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Dia do jornalista: como frear escalada da violência contra profissão

Repro­dução: © Fabio Rodrigues-Pozze­bom/ Agên­cia Brasil

Representantes da categoria defendem luta contra a impunidade


Pub­li­ca­do em 07/04/2023 — 11:04 Por Luiz Clau­dio Fer­reira — Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

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Gri­tos, empurrões, socos. Men­ti­ras, ameaças e intim­i­dações. Jor­nal­is­tas pas­saram a sofr­er, em pleno expe­di­ente ou até fora dele, vio­lên­cias de difer­entes tipos que ten­tavam calar quem tra­bal­ha com a palavra e com a imagem.

No ano de 2022, segun­do o mais recente relatório divul­ga­do pela Asso­ci­ação Brasileira de Jor­nal­is­mo Inves­tiga­ti­vo (Abra­ji), profis­sion­ais no país foram víti­mas de 557 ataques, 23% a mais do que no ano ante­ri­or, o que demon­strou uma escal­a­da “sem prece­dentes” de vio­lên­cia.

Enti­dades que defen­d­em a cat­e­go­ria avaliam que é urgente e pos­sív­el revert­er esse cenário com a par­tic­i­pação de difer­entes setores da sociedade e de medi­das do Poder Públi­co. Neste sába­do, 7 de abril, é comem­o­ra­do o Dia do Jor­nal­ista, data insti­tuí­da pela Asso­ci­ação Brasileira de Impren­sa (ABI) que com­ple­ta hoje 115 anos.

O ano de 2022 foi mar­ca­do pela vio­lên­cia políti­ca con­tra profis­sion­ais, com 31,6% das agressões rela­cionadas dire­ta­mente à cober­tu­ra eleitoral. Na maior parte das ocasiões (56,7%), segun­do o doc­u­men­to, agres­sores foram agentes estatais, como gestores públi­cos eleitos ou fun­cionários públi­cos, como as forças de segu­rança.

“O relatório de mon­i­tora­men­to da Abra­ji mostra muito clara­mente esse cresci­men­to. É impor­tante diz­er que esse fenô­meno não é uma exclu­sivi­dade brasileira, mas, no Brasil, há par­tic­u­lar­i­dades”, expli­ca a pres­i­dente da Abra­ji, Katia Brem­bat­ti.

Des­cred­i­bi­lizar a impren­sa para que não seja um um fis­cal efe­ti­vo de gov­er­no (uma das funções da ativi­dade) teve uma própria tra­jetória no país. “Foi mais acen­tu­a­do a par­tir das jor­nadas de jun­ho de 2013 e nos anos seguintes a par­tir de dis­cur­sos políti­cos. Mas o que a gente viu a par­tir da cam­pan­ha eleitoral de 2018 não tem prece­dentes”, expli­ca.

A vio­lên­cia foi incor­po­ra­da por pes­soas comuns tam­bém. “Hou­ve uma relação entre as ações dos apoiadores ao dis­cur­so do então pres­i­dente da Repúbli­ca Jair Bol­sonaro (2018–2022). Muitas vezes, os apoiadores não ficavam só nos dis­cur­sos, o que já é grave, mas pas­savam para a agressão físi­ca”, afir­ma Katia Brem­bat­ti.

De acor­do com a pres­i­dente da Fed­er­ação Nacional dos Jor­nal­is­tas, Sami­ra de Cas­tro, as agressões por parte das forças do esta­do con­tra jor­nal­is­tas a par­tir das jor­nadas de jun­ho de 2013 servi­ram de estopim perigoso.

“Depois vimos crescer uma vio­lên­cia que a gente pode car­ac­teri­zar como gen­er­al­iza­da na sociedade. São pes­soas comuns que agri­dem jor­nal­is­tas. Essas pes­soas querem se basear em infor­mações fraud­u­len­tas repas­sadas pelas redes de men­sagens”, avalia.

“É possível reverter”

Brasília (DF) 06/04/2023 Dia do jornalista é comemorado no dia 7 de Abril Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
Repro­dução: Dia do jor­nal­ista é comem­o­ra­do no dia 7 de abril. Foto: Fabio Rodrigues-Pozze­bom/ Agên­cia Brasil

As enti­dades avaliam que a escal­a­da da vio­lên­cia é rever­sív­el, ain­da que recon­heçam que o cenário de agressões não vai acabar de um dia para o out­ro.

