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Diálogos Amazônicos mostram a sabedoria e projetos das mulheres negras

Repro­dução: @ Este­vam Cos­ta / PR

Evento reuniu experiências e conhecimentos de comunidades tradicionais


Pub­li­ca­do em 07/08/2023 — 21:41 Por Pedro Peduzzi — Repórter da Agên­cia Brasil — Belém

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As mul­heres negras das comu­nidades amazôni­cas têm, em comum, uma for­ma espe­cial de enx­er­gar as coisas. Natureza e cor­po; ges­tação e cri­ação; ali­men­tos e cli­ma; água, Lua e até mes­mo o orgâni­co e o espir­i­tu­al têm algo em comum: tudo inte­gra e é inte­gra­do por cic­los.

Mulheres negras participam de plenária do Diálogos Amazônicos, em Belém (PA)
Repro­dução: Este­vam Costa/PR

“Nós, mul­heres amazônidas, ges­ta­mos e mater­namos a ter­ra, no sen­ti­do do cuidar e inte­grar todos os cic­los dos quais faze­mos parte”, expli­ca Joyce Cursi­no, durante par­tic­i­pação nos Diál­o­gos Amazôni­cos, em Belém (PA).

Ela é dire­to­ra exec­u­ti­va da Negri­tar, uma enti­dade que atua em apoio às mul­heres negras em seus mais diver­sos ambi­entes. “Temos sabedo­rias que vão muito além do ester­iótipo de ‘cabo­clin­ha’, for­ma pejo­ra­ti­va como cos­tu­mamos ser vis­tas pelas pes­soas do sul do Brasil”, acres­cen­tou.

Curandeira

Algu­mas ervas que servem para chás med­i­c­i­nais, servem para ban­ho, expli­ca a curan­deira Raimun­da Mar­ta. Ela inte­gra o Movi­men­to dos Atingi­dos por Bar­ra­gens do Amapá. Os con­hec­i­men­tos tradi­cionais dela para limpeza do cor­po e para as aju­das espir­i­tu­ais vêm dos ances­trais e da umban­da.

Ela expli­ca que as inter­fer­ên­cias de três hidrelétri­c­as no Rio Araguari prej­u­dicaram bas­tante a roti­na de diver­sas comu­nidades da região. O olhar da curan­deira tam­bém car­rega uma óti­ca de cic­los sim­i­lar à da dire­to­ra do Negri­tar.

“As hidrelétri­c­as e a poluição afe­taram o ciclo da água, que afe­ta o ciclo dos peix­es que fazem parte do nos­so ciclo ali­men­tar. Essas inter­fer­ên­cias prej­u­dicaram a saúde da nos­sa comu­nidade”, acres­cen­tou referindo-se à roti­na de diar­reia e vômi­to pela qual pas­sam muitos de sua região, local­iza­da nos arredores de Macapá (AP).

Liderança

Primeira comu­nidade quilom­bo­la tit­u­la­da no Brasil, o Quilom­bo Boa Vista Trom­be­tas, no municí­pio paraense de Orix­im­iná, tem como uma de suas lid­er­anças uma mul­her: Maria Zulei­de Viana, de 68 anos.

Ela par­ticipou de algu­mas ativi­dades durante o Diál­o­gos Amazôni­cos, even­to prévio à Cúpu­la da Amazô­nia que reunirá chefes de Esta­do dos país­es da região entre os dias 8 e 9 próx­i­mos. Uma dessas ativi­dades envolver­am os jovens de comu­nidades quilom­bo­las, que reivin­di­cavam maior par­tic­i­pação na for­mu­lação das pro­postas que serão apre­sen­tadas aos chefes de Esta­do durante a Cúpu­la.

“A Amazô­nia tam­bém é negra. Nós moramos e somos parte da Amazô­nia. Não ape­nas faze­mos parte da natureza. Nós somos a natureza”, disse ela à Agên­cia Brasil.

Jovens negras na plenária dos Diálogos Amazônicos
Repro­dução: Jovens negras nos Diál­o­gos Amazôni­cos — Este­vam Costa/PR

Sobre o movi­men­to de jovens, a lid­er­ança quilom­bo­la disse se sen­tir rep­re­sen­ta­da ali tam­bém. “Eles são fru­to e resul­ta­do do nos­so tra­bal­ho. São sementes que nós jog­amos na ter­ra”, disse ela ao obser­var, nesse proces­so, uma out­ra relação cícli­ca.

Entre as sementes que já ger­aram fru­tos nas novas ger­ações de sua comu­nidade está, segun­do ela, a diminuição do patri­ar­ca­do. “Home­ns e mul­heres têm papéis cada vez mais pare­ci­dos entre nós”, disse ao comen­tar que, no pas­sa­do, havia ali um machis­mo mais arraiga­do.

Quilombolas debatem propostas durante diálogos amazônicos, antes da cúpula da amazônia.
Repro­dução: Este­vam Costa/PR

Base das comunidades

Car­lene Print­es, 35, é coor­de­nado­ra de gênero da Malun­gu, asso­ci­ação quilom­bo­la da qual a comu­nidade Trom­be­tas é inte­grante. Ela expli­ca que quem sus­ten­ta as bases da comu­nidade são as mul­heres. “Temos tam­bém um papel muito forte nas nos­sas artic­u­lações”, disse a jovem, uma das par­tic­i­pantes mais ati­vas nas reuniões durante o Diál­o­gos Amazôni­cos.

A expli­cação de Car­lene sobre o papel da mul­her negra em comu­nidades quilom­bo­las em muito se assemel­ha àquela descri­ta por Joyce Cursi­no, do Negri­tar. “As mul­heres, em muitos casos, são a base do ter­ritório, rel­e­vantes para a pro­teção do espaço e das comu­nidades. Tudo está vin­cu­la­do à ideia do cuida­do e da autono­mia para o bem viv­er”, disse.

“Nós, mul­heres, somos o elo entre ter­ritório, ali­men­to e ges­tação de proces­sos e pro­je­tos necessários para man­ter­mos o equi­líbrio com a natureza, porque nós somos a natureza que nos nutre”, com­ple­men­tou.

Edição: Marce­lo Brandão

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