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Diabetes é responsável por mais de 28 amputações por dia, no Brasil

Repro­dução: © Marce­lo Camargo/Agência Brasil

Especialistas fazem alerta no Dia Mundial do Diabetes


Pub­li­ca­do em 14/11/2023 — 08:31 Por Daniel­la Almei­da – Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

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O Sis­tema Úni­co de Saúde (SUS) reg­istrou, entre janeiro e agos­to deste ano, 6.982 amputações de mem­bros infe­ri­ores (per­nas e pés) cau­sadas por dia­betes, o que equiv­ale à média de mais de 28 ocor­rên­cias por dia.

Os casos vêm crescen­do ano a ano, con­forme mostram os dados do Min­istério da Saúde. O número de amputações em 2022 (10.168) foi 3,9% supe­ri­or ao total de 2021 (9.781), o que rep­re­sen­tou média de 27,85 cirur­gias por dia, no ano pas­sa­do, em unidades públi­cas.

De acor­do com a Sociedade Brasileira de Dia­betes (SBD), a doença já figu­ra como a prin­ci­pal causa de amputação não traumáti­ca em mem­bros infe­ri­ores, no país. As amputações traumáti­cas são as que ocor­rem, por exem­p­lo, em aci­dentes de trân­si­to ou de tra­bal­ho.

“Hoje, nós temos um número de grande de amputações sem ser por aci­dente. E a prin­ci­pal causa é jus­ta­mente o dia­betes, além do cig­a­r­ro. Então, a gente tem que com­bat­er ess­es males”, reforça o pres­i­dente da Sociedade Brasileira de Dia­betes, Lev­i­mar Araújo, por­ta­dor de dia­betes tipo 1.

A SBD apon­ta tam­bém que 13 mil­hões pes­soas com dia­betes têm úlceras nos pés, os chama­dos pés dia­béti­cos, que podem resul­tar nes­tas amputações.

Pre­ocu­pa­da com o cenário, a Asso­ci­ação Brasileira de Med­i­c­i­na e Cirur­gia do Tornoze­lo e Pé (ABT­Pé) aler­ta para essa com­pli­cação que pode atin­gir tan­to pacientes com dia­betes mel­li­tus do tipo 1, como do 2. O pres­i­dente da ABT­Pé Luiz Car­los Ribeiro Lara, dimen­siona a situ­ação.

“Entre todas as suas com­pli­cações, o pé dia­béti­co é con­sid­er­a­do um prob­le­ma grave e com con­se­quên­cias, muitas vezes, dev­as­ta­do­ras em razão das úlceras, que podem implicar em amputação de dedos, pés ou per­nas.”

O aler­ta sobre as com­pli­cações que afe­tam as pes­soas com a doença ocorre no Dia Mundi­al do Dia­betes, cel­e­bra­do neste 14 de novem­bro. Em 2023, a Orga­ni­za­ção Mundi­al de Saúde (OMS) escol­heu como tema da cam­pan­ha: Edu­cação para Pro­te­ger o Futuro. O obje­ti­vo é destacar a neces­si­dade de mel­ho­rar o aces­so à edu­cação de qual­i­dade sobre a doença a profis­sion­ais de saúde e pes­soas com a doença.

Pé diabético

A neu­ropa­tia per­iféri­ca provo­ca­da pelo dia­betes causa a per­da das funções dos ner­vos do pé. Com isso, ficam prej­u­di­ca­dos o tato e a sen­si­bil­i­dade para a dor. Essa redução da sen­si­bil­i­dade rela­ciona­da ao dia­betes difi­cul­ta a per­cepção do paciente em notar lesões ou feri­das.

Em entre­vista à Agên­cia Brasil, a dire­to­ra da ABT­Pé, a orto­pe­dista, cirurgiã do pé e tornoze­lo, Jor­dan­na Maria Pereira Berga­m­as­co, rela­ciona a sen­si­bil­i­dade dos pés com um fator de pro­teção à pes­soa com dia­betes.

“Esse pé não tem a sen­si­bil­i­dade pro­te­to­ra, então, sem perce­ber ocor­rem feri­das e infec­cionam. O paciente não con­segue resolver e estas acabam em amputações menores ou maiores, ou seja, des­de uma pon­tin­ha de dedo até uma per­na. Tudo por causa das feri­das. E o número de ocor­rên­cias é grande.”

Jor­dan­na con­fir­ma tam­bém ser inevitáv­el que, em até dez anos após o desen­volvi­men­to do dia­betes, come­cem a sur­gir os sin­tomas da neu­ropa­tia per­iféri­ca, mes­mo com a doença con­tro­la­da, ess­es pacientes vão ter algum grau de neu­ropa­tia. Porém, segun­do ela, a saí­da é o con­t­role da gli­cose no sangue, que pode adi­ar as alter­ações neu­rológ­i­cas, prin­ci­pal­mente, dos mem­bros infe­ri­ores, e con­se­quente­mente, evi­tar muti­lações.

“A doença leva à neu­ropa­tia, a gente não con­segue evi­tar. O úni­co jeito de con­seguir poster­gar isso é com con­t­role glicêmi­co. E para evi­tar as amputações é com cuida­do”, con­ta a endócrino.

