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Dia Mundial do Lúpus conscientiza população sobre doença crônica

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Repro­dução: © Tás­sia Di Carvalho/Arquivo pes­soal

Objetivo é incentivar diagnóstico precoce e controle da doença


Pub­li­ca­do em 10/05/2021 — 07:00 Por Alana Gan­dra — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

A jor­nal­ista Tás­sia Di Car­val­ho só desco­briu que tin­ha lúpus em 2012. No final do ano ante­ri­or, após uma noite de grande estresse, ela acor­dou com o ros­to total­mente incha­do. “Não con­segui nem andar. Fui me arra­s­tan­do até chegar ao ban­heiro para ver o meu ros­to. Meus olhos estavam incha­dos”.

Tás­sia ligou para o mari­do e ele a lev­ou para o pron­to-socor­ro, onde os médi­cos jul­gar­am se tratar de aler­gia a algum ali­men­to ingeri­do. Receitaram cor­ti­coides e ela desin­chou. Dois dias depois, voltou a inchar. Mais cor­ti­coides. “Ficaram nes­sa brin­cadeira cer­ca de dois meses. Aí, me man­daram para a San­ta Casa, porque ficaram com medo da quan­ti­dade de cor­ti­coides que eu esta­va toman­do”. Além dis­so, foi lev­an­ta­da a pos­si­bil­i­dade de se tratar de uma doença crôni­ca.

Na San­ta Casa, Tás­sia teve que recor­rer à assistên­cia social para poder ser aten­di­da com urgên­cia e não ter que aguardar durante meses para agen­dar uma con­sul­ta. Somente ali, após exam­es, a jor­nal­ista desco­briu que tin­ha lúpus. Chegou a perder todo o cabe­lo, sofreu episó­dios sem con­seguir andar, fez quimioter­apia por cin­co anos. Ficou com per­da de visão e teve lesões cutâneas. Hoje, se tra­ta com hidrox­i­cloro­quina.

Fatores

Hoje (10) é o Dia Inter­na­cional de Atenção à Pes­soa com Lúpus, que faz parte da cam­pan­ha mundi­al de con­sci­en­ti­za­ção “Maio Roxo”, cujo obje­ti­vo é incen­ti­var o diag­nós­ti­co pre­coce e con­t­role da doença. O pres­i­dente da Comis­são Cien­tí­fi­ca de Lúpus da Sociedade Brasileira de Reuma­tolo­gia (SBR), Edgard Reis, disse à Agên­cia Brasil que não existe um fator úni­co para o aparec­i­men­to do lúpus. Ele resul­ta de uma junção de fatores genéti­cos, ambi­en­tais (radi­ação ultra­vi­o­le­ta) e hor­mon­ais (estrógeno) que atu­am sobre o sis­tema autoimune. “Ou seja, o próprio indi­ví­duo começa a pro­duzir anti­cor­pos, célu­las, molécu­las que vão atacar o próprio organ­is­mo. Em vez de atacar vírus e bac­térias, acabam por atacar o próprio organ­is­mo tam­bém”, afir­mou Reis.

O lúpus é um doença reumáti­ca, crôni­ca, que afe­ta prin­ci­pal­mente mul­heres entre 15 e 45 anos de idade, perío­do com­preen­di­do, em ger­al, após a primeira men­stru­ação e a pré-menopausa. Como se tra­ta de uma doença crôni­ca, não tem cura. “Mas tem um bom con­t­role”, adver­tiu o médi­co. Com o uso de medica­men­tos ade­qua­dos, o paciente tem uma vida prati­ca­mente nor­mal, com­ple­tou. “Não existe um remé­dio que vai esta­b­ele­cer uma cura especí­fi­ca, ao con­trário do que ocorre com a pneu­mo­nia, por exem­p­lo”. Admi­tiu, por out­ro lado, que após a menopausa, existe tendên­cia de mel­hor con­t­role do lúpus, caso essa seja uma doença menos agres­si­va.

Pacientes com lúpus têm mais chance de ter aumen­to de peso, mais risco de ter obesi­dade e sín­drome metabóli­ca, quan­do ocorre aumen­to da pressão, dia­betes, prob­le­mas de coles­terol, o que ofer­ece mais risco car­dio­vas­cu­lar. “Se você já tem uma doença crôni­ca, autoimune, que já tem mais risco car­dio­vas­cu­lar, out­ra doença, como a obesi­dade, é muito ruim, porque aumen­ta o risco de even­tos e pode atra­pal­har o con­t­role do lúpus”, disse o pres­i­dente da Comis­são Cien­tí­fi­ca do Lúpus da SBR.

