va com 5 anos. Ten­ho muito car­in­ho pelas vol­un­tárias do INCAvol­un­tário e con­sidero parte da min­ha família. São muitos anos con­viven­do com elas no hos­pi­tal, espe­cial­mente a Maria da Assunção. Ela me recebe sem­pre com um café e bis­coitos, con­ver­sa comi­go e com meu fil­ho, que ago­ra está grandão, per­gun­ta sobre a esco­la, me ouve, ela con­hece min­ha vida toda. É uma amizade que, mes­mo sendo só den­tro do hos­pi­tal, é lon­ga e muito impor­tante para quem enfrenta o trata­men­to”, con­tou Jail­cimá.

Brasília (DF), 19.07.2024 - Dia do amigo. Jailcimá e o filho Felipe. Foto: Jacilmá/Arquivo Pessoal
Repro­dução: Jail­cimá e o fil­ho Felipe.- Jacilmá/Arquivo Pes­soal

Maria da Assunção da Sil­va Brum é con­ta­do­ra aposen­ta­da e vol­un­tária do INCAvol­un­tário há quase dez anos. No seu enten­der, “a amizade entre um vol­un­tário e um paciente oncológi­co é muito espe­cial porque con­hece­mos a pes­soa e seguimos com ela em um dos momen­tos mais del­i­ca­dos e difí­ceis da vida, é um vín­cu­lo que vai se for­t­ale­cen­do cada vez mais. É difer­ente, claro, de uma amizade fora do hos­pi­tal. Nós damos car­in­ho, atenção, palavras de moti­vação, e recebe­mos em tro­ca mui­ta gratidão e con­fi­ança. É uma ale­gria poder rece­ber a Jail­cimá e o fil­ho dela ao lon­go dess­es anos todos, par­tic­i­par da vida deles. É uma conexão que ambas levare­mos pela vida afo­ra”, afi­ançou.

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