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Em Brasília, ano-novo na Praça dos Orixás celebra resistência negra

Repro­dução: © Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Festa reúne adeptos de religiões de matriz africana


Pub­li­ca­do em 31/12/2023 — 09:00 Por Luciano Nasci­men­to — Repórter da Agên­cia Brasil — São Luís

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O toque dos atabaques às mar­gens do Lago Para­noá mar­ca as comem­o­rações da vira­da do ano para os adep­tos de religiões de matriz africana no Dis­tri­to Fed­er­al. A tradi­cional fes­ta, real­iza­da na Praça dos Orixás, pon­to de refer­ên­cia do povo dessas religiões e da pop­u­lação de Brasília, reúne cen­te­nas de pes­soas e é um momen­to de cel­e­bração às divin­dades, com pedi­dos aos orixás, em espe­cial Ieman­já, ofer­ta de pass­es, rodas de cel­e­bração e muitas ofer­en­das.

A tradi­cional vira­da tam­bém con­ta com diver­sas atrações cul­tur­ais, a exem­p­lo de rodas de sam­ba e blo­co afro. Este ano, a pro­gra­mação da vira­da tem iní­cio às 18h com o Aruc Sam­ba Show, Sam­ba e Magia, Bom Par­tido e Car­ol Nogueira, Asé Dudu e o grupo Obará.

Mas se engana quem pen­sa que a cel­e­bração se resume à vira­da do ano. Nesse sába­do (30), a Prain­ha, como é con­heci­da a praça, rece­beu os devo­tos para a amar­ração dos ojás, o tur­bante usa­do nas cabeças, um xirè com can­to para as yabás (orixás fem­i­ni­nos) e um plan­tio de baobá para demar­car o solo sagra­do. O gra­ma­do da orla foi, aos poucos, sendo ocu­pa­do por famílias, ami­gos e rep­re­sen­tantes de ter­reiros para a cel­e­bração que con­tou com apre­sen­tações do grupo cul­tur­al Obará, da can­to­ra Rena­ta Jam­beiro, da ban­da 7 na Roda acom­pan­ha­da de Kiki Oliveira e da artista Dhi Ribeiro.

“A prain­ha é uma refer­ên­cia. Então nós esta­mos aqui dan­do esse toque de ale­gria, de beleza, de natureza, de momen­to bom, de sen­si­bil­i­dade, de espir­i­tu­al­i­dade. Esta­mos aqui, jus­ta­mente, dizen­do para o ano, a gente está agrade­cen­do a ele pelas coisas boas, pelas coisas ruins, mas a gente tam­bém vai rece­ber o ano vin­douro. E pedir a nos­so Deus, pedir a Oxalá, pedir aos nos­sos orixás, pedir àque­les que acred­i­tam, seja lá em quem for, que peçam tam­bém para que esse ano de 2024 seja um ano de paz, de ale­gria, de amor, de sen­si­bil­i­dade, de feli­ci­dade, de amor, muito amor no coração das pes­soas e mui­ta empa­tia”, disse à Agên­cia Brasil Adna San­tos, mais con­heci­da como a Yalorixá do Ilê Axé Oyá Bagan mãe Baiana de Oyá, uma das orga­ni­zado­ras da fes­ta.

Brasília (DF), 30/12/2023, - Prainha de Brasília que fica na Praça dos Orixás (também conhecida como Magé) se localiza em Brasília (Distrito Federal, Brasil) às margens do Lago Paranoá, ao lado da Ponte Honestino Guimarães, na margem do lado da Asa Sul. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Repro­dução: Prain­ha é tradi­cional pon­to de cel­e­bração da vira­da do ano em Brasília — Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Mas nem tudo são ofer­en­das e flo­res. Em anos pas­sa­dos, a fes­ta das religiões de matriz africana, como a umban­da e o can­domblé, enfren­tou difi­cul­dades, e a Prain­ha chegou a ser até depreda­da, em claro sinal de intol­erân­cia reli­giosa e de racis­mo. Em agos­to de 2021, a está­tua de Ogum foi encon­tra­da destruí­da. A imagem foi der­ruba­da do pedestal e des­fei­ta em cin­zas. Sua cabeça foi arran­ca­da e pen­dura­da em uma das árvores próx­i­mas.

