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Educadores elogiam possível restrição ao uso de celulares nas escolas

Repro­dução: © Rove­na Rosa/Agência Brasil

Governo deverá propor medidas sobre o tema em outubro


Publicado em 22/09/2024 — 09:41 Por Pedro Peduzzi — Repórter da Agência Brasil — Brasília

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Pro­fes­sores e ori­en­ta­dores edu­ca­cionais avaliam como pos­i­ti­va a pos­si­bil­i­dade de o Min­istério da Edu­cação atu­ar para banir o uso de celu­lar nas esco­las públi­cas e pri­vadas do país. Pre­vista para ser apre­sen­ta­da em out­ubro, essa e out­ras pro­postas podem ser ado­tadas com o obje­ti­vo de con­ter os pre­juí­zos do uso exces­si­vo de telas na infân­cia e na ado­lescên­cia.

Recen­te­mente, o min­istro da Edu­cação, Cami­lo San­tana, defend­eu essa ideia durante uma entre­vista ao jor­nal Fol­ha de S.Paulo. Na opor­tu­nidade, ele citou algu­mas pesquisas indi­can­do que o uso dessas tec­nolo­gias, além de com­pro­m­e­ter apren­diza­do e desem­pen­ho dos alunos, impactaria tam­bém a saúde men­tal de pro­fes­sores.

Ori­en­ta­do­ra edu­ca­cional da Sec­re­taria de Edu­cação do Dis­tri­to Fed­er­al, Mari­na Ram­paz­zo expli­ca que profis­sion­ais que tra­bal­ham com edu­cação têm dis­cu­ti­do muito esse assun­to. “Nas con­ver­sas que temos com espe­cial­is­tas de diver­sas áreas vemos vários pre­juí­zos cau­sa­dos pelo exces­so do uso de telas, espe­cial­mente em cri­anças e ado­les­centes”, disse a ped­a­goga e psicólo­ga à Agên­cia Brasil.

como vídeos e comentários postados na internet podem influenciar os interesses e comportamentos individuais
Repro­dução:  “Muitos têm man­i­fes­ta­do ver­dadeiras crises de abstinên­cia quan­do afas­ta­dos de seus celu­lares”, rela­tou a ped­a­goga e psicólo­ga Mari­na Ram­paz­zo — Arquivo/EBC

Pandemia

Ela lem­bra que este já era um prob­le­ma perce­bido antes da pan­demia, mas que, na sequên­cia, se inten­si­fi­cou muito. Segun­do ela, para dar con­ta de todas deman­das acu­mu­ladas, muitos pais e mães del­e­garam os cuida­dos de seus fil­hos às telas.

“A pan­demia deu um poder a mais para a tela. O prob­le­ma já exis­tia, mas havia um con­t­role maior sobre tem­po, espaço, con­teú­do. Na medi­da em que entramos em uma pan­demia e todos ficaram tran­ca­dos den­tro de casa, famílias se viram sem out­ras fer­ra­men­tas para o jovem den­tro de casa”, disse.

Ela acres­cen­ta que não será fácil revert­er esse quadro, mas que a esco­la terá papel deci­si­vo nesse desafio. “Em primeiro lugar, pelo papel social que a esco­la rep­re­sen­ta, pen­san­do edu­cação como algo inte­gral que vai além de repas­sar con­teú­dos, atuan­do tam­bém no cam­po cog­ni­ti­vo, desen­vol­ven­do todos aspec­tos da vida”, expli­cou.

De acor­do com Mari­na, essa dis­cussão per­pas­sa a esco­la porque a social­iza­ção é a for­ma mais efi­ciente para tirar o estu­dante da tela. “É na esco­la que ele pas­sa boa parte do seu tem­po. Se fora da esco­la eles ficam o tem­po todo no celu­lar, den­tro da esco­la é a opor­tu­nidade para eles se rela­cionarem com out­ras pes­soas, com livros de ver­dade e com ativi­dades diver­sas de cul­tura, laz­er e esporte”, argu­men­tou.

