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DR com Demori: juiz Appio revela ilegalidades e abusos na Lava Jato

Magistrado foi titular da 13ª Vara Federal responsável pela operação

Gabriela Mendes — Repórter da EBC
Pub­li­ca­da em 24/09/2024 — 08:00
Brasília
Ver­são em áudio
Brasília (DF), 11/09/2024 - O juiz Eduardo Appio é o convidado do programa DR com Demori na Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Foto: Bruno Peres/Agência Brasil
Repro­dução: © Bruno Peres/Agência Brasil

“Tín­hamos indí­cios con­cre­tos de espi­onagem políti­ca na 13ª vara”. A afir­mação é do juiz fed­er­al Eduar­do Appio, que em entre­vista con­ce­di­da ao pro­gra­ma Dan­do a Real com Lean­dro Demori, da TV Brasil, desta­ca que sua sus­pei­ta foi con­fir­ma­da no relatório do então cor­rege­dor nacional de Justiça do Con­sel­ho Nacional de Justiça (CNJ), Luis Felipe Salomão.

Em 2023, Appio foi tit­u­lar da 13ª Vara Fed­er­al de Curiti­ba, respon­sáv­el pelos proces­sos da Oper­ação Lava Jato.

A pas­sagem do juiz pelo car­go durou menos de qua­tro meses, mas foi deci­si­va para mudar os rumos da oper­ação. Segun­do Appio, a Lava Jato, sob o coman­do de Ser­gio Moro, come­teu ile­gal­i­dades e abu­sos.

“Eu con­segui reti­rar o sig­i­lo dos proces­sos mais impor­tantes, quais sejam, a con­ta bancária que chegou a acu­mu­lar uma trans­fer­ên­cia de R$ 5 bil­hões de din­heiro da União. Era secre­to, sig­i­lo do Moro impos­to des­de 2016.”

Segun­do Appio, “o que se pre­tendia faz­er com esse val­or era a con­sti­tu­ição de uma insti­tu­ição pri­va­da, geri­da por eles próprios, ou suas respec­ti­vas esposas ou alguém de sua con­fi­ança e que não estaria sujei­ta ao con­t­role do Tri­bunal de Con­tas da União.”

Afastamento da Lava Jato

Em 2023, o desem­bar­gador fed­er­al Marce­lo Malu­cel­li assi­nou um despa­cho que resta­b­ele­cia uma ordem de prisão con­tra Rodri­go Tacla Duran. Eduar­do Appio havia sus­pendi­do a ordem de prisão dec­re­ta­da em 2016 por Ser­gio Moro.

O obje­ti­vo era garan­tir o sal­vo-con­du­to, doc­u­men­to que garan­tia o dire­ito de Tacla Duran desem­bar­car no Brasil sem ser pre­so e, assim, prestar depoi­men­to. Ele foi advo­ga­do de empre­it­eiras alvo da Oper­ação Lava Jato e acu­sou Ser­gio Moro de extorsão.

Appio acred­i­ta­va em um con­fli­to de inter­esse na atu­ação de Malu­cel­li, pois descon­fi­a­va que o fil­ho do desem­bar­gador era sócio de Ser­gio Moro. Para con­fir­mar a infor­mação, Appio admite, pela primeira vez, ter sido o autor do tele­fone­ma que o fez ser afas­ta­do da 13ª Vara Fed­er­al de Curiti­ba.

Eduar­do Appio foi acu­sa­do de ameaçar o fil­ho do desem­bar­gador fed­er­al, o advo­ga­do João Eduar­do Malu­cel­li, por meio de um número blo­quea­do.

“Meu papel, como juiz, e é isso que eu gostaria que as pes­soas que estão em casa enten­dessem, meu papel é com­bat­er a cor­rupção. Aque­la Vara não foi cri­a­da com o sen­ti­do de ser uma Vara anti­cor­rupção? Então eu, juiz, iria fechar os olhos para a cor­rupção?”, disse.

Appio con­tou que obteve a infor­mação, por meio de um jor­nal­ista próx­i­mo, de que o advo­ga­do João Eduar­do Malu­cel­li pode­ria ser fil­ho ou sobrin­ho do desem­bar­gador. Naque­la ocasião, o advo­ga­do, quan­do era ques­tion­a­do pela impren­sa sobre o tema, nega­va o vín­cu­lo famil­iar.

“Eu disse: ‘Me dá o número do tele­fone que eu mes­mo vou checar essa infor­mação’. Era para enten­der se era fil­ho ou se era sobrin­ho. Se fos­se sobrin­ho, não have­ria qual­quer prob­le­ma. Sendo fil­ho, prob­le­mas graves. Indí­cios de cor­rupção, porque, se Malu­cel­li esta­va juris­di­cio­nan­do os proces­sos que afe­tavam dire­ta­mente o inter­esse do Ser­gio Moro, Tacla Duran sem­pre foi o arqui-inimi­go de Ser­gio Moro jun­to com Rober­to Berto­lo, então, como que pode­ria juris­di­cionar e ao mes­mo tem­po o fil­ho ser sócio do Moro?”

Marce­lo Malu­cel­li disse à Cor­rege­do­ria Nacional de Justiça que não sabia da sociedade entre o fil­ho e o ex-juiz Moro. O desem­bar­gador se afas­tou dos casos da Lava Jato depois que a sociedade foi rev­e­la­da.

Eduar­do Appio admite que sua con­du­ta foi inad­e­qua­da e que isso prej­u­di­cou o apro­fun­da­men­to das inves­ti­gações sobre as con­du­tas na Lava Jato.

“Min­ha obri­gação era essa. (…) Era uma checagem de infor­mação, fora do horário de expe­di­ente. O rapaz negou que fos­se par­ente do Malu­cel­li e quem gravou a con­ver­sa acabou sendo a fil­ha da Rosân­gela e do Ser­gio Moro (…) que tem essa união estáv­el já há cin­co anos com o fil­ho do Malu­cel­li. Ela gravou a con­ver­sa, estavam almoçan­do jun­tos em casa. Ela gravou a con­ver­sa, botou na mão do pai dela e o pai dela fez o resto”, rela­tou.

Segun­do o juiz, “Ser­gio Moro con­seguiu sim, de fato, me tirar de cam­po, deu uma canela­da, mas con­tou, obvi­a­mente, naque­le momen­to, com a conivên­cia e o apoio irrestri­to de uma parcela impor­tante do Tri­bunal Region­al Fed­er­al da 4ª região, que sem­pre foi tido pela impren­sa como o tri­bunal da Lava Jato, com raras exceções. (…)”.

“Hoje, ven­do ret­ro­spec­ti­va­mente, eu digo: não, não teria feito. Evi­den­te­mente, acho que o meio foi inad­e­qua­do. Não hou­ve ameaça, não hou­ve con­strang­i­men­to e o rapaz ain­da men­tiu dizen­do que não era par­ente. Todavia, claro que a min­ha per­manên­cia lá teria sido impor­tante porque eu pode­ria ter apro­fun­da­do as inves­ti­gações em torno dessas inter­cep­tações tele­fôni­cas. Nesse sen­ti­do, eu me ress­in­to”, acres­cen­tou.

A entre­vista de Eduar­do Appio ao pro­gra­ma de Lean­dro Demori vai ao ar nes­ta terça-feira, às 23h30, na TV Brasil.

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