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Dia do Meio Ambiente destaca ações de enfrentamento à desertificação

Repro­dução: © Arquivo/Agência Brasil

Segundo a ONU, degradação do solo já afeta metade da população mundial


Publicado em 05/06/2024 — 07:02 Por Fabíola Sinimbú — Repórter da Agência Brasil — Brasília

Há mais de 40 anos, o ambi­en­tal­ista Nereu Rios ded­i­ca sua vida em tem­po inte­gral a cole­tar sementes por onde pas­sa, ger­ar mudas e, final­mente, con­tem­plar as árvores que fornecerão mais matéria-pri­ma para que o ciclo recomece. Mas nos últi­mos anos, essa roti­na tem muda­do des­de que o pesquisador de cam­po perce­beu que mul­ti­plicar algu­mas espé­cies começou a ficar mais difí­cil.

“No Mato Grosso do Sul, há uns dez anos ten­ho cole­ta­do amostras de pau-fer­ro [Libidib­ia fer­rea] que dá a vagem, mas não dá a semente”, diz. Nasci­do em Doura­dos (MS) e atual­mente viven­do em Cam­po Grande (MS), Nereu se divide entre as mudas do viveiro em que tra­bal­ha e os cam­in­hos que per­corre por todo o Cer­ra­do para acom­pan­har de per­to a diver­si­dade fru­to de seu tra­bal­ho. Jun­to com a mudança das plan­tas, ele tam­bém percebe a mudança no cenário.

“Pas­san­do por Olhos D´Água, próx­i­mo de Alexâ­nia (GO), eu esta­va mostran­do para o meu fil­ho uns ipês-rox­os [Han­droan­thus impetig­i­nosus] que a gente cole­ta­va há uns oito anos e que ago­ra eles estão mor­ren­do, porque virou mono­cul­tura marge­an­do a estra­da e quan­do eles pul­ver­izam o mil­har­al sai matan­do tudo”, desta­ca.

O pesquisador do Insti­tu­to de Pesquisa Ambi­en­tal da Amazô­nia (IPAM), André Andrade, expli­ca que para pro­duzir semente, a plan­ta pre­cisa de mui­ta ener­gia, que adquire pela foto­ssín­tese e exige mui­ta água e luz solar, mas com a mudança climáti­ca, o ciclo nat­ur­al sofre um dis­túr­bio. “O que acon­tece com a mudança climáti­ca é que quan­do a gente tem perío­dos de esti­agem muito grande, com­bi­na­do com um ano de El Niño, como no final de 2023, tem muito sol, mas fal­ta água, então, a plan­ta para a foto­ssín­tese que pre­cisa, senão ela morre rápi­do, e como isso não con­segue pro­duzir a ener­gia para ger­ar sementes”, expli­ca.

A advertên­cia tam­bém foi reforça­da pela Orga­ni­za­ção das Nações Unidas (ONU), que trouxe como tema para este 5 de jun­ho, Dia Mundi­al do Meio Ambi­ente, o enfrenta­men­to à deser­ti­fi­cação e o desen­volvi­men­to da resil­iên­cia à seca, alin­hados com a declar­a­da Déca­da da Restau­ração de Ecos­sis­temas. No cen­tro da cam­pan­ha está a frase: “Não podemos retro­ced­er no tem­po, mas podemos restau­rar flo­restas, resta­b­ele­cer os recur­sos hídri­cos e traz­er o solo de vol­ta. Nós somos a ger­ação que pode faz­er as pazes com a ter­ra”.

Desertificação

De acor­do com o Pro­gra­ma das Nações Unidas para o Meio Ambi­ente (PNUMA), bil­hões de hectares de ter­ra estão degrada­dos em todo o plan­e­ta, o que causa deser­ti­fi­cação e mais seca. A orga­ni­za­ção aler­ta ain­da que isso já afe­ta metade da pop­u­lação mundi­al, espe­cial­mente comu­nidades rurais e pequenos agricul­tores, o que põe em risco metade do Pro­du­to Inter­no Bru­to (PIB) glob­al e pode ger­ar inse­gu­rança ali­men­tar em todo o plan­e­ta.

Andrade expli­ca que a restau­ração de ecos­sis­temas é tão impor­tante porque tem se mostra­do a solução mais ráp­i­da e efe­ti­va para equi­li­brar tan­to o ciclo da água, quan­to o ciclo do car­bono e evi­tar que o plan­e­ta aque­ça ain­da mais e que piorem as con­se­quên­cias, como secas e chu­vas extremas.

“A restau­ração de grandes áreas é uma estraté­gia que a gente con­segue faz­er ago­ra, em 20, 30 anos é pos­sív­el inve­stir pesa­do nis­so, para que no futuro a gente alcance a tran­sição de ener­gia, porque existe um lim­ite para o car­bono que as flo­restas con­seguem armazenar, existe um lim­ite que a gente vai con­seguir segu­rar essas mudanças a par­tir da veg­e­tação nati­va”, con­clui.

Missão de vida

Nereu Rios con­hece o Cer­ra­do des­de jovem, se criou no cam­po em uma família de moveleiros e nas prox­im­i­dades do então chama­do arco do des­mata­men­to, mas o con­vívio com a ter­ra o fez admi­rar mais uma bela árvore flori­da do que a madeira tomba­da. E nes­sa “mis­são de vida”, como ele mes­mo diz, apren­deu na práti­ca que as escol­has de cada pes­soa afe­tam o cli­ma, a veg­e­tação e até os inse­tos, que em um ambi­ente dese­qui­li­bra­do viram pra­gas.

“Sei que tem o bicho que come a sei­va na vagem do pau-fer­ro e não deixa a semente se desen­volver, mas não é só ele o prob­le­ma. O ange­lim-amar­go [Andi­ra anthelmia] faz uns qua­tro anos que eu não con­si­go cole­tar e tin­ha muito, assim como a guavi­ra [Cam­po­mane­sia adaman­tium], ano pas­sa­do deu pou­ca. As coisas que pro­duzi­am todos os anos, ago­ra pro­duzem ano sim, ano não, às vezes ficam dois três anos sem pro­duzir”, expli­ca.

Edição: Sab­ri­na Craide

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