...
sexta-feira ,16 maio 2025
Home / Meios de comunicação / DR com Demori: jornalista detalha investigação sobre família Bolsonaro

DR com Demori: jornalista detalha investigação sobre família Bolsonaro

Programa vai ao ar esta terça-feira (29), às 23h, na TV Brasil

Gabriela Mendes — Repórter da TV Brasil
Pub­li­ca­do em 29/04/2025 — 08:02
Brasília
São Paulo SP 02/04/2025 Jornalista Juliana Dal Piva, convidada do programa DR com Demori na Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
Repro­dução: © Paulo Pinto/Agência Brasil

A jor­nal­ista Juliana Dal Piva é a con­vi­da­da des­ta terça-feira do pro­gra­ma DR com Demori, da TV Brasil. Ela falou sobre os basti­dores de suas inves­ti­gações envol­ven­do a família Bol­sonaro e os desafios enfrenta­dos ao lon­go do proces­so. Durante a con­ver­sa, ela tam­bém apre­sen­tou seu novo livro, que tra­ta do assas­si­na­to de Rubens Pai­va durante a ditadu­ra mil­i­tar e dis­cu­tiu a importân­cia da respon­s­abi­liza­ção por crimes con­tra a humanidade.

Con­heci­da por seu tra­bal­ho inves­tiga­ti­vo, Juliana foi respon­sáv­el por reporta­gens que der­am origem ao pod­cast A Vida Sec­re­ta de Jair e ao livro O Negó­cio do JairAo con­ver­sar com o jor­nal­ista Lean­dro Demori, ela afir­mou que o mate­r­i­al reunido rev­el­ou a existên­cia de um esque­ma de desvio de salários envol­ven­do gabi­netes da família Bol­sonaro des­de os anos 1990. “Era um esque­ma úni­co em que o pai botou os fil­hos na políti­ca para enrique­cer e cri­ar tan­to um poder políti­co quan­to um poder finan­ceiro”, afir­mou.

A inves­ti­gação, que começou com o relatório do Con­sel­ho de Con­t­role de Ativi­dades Finan­ceiras (Coaf), sobre Fab­rí­cio Queiroz, ex-asses­sor de Flávio Bol­sonaro, rev­el­ou uma estru­tu­ra mais ampla. Segun­do Juliana, ao menos 286 fun­cionários pas­saram pelos gabi­netes da família ao lon­go de 30 anos. “A ex-cun­ha­da dele, a Andréa Siqueira Valle […] ficou 20 anos como fun­cionária fan­tas­ma entre o gabi­nete do Bol­sonaro, do Flávio e do Car­los, devol­ven­do 80%, 90% do salário dela durante todos ess­es 20 anos.”

Segun­do Juliana, o uso de din­heiro em espé­cie era uma práti­ca con­stante nos esque­mas envol­ven­do os gabi­netes da família. “A família Bol­sonaro tem aler­gia ao sis­tema bancário”, afir­mou, em tom críti­co.

“Nos­so queri­do Pix, emb­o­ra diga que criou — o que não é ver­dade -, mas tem aler­gia. TED, Pix, não chega, não gos­ta, dá urticária, enten­deu?”

 De acor­do com a jor­nal­ista, imóveis e out­ros bens eram adquiri­dos com grandes quan­tias em din­heiro vivo, numa ten­ta­ti­va de driblar os sis­temas de con­t­role finan­ceiro e difi­cul­tar o ras­trea­men­to das oper­ações.

São Paulo SP 02/04/2025 Jornalista Juliana Dal Piva, convidada do programa DR com Demori na Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
Repro­dução: Jor­nal­ista Juliana Dal Piva, con­vi­da­da do pro­gra­ma DR com Demori — Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

As denún­cias tam­bém ger­aram reações. Juliana con­tou que pas­sou a sofr­er ameaças após a pub­li­cação de reporta­gens, incluin­do men­sagens ofen­si­vas, proces­sos judi­ci­ais e ataques em redes soci­ais. Em 2022, uma decisão judi­cial cen­surou tem­po­rari­a­mente uma reportagem assi­na­da por ela sobre os bens da família Bol­sonaro. “Ele só pede a cen­sura, a reti­ra­da das matérias do ar”, disse, ao comen­tar a ação do senador Flávio Bol­sonaro. A decisão foi rever­ti­da pelo Supre­mo Tri­bunal Fed­er­al.

Juliana rela­tou um dos episó­dios mais graves enfrenta­dos por ela no ano pas­sa­do, quan­do teve sua imagem usa­da em uma mon­tagem for­ja­da. “For­jaram con­ver­sas, usan­do a min­ha imagem, como se fos­se uma con­ver­sa min­ha com uma pes­soa que eu sequer iden­ti­fi­co”, con­tou.