Como respos­ta, as lid­er­anças dos povos tradi­cionais de matriz africana se reuni­ram no local, um dia após o van­dal­is­mo, para um ato con­tra o racis­mo. Eles tam­bém denun­cia­ram o aban­dono do espaço e out­ros ataques às ima­gens da Praça dos Orixás, ocor­ri­dos des­de a sua inau­gu­ração, em 2000.

“Então, os anos ante­ri­ores, nós não tive­mos, sem­pre fize­mos essa fes­ta lá na Prain­ha, por cima de pau e pedra, no peito, com a resistên­cia que nós temos aqui em Brasília. A gente criou um grupo de reli­giosos que tem uma resistên­cia que é fun­da­men­tal para essa cidade. Um grupo que preser­va, que con­ser­va, que respei­ta, e aí a gente vem ao lon­go dess­es anos fazen­do esse tra­bal­ho de excelên­cia na Praça dos Orixás”, con­tou.

Este ano, o gov­er­no do Dis­tri­to Fed­er­al instalou na Praça dos Orixás câmeras de videomon­i­tora­men­to em tem­po real. A medi­da visa con­tribuir com a segu­rança da Prain­ha nas comem­o­rações de ano-novo, e o equipa­men­to deve per­manecer no local após a fes­ta.

Brasília (DF), 30/12/2023, - A Praça dos Orixás (também conhecida como Magé) se localiza em Brasília (Distrito Federal, Brasil) às margens do Lago Paranoá, ao lado da Ponte Honestino Guimarães, na margem do lado da Asa Sul. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Repro­dução: Pro­gra­mação para a vira­da do ano teve iní­cio neste sába­do na Praça dos Orixás — Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Para Mãe Baiana, que mora no Dis­tri­to Fed­er­al des­de a déca­da de 1980, o próx­i­mo ano vai ser de riqueza e pros­peri­dade, dev­i­do a Obará. Ela obser­va tam­bém que será um perío­do de muitos desafios, como a preser­vação do meio ambi­ente e o com­bate à fome. A yalorixá enfa­ti­za ain­da que a fes­ta é para todas as pes­soas, inde­pen­den­te­mente do cre­do, e que a Prain­ha é um óti­mo local para acom­pan­har a queima de fogos de artifí­cios silen­ciosos no Dis­tri­to Fed­er­al que vai durar cer­ca de 21 min­u­tos de fogos. Tudo com muito axé!

“A gente quer aproveitar para chamar a comu­nidade, o nos­so povo, para vir tam­bém, [par­tic­i­par] dessa fes­ta jun­to com a gente, enten­deu? Então é isso, muito axé para todos, tudo de bom, feliz ano-novo, que ven­ha de 2024, um ano que na nos­sa tradição é seis, a soma de dois e qua­tro. O número seis é um número que rep­re­sen­ta a riqueza para nós, então que o ano que ven­ha ven­ha Obará trazen­do mui­ta riqueza para a gente, tudo que a gente perdeu no pas­sa­do, tudo que a gente perdeu o ano pas­sa­do, que esse ano que vem aqui dobre, ven­ha o dobro”, dese­jou Mãe Baiana.

“Que a fome pos­sa ces­sar no mun­do, no Brasil, no Dis­tri­to Fed­er­al; que as pes­soas pos­sam lem­brar do out­ro, esten­der a mão para o out­ro, que as pes­soas pos­sam ser mais maleáveis uns com os out­ros. Nós vamos pre­cis­ar um do out­ro no ano que vem, porque nós temos uma série de prob­le­mas, prin­ci­pal­mente no meio ambi­ente”, disse.

Edição: Juliana Andrade

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