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Diagnóstico precoce evita sequelas em casos de esclerose múltipla

Repro­dução: © José Cruz/Agência Brasil

Dia Nacional de Conscientização sobre a doença é comemorado hoje


Pub­li­ca­do em 30/08/2021 — 06:30 Por Alana Gan­dra — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

Insti­tuí­do pela Lei 11.303/2006, o Dia Nacional de Con­sci­en­ti­za­ção sobre a Escle­rose Múlti­pla, comem­o­ra­do hoje (30), quer dar maior vis­i­bil­i­dade à doença, infor­mar a pop­u­lação e aler­tar para a importân­cia do diag­nós­ti­co pre­coce da enfer­mi­dade, que pode ser trata­da e impedir seque­las.

O pro­fes­sor de neu­rolo­gia da Esco­la Paulista de Med­i­c­i­na da Uni­ver­si­dade Fed­er­al de São Paulo (Unife­sp) e mem­bro tit­u­lar da Acad­e­mia Brasileira de Neu­rolo­gia (ABN) Denis Bichuet­ti disse à Agên­cia Brasil que do pon­to de vista clíni­co, a escle­rose múlti­pla (EM) é uma doença crôni­ca e debil­i­tante, mas caso seja diag­nos­ti­ca­da e trata­da pre­co­ce­mente, ou seja, antes de as seque­las acon­te­cerem, “o paciente pode ficar muito bem, sem seque­las por muitos anos. O que eu quero diz­er é que ela é uma doença que, para eu pre­cis­ar de uma ben­gal­in­ha para andar, lev­am-se 15 anos; para eu pre­cis­ar de um andador, 20 anos; e uma cadeira de rodas, 25 anos”.

Ele aler­tou, entre­tan­to, que como a escle­rose é uma doença que começa por vol­ta dos 20 ou 30 anos de idade e ape­sar de levar muito tem­po para ger­ar inca­paci­dade, ela ata­ca pes­soas na época mais pro­du­ti­va da vida, entre 20 e 55 anos de idade.

O coor­de­nador de Doenças Cere­brovas­cu­lares do Hos­pi­tal Icaraí e coor­de­nador da neu­rolo­gia do Hos­pi­tal e Clíni­ca de São Gonça­lo, Guil­herme Torezani, esclare­ceu que a escle­rose múlti­pla é doença autoimune, que aca­ba ata­can­do algu­mas áreas do cére­bro e com­pro­m­e­tendo o sis­tema ner­voso cen­tral. Depen­den­do da área do cére­bro infla­ma­da, vários sin­tomas podem sur­gir de for­ma súbi­ta, em sur­tos. “Se o paciente deixa isso pas­sar, não inves­ti­ga, a doença vai pio­ran­do. É impor­tante haver essa con­sci­en­ti­za­ção de que sin­tomas neu­rológi­cos novos devem ser sem­pre inves­ti­ga­dos por um neu­rol­o­gista. Por isso, a gente fala em diag­nós­ti­co pre­coce”, disse Torezani.

Diagnóstico precoce

Denis Bichuet­ti afir­mou que o primeiro moti­vo para diag­nos­ticar logo a doença é tratar cedo e impedir a cadeia de seque­las. O primeiro pon­to para diag­nos­ticar e tratar pre­co­ce­mente é mudar a história da doença, “como foi muda­da a história da poliomielite, do aci­dente vas­cu­lar cere­bral (AVC), como vem mudan­do a história do câncer” no Brasil, obser­vou.

O segun­do moti­vo é social e econômi­co. “Se eu tratar a pes­soa antes de desen­volver sequela, o cus­to dos medica­men­tos, o cus­to desem­bol­sa­do por bene­fí­cios soci­ais e o cus­to indi­re­to com aposen­ta­do­ria vão ser muito menores”. Isso se eu man­tiv­er a pes­soa andan­do e pro­duzin­do, em vez de esper­ar uma sequela acon­te­cer. Porque vou ter que tratar essa sequela, que é muito mais caro do que o remé­dio para man­tê-la andan­do. E a pes­soa vai parar de pro­duzir e con­sumir bene­fí­cio social”, expli­cou Bichuet­ti.

A ter­ceira razão para o diag­nós­ti­co e trata­men­to pre­co­ces é o bem da própria pes­soa, que é o ele­men­to mais inter­es­sa­do, para que ela se man­ten­ha próx­i­ma da família, pos­sa desen­volver ativi­dades de laz­er, ter um tra­bal­ho onde vai pro­duzir e ser remu­ner­a­da.

Estimativa

Dados da Fed­er­ação Inter­na­cional de Escle­rose Múlti­pla e da Orga­ni­za­ção Mundi­al da Saúde (OMS), pub­li­ca­dos em 2013, indi­cavam que no Brasil exis­ti­am 40 mil casos da doença. Denis Bichuet­ti disse, porém, que esse número está subes­ti­ma­do. “Por ser uma doença crôni­ca e a pes­soa viv­er com ela por 30 ou 40 anos, deve haver pelo menos o dobro de brasileiros com escle­rose múlti­pla. O prob­le­ma é que nem todos estão ple­na­mente diag­nos­ti­ca­dos”.

De acor­do com o Min­istério da Saúde, a prevalên­cia média da doença no Brasil é de 8,69 para cada 100 mil habi­tantes. No mun­do, esti­ma-se que entre 2 mil­hões e 2,5 mil­hões de pes­soas con­vi­vam com a escle­rose múlti­pla.