Mulheres

Emb­o­ra o maior número de pes­soas com lúpus seja de mul­heres, Edgard Reis afir­mou que isso não quer diz­er que a doença não acon­teça em cri­anças ou em idosos, só que aparece em uma relação menor e em uma pro­porção tam­bém menor entre home­ns e mul­heres. No Brasil, a esti­ma­ti­va é que exis­tam 65 mil pes­soas com lúpus, a maio­r­ia mul­heres.

Em Natal (RN), por exem­p­lo, estu­do real­iza­do mostrou que a incidên­cia de casos novos é de 8,7 pes­soas para cada 100 mil habi­tantes por ano. Segun­do Edgard Reis, a incidên­cia de casos maior em Natal do que em alguns país­es pode ser expli­ca­da pela influên­cia da radi­ação ultra­vi­o­le­ta nes­sa cidade, que é ban­ha­da pelo sol ao lon­go de todo o ano.

Doença infla­matória, o lúpus pode afe­tar vários órgãos e teci­dos, como pele, artic­u­lações, pul­mão, coração, rins e cére­bro. Quan­do acomete ape­nas a pele é chama­do de lúpus cutâ­neo; quan­do, além da pele, atinge out­ros órgãos e teci­dos, é chama­do de lúpus eritem­atoso sistêmi­co (LES). Entre as lesões cutâneas, as mais comuns são as man­chas ver­mel­has nas áreas da pele expostas ao sol, como ros­to, orel­ha e o colo. Uma de suas prin­ci­pais car­ac­terís­ti­cas é uma man­cha aver­mel­ha­da nas maçãs do ros­to e dor­so do nar­iz, denom­i­na­da lesão em asa de bor­bo­le­ta, porque seu con­torno lem­bra uma bor­bo­le­ta. Esse ani­mal acabou sendo sím­bo­lo do lúpus. Essas man­cham pio­ram com a exposição ao sol.

Sintomas

No iní­cio, alguns sin­tomas podem ser inespecí­fi­cos, como cansaço, desân­i­mo, febre diária baixa, ema­grec­i­men­to, inapetên­cia, alter­ações de humor, dor nas artic­u­lações e no cor­po. Reis lem­brou que alguns pacientes podem ter prob­le­ma no pul­mão, como tosse, fal­ta de ar; às vezes alter­ações renais como diminuição da uri­na; man­i­fes­tações do sis­tema ner­voso que são mais raras, como quadros de con­vul­são e até mes­mo de alter­ações psiquiátri­c­as. “Depende muito de paciente para paciente”.

Edgard Reis desta­cou que o Dia Inter­na­cional de Atenção à Pes­soa com Lúpus, ou Dia Mundi­al do Lúpus, é impor­tante não só para a pre­venção da doença, mas para a con­sci­en­ti­za­ção. “Porque não é uma doença que é bem divul­ga­da na mídia. Então, é impor­tante para que as pes­soas enten­dam que ela existe, quais os prin­ci­pais sin­tomas, visan­do à real­iza­ção de um diag­nós­ti­co pre­coce da doença, para mel­ho­ra do trata­men­to e do des­fe­cho a lon­go pra­zo. Essa con­sci­en­ti­za­ção é impor­tante tam­bém para que os par­entes do doente enten­dam do que se tra­ta.

O lúpus não é con­ta­gioso. Não é uma doença infec­ciosa, mas do sis­tema imune. “Não pega de pes­soa para pes­soa, não é trans­mis­sív­el”. Quan­do há sus­pei­ta clíni­ca, pode ser pedi­do ao paciente que faça exam­es gerais, entre eles hemogra­ma com­ple­to, exame de uri­na para saber se tem alter­ações nos rins, e alguns anti­cor­pos. ”Em alguns casos, quan­do se faz necessário, podem ser feitos alguns exam­es de imagem, radi­ografia, tomo­grafia, eco­car­dio­gra­ma, ou mes­mo análise dos teci­dos, com bióp­sia da pele e do rim”. O trata­men­to visa a diminuir a pro­gressão do quadro, reduzir os sin­tomas e mel­ho­rar a qual­i­dade de vida do paciente.

Edição: Graça Adju­to

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