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El Niño: pesquisadores preveem mais calor no Sudeste e Centro-Oeste

Repro­dução: © Paulo Pinto/Agência Brasil

Efeitos do evento climático devem persistir até abril de 2024


Pub­li­ca­do em 15/11/2023 — 11:22 Por Léo Rodrigues – Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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A onda de calor sen­ti­da nos últi­mos dias nas regiões Sud­este e Cen­tro-Oeste do país sofre influên­cia do fenô­meno El Niño, segun­do apon­tam pesquisadores ouvi­dos pela Agên­cia Brasil. A Orga­ni­za­ção Mete­o­rológ­i­ca Mundi­al (OMM) esti­ma que os efeitos do El Niño devem ser sen­ti­dos pelo menos até abril do próx­i­mo ano.

“Tudo indi­ca que ter­e­mos um verão extrema­mente quente. É um El Niño de inten­si­dade muito forte que, jun­ta­mente com o aque­c­i­men­to glob­al, pro­duz ess­es efeitos que nós esta­mos ven­do”, diz o coor­de­nador da Rede Cli­ma da Uni­ver­si­dade de Brasília (UnB), Saulo Rodrigues Pereira Fil­ho. Como efeitos do fenô­meno climáti­co, ele cita ain­da a seca no Ama­zonas, as chu­vas inten­sas no Sul do país e o calor extremo no Sud­este e no Cen­tro-Oeste.

Os ter­mômet­ros do Rio de Janeiro já havi­am super­a­do os 40°C em algu­mas ocasiões nes­ta sem­ana. Na cap­i­tal flu­mi­nense, a sen­sação tér­mi­ca super­ou os 58°C nes­ta terça-feira (14). Já no Cen­tro-Oeste, dados do Insti­tu­to Nacional de Mete­o­rolo­gia (Inmet) rel­a­tivos a ontem indicaram que Cuiabá foi a cap­i­tal mais quente do país.

Ricar­do de Camar­go, mete­o­rol­o­gista do Insti­tu­to de Astrono­mia, Geofísi­ca e Ciên­cias Atmos­féri­c­as da Uni­ver­si­dade de São Paulo (USP) tam­bém crê que essa onda de calor inten­sa pode se repe­tir.

“Real­mente podemos enfrentar situ­ações pare­ci­das como essa jus­ta­mente por con­ta da influên­cia do El Niño. É bem prováv­el que a gente ten­ha as condições propí­cias para o acon­tec­i­men­to de novas ondas de calor. O que não dá para faz­er é uma ante­ci­pação tão fidedigna e tão asserti­va de quan­do isso pode acon­te­cer.”

O fenô­meno El Niño é car­ac­ter­i­za­do pelo enfraque­c­i­men­to dos ven­tos alí­sios (que sopram de Leste para Oeste) e pelo aque­c­i­men­to anor­mal das águas super­fi­ci­ais da porção leste da região equa­to­r­i­al do Oceano Pací­fi­co. As mudanças na inter­ação entre a super­fí­cie oceâni­ca e a baixa atmos­fera têm con­se­quên­cias no tem­po e no cli­ma em difer­entes partes do plan­e­ta. Isso porque a dinâmi­ca de cir­cu­lação das mas­sas de ar ado­ta novos padrões de trans­porte de umi­dade, afe­tan­do a tem­per­atu­ra e a dis­tribuição das chu­vas.

São Paulo SP 12/11/2023 Alta temperatura no Vale do Anhangabau com termometro marcando 39 garus. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
Repro­dução: Prefeitu­ra de São Paulo dis­tribui água no Vale do Anhangabau, onde os ter­mômet­ros mar­caram 39 °C nes­ta terça-feira (14) — Paulo Pinto/Agência Brasil

O El Niño – que ocorre em inter­va­l­os de tem­po que vari­am entre três e sete anos – per­siste em média de seis a 15 meses. Segun­do Saulo Rodrigues, no Brasil, o fenô­meno provo­ca seca nas regiões Norte e Nordeste. Já o Sul reg­is­tra ocor­rên­cia de chu­vas tor­ren­ci­ais e ciclones extra­t­rop­i­cais.

No Sud­este, con­forme obser­va Ricar­do de Camar­go, a tran­sição para o regime de chu­vas, como é esper­a­da para essa época do ano, está demor­an­do.

“Esta­mos ten­do um perío­do extrema­mente lon­go em que não há atu­ação de nen­hu­ma frente fria. Elas não estão con­seguin­do avançar em direção ao Sud­este e ao Cen­tro-Oeste. Chove muito no Sul e as frentes frias vão emb­o­ra dire­to para o oceano”.

O mete­o­rol­o­gista expli­ca como a movi­men­tação no Oceano Pací­fi­co está lig­a­da com essa situ­ação. “A atmos­fera sente a mudança do posi­ciona­men­to das águas quentes que saem lá de per­to da Ásia, da Aus­trália e da Ocea­nia e vêm ocu­par porções mais cen­trais ou até mais próx­i­mas da Améri­ca do Sul. E aí existe um impacto. Uma das assi­nat­uras é jus­ta­mente essa difi­cul­dade dos sis­temas frontais con­seguirem avançar mais em direção ao Sud­este e ao Cen­tro-Oeste”.