“Uma for­ma de revert­er é tra­bal­har pela sen­si­bi­liza­ção dos poderes e de toda a sociedade. As dis­cordân­cias dev­e­ri­am ser embasadas em argu­men­tos e não com a práti­ca de crimes. Out­ra mudança urgente é lutar con­tra a impunidade”, diz a pres­i­dente da Abra­ji.

Para as enti­dades, os setores devem agir tan­to em con­jun­to quan­to iso­lada­mente. “A gente tam­bém pre­cisa de políti­cas públi­cas”, diz a pres­i­dente da Abra­ji, em entre­vista à Agên­cia Brasil.

As enti­dades avaliam como pos­i­ti­va a cri­ação do Obser­vatório Nacional da Vio­lên­cia con­tra Jor­nal­is­tas e Comu­ni­cadores Soci­ais insta­l­a­do pelo Min­istério da Justiça.

Katia Brem­bat­ti entende que esse obser­vatório deve ser mais do que um con­ta­dor de casos, ou enu­mer­ador de estatís­ti­cas, mas tam­bém uma políti­ca de toma­da de providên­cias.

Para a pres­i­dente da Fenaj, Sami­ra de Cas­tro, a cri­ação do obser­vatório foi um primeiro pas­so impor­tante. “Esse obser­vatório vai ter um poder impor­tante de avaliar as estatís­ti­cas, os casos, as denún­cias que chegam e, a par­tir desse lev­an­ta­men­to, pro­duzir um diag­nós­ti­co para via­bi­lizar essas políti­cas públi­cas”. Por isso, entende que essa medi­da aju­da a chance­lar um pro­to­co­lo nacional de segu­rança em prol da cat­e­go­ria e con­tra a impunidade. “Podem, por exem­p­lo, faz­er artic­u­lações jun­to ao Con­gres­so Nacional para que se aprove uma lei fed­er­al­izan­do as inves­ti­gações de crimes con­tra jor­nal­is­tas”

Para a pres­i­dente da Abra­ji, o Brasil pre­cisa que a polí­cia, o Min­istério Públi­co e o Poder Judi­ciário este­jam aten­tos para o fato de que ess­es casos não são vio­lên­cias comuns.

“Quan­do você ata­ca uma profis­sion­al de impren­sa, se ata­ca o que essa pes­soa faz e a democ­ra­cia. Para uma rever­são do cenário, é pre­ciso que exista uma rede de suporte para as pes­soas ata­cadas porque elas pre­cisam saber quais são os seus dire­itos e saber como recor­rer.

Estar aten­to às vul­ner­a­bil­i­dades das regiões tam­bém é fun­da­men­tal. “O que a gente percebe é que os prin­ci­pais alvos estão em cidades peque­nas, em que a dis­pu­ta políti­ca cos­tu­ma ser muito acir­ra­da”, afir­ma.

“Até pouco tem­po atrás, o Brasil não era, em ger­al, um lugar perigoso para ser jor­nal­ista. Hoje virou quase uma questão de guer­ra ir pra rua”, diz a pres­i­dente da Abra­ji.

Violência contra a mulher

No ano de 2022, foram reg­istra­dos 145 ataques explíc­i­tos de gênero com agressões con­tra mul­heres jor­nal­is­tas. As pres­i­dentes das enti­dades enten­dem que, além dos números,  é necessário con­tex­tu­alizar que a gravi­dade da agressão é mais cru­el e vir­u­len­ta. ]

“Há ataques con­tra a rep­utação das mul­heres jor­nal­is­tas e espe­cial­mente con­tra as mul­heres jor­nal­is­tas pre­tas. Elas são víti­mas de agressões recor­rentes graves e que vão minan­do a saúde men­tal dessas profis­sion­ais.”

Um divi­sor de águas a respeito da escal­a­da da vio­lên­cia ocor­reu nos atos ter­ror­is­tas de 8 de janeiro. Um out­ro dos­siê pub­li­ca­do neste ano pela Abra­ji con­tabi­li­zou, ao menos, 45 agressões con­tra jor­nal­is­tas da data dos aten­ta­dos até o dia 11 daque­le mês .

“Aque­le dia foi trági­co. Espero que seja um dia históri­co e que jamais se repi­ta. A gente sabe que esse movi­men­to de ampli­ação das agressões, que foi con­struí­do ano a ano, não desa­parece do dia pra noite, mas temos esper­ança que isso dimin­ua”, avalia Kátia.

Edição: Lílian Beral­do

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