A mon­tagem cir­cu­lou por três meses e, segun­do ela, ger­ou uma onda de inci­tação ao ódio. “Rece­bi men­sagem de gente dizen­do que me via per­to da min­ha casa, inci­tan­do o suicí­dio, esse tipo de coisa.”

Para Juliana, as con­se­quên­cias vão além do impacto profis­sion­al. “Esse tipo de coisa é uma situ­ação que nun­ca é só você, é você e sua família. […] Vai cansan­do, você só quer tra­bal­har, eu só que­ria tra­bal­har em paz, faz­er meu tra­bal­ho.”

Ela afir­ma que segue toman­do medi­das legais. “Aos crim­i­nosos, a lei. Eles foram denun­ci­a­dos, estão sendo inves­ti­ga­dos, tam­bém estou proces­san­do boa parte dessas pes­soas por dano moral. Mas tudo isso tam­bém te toma tem­po, te toma ener­gia.”

Além das reporta­gens sobre a família Bol­sonaro, Juliana tam­bém se dedi­cou à cober­tu­ra do assas­si­na­to da vereado­ra Marielle Fran­co. Ao comen­tar as inves­ti­gações, Juliana Dal Piva afir­mou que o caso expôs fal­has estru­tu­rais no sis­tema de segu­rança públi­ca do Rio de Janeiro.

Segun­do ela, a con­dução ini­cial da apu­ração demon­strou sinais claros de con­t­a­m­i­nação e omis­são. “O fato dessa inves­ti­gação não ter con­segui­do esclare­cer des­de o iní­cio mostra a con­t­a­m­i­nação dela em si”, disse.

Juliana desta­cou ain­da que, já à época do crime, havia con­hec­i­men­to públi­co de que a Del­e­ga­cia de Homicí­dios do Rio de Janeiro não inves­ti­ga­va deter­mi­na­dos assas­si­natos lig­a­dos a bicheiros e mili­cianos. “Eles eram trata­dos como heróis”, afir­mou, referindo-se a fig­uras como Ron­nie Lessa e Adri­ano da Nóbre­ga.

A jor­nal­ista tam­bém lem­brou que foi a par­tir da inves­ti­gação do caso Marielle que vier­am à tona infor­mações sobre o “escritório do crime”, grupo de ex-poli­ci­ais mil­itares acu­sa­dos de exe­cuções por encomen­da. Para ela, o caso fun­cio­nou como uma por­ta de entra­da para rev­e­lações mais amplas sobre uma rede de crimes sus­ten­ta­da por agentes públi­cos.

No final da con­ver­sa, Juliana apre­sen­tou seu novo livro, Crime sem cas­ti­go – Como os mil­itares mataram Rubens Pai­va, pub­li­ca­do pela Matrix Edi­to­r­i­al. A obra recon­strói as qua­tro décadas de bus­ca da família Pai­va por justiça, rev­e­lando doc­u­men­tos até então inédi­tos sobre a repressão durante a ditadu­ra mil­i­tar.

Segun­do a jor­nal­ista, o caso é emblemáti­co por ser o primeiro homicí­dio do perío­do dita­to­r­i­al a ser proces­sa­do judi­cial­mente no Brasil e pode abrir cam­in­ho para rein­ter­pre­tações da Lei da Anis­tia. “Pode abrir ago­ra jus­ta­mente a pos­si­bil­i­dade da dis­cussão do alcance da lei de anis­tia, para que real­mente os tor­tu­radores pos­sam ser jul­ga­dos por crimes que não devem ser anis­ti­a­dos”, afir­mou.

Juliana ressaltou que a dis­cussão deve ir além do desa­parec­i­men­to força­do, con­sid­er­a­do um crime per­ma­nente. A jor­nal­ista defend­eu que o Supre­mo Tri­bunal Fed­er­al amplie o entendi­men­to para incluir todos os crimes con­tra a humanidade, como assas­si­natos, estupros e tor­tu­ra. “Todos os graves crimes de vio­lações de dire­itos humanos […] sejam todos passíveis de jul­ga­men­to”, con­cluiu.

O pro­gra­ma DR com Demori vai ao toda terça-feira, às 23h, na TV Brasil, no aplica­ti­vo TV Brasil Play e no YouTube da emis­so­ra pública. Tam­bém é veic­u­la­do nas rádios Nacional FM e MEC.

LOGO AG BRASIL

Você pode Gostar de:

Orquestra de Câmara da USP celebra 30 anos com concertos gratuitos

Serão duas apresentações: uma nesta sexta, às 20; outra no domingo Matheus Cro­belat­ti* – estag­iário …