Aquecimento global

CIDADE DO MÉXICO (Reuters) - Pelo menos 27 pessoas morreram em decorrência do furacão Otis e outras quatro ainda estavam desaparecidas, informou o governo do México nesta quinta-feira, depois que uma das tempestades mais poderosas a atingir o país se abateu sobre o resort de praia de Acapulco, no Pacífico, na madrugada do dia anterior. 25/10/2023 REUTERS/Henry Romero
Repro­dução: Pelo menos 27 pes­soas mor­reram em decor­rên­cia do furacão Otis, no Méx­i­co. Para espe­cial­is­tas em cli­ma, even­tos extremos como esse vão ocor­rer com maior fre­quên­cia e inten­si­dade por causa do aque­c­i­men­to glob­al — REUTERS/Henry Romero

Mas só o El Niño não é sufi­ciente para explicar a situ­ação, segun­do avalia o pesquisador da UnB. Ele con­sid­era que o fenô­meno tem uma influên­cia impor­tante, mas a análise dess­es even­tos extremos deve con­sid­er­ar em primeiro lugar o aque­c­i­men­to glob­al. O pesquisador aler­ta para as pro­jeções indi­can­do que as ocor­rên­cias de fortes chu­vas, calor extremo e secas sev­eras dev­erão ficar mais fre­quentes e mais inten­sas. São episó­dios que podem des­en­cadear desas­tres socioam­bi­en­tais e prob­le­mas de saúde.

“Já existe um con­hec­i­men­to cien­tí­fi­co sóli­do sobre a capaci­dade que as mudanças climáti­cas pos­suem de pro­duzir grandes per­das e danos para a sociedade e para as ativi­dades pro­du­ti­vas. As pop­u­lações vul­neráveis se tor­nam muito poten­cial­mente víti­mas desse cenário”, obser­va Saulo Rodrigues.

De acor­do com Ricar­do de Camar­go, não dá mais para colo­car em dúvi­da que as mudanças climáti­cas estão em cur­so. “É inegáv­el que as tem­per­at­uras estão cada vez mais altas em todos os lugares do plan­e­ta de uma maneira quase ger­al. Não há mais espaço para nega­cionis­mo com relação a isso. As pro­jeções indicam que os sis­temas tran­sientes e os even­tos extremos devem ficar mais fre­quentes, mais comuns e irão atin­gir com maior sev­eri­dade. Se fiz­er­mos uma análise do que tem sido divul­ga­do na mídia, ver­e­mos que real­mente o mun­do todo está enfrentan­do essas situ­ações de episó­dios severos”.

O mete­o­rol­o­gista, no entan­to, faz uma pon­der­ação. “É difí­cil atribuir um per­centu­al de respon­s­abil­i­dade da mudança climáti­ca nes­sa onda de calor que esta­mos viven­cian­do ago­ra”, avalia. Segun­do ele, con­sideran­do a mudança no regime de pre­cip­i­tação que tem se obser­va­do, é pos­sív­el faz­er a asso­ci­ação, mas com algum cuida­do.

Políticas Públicas

Saulo Rodrigues obser­va que os prin­ci­pais respon­sáveis pelo aque­c­i­men­to glob­al são os país­es desen­volvi­dos, que emitem maior quan­ti­dade de gas­es de efeito est­u­fa. Ao mes­mo tem­po, ele avalia que o Brasil tem um desafio.

“Nós temos uma matriz energéti­ca com grande per­centu­al de ener­gia ren­ováv­el. A matriz elétri­ca brasileira é 90% com­pos­ta de ener­gia ren­ováv­el. Poucos país­es do mun­do tem essa capaci­dade de pro­duzir ener­gia com baixas emis­sões de car­bono. O Brasil tem esse ati­vo. O Brasil tam­bém tem a Flo­res­ta Amazôni­ca e o Cer­ra­do que reti­ram car­bono da atmos­fera. Isso é muito impor­tante para o equi­líbrio climáti­co. Então o Brasil é parte da solução. O prin­ci­pal prob­le­ma brasileiro é a questão do des­mata­men­to”.

O pesquisador da UnB cita alguns resul­ta­dos pos­i­tivos neste ano, com o reg­istro da que­da das taxas de des­mata­men­to, mas faz um aler­ta. Segun­do ele, o gov­er­no deve elab­o­rar políti­cas públi­cas que con­sid­erem os efeitos de médio e lon­go pra­zo.

“Somos recon­heci­da­mente um dos país­es mais vul­neráveis aos impactos das mudanças climáti­cas, porque [o Brasil] se local­iza em uma faixa trop­i­cal onde as tem­per­at­uras nor­mal­mente já são mais ele­vadas. O aque­c­i­men­to glob­al tende a inten­si­ficar essas tem­per­at­uras.”

Segun­do o pesquisador da UnB, a reg­u­la­men­tação do mer­ca­do de car­bono, em dis­cussão da Con­gres­so, é pos­i­ti­va. Mas ele defende que o agronegó­cio não pode ficar de fora dos setores que dev­erão cumprir metas de descar­boniza­ção. Essa é uma questão que tem ger­a­do divergên­cias.

“O mer­ca­do vol­un­tário de car­bono, sem a reg­u­lação do esta­do, tem apre­sen­ta­do muitas imper­feições. Muitas empre­sas estão venden­do crédi­to de car­bono de for­ma irreg­u­lar, não apre­sen­tan­do os resul­ta­dos que ofer­e­cem e isso traz mui­ta inse­gu­rança para os investi­dores. Por isso é tão impor­tante a reg­u­lação desse mer­ca­do”.

Edição: Denise Griesinger

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