Na família

A pro­fes­so­ra de uma esco­la públi­ca do ensi­no fun­da­men­tal do Dis­tri­to Fed­er­al, Aman­da Pereira, con­hece bem várias das roti­nas de pre­venção às com­pli­cações do dia­betes. Em dezem­bro de 2021, ela perdeu a mãe Mar­ile­na Pereira, aos 64 anos, dev­i­do a uma infecção gen­er­al­iza­da que começou com uma feri­da no pé e chegou a atin­gir o osso.

Aman­da con­tou à Agên­cia Brasil que a mãe ficou dia­béti­ca em 2007, aos 40 anos, e se revoltou com as restrições na ali­men­tação impostas pela doença. Mar­ile­na seguiu fazen­do uso de bebidas alcoóli­cas, cig­a­r­ros e refrig­er­antes. Con­tin­u­ou a ingerir doces desregrada­mente e se recur­sou a faz­er ativi­dades físi­cas.

Até que, em 2015, a doença não per­doou as extrav­agân­cias de Mar­ile­na que perdeu a visão do lado esquer­do e parte do lado dire­ito. A con­se­quên­cia con­tribuiu para que a mãe de Aman­da desen­volvesse depressão e não quisesse mais ir às con­sul­tas médi­cas.

Em 2019, após frat­u­rar o fêmur, em uma que­da no ban­heiro, Mar­ile­na ain­da perdeu a autono­mia para se deslo­car e, na sequên­cia, teve uma trom­bose. “Ten­ho a impressão que min­ha mãe envel­he­ceu 30 anos em seis. Ela desis­tiu de viv­er,” lamen­tou Aman­da.

Ape­sar dos cuida­dos dos famil­iares, o sim­ples atri­to dos pés da mãe no lençol da cama ren­deu à Mar­ile­na a feri­da der­radeira no pé, que não cica­tri­zou e a lev­ou a óbito. Hoje, aos 44 anos, Aman­da voltou a sen­tir os assom­bros das con­se­quên­cias do dia­betes: ela con­vive com o sogro e um aluno com acometi­dos pela doença. O sogro já está, grada­ti­va­mente, per­den­do a visão.

As exper­iên­cias neg­a­ti­vas, no entan­to, tam­bém lhe ensi­naram sobre a doença. “O impor­tante do dia­betes é estar se cuidan­do, porque, com o tem­po, vai con­sumin­do o organ­is­mo da pes­soa. A doença é silen­ciosa. Ela não avisa. Quan­do chega, já vem estra­gan­do tudo. Mas, se a pes­soa vai cuidan­do, é mais difí­cil de acon­te­cer algo, prin­ci­pal­mente se ela é acom­pan­ha­da por médi­cos, se tem uma ali­men­tação saudáv­el e prat­i­ca uma ativi­dade físi­ca reg­u­lar. A dia­betes, para mim, é uma doença ter­rív­el”, con­clui a pro­fes­so­ra.

Cuidados

Jor­dan­na expli­ca que os pés de pes­soas com dia­betes exigem cuida­dos espe­ci­ais:

  • Exame visu­al per­iódi­co dos pés pela própria pes­soa, famil­iar ou profis­sion­al de saúde;
  • vestir meias bran­cas ou de cor clara, prin­ci­pal­mente de algo­dão, para obser­var pos­síveis man­chas de sangue no teci­do;
  • em situ­ações de baixa mobil­i­dade ou sobrepe­so, usar um espel­ho para ver­i­ficar a sola dos pés;
  • evi­tar calça­dos aper­ta­dos, duros, de plás­ti­co, de couro sin­téti­co, com bicos finos, saltos altos e sandálias que deix­am os pés despro­te­gi­dos;
  • escol­her sap­atos con­fortáveis;
  • não usar calça­dos novos, por mais de uma hora por dia, até que este­jam macios;
  • evi­tar andar descalço para não se machu­car em bati­das e topadas;
  • cor­tar as unhas dos pés com um profis­sion­al e não reti­rar calos ou cutícu­las;
  • man­ter os pés sem­pre aque­ci­dos;
  • ver­i­ficar a tem­per­atu­ra da água com o cotovelo antes de colo­car os pés;
  • não usar bol­sas de água quente;
  • hidratar os pés para evi­tar rachaduras que podem servir de aces­so a infecções opor­tunista;
  • enx­u­gar a umi­dade entre os dedos para evi­tar frieiras;
  • não andar descalço no chão quente para evi­tar queimaduras; e
  • em caso de lesões, procu­rar um médi­co.

Em nota, o Min­istério da Saúde afir­mou à Agên­cia Brasil que desen­volve estraté­gias para pro­mover a saúde e pre­venir as condições crôni­cas que decor­rem do dia­betes. Entre as ações lis­tadas estão o acom­pan­hamen­to nutri­cional e ali­men­tar, estí­mu­lo à adoção de hábitos saudáveis, além dos guias ali­menta­res para a pop­u­lação brasileira:

“A pas­ta tam­bém cre­den­ciou novos polos da Acad­e­mia da Saúde, espaços próprios para a práti­ca de ativi­dade físi­ca, essen­cial para um esti­lo de vida mais saudáv­el”

O Min­istério da Saúde infor­mou ain­da que, em 2023, investiu mais de R$ 870 mil­hões no custeio de equipes mul­ti­profis­sion­ais, com­postas por espe­cial­is­tas de difer­entes áreas da saúde – entre elas nutrição e edu­cação físi­ca, para atu­ar na Atenção Primária à Saúde, con­sid­er­a­da a por­ta de entra­da da saúde públi­ca no Brasil.

Edição: Denise Griesinger

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