Comportamentos antissociais

Segun­do a ori­en­ta­do­ra edu­ca­cional Mar­gareth Nogueira, do colé­gio pri­va­do Arvense, o uso exces­si­vo de telas tem ampli­a­do a anti­s­so­cia­bil­i­dade e o bul­ly­ing nas esco­las. “Entre os 10 e os 12 anos é muito impor­tante que os estu­dantes usem o diál­o­go em seus três níveis de com­plex­i­dade, que é o pen­sar, o refle­tir e o de con­sistên­cia, com razões e con­tra­posições a um tema”, expli­cou.

Brasília, 21/07/2023, A estudante Júlia, mexe em seu celular. Sonhos das juventudes: políticas ajudam a potencializar trajetórias e criar oportunidades. Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil
Repro­dução: A exposição exces­si­va a telas tem ampli­a­do a anti­s­so­cia­bil­i­dade e o bul­ly­ing nas esco­las. Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

“Se ele não con­segue entrar nesse nív­el, com argu­men­tos, con­tra-argu­men­tos e con­sen­sos, não há diál­o­go. O que vemos é que ouvir o out­ro tem sido, para eles, algo cada vez mais com­plexo. É muito impor­tante que eles desen­volvam tro­cas, que se olhem olho no olho. Eles pre­cisam de diál­o­go, inter­a­tivi­dade e de tro­ca de opiniões”, acres­cen­tou.

Segun­do ela, os celu­lares têm prej­u­di­ca­do tam­bém a visão dos estu­dantes. “Eles estão usan­do ócu­los cada vez mais cedo por con­ta do uso exces­si­vo dessas telas”.

Vício

Out­ra pre­ocu­pação dos edu­cadores é com a relação viciante pro­por­ciona­da pelos celu­lares em cri­anças e ado­les­centes.

“Muitos têm man­i­fes­ta­do ver­dadeiras crises de abstinên­cia quan­do afas­ta­dos de seus celu­lares. Eles ficam mais agres­sivos, impa­cientes e intol­er­antes. É cada vez mais comum casos de meni­nos que­bran­do a casa inteira quan­do proibidos de usar o dis­pos­i­ti­vo”, rela­tou Mari­na Ram­paz­zo.

Mar­gareth Nogueira percebe tam­bém que, dev­i­do a esse “vício tec­nológi­co”, os alunos têm chega­do em sala mais agi­ta­dos, impa­cientes e agres­sivos. “A com­pet­i­tivi­dade entre eles tam­bém está mais alta, reflexo dos estí­mu­los cau­sa­dos por jogos. A ali­men­tação, a roti­na e o sono estão cada vez mais prej­u­di­ca­dos. Isso reflete dire­ta­mente no fun­ciona­men­to cere­bral”, disse.

“A ver­dade é que eles não têm maturi­dade nem respos­ta cere­bral para usar o celu­lar de for­ma sis­temáti­ca. E, para pio­rar, nem sem­pre é pos­sív­el que os adul­tos super­vi­sionem de for­ma ade­qua­da o uso dess­es apar­el­hos”, com­ple­men­tou.

Suporte às novas regras

Caso se con­firmem as medi­das anun­ci­adas pelo min­istro, é impor­tante que as esco­las garan­tam uma estru­tu­ra sufi­ciente que deem aces­so aos mate­ri­ais da inter­net con­sid­er­a­dos inter­es­santes para uso em sala de aula. “Esse aces­so deve ser por meio de fer­ra­men­tas da esco­la, como com­puta­dores, por exem­p­lo. Não pelos celu­lares dos estu­dantes. Todos sabe­mos como é difí­cil ter con­t­role sobre a for­ma como eles usarão ess­es dis­pos­i­tivos”, argu­men­tou Mar­gareth.

Para­le­la­mente, é impor­tante que, em casa, out­ros estí­mu­los inde­pen­dentes de telas sejam pro­por­ciona­dos pelas famílias “Áreas como arte, cul­tura, esporte e laz­er podem aju­dar, nesse sen­ti­do. Espe­cial­mente quan­do volta­dos à social­iza­ção”, acres­cen­tou Mari­na.

Edição: Marce­lo Brandão

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