Diante de sin­tomas súbitos, que ocor­ram de uma hora para out­ra, como a per­da da visão de um olho, dor, alter­ações da sen­si­bil­i­dade, per­da da função de um mem­bro, visão dupla, tro­ca de palavras, a pes­soa deve bus­car ime­di­ata­mente um hos­pi­tal porque pode ser um AVC. Em ger­al, os sin­tomas da escle­rose múlti­pla evoluem ao lon­go de vários dias ou sem­anas. Por­tan­to, a recomen­dação é que pro­cure auxílio médi­co.

O ide­al é que a pes­soa vá a um neu­rol­o­gista, mas como nem todas as cidades no Brasil dis­põem desse espe­cial­ista, a recomen­dação é procu­rar um clíni­co de con­fi­ança ou um pron­to-socor­ro. Denis Bichuet­ti acres­cen­tou que se os sin­tomas forem muito agu­dos, o paciente deve ser lev­a­do para uma emergên­cia que tem os mecan­is­mos de avaliar se não é out­ra coisa que pre­cisa ser trata­da. “A escle­rose múlti­pla pode esper­ar até aman­hã. O AVC não pode”, exem­pli­fi­cou.

Mulheres

Guil­herme Torezani infor­mou que a doença atinge duas vezes mais mul­heres do que home­ns e é diag­nos­ti­ca­da, em média, aos 30 anos na mul­her, na idade mais pro­du­ti­va, emb­o­ra pos­sa acome­ter des­de cri­anças até pes­soas mais idosas. Isso vale para out­ras doenças autoimunes, como lúpus, doença de Crohn, por exem­p­lo. Segun­do expli­cou Denis Bichuet­ti, a mul­her tem tendên­cia maior a desen­volver doenças autoimunes por fatores genéti­cos. “Não é uma coisa exclu­si­va da escle­rose múlti­pla, mas do gênero fem­i­ni­no em ger­al’.

O trata­men­to é feito com medica­men­tos. Atual­mente, exis­tem no mun­do cer­ca de 14 ou 16 medica­men­tos aprova­dos por agên­cia reg­u­lado­ra, com recon­hec­i­men­to cien­tí­fi­co para o trata­men­to. Dess­es, em torno de 12 exis­tem no Brasil e dez estão disponíveis na rede do Sis­tema Úni­co de Saúde (SUS) e den­tro do rol da Agên­cia Nacional de Saúde Suple­men­tar.

“No Brasil, sal­vo a questão do atra­so no diag­nós­ti­co e a demo­ra, muitas vezes, para chegar a um neu­rol­o­gista, nós temos medica­men­tos aprova­dos tan­to no SUS quan­to na saúde suple­men­tar que nada devem a out­ros país­es. O grande prob­le­ma é as pes­soas chegarem ao neu­rol­o­gista, o que no SUS é bem mais com­pli­ca­do do que no sis­tema pri­va­do”, afir­mou o pro­fes­sor da Unife­sp.

Recomendação

Denis Bichuet­ti disse ain­da que, neste dia 30, o reca­do para a pop­u­lação é que a doença afe­ta pes­soas jovens, é poten­cial­mente inca­pac­i­tante, mas tem trata­men­to. “E com um trata­men­to ade­qua­do, podemos evi­tar seque­las. Essas pes­soas podem e devem ser man­ti­das den­tro dos seus cír­cu­los soci­ais e ambi­entes de tra­bal­ho”.

Aos empre­gadores, Bichuet­ti pediu que não vejam fun­cionários por­ta­dores da doença como inváli­dos, mas sim como pes­soas que, se rece­berem trata­men­to ade­qua­do, vão con­tin­uar pro­duzin­do muito bem e não devem ser demi­ti­das. “Olhadas como pes­soas com qual­quer out­ra doença, que têm altos e baixos e mere­cem a mes­ma opor­tu­nidade de todo mun­do”.

Guil­herme Torezani ressaltou tam­bém a importân­cia de desmisti­ficar a doença. Não é uma sen­tença de morte nem sen­tença de invalidez, asse­gurou. Há pacientes em trata­men­to estáveis, há anos sem ter sur­tos, viven­do uma vida prati­ca­mente nor­mal. “É isso que a gente tem que deixar como men­sagem”.

O neu­ro­cirurgião Clau­dio Fer­nan­des Cor­rêa, ide­al­izador e coor­de­nador do Cen­tro de Dor e Neu­ro­cirur­gia Fun­cional do Hos­pi­tal 9 de Jul­ho, sug­eriu aos por­ta­dores da doença a práti­ca reg­u­lar de ativi­dades físi­cas, ali­a­da à fisioter­apia moto­ra e asso­ci­ação de med­icação para o con­t­role esfinc­te­ri­ano, caso esse seja com­pro­meti­do. Para casos de alter­ação do con­t­role mus­cu­lar, car­ac­ter­i­za­da por rigidez e ten­são dos mús­cu­los, Cor­rêa recomen­dou a fisioter­apia de reabil­i­tação físi­ca soma­da à med­icação, bem como pro­ced­i­men­tos neu­ro­cirúr­gi­cos em cenários mais lim­i­tantes.

Edição: Graça Adju­to

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